domingo, 25 de dezembro de 2022

O Natal de 2022 a partir do Santuário de Fátima

 

 

Após dois anos em que a época de Advento e de Natal foi vivida com bastantes constrangimentos, por causa da pandemia por covid-19, os peregrinos foram, novamente, convidados a viver este período festivo, de forma especial e plena, no Santuário de Fátima.

Para tanto, o Santuário dinamizou, de 9 a 11 de dezembro, um retiro, na Casa de Retiros de Nossa Senhora do Carmo, com o tema “Uma noite alumiada por uma luz desconhecida’. A Esperança em Deus como espera ativa do Deus-connosco”, sob a orientação da irmã Sandra Bartolomeu, Serva de Nossa Senhora de Fátima, e com o objetivo de proporcionar a “oportunidade para rezar a vida do fim para o princípio, isto é, com os olhos postos na promessa de Deus, acendendo a Esperança para, a partir das circunstâncias de agora, construir o novo”.

A 11 de dezembro, na Basílica da Santíssima Trindade, na Missa das 11 horas, fez-se a bênção das imagens do Menino Jesus e a das quatro imagens do Menino Jesus usadas na veneração no tempo do Natal. E, pelas 16,30 horas, no mesmo templo, celebrou-se a Missa da Luz da Paz de Belém, com a cerimónia nacional de partilha deste ícone da paz, uma lanterna que guarda uma chama acesa na Gruta da Natividade, na Terra Santa.

A 13 de dezembro, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) anunciou que, respondendo a pedido urgente do Arcebispo de Kiev para apoio à Igreja da Ucrânia, particularmente o Seminário Maior da Santíssima Trindade com os seus 105 seminaristas e todas as instituições que dele dependem, bem como à missão dos 370 padres que passam grandes dificuldades no apoio às populações, decidiu lançar uma campanha de angariação de fundos as dioceses e em outras instituições eclesiais. Em diálogo com D. José Ornelas Carvalho, bispo da diocese de Leiria-Fátima e Presidente da CEP, ficou decidido que o Santuário de Fátima se associa a esta campanha, com uma oferta no valor de 20.000€.

A 18 de dezembro, a Missa das 11 horas, na Basílica da Santíssima Trindade, foi presidida por D. José Ornelas de Carvalho. Nessa celebração, antes da bênção final, fez-se a bênção das crianças e das grávidas. Pelas 15 horas, no Centro Pastoral de Paulo VI, teve lugar o concerto “Um conto de Natal”, pela Orquestra Filarmónica de Braga, com direção de Filipe Cunha. Esta iniciativa, promovida pelo Santuário de Fátima, no âmbito da programação do ano pastoral 2022/2023, com o tema “Maria Levantou-se e partiu apressadamente”, tem entrada livre e conta com a participação especial da Associação Tin.Bra Academia de Teatro. A orquestra surgiu, em 2014, da Associação Cultural Canto Daqui. Em 2019, lançou o primeiro disco, “Coração Cinéfilo”. A direção musical está a cargo do maestro bracarense Filipe Cunha e congrega elementos maioritariamente jovens bracarenses, dando-lhes assim a oportunidade de trabalho, experiência e evolução.

A 24 de dezembro, pelas 23 horas, na Basílica da Santíssima Trindade, os peregrinos foram instados a participar na Missa do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, a 25 de dezembro, solenidade do Natal do Senhor, a Eucaristia foi celebrada pelas 11 horas, na Basílica da Santíssima Trindade. Em todas as Missas houve a veneração da imagem do Menino Jesus. E, para todas as Missas das três solenidades (Natal, Santa Maria Mãe de Deus e Epifania) se agendou a recolha de ofertas durante a veneração do Menino Jesus, que reverterá para uma obra social (ou seja, a favor dos sem abrigo e migrantes apoiados pela Cáritas Diocesana de Beja), tal como se esclareceu que, durante a Oitava do Natal, no rosário, se meditam os mistérios gozosos.

