sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Abolir uso da máscara implica mudança do nível de proteção

 

Portugal decretou o fim do uso obrigatório generalizado de máscara contra a covid-19, pelo que a população circula com o rosto destapado, exceto nos lares de idosos e nas unidades de saúde stricto sensu. Por conseguinte, o nível de proteção conferido por este equipamento mudou.

Assim, estar uma pessoa integralmente segura apenas por usar máscara depende da tipologia da que tem a tapar-lhe o rosto. No atual contexto, as máscaras sociais e cirúrgicas já não protegem da covid-19 o próprio indivíduo. Portanto, a opção terá de ser pela máscara FPP2 ou pela N95, como recomendam os especialistas, que aconselham a Direção-Geral da Saúde (DGS) a informar melhor os cidadãos. Com efeito, sem a generalização das máscaras sociais ou cirúrgicas, perdeu-se o escudo protetor coletivo que existia, com cada cidadão a evitar a infeção de outros.

Agora, para estar seguro é preciso usar o modelo FPP2 ou o modelo N95, ou seja, máscara que trave a contaminação de dentro para fora e de fora para dentro, protegendo também o portador.

Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, sustenta que o Ministério da Saúde e a DGS deviam emitir parecer técnico claro a explicar à população que agora as máscaras comunitárias não são recomendadas de todo, que as cirúrgicas só devem ser usadas quando queremos proteger os outros e que, para proteção individual do portador, “têm de ser usadas máscaras FPP2”. E lamenta que a informação nem conste no documento com as linhas orientadoras para os próximos outono e inverno, que a DGS apresentou a 2 de setembro.

Entretanto, cabe a todos os agentes de Saúde informar os seus utentes sobre a utilização de máscara no atual contexto. Há muitas pessoas que querem proteger-se, mas usam a máscara comunitária ou cirúrgica, que só serve para proteger os outros. E Tato Borges recorda que, “ao longo dos últimos dois anos, foi divulgada muita informação que permitiu às pessoas perceber a diferença entre as máscaras, sendo a FPP2 mais segura e eficaz. No entanto, como a generalidade dos serviços de saúde exigia o uso da máscara comunitária ou cirúrgica à venda no mercado normal (até a forneciam aos utentes em vez da que usavam), muitas pessoas continuam a usar a máscara cirúrgica pensando que se protegem a si próprias, quando só protegem os outros.

Os especialistas em saúde pública julgam premente esclarecer, ainda antes dos próximos meses frios e de maior risco de infeção, que as máscaras sociais ou cirúrgicas são para proteger o próximo e que as FPP2 protegem os outros e o próprio portador.

Além disso, os especialistas não avalizam a liberdade de circulação nas farmácias sem máscara, pois, segundo eles, não faz sentido as farmácias não terem sido consideradas locais de prestação de cuidados de saúde ou de risco acrescido, ao invés dos centros de saúde, dos hospitais e dos lares. Em termos científicos, as farmácias são equivalentes aos cuidados primários de saúde e até são muitas vezes o primeiro local onde os cidadãos vão e fazem testes à covid-19. A própria Associação Nacional das Farmácias (ANF) e a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (APIFARMA) já contestaram a decisão das autoridades, mas essa mantém-se por agora.

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A 7 de janeiro deste ano, António Morais, presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, dizia à CNN Portugal que a regra de ouro era que se use máscara – comunitária, cirúrgica, FFP2 ou N95 –, fosse qual fosse. Porém, já explicitava as condições do uso dos diversos tipos de máscara. Se a máscara cirúrgica for usada por todos, dá uma proteção à volta dos 90%, que é uma proteção elevada. Importa, contudo, colocá-la corretamente no rosto e trocar de máscara ao fim de quatro horas. Quanto às máscaras comunitárias, ainda muito usadas na sociedade, Morais explicava, reportando-se à reunião do Infarmed naqueles dias, que importa verificar se são certificadas, pois só assim têm o nível de proteção necessário. E apontava o problema de haver uma variedade de máscaras deste tipo não certificadas que podem não dar a devida proteção, quer a quem a usa quer a quem contacta com essa pessoa. Por isso, é importante que sejam avaliadas pelo Centro Tecnológico Indústrias Têxtil Vestuário (CITEVE) e que tenham as caraterísticas apropriadas, caso contrário, não têm proteção.

À mesma data, o virologista Pedro Simas observava, também na CNN Portugal, que as máscaras cirúrgicas eram suficientes, até porque Portugal estava “na melhor situação possível”, graças à taxa de vacinados.

