domingo, 13 de outubro de 2024

Fátima rezou pela paz, pela inclusão e pelo cuidado da Casa Comum

 

Decorreu, a 12 e 13 de outubro, a última grande Peregrinação Internacional Aniversária de 2024 ao Santuário de Fátima, sob a presidência do cardeal D. Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, no Brasil. Na noite do dia 12, o purpurado da Amazónia brasileira, que veio a Fátima pedir pela Casa Comum destruída, presidiu à procissão das velas e à Celebração da Palavra, onde estiveram cerca de 180 mil peregrinos, apesar do tempo instável. De facto, a chuva copiosa, que caiu ao início da noite, não impediu que cerca de 180 mil peregrinos marcassem presença nas celebrações deste 12 de outubro, na Cova da Iria.

Na homilia da Celebração da Palavra, D. Leonardo Ulrich Steiner depositou aos pés de Nossa Senhora a “Casa Comum, sempre mais destruída”, pedindo pelas comunidades da Amazónia, que sofrem com a degradação ambiental na região.

O cardeal brasileiro, que governa uma arquidiocese que inclui parte da floresta amazónica, partilhou preocupação pelo sofrimento das comunidades daquele território, numa evocação feita prece para esta Peregrinação. “Vieram no meu coração os que sofrem com a falta de chuva, com a seca dos igarapés e a falta de navegabilidade dos rios amazónicos; os que sofrem com o desmatamento e os garimpos. Coloco aos pés da Virgem a nossa Casa Comum, sempre mais destruída”, declarou.

Tendo chegado a Fátima, vindo de Roma, onde participa na segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, apresentou a comunhão, o anúncio do Evangelho, o acolhimento e inclusão como condições essenciais para uma Igreja sinodal missionária.

No início da sua reflexão, D. Leonardo Ulrich Steiner destacou o amor paternal e primordial de Deus para com a Humanidade, sublinhando a iniciativa divina como a origem desta relação. “Não poderíamos amar a Deus, se Ele não nos tivesse amado! Procuramo-Lo, porque Ele nos procurou e Ele procura-nos, porque nos ama”, afirmou, dirigindo o olhar para Nossa Senhora e para o seu papel de intercessora.

“No momento de maior sofrimento e dor, ao enfrentar a morte, nós temos [Nossa Senhora] como mãe. Aqui estamos! Formamos uma multidão, uma grande família! Ao nos encontrarmos para a celebração desta noite com nossas velas acesas, celebramos o cuidado de Deus para connosco em Nossa Senhora de Fátima”, disse o presidente da Peregrinação, lembrando os apelos à oração, conversão e fidelidade ao Evangelho solicitados pela Mãe de Deus.

A recitação do Rosário Internacional daquela noite teve a participação especial de religiosas de 35 comunidades de todo o país, que se uniram, física e espiritualmente, a esta oração. 

Neste ano que a Igreja dedica à oração, com vista à preparação para o Jubileu 2025, o Santuário de Fátima convocou 35 comunidades contemplativas portuguesas para acompanharem a recitação do Rosário Internacional da noite do dia 12, na Capelinha das Aparições. Em resposta ao convite, fizeram-se representar, na Cova da Iria, oito comunidades: a Ordem da Visitação de Santa Maria, da Batalha; a Ordem da Visitação de Santa Maria, de Braga; as Irmãs Clarissas, de Monte Real; as Irmãs Clarissas, de Santarém; as Irmãs Clarissas Adoradoras, de São Martinho do Vale e da Vila das Aves; as Irmãs Clarissas do Desagravo, de Sintra; e as Monjas Conceicionistas Franciscanas, de Viseu. As restantes comunidades contemplativas, que não puderam estar presentes, acompanharam espiritualmente o momento de oração. 

“É uma honra, para nós, e uma alegria muito grande estar aqui de olhos nos olhos com a Mãe, que falou aos Pastorinhos e que nos trouxe uma mensagem evangélica”, partilhou com o Gabinete de Comunicação a Irmã Maria Albertina, das Clarissas do Mosteiro de São José, em Vila das Aves, momentos antes do início das celebrações desta noite.

