terça-feira, 26 de setembro de 2023

Responsabilidade pelas despesas do Sínodo eclesial da sinodalidade

 

Durante o mês de outubro (do dia 4 ao dia 29), bispos de vários países, padres, leigos e religiosos reunir-se-ão, no Vaticano, para o Sínodo da Sinodalidade, que tem por tema: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.

A XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos constitui a primeira fase do culminar da caminhada eclesial iniciada, na cidade de Roma, em 2021 e que passou pela etapa diocesana, pela etapa nacional e pela etapa continental; a segunda fase ocorrerá em outubro de 2024.

Pela primeira vez, na História da Igreja, leigos (homens e mulheres) terão direito de voto no documento final que o sínodo deve preparar.

A novidade das participações muda o orçamento e o investimento necessários para lançar um evento desta magnitude. Como disse Thierry Bonaventura, chefe de comunicação do Sínodo dos Bispos, à ACI Prensa, agência em Espanhol do grupo ACI, “as coisas diversificaram-se”.

O custo total do Sínodo ainda não foi definido e a Santa Sé não comunicou um valor oficial das despesas, cálculo difícil de estimar devido principalmente ao número de pessoas que viajam para a capital italiana.

O investimento do Sínodo cabe, em grande parte, à Santa Sé, encarregada de financiar os custos da Sala Paulo VI, bem como os das refeições e os do alojamento dos participantes de nomeação pontifícia, ou seja, os escolhidos pelo papa Francisco. Nos Sínodos anteriores, como foi confirmado, as dioceses de cada país foram responsáveis ​​pelo financiamento dos bispos que enviaram a Roma, bem como as respetivas associações foram responsáveis ​​por cobrir as despesas dos seus representantes. E assim continuará a ser, em princípio. Os leigos, por sua vez, assumem os seus próprios custos. Porém, além de pagar para os escolhidos pelo papa Francisco, a Santa Sé oferece ajuda a quem tem dificuldades financeiras e não consegue cobrir tudo o que significa viver quase um mês numa das cidades mais visitadas do mundo.

Thierry Bonaventura recordou que a Santa Sé segue o princípio da “subsidiariedade” e disse que “quem pode, pode, e se não, nós ajudamos”. É o caso da Argentina, onde, segundo a Conferência Episcopal Argentina (CEA), os bispos participantes costumam receber passagens aéreas da Secretaria-Geral do Sínodo. Porém, os bispos brasileiros escolhidos pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para o sínodo terão os seus custos pagos pelas próprias dioceses.

O Conselho Episcopal Latino-americano e Caribenho revelou que a etapa continental do sínodo, em quatro assembleias, foi custeada pelas Conferências Episcopais de El Salvador, do Equador, da República Dominicana e do Brasil. Cada participante pagou a sua passagem. Agências que apoiam as missões na América Latina colaboraram. Parte dos custos operacionais foi paga pela própria Secretaria-Geral do Sínodo os Bispos.

Fontes da Conferência do Episcopado Mexicano (CEM) disseram que, nas edições anteriores da Assembleia Sinodal, era a Secretaria-Geral do Sínodo a encarregada de financiar os bispos convidados pela Santa Sé, bem como o alojamento dos bispos, na Casa Santa Marta, no Vaticano, ou em outro local. No caso dos bispos escolhidos pelo Episcopado, foi a própria CEM que cobriu as despesas e os hospedou no Colégio Mexicano de Roma.

A assessoria de Comunicação da arquidiocese primaz do México revelou que cada diocese convidada para o Sínodo é um caso diferente e que, no caso do seu arcebispo, o cardeal Carlos Aguiar Retes, convidado diretamente pelo Papa, “o voo foi pago pela arquidiocese do México e as despesas de hospedagem foram custeadas pela Secretaria-Geral do Sínodo”.

A Conferência Episcopal Peruana informou que, geralmente, a Santa Sé “cobre tudo: viagens, estadia, alimentação, etc., porque é um evento da Igreja Católica que dura quase um mês”.

A Conferência Episcopal Espanhola (CEE) sustenta que a própria CEE “paga a viagem dos três bispos espanhóis designados pela Assembleia Plenária e a sua estadia em Roma”. Também é responsável pelo pagamento da “sua estadia no Colégio Espanhol”, em Roma. E, no caso dos bispos portugueses, é a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) que se encarrega das despesas e os aloja no Colégio Português, em Roma.