Também o presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia defendia que não se “devem descartar de vez” as máscaras cirúrgicas, lembrando que o que as máscaras filtram são as partículas e o que as torna diferentes é o tamanho das partículas que filtram. Morais afirma que “o vírus não mudou”, pelo que “uma máscara que tinha proteção para as variantes anteriores não deixa de ter para esta”, a Ómicron. Assim sendo, o uso de máscaras cirúrgicas – as que se vendem habitualmente nos supermercados – filtram as partículas de quem as usa, impedindo que se propaguem, e também protegem dos salpicos. Todavia, só são eficazes se todos as usarem. Com efeito, impedem a saída das nossas partículas, mas não são eficazes relativamente às partículas que vêm para nós. Aí as FFP2 são mais eficazes. Porém, se as máscaras cirúrgicas forem usadas por todos, aí a proteção é acima dos 90%. Portanto, as máscaras cirúrgicas funcionam, se todas as pessoas estiverem a usar máscara.

Das FFP2 António Morais diz que este tipo de máscaras “tem aparentemente mais proteção do que as cirúrgicas, mas os estudos sobre o assunto são metodologicamente controversos”, pois não há evidência de que tenham proteção superior. Pela sua natureza (são respiradores) aparentemente tal proteção existe, mas não há nenhum dado que o diga. As máscaras com a certificação FFP, que significa Filtering Face Piece, são denominadas “máscaras autofiltrantes” ou “respiradores”. E, tal como as máscaras N95, são equipamentos de proteção individual (EPI) que servem de proteção respiratória. O seu objetivo é proteger o utilizador da inalação de gotas, mas também de partículas no ar, que podem conter agentes infeciosos. O uso destas máscaras pode gerar um maior desconforto térmico e respiratório, pois criam uma barreira mais resistente. E os especialistas sustentam que as máscaras FFP2 ou FFP3 oferecem a melhor proteção contra o coronavírus, criando uma barreira com uma eficácia de 94% contra aerossóis. Devem ter várias camadas de tecido, um suporte de metal que fica ao longo do nariz e dizer na embalagem que são do tipo II ou III e classificação CE, como adverte o Instituto Federal de Medicamentos e Dispositivos Médicos da Alemanha.

as máscaras de proteção N95, tidas como as mais seguras, permitem a lavagem e, segundo um estudo intitulado “Filtration Efficiency, Effectiveness, and Availability of N95 Face Masks for COVID-19 Prevention”, publicado a 11 de agosto na revista científica JAMA, após a lavagem, mantêm a qualidade e a filtração elevada. A mesma publicação avança que, depois de analisada a utilização destas máscaras em vários hospitais dos Estados Unidos da América (EUA), ficou provada a eficácia de mais de 90%, valor superior ao das máscaras cirúrgicas. As N95 têm capacidade de filtrar 95%, ou mais, de partículas com 0,3 milímetros. E, como relembra Morais, “o tamanho da partícula não mudou com esta variante Ómicron”, mas quer as FFP2 quer as N95 são mais caras do que as cirúrgicas.

Porém, mudado o contexto, a eficácia da máscara cirúrgica acaba e o ónus da proteção recai sobre os cidadãos, que arriscam ou pagam mais. Assim, quase “vai tudo ao molho e fé em Deus”.

No entanto, arranca já no dia 7 de setembro campanha de vacinação sazonal contra a covid-19 e contra a gripe, como anunciou Graça Freitas, Diretora-Geral da Saúde, a 2 de setembro, em conferência de imprensa em Lisboa, estabelecendo que a convocatória decorrerá da mesma forma que as anteriores: a prioridade inicial serão as pessoas “mais vulneráveis” – com 80 ou mais anos de idade e as pessoas “com doenças, ou seja, comorbilidades”. “Neste outono/inverno podem e devem vacinar-se”, instou Graça Freitas, adiantando que serão utilizados os fármacos adaptados contra a covid-19 contendo a estirpe original e a variante Ómicron, aprovados a 1 de setembro pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA), “dado que estas vacinas têm um perfil de eficácia e segurança adaptado às novas variantes em circulação”.

São recomendadas para reforço da vacinação de pessoas a partir dos 12 anos as vacinas Cominarty (Pfizer/BioNTech) e Spikevax (Moderna), na versão atualizada e adaptada para proteção também contra a variante Ómicron do SARS-CoV-2.

A administração das vacinas pode ser feita no mesmo dia, em membros distintos – uma no braço direito e outra no esquerdo – visto que a prática de administrar estas vacinas ao mesmo tempo é segura e é efetiva. Contudo, a vacina contra a covid-19 será administrada com pelo menos três meses de intervalo desde a última dose ou infeção, para garantir que ninguém fica desprotegido. Os elegíveis para a vacina sazonal contra a covid-19 fazem só esta dose, independentemente dos reforços efetuados no passado. Isto significa que basta ter as duas doses iniciais e, depois, a vacinação sazonal “como se faz para a gripe”. E, para quem não fez as duas doses iniciais da vacina contra a covid-19, as únicas vacinas aprovadas são as originais. 

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Ante a ineficácia relativa da máscara, passamos a confiar novamente na vacina e em Deus!

2022.09.02 – Louro de Carvalho

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