quarta-feira, 13 de setembro de 2023

A OCDE publicou o relatório ‘Education at a Glance 2023’

 

Trata-se de um estudo que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) publica anualmente e que apresenta o panorama do estado da Educação em todo o Mundo, com referência ao ano anterior, neste caso em relação a 2022. As principais conclusões, no atinente a Portugal, do relatório ‘Education at a Glance 2023’, publicado a 12 de setembro, dizem respeito aos gastos do país com a Educação, à conclusão dos diversos ciclos de educação e ensino, à Educação e ao Trabalho e aos vencimentos dos professores. 

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O relatório mostra que Portugal não se afasta da média da OCDE, quando se compara apenas o investimento feito, em 2020, por 39 países, tendo em conta a percentagem de produto interno bruto (PIB). Com efeito, Portugal gastou 5,1 % do seu PIB em instituições desde o ensino básico ao superior, “percentagem semelhante à média dos países da OCDE”.

O nosso país gastou, anualmente, em Educação um valor semelhante à média dos países da OCDE, mas a despesa por estudante é 14% mais baixa em Portugal, rondando os 10,074 mil euros (10,816 mil dólares) contra os 11,779 mil euros (12,647 mil dólares) da média da OCDE, segundo valores ajustados pelo fator de conversão da paridade do poder de compra (PPP).

No entanto, o valor gasto por nós representa, um esforço maior para o país, já que a despesa por estudante equivale a 31% do PIB ‘per capita’, enquanto a média da OCDE é de 27%.

O estudo mostra, ainda, como foi distribuído o financiamento pelos diferentes níveis de ensino: 30% foi canalizado para os 1.º e 2.º ciclos; 22% foi para o 3.º ciclo; 23% seguiu para o ensino secundário; e o restante financiou cursos pós-ensino obrigatório (por exemplo, licenciaturas, mestrados ou doutoramentos).

Em Portugal, o financiamento privado tem mais peso no ensino obrigatório, representando 12% das despesas, contra 9% da média da OCDE.

“Em média, nos países da OCDE, mais de metade da despesa pública com o ensino não superior – primário a pós-secundário – provém dos governos subnacionais. Em Portugal, 82% do financiamento provém do governo central, após transferências entre níveis de governo, 7% do nível regional e 11% do nível local”.

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A maioria dos jovens continua a estudar depois do ensino secundário regular (cursos científico-humanísticos), mas não depois do ensino profissional, preferindo, neste caso, seguir diretamente para o mercado de trabalho. Ou seja, olhando para a situação dos jovens após concluírem o ensino secundário, o relatório revela que 80% dos graduados no ensino regular continua a estudar, opção seguida por apenas 18% dos alunos que frequentaram o ensino profissional.

Assim, a maioria dos estudantes do ensino profissional opta por seguir diretamente para o mercado de trabalho e, de acordo com as conclusões do relatório, que destaca, desta vez, o ensino e formação vocacionais, uma “educação profissional de elevada qualidade pode facilitar a transição da escola para o trabalho”. Em linha com a tendência geral, também em Portugal os jovens que frequentaram o ensino profissional parecem ter mais facilidade em arranjar emprego, quando chegam ao mercado de trabalho, comparando com os colegas que concluíram o ensino secundário regular ou que são detentores de cursos de nível pós-secundário não superior, como os cursos de especialização tecnológica.

De acordo com o relatório, “8,1% dos jovens adultos que frequentaram o ensino secundário profissional estão desempregados, comprando com 8,4% dos que têm ensino secundário regular”.

Na comparação entre as duas vias de ensino, o relatório refere, ainda, que, enquanto 86% dos alunos do ensino regular conseguem concluir o curso até dois anos após a duração prevista, ou seja, em cinco anos, só 69% é que cumprem o mesmo feito no ensino profissional, sendo que muitos, ao final de cinco anos, acabam por desistir.

Não obstante, apesar de cada vez mais alunos escolherem esta via de ensino, Portugal continua a ter poucos jovens a frequentar programas vocacionais (cerca de 39%, em 2021), 5% abaixo da média da OCDE, sendo que a esmagadora maioria está no ensino profissional.

Comparando com a média, Portugal posiciona-se ainda mais abaixo no respeitante à percentagem de jovens, entre os 25 e 34 anos, cujo nível de qualificações mais elevado está relacionado com a formação ou ensino vocacionais.

Enquanto o nível de ensino mais elevado de cerca de 30% dos jovens da OCDE tem orientação profissional, em Portugal, a percentagem é de apenas 21%, estando entre as mais baixas, à frente apenas de outros 10 países.

É na Áustria que a formação e educação vocacionais parecem ser mais valorizadas, uma vez que as qualificações de pouco mais de metade dos jovens têm orientação profissional.

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Em 2022, em Portugal, 11,4% dos jovens (um em cada 10), entre os 18 e os 24 anos, não estudavam nem trabalhavam – uma percentagem menor do que a média da OCDE.

De acordo com a OCDE, a permanência nessa situação tem consequências negativas futuras e, por isso, reduzir a percentagem de jovens “nem-nem”, que não estudam nem trabalham, é “um desafio particularmente importante em todos os países”. “Aqueles que se tornam ‘nem-nem’ enfrentam piores resultados no mercado de trabalho e, mais tarde, na vida, do que os seus pares que continuam a estudar ou a formar-se nessa idade”, alerta o relatório.

Contudo, os dados apontam que a situação em Portugal não é tão problemática como na média da OCDE ou da União Europeia (UE) e que o país está mesmo entre os 15 com percentagens mais baixas de jovens entre os 18 e 24 anos que não estudam nem trabalham.