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Efetivamente, as coisas mudaram. A 7 de julho, foi apresentada, na Sala de Imprensa da Santa Sé, a lista dos nomes que compõem a Assembleia Geral que se realizará no Vaticano em outubro. São 363 membros com direito a voto. As mulheres são 85, das quais 54 com direito a voto: duas delas entre as presidentes delegadas. O número de delegados fraternos sobe para 12. “Procuramos uma representação de todo o povo de Deus”. Foi o que garantiu o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, que participou na apresentação da lista dos participantes. Ao seu lado, estavam os subsecretários Irmã Nathalie Becquart e monsenhor Luis Marín de San Martín, e um dos dois secretários especiais da assembleia, o padre Riccardo Battocchio, reitor do Almo Collegio Capranica, presidente da associação teológica italiana. 

O critério que guiou a formulação da lista, explicou o cardeal Grech, foi garantir a variedade em termos de carismas, vocações, experiências eclesiais, idade, país de origem. Os membros, com direito a voto, são no total 363: os representantes das várias Conferências Episcopais do Mundo (África, 43; América, 47; Ásia, 25; Europa, 48; e Oceânia, 5) e os delegados da Igrejas Orientais Católicas (20), bem como os 50 membros por nomeação pontifícia.

De uma lista de 140 pessoas proposta pelos organismos continentais, o Papa escolheu 70 fiéis não bispos (incluindo cinco consagrados e cinco consagrados), selecionados sobretudo em virtude da participação em várias funções do processo sinodal, metade homens e metade mulheres.

“A ‘representação’ é uma qualidade densa – declarou o padre Giuseppe Bonfrate, ordinário de Dogmática na Gregoriana, um dos presidentes delegados – que não poderia ser compreendida sem se sentir parte daquela efervescência do Espírito Santo que, em união com Cristo e com todo o género humano, é a sacramentalidade, à qual o Concílio Vaticano II associa a Igreja”.

“No Sínodo para a Amazónia – recorda Irmã Becquart – as mulheres eram 10% da assembleia, desta vez são muito mais”. O número de mulheres presentes na assembleia é de 85 (incluindo as mulheres da Secretaria-Geral), das quais 54 têm direito a voto. Uma novidade é a presença de duas mulheres entre os presidentes delegados, ou seja, os que presidem a Assembleia do Sínodo em nome e por autoridade do Pontífice, quando este não está presente. María de los Dolores Palencia Gómez, 74 anos, mexicana, da Comunidade de Vida Cristã, está na Congregação das Irmãs de São José de Lyon. O seu ministério focou-se na educação, pastoral das periferias, nas comunidades eclesiais de base, na pastoral indígena, nas migrações. “No meu caminhar com os migrantes – vincou – aprendi muito com eles, o impulso de um sonho que gera liberdade, alegria, capacidade de risco, solidariedade recíproca e resiliência”. Depois tem a Irmã Momoko Nishimura, Missionária das Servas do Evangelho da Misericórdia de Deus, que traduziu para o Japonês a Encíclica Fratelli tutti e fez parte da equipa de discernimento e de redação da Assembleia Sinodal Continental Asiática em Bangkok, Tailândia.

Serão 12 delegados fraternos a representar outras Igrejas e comunidades eclesiais. No passado eram oito. Também esta é novidade a relevar a dimensão ecuménica que queremos dar ao evento. Os nomes ainda não foram divulgados, mas os organizadores garantiam que a lista referente a eles seria divulgada dentro de alguns dias. Há também os convidados especiais (8), que participam na Assembleia, mas não das decisões. Entre estes, destaca-se Luca Casarini, líder no-global, de “Mediterranea Saving Humans”. E, novamente, surgem os peritos e os facilitadores: os primeiros participam como convidados, mas não são membros do Sínodo, cooperam com os secretários em virtude das suas competências específicas; os segundos facilitam o intercâmbio nos chamados círculos menores. 

Também foi selecionado um representante do “Sínodo Digital”, acrescentou o cardeal Grech, que disse ter pedido ao Dicastério para os Leigos e Família que propusesse o envolvimento de algumas pessoas com deficiência, mais uma prova da intenção de inclusão máxima.

