Os avanços
na tecnologia médica e na investigação genética, bem como o maior número de
pessoas que chegam aos 100 anos, não estão a traduzir-se em saltos acentuados
no tempo de vida, em geral, de acordo com investigadores que descobriram que os
aumentos de longevidade estão a diminuir nos países com as populações mais
envelhecidas. Assim, em termos globais, a esperança de vida estagnou.
A esperança média de vida à nascença
é a estimativa do número médio de anos que um bebé nascido num determinado ano
pode viver, assumindo que as taxas de mortalidade, nessa altura, se mantêm
constantes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta, como base da estimativa,
fatores como o tempo, a região e as condições pré-existentes. É de ter em conta
as taxas de mortalidade específicas por sexo e por idade prevalecentes no
momento do nascimento, para um ano específico, num determinado país, território
ou área geográfica.
É uma das
medidas de saúde mais importantes do Mundo, mas é imperfeita, pois é estimativa
instantânea que não pode ter em conta pandemias mortais, curas milagrosas ou
outros imprevistos desenvolvimentos que podem matar ou salvar milhões de
pessoas (ainda o Mundo mal saiu de uma pandemia que matou milhões de pessoas…).
No século XX,
a esperança média de vida amentou bastante, devido à consecução de melhores
condições de habitação, de alimentação, de saúde, de higiene e de vida, em
geral. Porém, as mulheres, normalmente, vivem durante mais tempo do que os
homens. Face ao aumento da esperança de vida, muitos decisores políticos
começaram a pensar no aumento da idade para a reforma e na maneira de reduzir
as respetivas pensões, mas excecionaram os “grandes”.
S. Jay
Olshansky, investigador da Universidade de Illinois-Chicago e autor principal
do novo estudo publicado, a 7 de outubro, na revista “Nature Aging”, que analisou cinco países europeus, bem como
a Austrália, o Japão, a Coreia do Sul, Hong Kong e os Estados Unidos da América
(EUA), sustenta que “temos de reconhecer que há um limite” e reavaliar
os pressupostos sobre quando as pessoas se devem reformar e sobre quanto
dinheiro precisarão para viverem.
Por sua vez,
Mark Hayward, investigador da Universidade do Texas, que não participou no estudo,
considerou-o “uma adição valiosa à literatura sobre mortalidade”. “Estamos a
atingir um patamar” na esperança de vida; e, embora seja sempre possível que
algum avanço possa levar a uma maior sobrevivência a patamares mais elevados,
não o temos agora”, disse Hayward.
Na investigação,
Olshansky e os seus parceiros de investigação seguiram as estimativas de
esperança de vida para os anos 1990 a 2019, extraídas de uma base de dados
administrada pelo Instituto Max Planck de Investigação Demográfica, na
Alemanha.
Os
investigadores centraram-se em oito países onde as pessoas vivem mais tempo –
Austrália, França, Itália, Japão, Coreia do Sul, Espanha, Suécia e Suíça – bem
como em Hong Kong e nos EUA, que nem sequer figuram entre os 40 primeiros.
As mulheres
continuam a viver durante mais tempo do que os homens e continuam a
verificar-se melhorias na esperança de vida, mas a ritmo mais lento. Em 1990, a
média de melhoria era de cerca de 2,5 anos por década, mas caiu para 1,5 anos
na década de 2010. Num cálculo, estimaram o que aconteceria nestes países, se eliminassem
todas as mortes antes dos 50 anos. O aumento, na melhor das hipóteses, seria de
apenas 1,5 anos, segundo Olshansky.
Eileen
Crimmins, especialista em gerontologia da Universidade do Sul da Califórnia,
concorda com as conclusões do estudo, mas acrescenta que, na sua opinião, “a
questão mais importante é a posição relativamente sombria e em declínio dos
Estados Unidos”.
O estudo
sugere que há um limite para o tempo de vida da maioria das pessoas e que estamos
quase a atingi-lo. “Estamos a tirar cada vez menos vida destas tecnologias de
prolongamento da vida. E a razão para isso é que o envelhecimento é um
obstáculo”, assegurou Olshansky.
Em 2019, um
pouco mais de 2% dos americanos chegaram aos 100 anos, em comparação com cerca
de 5%, no Japão, e 9% em Hong Kong. É provável que o número de centenários
aumente nas próximas décadas, mas isso deve-se ao crescimento da população. A
percentagem de pessoas que atingem os 100 anos de idade continuará a ser
limitada, provavelmente com menos de 15% das mulheres e 5% dos homens a
chegarem a essa idade, na maioria dos países.