No âmbito deste Ano da Oração, algumas comunidades contemplativas assumiram, a preparação das meditações do Terço das 18h30, da última sexta-feira de cada mês, entre maio e novembro, também a convite do Santuário. 

***

No dia 13, a paz mundial, a justiça social e inclusão e o cuidado pelo meio ambiente foram os apelos que D. Leonardo Steiner deixou na homilia da Missa Internacional Aniversária de 13 de outubro, na qual participaram cerca de 180 mil peregrinos que encheram o Recinto de Oração da Cova da Iria.

O clamor pela paz foi o que mais ecoou das palavras do cardeal brasileiro, que pediu aos peregrinos reunidos na Cova da Iria que repetissem esta prece: “Imploremos a paz! Diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima, peçamos a paz. Peçamos à Rainha da Paz que converta, transforme o coração dos que alimentam o ódio, a vingança, a destruição, a morte, e se instaure a fraternidade, a irmandade”, exortou o cardeal, num apelo prontamente acolhido pela assembleia que, a uma voz, repetiu o pedido de paz por três vezes.

Já na celebração da noite, o arcebispo de Manaus, que governa parte do território da Amazónia, tinha apontado o foco para a dura realidade das comunidades indígenas e para a degradação ambiental na região e, desta vez, fê-lo de novo, apelando ao respeito pelos povos indígenas e ao cuidado com o meio ambiente. “Aqui, aos pés da Virgem, elevo a prece pelos indígenas: que sejam respeitados no seu modo de vida, na sua cultura. As terras dos antepassados, dos ancestrais, sejam a casa, a morada dos nossos irmãos e irmãs indígenas no Brasil. Desapareça a ganância, a destruição, a morte nas terras ancestrais. Cesse o desmatamento, termine a pesca predatória, desapareça o garimpo ganancioso, destruidor e depredador”, pediu o cardeal brasileiro, que também instou à justiça social, à inclusão dos pobres e ao acolhimento dos migrantes e refugiados.

A partir dos Evangelho de Mateus proclamado, no qual Jesus interpela os discípulos a dizerem quem Ele é, o presidente da celebração exortou os peregrinos a desenvolverem uma relação pessoal com Cristo que seja fruto de uma busca e encontro genuínos.

Neste dia em que se assinala solenidade dedicação da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, sagrada a 7 de outubro de 1953, D. Leonardo Steiner exortou os peregrinos a serem “pedras vivas”, através da edificação de comunidades de fé.

Além desta solenidade, assinalada ao longo da celebração, a Missa Internacional deste 13 de outubro teve ainda outras particularidades, nomeadamente a entoação de um cântico, no momento da apresentação das oferendas, com letra de Luís Vaz de Camões, poeta de quem se assinala neste ano 500 anos do nascimento.

Depois, na Oração Universal, rezou-se pela Guarda Nacional Republicana (GNR), no dia em que esta força de segurança assinala 112 anos no distrito de Santarém. “Para que cada um dos seus militares se constitua, permanentemente, um exemplo de dignidade, de conduta social, de relações humanas e solidariedade para com o seu semelhante”, pediu-se em oração.

Na habitual palavra ao doente, durante a Adoração ao Santíssimo Sacramento, a enfermeira Ana Querido, que servr no âmbito dos cuidados paliativos e da terapia da esperança, ofereceu uma reflexão sobre a fé, a esperança e o amor de Deus, sobretudo em tempos de doença e dificuldade, apresentando Nossa Senhora como intercessora e consoladora que dá ânimo e esperança.

O momento de adoração e da bênção ao doente cumpriu-se com a custódia que foi oferecida pelo povo irlandês, há 75 anos, após iniciativa do casal Conroy em 1948, para cumprir uma promessa a Nossa Senhora de Fátima. Presente na celebração esteve a filha do casal, Grainne Conroy.

A custódia, que integra a exposição permanente do Museu do Santuário de Fátima, foi oferecida ao Santuário de Fátima em 7 de outubro de 1949, por ocasião de uma peregrinação a este Santuário e passou a simbolizar, em Fátima, o amor que os Irlandeses têm à Mãe de Deus.