Os jornalistas presentes no briefing levantaram questões sobre a eventualidade de que – tendo em conta o que podia ser considerado uma caraterização leiga do Sínodo – a denominação do evento pudesse ser modificada. O cardeal Grech respondeu, esclarecendo qualquer mal-entendido a esse respeito: “O Sínodo dos Bispos permanecerá como tal na redação. Os bispos têm um ministério fundador, são o guia do povo de Deus a eles confiado.” E assinala que os encontros continentais eram também assembleias eclesiais nas quais puderam ser expressas as diversas solicitações do povo de Deus. “O caráter episcopal do Sínodo deve ser salvaguardado, não pode ser transformado em algo diferente”, afirmou.

A vincar este aspeto, falou aos microfones da Rádio Vaticano o teólogo padre Riccardo Battocchio que, aliás, diz ver-se envolvido num momento “emocionante” para a vida da Igreja. “Na Igreja existem diversos processos sinodais e diversas estruturas sinodais – explicitou – que podem ser genericamente definidos como sinodais. Esta é a Assembleia do Sínodo dos Bispos. É um momento, não o único, em que os bispos expressam a sua responsabilidade. É certo que a Assembleia Sinodal não esgota a sinodalidade da Igreja”.  

“A teologia não vive de si mesma, mas vive da fé do povo de Deus que nasce do livre, pleno e consciente acolhimento do Evangelho, tal como é vivido pela tradição da Igreja e assim como é tutelado também pelas intervenções do magistério, pela fé de todos. A teologia tem a tarefa de ajudar a proteger a fé de todos, tentando responder às questões que surgem do presente, articular uma linguagem que permita, não tanto a comunicação publicitária, mas aquela interlocução com o pensamento, com a vida das pessoas que habitam este mundo e este tempo, para que, na mudança, haja uma vínculo com a origem que olha sempre para o futuro. Se houver ‘abalos’ o importante será enfrentá-los juntos, para que sejam um momento de vida e não de morte”, disse.

A atenção aos jovens foi preocupação marcante, desde o início, dos organizadores, que previram a participação de um casal de jovens por continente.

De Itália destacam-se, entre outras especialistas, Erica Tossani, da Caritas Ambrosiana. Entretanto, vem de Moçambique a Secretária da Comissão para a Informação do Sínodo, Sheila Leocadia Pires, jornalista, da equipa de coordenação das comemorações do Jubileu de Ouro do Comité Episcopal Pan-Africano para a Comunicação Social, que trabalhará ao lado do prefeito Paolo Ruffini, do Dicastério para a Comunicação. “Não tenho a certeza se sou a primeira mulher a ser nomeada para uma posição do género, mas certamente, como uma mulher africana de Moçambique que vive e serve a Igreja na África do Sul, acho que o Papa Francisco está a dar um bom sinal a todas as mulheres do Sul Global, especialmente na África”, afirmou.

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Entretanto, a 21 de setembro, foram divulgados os nomes dos novos participantes do Sínodo, entre os quais o arcebispo de Brasília e dois bispos da China. A assembleia será composta por 365 membros (não 363), incluindo o Papa.

Segundo Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação, esta não é a primeira vez que bispos chineses viajam a Roma para participar numa Assembleia dos bispos, como sucedeu, em 2018, no Sínodo dos Jovens. Contudo, então só participaram em algumas sessões. Desta vez, Dom Antonio Yao Shun e Dom Joseph Yang estarão presentes em todas as reuniões.

Para Ruffini, a incorporação destes bispos demonstra “a importância do povo chinês” e a sua presença é muito significativa para a Igreja. E Dom Luis Marín de San Martín, subsecretário do Sínodo, disse que isto representa “a riqueza da universalidade” da Igreja e que “todos os bispos estão incluídos nesta dinâmica”. Não são os únicos nomes pertencentes a este país asiático. Na lista inicial já constavam Dom Stephen Sau-Yan Chow, bispo de Hong Kong, China, e do padre Andrea Ding Yang, da diocese de Chongqing, China Continental.

Também participarão o cardeal Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília (DF), e Dom Vincenzo Paglia, presidente da Pontifícia Academia para a Vida. Por sua vez, o cardeal Luis Francisco Ladaria Ferrer solicitou, por razões desconhecidas, que o Papa retirasse o seu nome.

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Com vicissitudes e com as despesas repartidas, solidária e subsidiariamente, o Sínodo avança.

2023.09.26 – Louro de Carvalho

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