Enfim, os
ganhos na esperança de vida dos últimos dois séculos estão a abrandar.
***
Na União Europeia (UE), a esperança de vida é
questão política fundamental, pois o continente debate-se com o envelhecimento
da população: o fenómeno da natalidade fica muito aquém do da mortalidade. A esperança média de vida de um
europeu, à nascença, é de 80,1 anos, de acordo com os dados de 2021, mas é
enganador aplicar este valor a todo o continente. A esperança média de vida, entre
as diferentes regiões da Europa continental, varia entre 69 e 85 anos. Das 242
regiões NUTS 2 – sistema de divisão do território económico da UE –
Severozapazen, na Bulgária, tem esperança média de vida de 69,7 anos, enquanto
a mais elevada se regista em Madrid, na Espanha, com 85,4 anos.
O aumento do nível de vida, a
melhoria do estilo de vida e da educação, bem como o maior acesso a serviços de
saúde de qualidade, resultam em valores mais elevados, ao passo que os valores
mais baixos indicam a ausência desses fatores. As mulheres têm esperança de
vida mais elevada, em todas as regiões com dados disponíveis; e, em geral,
espera-se que as mulheres vivam mais 5,7 anos do que os homens, na Europa. A
nível nacional, o Liechtenstein manteve a maior esperança de vida, em 2021, com
84,4 anos. A esperança média de vida dos Suíços, à nascença, era de 83,9 anos,
seguindo-se os espanhóis com 83,3 anos e os finlandeses com 83,2 anos.
A esperança de vida na Europa
aumentou a um ritmo relativamente consistente até 2019, com uma esperança de
vida de 81,3 anos. Nos anos seguintes, registou-se um declínio recorde nos
números, o que é atribuído aos efeitos da pandemia da covid-19. Os números de
2021 representam nova diminuição, em relação à esperança de vida de 2020, que
foi de 80,4 anos.
Os especialistas acreditam que a
queda acabará por desaparecer, devido à diminuição das taxas de mortalidade
infantil e a um melhor acesso a fatores que aumentam o nível de vida.
Este facto também se reflete nas
estatísticas nacionais, já que os países com pontuações elevadas no Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) ocupam os primeiros lugares.
A esperança média de vida é indicador
é fundamental para o desenvolvimento de políticas governamentais. A França, por
exemplo, enfrenta o desafio de uma população que vive mais tempo, com a pressão
sobre os sistemas de segurança social e de saúde. Para enfrentar o desafio, o
governo aprovou reformas no início de 2023, com o objetivo de aumentar a idade
da reforma e incentivar os indivíduos a trabalharem mais tempo, o que provocou
protestos em todo o país.
Mas a França não é a única a
debater-se com o envelhecimento da população, e os Franceses nem sequer são os
que vivem mais tempo. A UE está a envelhecer demasiado depressa.
Um relatório
sobre as alterações demográficas na UE, publicado pela Comissão Europeia, a 11
de outubro de 2023, traçou um quadro alarmante da profunda transformação social
e económica desencadeada pela diminuição da mão-de-obra. “Cada estado-membro
está a lidar com os seus próprios desafios”, afirmou Dubravka Šuica, vice-presidente
para a Democracia e Demografia.
Nos Países
Baixos, a habitação e a densidade populacional são os grandes desafios,
enquanto, em algumas regiões de Espanha, é o declínio da população. Em Itália,
o principal desafio é o declínio da natalidade e o envelhecimento da população.
A Grécia é o estado-membro com o mais rápido envelhecimento populacional. A
Croácia debate-se com a fuga das pessoas mais jovens.
De acordo
com relatório, a população da UE,
que era, ligeiramente, superior a 448 milhões de pessoas no início de 2023,
deverá atingir o seu pico por volta de 2026, e diminuir, depois, gradualmente,
perdendo 57,4 milhões de pessoas em idade ativa, até 2100.
Mais
preocupante é o rácio de dependência do bloco (entre o número de idosos e o de
pessoas em idade ativa), que aumentará dos atuais 33% para 60%, no final
do século. A mudança drástica na pirâmide demográfica abala o mercado de
trabalho, com escassez generalizada que pode inibir as taxas de crescimento, de
produtividade e de inovação, acelerando a perda de competitividade, em relação
a outras grandes economias. Uma mão-de-obra cada vez mais reduzida reduzirá as
receitas do Estado e exercerá pressão adicional sobre os orçamentos públicos,
para que estes gastem mais em cuidados de saúde e em pensões. É uma combinação
explosiva que poderá desviar a atenção dos necessários investimentos em
energias renováveis e em tecnologias de ponta.
Além disso,
este fator mina a coesão social e a confiança nas instituições e processos
democráticos na Europa. Para que os danos se tornem irreversíveis, a Comissão
Europeia recomendou que os estados-membros tomassem medidas decisivas, tais
como reduzir as disparidades salariais entre homens e mulheres, melhorar o
equilíbrio entre a vida profissional e a vida familiar, oferecer benefícios
fiscais, reduzir os custos dos cuidados infantis e facilitar, no início da sua
vida adulta, o acesso dos jovens a empregos de qualidade e a habitação a preços
acessíveis.
Também é “crucial
capacitar os trabalhadores mais velhos para se manterem ativos durante mais
tempo”, através de programas de melhoria das competências, de horários de
trabalho flexíveis e da ultrapassagem de noções preconcebidas e de estereótipos
sobre os idosos. “Vidas mais longas criam novas oportunidades e inauguram uma
mudança de uma sociedade envelhecida para uma sociedade de longevidade”,
apontou Dubravka Šuica, apelando aos países para que aproveitem as novas
oportunidades económicas criadas pela chamada “economia prateada”.
O relatório
apela à gestão legal da migração, para preencher o número de vagas de emprego
que ficam sem interessados, que já atingiram níveis recorde. Em 2022, a UE,
que reformou a sua política de asilo (que alguns querem reverter), recebeu
três milhões de trabalhadores migrantes através de vias legais, em comparação
com 300 mil que chegaram por meios irregulares.
Embora a
migração legal seja opção valiosa para enfrentar o desafio demográfico, não é a
única – uma clarificação que parecia destinada a evitar a ira dos governos de
extrema-direita que adotaram políticas pró-natalidade, na tentativa de aumentar
a população, sem depender dos fluxos migratórios. “Somos 27 democracias. É uma
situação diferente em cada uma e é por isso que dizemos que não há um tamanho
único para todos”, realçou Dubravka Šuica.
***
Cientistas do Irving Medical Center da
Universidade de Columbia, em Nova Iorque, nos EUA, defendem, a partir de ensaio
clínico com ratos, que a taurina retarda o processo de envelhecimento e
prolonga a vida útil dos ratos em até 10%. Ora, depois de verem os resultados
do uso de taurina em ratos, os investigadores querem progredir nas pesquisas em
seres humanos.
Os resultados, publicados no “Journal
of Science”, mostraram que a esperança de vida dos ratos machos aumentou 10%,
tomando o suplemento, enquanto a das fêmeas aumentou cerca de 12%.
Esta melhoria também se verificou em
macacos e em vermes. E, como parte do projeto, os investigadores analisaram 12
mil pessoas e descobriram que as que apresentavam mais taurina no sangue eram,
em geral, mais saudáveis.
Este químico, que integra o grupo dos
aminoácidos, está presente em alimentos com proteínas, como produtos de origem
animal (carnes, peixes e laticínios), mas também é usado, principalmente, em
bebidas energéticas com cafeína. É um dos micronutrientes que suporta a função
celular e ajuda, sobretudo, na produção de energia, ao apoiar a saúde das
mitocôndrias nas células, que são responsáveis por carregar as células com
energia.
A taurina ocorre, naturalmente, no
corpo humano, mas à medida que envelhecemos, os níveis diminuem. “A abundância
de taurina diminui com a idade e a reversão desse declínio faz com que os
animais tenham vida mais longa e saudável”, disse Vijay Yadav, líder da
investigação.
Yadav e a equipa notaram na taurina
um potencial catalisador do envelhecimento, há mais de 10 anos, ao descobrirem
que o homem médio de 60 anos exibe níveis de taurina, medindo um terço dos que
se encontram numa criança de cinco anos. Porém, os investigadores aconselham as
pessoas a não aumentarem, proativamente, a sua taurina para combate ao
envelhecimento, até se saber mais. É preciso estudo mais amplo para determinar
os prós e os contras da sua ingestão.
Tudo o que se faça em termos de apoio
à vida e vida de qualidade é bem-vindo. Não há que temer o aumento da esperança
de vida. Antes se deve evitar qualquer tipo de conflito bélico (e outros), promover
o prolongamento da vida e dar-lhe qualidade, enquanto se deve cuidar do aumento
consolidado da natalidade. A Terra será sempre o lugar de todos!
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