A percentagem mais baixa é registada nos Países Baixos (4,1%), enquanto na Turquia, no polo oposto, cerca de um terço dos jovens não estuda nem trabalha.

O ‘Education at a Glance’, que retrata o ensino, desde a educação pré-escolar ao ensino superior, em 48 países, destaca o número cada vez maior de pessoas em idade ativa que foram além do ensino secundário. Atualmente, na OCDE o ensino secundário e o ensino superior têm já o mesmo peso nas qualificações da população entre os 25 e 64 anos (cerca de 40%). Em Portugal, por contraste, 39,6% da população em idade ativa não tem sequer o ensino secundário, mas o ensino superior é cada vez mais proeminente nas qualificações dos portugueses. “A percentagem de pessoas entre os 25 e 34 anos com ensino superior aumentou substancialmente nos últimos anos”, de 33%, em 2015, para 44%, em 2022. Olhando para os adultos até 64 anos, 31% frequentaram o ensino superior. Na chegada às universidades e aos institutos politécnicos, as licenciaturas são o programa mais popular (76%), mas há quem opte por cursos de curta duração, como os cursos técnicos superiores profissionais.

O relatório, que destaca, na edição deste ano, o ensino e formação vocacionais, sublinha, ainda, a importância da formação ao longo da vida, como resposta às mudanças cada vez mais rápidas nas exigências do mercado de trabalho.

A esse nível, Portugal posiciona-se melhor do que a média da OCDE, no que respeita à frequência de formações profissionais. Segundo o relatório, 17% dos detentores de cursos superiores já participaram em formações desse género, sendo a percentagem de 10%, entre a população com o ensino secundário regular, e 9%, com o ensino profissional.

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O relatório sublinha a importância dos salários dos professores para atrair jovens para a profissão, não sendo a falta de professores nas escolas um problema exclusivo de Portugal.

A maioria dos professores portugueses do ensino não superior ganha menos oito mil euros anuais do que a média da OCDE, revela a OCDE que julga os ordenados dos docentes um “fator determinante da atratividade da profissão”.

Ora, entre 2015 e 2022, os salários dos professores no ensino secundário, com a qualificação mais prevalecente e 15 anos de experiência, diminuíram em cerca de metade de todos os países da OCDE. Em Portugal, diminuíram 1% naqueles sete anos.

Comparativamente com outos países, os professores portugueses, em especial os do 3.º ciclo, estão financeiramente pior do que os colegas de muitos outros países da OCDE. Após os ajustes e tendo em conta o poder de compra de cada país, o relatório apresenta o salário anual médio desses professores com 15 anos de experiência: os portugueses ganham 44277 dólares anuais (29100 euros), enquanto a média da OCDE é de 53456 dólares euros anuais (49789 euros). Ora, segundo o relatório, “os salários dos professores são um importante fator determinante da atratividade da profissão docente, mas representam também a maior categoria de despesas no setor da educação formal”.

Em Portugal, o descongelamento dos salários na função pública, em 2018, permitiu a recuperação gradual dos salários dos professores até 2022, mas “não se alteraram muito” os ordenados dos docentes do ensino não superior entre 2015 e 2022, ao invés da média da OCDE, que subiu 4%.

Porém, quando se comparam salários dentro de um país, os professores portugueses destacam-se pela positiva, com os docentes do ensino obrigatório a ganhar “mais 42%” do que a média dos restantes trabalhadores com formação superior. Entre as justificações para este facto – em que Portugal aparece como “um dos poucos países onde os salários médios efetivos dos professores continuam a ser superiores ao da média” – os relatores apontam o facto de se tratar de uma classe envelhecida em que grande parte “está perto do topo da sua carreira”.

Voltando às comparações internacionais, o relatório revela que o custo médio dos ordenados por aluno é de 3798 euros em Portugal, enquanto a média da OCDE é de 3370 euros. Entre as justificações para esta situação está o facto de, em Portugal, os alunos terem mais horas anuais de aulas obrigatórias e as turmas serem mais pequenas do que a média da OCDE.

O tempo total de ensino básico varia muito de país para país, sendo a média da OCDE de 7634 horas distribuídas por nove anos de escolaridade, enquanto em Portugal são 7700 horas.

Os investigadores estimam que o tempo de instrução dos alunos acima da média aumente os custos em 443 euros e as turmas mais pequenas possam representar um aumento de 404 euros.

O estudo apresenta ainda outras duas condicionantes, mas com menos impacto: “Os salários mais elevados dos professores aumentam os custos em 50 euros, enquanto as horas de ensino acima da média reduzem os custos em 470 euros”, lê-se no relatório, segundo o qual em Portugal, entre 2015 e 2021, o custo salarial dos professores por aluno aumentou 16%.

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Em Portugal, é sublinhar que grande parte do sucesso escolar é martelada para as estatísticas: os programas curriculares são extensos e ambiciosos e a tendência é para treinar baterias de testes e para hipervalorizar atitudes e comportamentos vistos do lado positivo. Por outro lado, há várias dificuldades, quer na mudança de ciclo de ensino, quer na aproximação aos ambientes de trabalho (nem sempre há sintonia entre esses ambientes e a escola).

Quanto à função docente, o salário é insatisfatório (é falacioso comparar com outros habilitados com o ensino superior, que estão mal pagos), mas pior do que isso são as condições de trabalho (sobrecarga administrativa e burocrática), lentidão na progressão na carreira, desprestígio da classe fomentado por governos e alguns setores da opinião pública e elevados custos na habitação e nas deslocações. Se isso é transversal a outros países, maior atenção requer dos decisores políticos em termos de regulação das relações económicas e da aposta na Educação.

2023.09.12 – Louro de Carvalho

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