No final da celebração, o bispo de Leiria-Fátima agradeceu a presidência de D. Leonardo Steiner e pediu oração à assembleia reunida em Fátima para o regresso de ambos aos trabalhos da segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, que decorre em Roma e para onde o cardeal e ele voltaram, logo a seguir à Peregrinação, para reatarem a sua participação nos trabalhos (interromperam-na para virem à Peregrinação).

A seguir, saudou os peregrinos, a quem fez recomendações, em Português, em Espanhol, em Italiano, em Alemão, em Inglês e em Francês.

No Vaticano, o Papa Francisco lembrou o aniversário da última aparição em Fátima, numa referência que surgiu, ao pedir a intercessão de Nossa Senhora para as crianças, que se vão unir, no próximo dia 18 de outubro, em oração pela paz, numa iniciativa da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS). “À intercessão de Nossa Senhora confiamos a martirizada Ucrânia, o Myanmar, o Sudão, os outros povos que sofrem com a guerra e todas as formas de violência e miséria”, disse o Santo Padre, no final da oração do Angelus, na manhã de domingo, dia 13.

***

Nota de especial curiosidade ressalta nesta peregrinação. O cardeal D. Leonardo Steiner, prestes a presidir às celebrações da Peregrinação, foi saudado, no dia 12, por duas peregrinas do Brasil.

Junto à entrada da exposição “Rosarium: Alegria e Luz, Dor e Glória” (que termina no dia 15 de outubro) encontravam-se, da esquerda para a direita, Fátima Santos e Sueli Silveira. Animadas, destacaram a grande devoção a Nossa Senhora do Rosário no Brasil. No contexto da Peregrinação Internacional Aniversária de outubro, saudaram o cardeal D. Leonardo Steiner, arcebispo da Arquidiocese de Manaus, desde a correspondente nomeação pelo Papa Francisco, em novembro de 2019, que o fez cardeal, em maio de 2022.

As peregrinas desejaram sucesso a D. Leonardo Steiner na sua missão. Sueli Silveira expressou os seus anseios de que D. Leonardo Steiner “possa levar a todos os católicos da região, a importância da manutenção da sua terra, da preservação das florestas, da amizade entre os povos, principalmente com os povos indígenas”. “Que ele consiga, através dessa nomeação, fazer com que todos, naquela região, entendam a importância da preservação, não só do ambiente, mas também da origem do Homem, da origem humana”, pediu.

Junto a Sueli Silveira estava Fátima Santos, que disse: “Venho, anualmente, a Fátima e não abro mão disso. É um lugar maravilhoso. Que me acalma. Que me traz paz. E pretendo voltar muitas vezes”.

Da exposição “Rosarium: Alegria e Luz, Dor e Glória”, Fátima Santos diz: “Todas as vezes que eu estive aqui, vim à exposição e todas as pessoas que vieram comigo, fiz muita questão de trazê-las a essa exposição, que eu acho muito importante e belíssima. Sem contar a importância que ela tem, é belíssima!”

Referindo-se à exposição, Fátima Santos lança o desafio: “Vale a pela todos virem e conhecerem, porque é uma maravilha.” 

***

Sobre a Basílica de Nossa Senhora do Rosário, o Santuário publicou, no Facebook, o seguinte:

Hoje, comemora-se o 71-º aniversário de sagração da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, que aconteceu a 7 de outubro de 1953.

“O Santuário da Fátima viveu nos passados dias 6 e 7 de outubro uma das suas efemérides mais gloriosas. Quinze arcebispos e bispos, entre os quais sua eminência o senhor cardeal-patriarca de Lisboa a presidir, procederam à sagração da igreja de Nossa Senhora do Rosário e dos seus quinze altares”, lia-se na Voz da Fátima de 13 de novembro desse mesmo ano.

Na edição de outubro de 1953, do mensário do Santuário de Fátima, a sagração já era anunciada na primeira página.

O templo foi concebido pelo arquiteto Gerardus Samuel van Krieken e continuado por João Antunes. A primeira pedra foi benzida a 13 de maio de 1928, pelo arcebispo de Évora e a dedicação celebrou-se a 7 de outubro de 1953. O título de basílica foi-lhe concedido por Pio XII, pelo breve Luce Superna, de 11 de novembro de 1954.

***

Aí está o Santuário como incremento de vida espiritual, cultural e artística!             

2023.10.13 – Louro de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário