segunda-feira, 5 de junho de 2023

Dia Mundial do Meio Ambiente, o Dia Mundial da Nossa Casa

 

O ano de 2023 marca o 50.º aniversário do Dia Mundial do Meio Ambiente. O anfitrião é a República de Côte d’Ivoire, em parceria com os Países Baixos. Nos últimos 50 anos, a efeméride tornou-se uma das maiores plataformas globais para a sensibilização ambiental, com milhões de pessoas a participar, com governos, empresas, cidades e organizações comunitárias. Desta vez, destaca-se a poluição plástica e as soluções para a prevenir e para a combater.

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A Fossa das Marianas, o ponto mais profundo do oceano, o Monte Evereste, o mais alto do Mundo, situados nos ambientes mais remotos e inacessíveis do planeta, contêm ambos pequenos pedaços de plástico de atividades humanas, à distância de quilómetros. É a fração maior, mais prejudicial e mais persistente do lixo marinho, e representa, pelo menos, 85% dos resíduos marinhos. Encontra-se, em volumes crescentes, ao longo das costas, nos estuários, em enormes correntes oceânicas, em ilhas remotas, no gelo marinho, etc. Pelo fundo do mar, das regiões polares até às trincheiras mais escuras, lesa a vida marinha e danifica habitats.

Nos últimos 70 anos, este material, muito maleável, versátil e durável, infiltrou-se no mercado e permeou todos os cantos da Terra. Oferece benefícios importantes, desde dispositivos médicos, que salvam vidas, até ao armazenamento seguro de alimentos. Porém, os plásticos desnecessários e evitáveis poluem o planeta, em taxas alarmantes. Décadas de crescimento económico e a crescente dependência do plástico descartável ​​geraram uma torrente de resíduos para lagos, para rios, para ambientes costeiros e para os mares, criando inúmeros problemas. É crescente a ameaça aos ecossistemas, desde a fonte até ao mar. E, além do know-how, precisamos de vontade política e de ação urgente dos governos para enfrentar a crise crescente. 

A Organização da Nações Unidas (ONU) adverte que, sem uma ação urgente, os 11 milhões de toneladas métricas de plástico que entram, anualmente, no oceano, triplicarão nos próximos 20 anos. A omnipresença do lixo marinho e os impactos adversos da poluição plástica – da degradação ambiental às perdas económicas para comunidades e indústrias, aos riscos para a saúde humana – mostram que é a hora de darmos as mãos para mudar o rumo do lixo marinho e da poluição plástica, implementando as muitas (grandes e pequenas) soluções disponíveis, com urgência, inovação, compromisso e responsabilidade.

Os plásticos não são biodegradáveis. Decompõem-se, ao longo do tempo, em pedaços cada vez menores – microplásticos e nanoplásticos – que têm impactos adversos na vida marinha, que variam de danos físicos e químicos aos animais individuais, a efeitos mais amplos na biodiversidade e no funcionamento do ecossistema. Pedaços de plástico foram encontrados no sistema digestivo de muitos organismos aquáticos, incluindo todas as tartarugas marinhas e quase metade das espécies de aves de mamíferos marinhos. Tartarugas marinhas confundem sacolas plásticas flutuantes com águas-vivas e morrem de fome, enquanto os estômagos se lhes enchem de lixo indigerível. As aves bicam os plásticos, porque cheiram a comida e se parecem com ela. Mamíferos marinhos, tartarugas marinhas e outros animais afogam-se, presos em plásticos perdidos ou descartados, incluindo embalagens ou equipamentos de pesca.

Uma das principais causas de morte das baleias francas do Atlântico Norte, uma das mais ameaçadas do Mundo, está a ser capturada em equipamentos de pesca fantasma.

As toxinas encontradas nos plásticos afetam a cadeia alimentar oceânica e os pedaços de plástico absorvem poluentes que fluem da terra para o mar, como resíduos farmacêuticos e industriais. A toxicidade é transferível pela cadeia alimentar, à medida que as espécies marinhas comem e são comidas. Há crescente preocupação com espécies não nativas à boleia, através do oceano, em lixo flutuante por mares e por solos estrangeiros, como algas, moluscos e cracas, que invadem e degradam ambientes e espécies aquáticas distantes. O problema agrava-se com a acumulação do lixo plástico no fundo do oceano, sufocando os recifes de coral e a vida marinha.

Também as pessoas correm risco, devido ao lixo marinho e à poluição plástica. Pelo ar inalam microplásticos, consumindo-os por meio de alimentos e de água e absorvendo-os pela pele. Foram encontrados microplásticos em pulmões humanos, bem como no fígado, no baço e nos rins e até nas placentas de recém-nascidos.

Desconhece-se a extensão do impacto na saúde humana, pois a pesquisa é incipiente. Porém, há evidências de que produtos químicos associados a plásticos, como o metil mercúrio, os plastificantes e os retardadores de chama, entrando no corpo, prejudicam a saúde, sobretudo em mulheres. E os cientistas acreditam que produtos químicos encontrados em plásticos, como o bisfenol A, os ftalatos e bifenilos policlorados (PCBs), penetram no corpo e são associáveis à desregulação endócrina, a distúrbios do desenvolvimento, a anormalidades reprodutivas e ao cancro, o que é motivo bastante para a adoção da abordagem de precaução.

Os impactos da poluição plástica não são sentidos igualmente no Mundo. Os países mais ricos produzem mais resíduos plásticos, que fluem para os países menos desenvolvidos, onde a gestão de resíduos é menos sofisticada. A reciclagem reduz a produção e o desperdício de plástico, mas o problema é a baixa taxa de reciclagem de plásticos – inferior a 10%.

Comunidades de países em desenvolvimento são as menos capazes de gerir a carga ambiental, de saúde, social e cultural da poluição plástica, pela falta de apoio ou de fundos do governo. E mulheres, crianças, trabalhadores do lixo, comunidades costeiras, povos indígenas e pessoas que dependem do oceano sofrem os impactos mais intensamente, quando movimentam ou queimam resíduos mal administrados. E essas economias sofrem, estranguladas pelos plásticos.

Os plásticos marinhos dificultam a capacidade de uma miríade de ecossistemas de fornecerem os benefícios básicos que os humanos desfrutam e têm por garantidos: da água limpa à aquicultura e à pesca produtivas, ou ao controlo de pragas e doenças, à regulação do clima, ao património e à recreação.  A poluição plástica reduz o serviço do ecossistema marinho em, pelo menos, US$ 500 biliões a US$ 2.500 biliões em cada ano, sem incluir outras perdas sociais e económicas, como o turismo e a navegação. As perdas económicas diretas para as indústrias costeiras e marítimas, como a pesca e a navegação, são significativas. Na região do Mediterrâneo, as perdas são estimadas em cerca de US$ 138 milhões por ano. Na região de Cooperação Económica da Ásia-Pacífico, as perdas totalizam US$ 10,8 biliões, um aumento de quase dez vezes em relação a 2009. Contudo, essas perdas não são exatas, e os verdadeiros custos do lixo marinho e da poluição do plástico para a saúde humana, ambiental e saúde social ainda estão em descoberta.

O plástico é produzido sobretudo a partir de petróleo e do gás – combustíveis fósseis. Quanto mais plásticos se fabricarem, mais combustível fóssil será necessário e mais intensa ficará a crise climática. Além disso, estes produtos criam emissões de gases de efeito estufa em todo o seu ciclo de vida. Se não forem desencadeadas ações, as emissões de gases de efeito estufa da produção, a reciclagem e a incineração de plásticos, em 2040, representarão 19% das emissões permitidas pelo Acordo de Paris, para limitar o aquecimento a 1,5 graus Celsius (1,5ºC).

Embora a quantidade de plásticos marinhos a combater seja tão grande, a ciência diz-nos que a maioria das soluções já existe. Numerosas atividades regionais, nacionais e locais ajudam a reduzir o fluxo de plásticos para o oceano, como as Convenções Regionais dos Mares, as proibições nacionais de produtos plásticos descartáveis, os compromissos empresariais e governamentais para reduzir, redesenhar e reutilizar produtos plásticos, aumentar o conteúdo de plástico reciclado em novos produtos. “Breaking the Plastic Wave”, uma análise global de como mudar a trajetória dos resíduos plásticos, revela que podemos reduzir a quantidade de plástico que entra no oceano em cerca de 80%, nas próximas duas décadas, se utilizarmos as tecnologias e soluções existentes. E a avaliação “Pollution to Solution” refere que a escala do problema requer compromissos e ações urgentes a nível global, em todo o ciclo de vida dos plásticos e da fonte ao mar, para lograr a necessária redução de resíduos, a longo prazo.

Para tanto, urge melhorar os sistemas de gestão de resíduos, para a infraestrutura certa estar disponível para receber resíduos plásticos e garantir que uma alta proporção possa ser reutilizada ou reciclada; melhorar a circularidade, pelas práticas de consumo e de produção sustentáveis, ​​em toda a cadeia de valor do plástico; envolver os consumidores na abordagem da poluição plástica para influenciar o mercado e inspirar mudanças comportamentais; eliminar, gradualmente, os itens de plástico, evitáveis ​​e mais problemáticos, substituindo-os por outros materiais, produtos e serviços; fazer monitorização eficaz, para identificar fontes, quantidades e destino dos plásticos; melhorar e fortalecer a governança a todos os níveis; aprimorar o conhecimento e avaliar a eficácia, usando ciência sólida; e melhorar o financiamento com assistência técnica e capacitação.

Vários acordos e convenções internacionais já fornecem apoio para reduzir a poluição marinha, combater as mudanças climáticas e usar os oceanos de forma sustentável. A Parceria Global sobre Lixo Marinho, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar e a Convenção sobre Diversidade Biológica estão conexas com a saúde do oceano, com os ecossistemas e com a vida marinha. As convenções de Basileia, de Estocolmo e de Roterdão referem-se à movimentação e eliminação de resíduos perigosos e produtos químicos. 

Como em muitos ataques ambientais intergeracionais, requer-se pensamento sistémico, inovação e transformação. Porém, o objetivo é reduzir o uso de plásticos desnecessários, evitáveis ​​e problemáticos e interromper o seu fluxo para lagos, rios, pântanos, costas e mares. 

A Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA) é o órgão de tomada de decisão de mais alto nível sobre o ambiente, com a adesão dos 193 Estados-membros.

O relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) “Fechando a torneira: como o Mundo pode acabar com a poluição plástica e criar uma economia circular”, divulgado, a 16 de maio, em Nairóbi – antes da segunda ronda de negociações em Paris sobre o acordo global, para combater o plástico, e na sequência da Assembleia de maio de 2022 – descreve a magnitude das mudanças para, acabando com esta poluição, criar economia circular. Foca-se em soluções e analisa práticas concretas, mudanças de mercado e políticas públicas, para informar decisões governamentais e ação empresarial. E sugere a eliminação de plásticos desnecessários, com mudanças no mercado: reutilizar, reciclar e reorientar e diversificar. Ou seja, há que passar da economia do descarte para a economia circular.

O PNUMA é a principal voz global do meio ambiente. Fornece liderança e incentiva parcerias para o cuidado com o meio ambiente, inspirando, informando e capacitando nações e povos a melhorarem a qualidade de vida, sem comprometerem as gerações futuras.

Tanto numa economia de descarte como numa economia circular, os custos mais altos são os operacionais. Com a regulamentação para garantir que os plásticos sejam projetados para serem circulares, esquemas baseados na Responsabilidade Estendida do Produtor (REP) cobrem os custos operacionais para garantir a circularidade do sistema, exigindo que os produtores financiem a coleta, a reciclagem e o descarte responsável de plásticos no fim da vida útil.

Políticas públicas acordadas ajudam a superar os limites do planeamento nacional e da ação empresarial, a sustentar a pujante economia global circular de plásticos, a criar oportunidades de negócio e de emprego. Podem incluir critérios para produtos plásticos, que podem ser banidos, uma linha de base de conhecimento transfronteiriço, regras sobre padrões operacionais mínimos necessários dos esquemas de REP e outros padrões.

O relatório recomenda que se inclua uma estrutura fiscal global nas políticas internacionais para viabilizar a concorrência dos materiais reciclados com os materiais virgens, criando economia de escala para soluções, sistemas de monitorização e mecanismos de financiamento.

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Cá estamos empenhados nesta “cruzada” pela Nossa Casa!

2023.06.05 – Louro de Carvalho

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