No dia 30 de dezembro, a Igreja celebra a Festa da Sagrada Família e, em todas as Missas deste dia, depois da homilia, faz-se a Oração pelas Famílias.

A 31 de dezembro, os peregrinos serão instados a participar na missa com Te Deum de Ação de Graças, às 22,30 horas, na Basílica da Santíssima Trindade, sob a presidência do bispo diocesano.

Após a celebração, realizar-se-á a procissão para a Capelinha das Aparições, onde se recitará o Rosário. À meia-noite, após o toque do carrilhão, a assinalar o novo ano, haverá a consagração ao Imaculado Coração de Maria e o gesto da Paz. A noite terminará com um chá-convívio, na Casa de Nossa Senhora das Dores.

A 1 de janeiro, Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, depois da Missa das 15 horas, faz-se a procissão com o Santíssimo Sacramento para o Altar do Recinto de Oração. Nesta celebração, os peregrinos serão convidados a rezar de um modo particular pela paz no mundo.

***

Na sua Mensagem de Natal, o Padre Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário, considera que esta época faz “experimentar a imensa ternura com que Deus nos ama”.

“Nos nossos Presépios, contemplamos a Deus que Se faz próximo, que vem ao nosso encontro e nos mostra o seu amor sem medida”. Por isso, o Natal é a proclamação de que Deus nunca fica indiferente ao sofrimento e aos dramas da humanidade e de cada um dos seus filhos.

Assim, a alegria que suscita esta certeza faz-nos sentir a urgência de acolhermos a Deus que vem, no Menino do Presépio, para estarmos com Ele, e desperta-nos para a necessidade de não ficarmos indiferentes aos sofrimentos e dramas dos que nos cercam.

Evocando o tema pastoral do Santuário de Fátima, “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1,39), o reitor sublinhou o desafio a não ficar “indiferente” diante do sofrimento dos idosos, dos sem-abrigo, dos refugiados, de todos os que vivem na solidão, no sofrimento, no desespero. “A celebração do Natal é exortação veemente a vencermos a indiferença e a irmos apressadamente ao encontro daqueles que precisam da nossa ajuda” – concluiu.

***

No Missa da festa de Natal dos servidores do Santuário, a 18 de dezembro, o bispo diocesano deixou-lhes uma palavra de agradecimento pelo trabalho que ali realizam diariamente e que se traduz em “gestos concretos de acolhimento”.

A partir da liturgia daquele domingo, que nos diz que Jesus é o “Deus-connosco”, que veio ao encontro dos homens para lhes oferecer uma proposta de salvação e de vida nova, D. José Ornelas falou na “boa notícia” – o nascimento de Jesus, prestes a ser celebrado – e da proposta de “um caminho de vida”: “O Natal não é  mera questão de bolos e festas – expressão da doçura do carinho que Deus nos traz – mas significa que “Deus é fiel, intervém e transforma”.

O prelado invocou os sinais  de Deus, recebidos por Maria (a gravidez) e por José (o cuidado), para sustentar que “Deus é fiel à Sua palavra” e que nós temos “de colaborar com Ele”. “Isto não é um conto etéreo ou um jogo do nosso desejo: Deus salva o mundo, mas através de gente que Ele chama para O ajudar. Foi assim com Abraão, com Moisés... Deus realiza a salvação através das pessoas que chama e pessoas disponíveis para transformar o mundo”, disse, fazendo analogia entre a Palavra de Deus proclamada e a situação atual do mundo.

À semelhança do rei aflito, porque lhe invadem o território, “hoje vimos, nas imagens da Ucrânia, um povo que chora e um  país que trava uma guerra que não pediu e que lhe rouba a esperança”, vincou o prelado do Lis. “Todos precisamos de sinais para não perder a esperança e, no Natal, chegam-nos esses sinais, porque o filho de Maria é o herdeiro do Pai do Céu”, disse.

