terça-feira, 6 de setembro de 2022

Liz Truss é a nova primeira-ministra do Reino Unido

 

Após a demissão de Boris Johnson, que, sem condições políticas para continuar na governação, deixou o Reino Unido (UK – United Kingdom) no meio de uma crise governativa, foi eleita líder do Partido Conservador Liz Truss, ex-ministra das Finanças, que se tornou a primeira-ministra do país por indicação da Rainha Isabel II, não a partir do Palácio de Buckingham, em Londres (Inglaterra), como é habitual, mas a partir do Castelo de Balmoral, em Crathie (Escócia).

Liz Truss saiu vitoriosa no decurso de 12 debates no termo dos quais destronou o antigo ministro das finanças Rishi Sunak. E os resultados das eleições para a liderança do Partido Conservador foram anunciados pouco depois das 12,30 horas do dia 5 de setembro, tendo a eleita agradecido e declarado sentir-se honrada com a confiança nela depositada.

Os agradecimentos abrangem o partido, a família, os amigos, os colegas políticos e todos os apoiantes. E não deixou de homenagear Rishi Sunak e todos os rivais por uma campanha que foi muito dura, revelando “o talento que há dentro do Partido Conservador”.

Liz Truss formulou também uma nota de apreço ao “amigo cessante Boris Johnson”, o homem que fez o Brexit, superou as dificuldades das campanhas de vacinação contra a covid-19 e mostrou firmeza perante Vladimir Putin. E, sobre o futuro, garantiu uma liderança conservadora na certeza de que irá cumprir tudo o que prometeu em favor do país.

Com um eleitorado superior a 172 mil pessoas, Truss obteve mais de 81 mil votos, ao passo que Sunak angariou cerca de 60 mil.Com uma vasta experiência política, Liz Truss foi ministra júnior da Educação em 2012, passou a secretária do Ambiente em 2014, ambos sob a direção de David Cameron, e fez campanha ao lado do então primeiro-ministro no sufrágio do Brexit pela permanência na União Europeia (UE) – posição que disse, mais tarde, estar “totalmente errada”.

O apoio a Boris Johnson na sua ascensão a primeiro-ministro viu-se compensado com os elevados cargos de secretária de Comércio Internacional, ministra para as Mulheres e a Igualdade e, mais tarde, secretária de Estado (equivalente ao ministro dos Negócios Estrangeiros português). À saída de Johnson, manteve o seu apoio, o que lhe permitiu colocar-se como a candidata da continuidade e ser eleita pelo partido.

Num verão marcado pelo agravamento da crise e pelo aumento do custo de vida, a campanha eleitoral baseou-se em medidas de apoio aos mais afetados pelo aumento da inflação e dos preços da energia. Assim, no último debate da eleição, a ex-ministra dos Negócios Estrangeiros e agora primeira-ministra prometeu ser “ousada” e governar “de maneira diferente”. Quando liderava nas sondagens, garantiu uma reforma dos serviços financeiros e o corte nos impostos e considerou “um erro aumentar a contribuição para a Segurança Social”, mas assegurou que será possível, ainda assim, “pagar a dívida nacional nos próximos três anos”.

No dia 6, Boris Johnson apresentou a sua demissão à rainha Isabel II. Pela primeira em 70 anos de reinado, a cerimónia não se realizou no Palácio de Buckingham, em Londres, mas no Castelo de Balmoral, em Crathie, no norte da Escócia, onde Liz Truss, que também ali se deslocou, foi indigitada como primeira-ministra. A razão prende-se com dificuldades de mobilidade da monarca de 96 anos que a levaram a faltar a vários eventos, neste ano, e a delegar a representação nos herdeiros, em especial no filho primogénito, príncipe Carlos. 

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Elizabeth Mary Truss, conhecida por Liz Truss, nascida em Oxford, a 26 de julho de 1975, é uma política britânica que atuou em vários governos do UK. Estudou na Merton College, em Oxford, onde presidiu aos Liberais Democratas da Universidade de Oxford e onde se formou em 1996, após o que ingressou no Partido Conservador. Trabalhou nas empresas Shell e Cable & Wireless, antes de se ser vice-diretora do think tank Reform. Eleita em 2010, tornou-se membro do Parlamento, onde pediu reformas em várias áreas políticas, incluindo cuidados infantis, educação matemática e economia. Fundou o grupo parlamentar Free Enterprise Group of Conservative e escreveu ou coescreveu artigos e livros, como Após a Coligação (2011) e Britannia Unchained (2012). E atuou como subsecretária parlamentar de Estado para Assistência para o Departamento de Educação do governo, de 2012 a 2014, antes da nomeação para o Gabinete do primeiro-ministro David Cameron como secretária de Estado do Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais na remodelação de 2014.

Embora tenha sido grande apoiante da mal sucedida campanha Britain Stronger in Europe para o UK permanecer na UE no referendo de 2016, acabou por apoiar o Brexit após o resultado. Depois da renúncia de Cameron em julho de 2016, Truss foi nomeada secretária de Estado da Justiça e Lorde Chanceler por Theresa May, tornando-se a primeira Lorde Chanceler feminina nos mil anos de história do cargo (excluindo Eleanor de Provence em 1253). Após as eleições gerais de 2017, foi nomeada secretária-chefe do Tesouro. E, após a renúncia de May em 2019, apoiou a bem-sucedida tentativa de Boris Johnson de se tornar líder conservador. Este nomeou Truss como secretária de Estado do Comércio Internacional e Presidente da Junta Comercial. E, em 2021, nomeou-a secretária de Relações Exteriores, sucedendo a Dominic Raab. Depois, foi designada como a principal negociadora do Governo entre a UE e o Reino Unido, sendo presidente do Conselho de Parceria UE – UK, a 19 de dezembro de 2021, sucedendo David Frost.

A 10 de julho de 2022, Truss anunciou a intenção de concorrer às eleições de liderança do Partido Conservador para suceder a Boris Johnson como primeiro-ministro. A 20 de julho, ficou em segundo lugar entre os parlamentares conservadores e enfrentou o voto postal dos membros do partido contra Rishi Sunak. A 5 de setembro, foi eleita líder com 81.326 votos, derrotando Sunak e tornando-se a terceira mulher a assumir o cargo de primeira-ministra.

Liz Truss, campeã do comercio livre, entra na campanha que encarna o cerne do conservadorismo britânico. É um “falcão na política externa”, não hesitando em tomar posições muito fortes contra a Rússia e contra a China; quer incluir a China na lista de “ameaças oficiais” à segurança nacional britânica; e diz-se pronta para iniciar uma guerra nuclear, se necessário for. Acreditando que o UK deve cimentar a sua aliança com os Estados Unidos da América (EUA) e com a Australia  em vez de com os países europeus, recusou-se a dizer se o Presidente francês deve ser considerado amigo ou inimigo. Insiste na agenda ousada de cortes fiscais maciços, medida controversa por beneficiar sobretudo os mais ricos, e opõe-se à ajuda social direta. Hostil aos sindicatos, propõe-se limitar o direito à greve. Também quer reduzir os salários dos funcionários públicos, exceto os dos que trabalham nas regiões de Londres e do Sudeste de Inglaterra, onde se vivem as famílias mais abastadas e que são geralmente as mais inclinadas a votar no Partido Conservador – atitude fortemente parcial. E, no tocante ao ambiente, Liz Truss quer acabar com os impostos energéticos que financiam projetos de energias renováveis e de isolamento doméstico, permitir a fratura hidráulica e aumentar a perfuração de petróleo no Mar do Norte.

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O cargo de primeiro-ministro não resulta de estatuto ou documento constitucional, mas de convenções cercadas de tradição, em que o monarca aponta como primeiro-ministro a pessoa que tem mais condições de gerar confiança na Câmara dos Comuns, ou seja, o líder do partido ou da coligação de partidos que ocupa o maior número de lugares no Parlamento.

A posição de primeiro-ministro evoluiu de forma lenta e errática por um período de mais de 300 anos com inúmeras leis no Parlamento, desenvolvimentos políticos e eventos da história. As origens encontram-se nas mudanças constitucionais ocorridas entre 1688 e 1720, após um século de guerras civis e de revoluções, com o poder político passando do Soberano para o Parlamento. Embora, nunca o Soberano tenha sido destituído dos seus poderes ancestrais e permaneça legalmente como chefe de Estado e do Governo, politicamente tornou-se premente, mas gradualmente, para o rei ou rainha, governar através do primeiro-ministro, o líder do maior partido ou coligação na Câmara dos Comuns, dando-lhe autoridade executiva sobre os negócios de Estado como chefe do Governo do Reino Unido. Assim, as forças armadas que têm como comandante-em-chefe o Monarca, mas são comandadas de facto pelo primeiro-ministro, que define as políticas de defesa, com o consentimento do Parlamento.

Na década de 1830, emergiu o Sistema de Westminster de governo (ou ‘governo de gabinete’), em que o primeiro-ministro se tornou o primus inter pares (o primeiro entre iguais) no gabinete e chefe de Governo do Reino Unido. A sua posição política foi aumentada pela configuração dos partidos políticos modernos, a introdução de meios de comunicação em massa e da fotografia. No século XVIII, a figura do primeiro-ministro tomou a forma agora vigente no UK.

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Liz Truss é um importante elo da cadeia iniciada por Sir Robert Walpole, 1.º Conde de Orford, a 4 de abril de 1721, é o 15.º chefe de Governo no reinado de Isabel II e é a 3.ª mulher a ocupar o cargo. Politicamente continua a linha de Boris Johnson, acentuando a componente liberal. Mais e melhor do mesmo. Os trabalhistas que se cuidem! Será Liz Truss capaz de travar a ascensão da extrema-direita no Reino Unido? Porque não gosta da Europa?

2022.09.06 – Louro de Carvalho

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