sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Alerta para aumento de transmissão de covid-19 na UE

O Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa) alertou, a 7 de setembro, para o recente aumento da transmissão do vírus da covid-19 na União Europeia (UE) e no Espaço Económico Europeu (EEE), recomendando às autoridades de saúde nacionais, na altura em que começam as campanhas de vacinação, que se centrem nos fatores que, anteriormente, impediram a adesão às vacinas da covid-19.

“Nas últimas semanas, os sinais de transmissão do SARS-CoV-2 [responsável pela covid-19] aumentaram em relação aos níveis anteriormente muito baixos na UE e no EEE”, alerta aquela agência europeia, em comunicado, ao mesmo tempo que salienta que, em agosto, foram ainda notificadas deteções esporádicas de uma subestirpe do Ómicron que é “altamente divergente das estirpes de SARS-CoV-2”, causando “preocupações quanto a um aumento das reinfeções, se ultrapassar as variantes existentes”.

O ECDC refere que as grandes concentrações de pessoas e o aumento das viagens nas férias sazonais, bem como a diminuição dos níveis de proteção imunológica contra a infeção na população, contribuem para o aumento dos indicadores epidemiológicos.

A seis de setembro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) manifestou inquietação com as “tendências preocupantes” relativamente à covid-19, com a aproximação do inverno no hemisfério norte, apelando à vacinação e à vigilância sobre o vírus.

Como precisou o diretor-geral da OMS, apesar de não existir, atualmente, uma variante dominante no Mundo, a subvariante da Ómicron EG.5 está em ascensão.

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A covid-19 é uma doença respiratória causada pelo SARS-CoV-2, um tipo de vírus detetado em finais de 2019 na China e que se disseminou rapidamente pelo Mundo, assumindo várias variantes e subvariantes, umas mais contagiosas do que outras.

A doença foi classificada como pandemia em 11 de março de 2020 e em maio de 2023 deixou de ser uma emergência de saúde pública internacional.

O último relatório da Resposta sazonal em saúde – Vigilância e Monitorização da Direcção-Geral da Saúde (DGS) refere que, de acordo com as amostras laboratoriais analisadas, a sublinhagem XBB da variante Ómicron, cuja circulação tem vindo a aumentar desde a semana um de 2023, tornou-se dominante na semana 10 de 2023, registando uma frequência relativa de 96,2 % nas semanas 31 a 33 de 2023 (de 31 de julho a 20 de agosto), em particular das sublinhagens XBB.1.5, XBB.1.9 e XBB.1.16 (e descendentes). E registou-se, na semana 33, um aumento de novos casos notificados a sete dias de infeção por SARS-CoV-2, com 31 casos por cem mil habitantes, mais 35% em relação à semana anterior.

Naquele documento da DGS, destaca-se que a sublinhagem XBB.1.9 (em particular a sua descendente EG.5.1) registou um considerável aumento de frequência em Portugal, representando cerca de 50% das sequências analisadas nas últimas três semanas (semanas 31 a 33 de 2023).

Já em relação à infeção por SARS-CoV-2 a nível mundial, de 24 de julho a 20 de agosto, verificou-se um aumento de 63% no número de novos casos e continua a verificar-se tendência decrescente do número de óbitos (-48%), comparativamente com o período anterior, refere a DGS. Acrescenta, ainda, que, segundo o ECDC, na semana 33/2023, há evidência de aumento da transmissão em mais de metade dos países da UE e do EEE, que comunicam dados, embora os níveis permaneçam baixos, com impacto limitado na doença grave.

Sendo assim, levanta-se, com pertinência, a questão da conveniência do uso ou não de máscara.

Em Portugal, segundo um responsável hospitalar, o uso de máscara voltou a ser obrigatório em internamento nos hospitais Santa Maria e Pulido Valente, na sequência do aumento do número de casos de covid-19, para interromper possíveis cadeias de transmissão da doença. E mais hospitais estão a ponderar a volta à obrigatoriedade do uso de máscaras, no que os especialistas concordam, mas sem alarme. No entanto, os hospitais do Norte (nomeadamente São João e Santo António) não estão a ponderar, para já, a obrigatoriedade do uso de máscara.

 “Temos de perceber que estamos num ambiente de normalidade social, portanto, não há nenhuma situação de alarme”, diz à agência Lusa José Artur Paiva, diretor do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistências a Antimicrobianos (PPCIRA) da DGS, no sentido de acalmar os ânimos, depois de dois hospitais de Lisboa terem regressado ao uso de máscaras. Desde 1 de setembro que o Centro Hospitalar Lisboa Norte, que abrange os hospitais Santa Maria e Pulido Valente, voltou a impor o uso de máscara nos locais de internamento para profissionais de saúde e para visitas.

No dizer do especialista, não há deteção de aumento do número de casos graves ou de hospitalizações, devido à covid-19, pelo que não há razão para voltarmos ao uso generalizado da máscara. Contudo, face a situações locais de aumento da incidência e de pessoas de especial fragilidade, o contacto deve ser feito com máscaras.

De acordo com o médico intensivista, cada unidade de saúde tem a sua unidade local do PPCIRA e, por isso, a decisão do centro hospitalar “é perfeitamente normal”, no âmbito de “uma medida com sensatez associada à situação específica do hospital em causa”. Para a DGS, a abordagem à covid-19 deve ter em conta “dois vetores essenciais”: a proteção dos mais frágeis e a responsabilização dos cidadãos, que devem adotar medidas de proteção, em relação aos outros, quando estão infetados.

Nesta altura, a doença está numa fase de transmissibilidade “um pouco maior”, face à entrada de uma nova variante mais transmissível, mas sem aumento da gravidade dos casos. E, segundo o médico, isto está a acontecer, devido à aglomeração de pessoas, como a que se verificou na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), nos festivais de verão e nas muitas festas locais.

Porém, Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (AMSP) refere que não são apenas “os eventos de massa”, como as jornadas, os festivais de música ou as “festas do pôr do sol” a contribuir para um aumento de casos. É também o facto de ter sido “introduzida uma sublinhagem da Ómicron com maior transmissibilidade, a EG.5”. Além disso, diz o médico, “as pessoas esqueceram-se do vírus e conviveram sem preocupação”.

Os dados da DGS indicam que, a 1 de agosto, foram notificados 258 casos e que, no dia 17, se registaram 633 infeções – recorde-se que já não é obrigatório os infetados ligarem para a linha Saúde 24 a informar que tiveram um teste positivo e que a monitorização de casos é feita através da rede sentinela e da rede laboratorial nacional, à semelhança do que acontece com a gripe.

Para Tato Borges, este aumento de casos está “dentro dos valores considerados aceitáveis”, mas não deixa de ser “um alerta”, para “termos mais cuidado”.

Quanto ao uso generalizado de máscaras, o médico de Saúde Pública aponta que “essa é uma incógnita que vai aparecer todos os invernos”, mas é da opinião que “é pouco provável que isso aconteça”. No entanto, se aparecer uma variante nova “poderá ser preciso”.

Dado que, no inverno, circulam vários vírus respiratórios, “alguns hospitais poderão tomar essa medida” para proteger os utentes e profissionais.

Assim, a DGS defendeu, a 6 de setembro, que o uso de máscaras de proteção deve ser decidido por cada hospital, face à evolução dos casos em cada unidade e para proteger os mais frágeis. E o diretor do PPCIRA da DGS esclarecia que a medida tomada pelos dois hospitais de Lisboa, referidos, de obrigar ao uso da máscara “é perfeitamente normal”, no âmbito de “uma medida com sensatez associada à situação específica do hospital em causa”, já que, para a DGS, o enfoque é “em dois vetores essenciais”: proteção dos mais frágeis e responsabilização do cidadão.

“O SARS-CoV-2 não foi embora” e carateriza-se, agora, pela situação de endemia, com flutuações no grau de incidência, como os outros vírus respiratórios, o da constipação, o da gripe, etc.” Como acentuou, a doença está em fase de transmissibilidade “um pouco maior”, face à entrada de nova variante mais transmissível, mas sem aumento da gravidade dos casos.

O doente hospitalar, diz Artur Paiva, é “um doente fragilizado numa grande parte dos casos” –, porque o vírus SARS-CoV-2, que provoca a covid-19, tem um “grau mais moderado a grave de expressão nos mais idosos e naqueles que têm doenças que debilitam o sistema imunitário”. Além disso, o cidadão deve ter a responsabilidade de usar máscara quando tem sintomas respiratórios, como espirros, tosse, dor de garganta, para evitar a transmissão de vírus respiratórios a outras pessoas.

Questionado se os dois princípios enunciados pela DGS devem ser aplicados nos lares, José Artur Paiva afirmou que sim, perante situações locais de aumento da incidência da doença. E sustentou que, se há aumento de casos numa determinada região ou num lar, “é uma ideia de sensatez” adotar estas “duas filosofias de comportamentos”, que são fundamentais e que permitem tomar decisões locais.

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Foi o Decreto-Lei n.º 26-A/2023, de 17 de abril, que teve como oportuna a cessação da obrigatoriedade do uso de máscaras e ou de viseiras em estabelecimentos e serviços de saúde e em estruturas residenciais ou de acolhimento ou serviços de apoio domiciliário para populações vulneráveis, pessoas idosas ou pessoas com deficiência, bem como em unidades de cuidados continuados integrados da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados.

O preâmbulo deste diploma, que veio na sequência de outros que foram abolindo o uso generalizado da máscara, justifica a medida com “a evolução da situação epidemiológica da doença covid-19”, com “o conhecimento científico”, com “a efetividade e a elevada cobertura vacinal atingida em Portugal”, com “o nível de conhecimento adquirido pela população sobre medidas de saúde pública”, nomeadamente a utilização de máscara, a etiqueta respiratória, a ventilação de espaços e o distanciamento físico, que “permitiram reduzir a letalidade e mortalidade, a incidência da doença, o impacto nos serviços de saúde, e retomar a atividade económica e social”.

O governo referia que Portugal, “em alinhamento com outros países europeus”, procedera “à eliminação da generalidade das medidas restritivas de resposta à pandemia da doença covid-19”. Desta vez, “considerando a evolução epidemiológica”, entendia que importava, “em matéria de obrigatoriedade de utilização de máscaras, rever as medidas de saúde pública, adequando-as e tornando-as proporcionais ao momento atual”. Não obstante, admitia que a utilização de máscaras continuava a ser “uma importante medida de prevenção da transmissão de SARS-CoV-2, sobretudo em ambientes e [com] populações de maior risco”.

Pessoalmente, na altura, considerei a medida precipitada e só a entendi como um ato político destinado à celebração do 25 de Abril, no Parlamento e na rua, de rostos descobertos. Não me enganei. O vírus, que ninguém vê, começou a fazer das suas. Por isso, em minha opinião, fazem bem os hospitais, os lares de terceira idade e as unidades de cuidados continuados que, ponderada a situação, em cada momento, entenderem tornar obrigatório o uso da máscara para utentes, para funcionários e para visitas.

A vida e a saúde são valores inestimáveis.

2023.09.08 – Louro de Carvalho

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