E concluiu: “Aquilo de que precisamos não é que Deus venha ao nosso encontro por causa de uma dorzinha ou de uma dor séria ou porque precisamos dele para superar as crises de solidão, de esperança, de preocupações como as que vivemos, e são tantas. O Natal significa confiança num Deus que vem e permanece em nós.

À bênção das grávidas, observou: “A maternidade é um sinal de que Deus continua a estar presente na vida; em cada criança há uma esperança de um mundo melhor. Tal como uma criança é uma alegria para a família também Jesus é uma alegria para o mundo porque traz a salvação.”

***

Na Missa da noite de Natal, o reitor do Santuário interpelou peregrinos a não esquecerem “aqueles que, esta noite, experimentam o drama da guerra, na Ucrânia e em tantos outros lugares do mundo, e não podem celebrar o Natal em paz”.

Considerou que esta “é uma noite especial, marcada pela alegria de nos sabermos amados por Deus, marcada pela irradiação da luz de Deus, que vem iluminar-nos, e marcada pela paz, que o Deus-Menino nos vem trazer”. Esta noite é noite de alegria, “porque hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo, e esta é a boa nova, a bela notícia deste dia de Natal, que nos enche de alegria”, disse o sacerdote, lembrando que foi com este anúncio que a celebração se iniciou.

No nascimento de Jesus, “experimentamos a imensa ternura com que Deus nos ama”. E é desta certeza de que “somos amados por Deus que brota a alegria desta noite e a alegria deste tempo do Natal”. “Essa alegria que o profeta Isaías descrevia, dizendo que Deus multiplica a nossa alegria, aumenta o nosso contentamento e nós rejubilamos na Sua presença”. E é na “simplicidade do relato de São Lucas, no Evangelho, como na contemplação dos nossos presépios, que nele se inspiram, transparece a imensa ternura e o amor desmedido de Deus para connosco”. Esta noite é uma noite de “luz”, e as iluminações natalícias lembram a “luz de Deus que vence as trevas”.

Vincou o Padre Carlos Cabecinhas que todos fazemos a experiência das trevas, não tanto físicas, quando a falta de luz nos impede de ver, mas sobretudo existenciais e espirituais, quando não vemos o sentido da nossa vida, quando não vemos saída para os nossos problemas, dificuldades e dúvidas. Ora, Jesus vem como luz, que nos ilumina e nos mostra os caminhos que a nossa vida deve trilhar. Ao mesmo tempo, esta “é noite de paz”, porque hoje nasceu o “Príncipe da Paz”, que vem trazer-nos “uma paz sem fim”, como profetizava Isaías na leitura hoje proclamada.

O Natal “é festa da paz, da harmonia, da fraternidade, porque Deus se faz nosso irmão em Jesus Cristo”, e celebrar o nascimento de Jesus, “implica-nos porque implica a atenção concreta aos outros” e implica o cuidado, a solidariedade, a partilha e a ajuda aos que mais precisam.

O Natal é a proclamação de que Deus “nunca fica indiferente diante do sofrimento e dos dramas da humanidade e de cada um dos seus filhos”. Por isso, não podemos esquecer os que, nesta noite, experimentam o drama da guerra e não podem celebrar o Natal em paz, como não podemos esquecer os que estão sós, os explorados, os que não têm condições para viver, os que desesperam na situação de crise económica em que se veem mergulhar. E temos de “vencer a indiferença diante o sofrimento dos outros” e de ir apressadamente ao encontro dos que precisam de ajuda.

***

Na celebração do dia 25, o mesmo sacerdote referiu que a liturgia deste dia não relata o nascimento de Jesus, “mas fala do significado desse acontecimento”. Jesus “vem até nós como a Palavra definitiva de Deus”, e não uma palavra qualquer, “superficial, vazia e banal”, como são, não raro, as palavras que ouvimos, mas “a Palavra capaz de atingir a profundidade da nossa existência e dar sentido às nossas vidas”. “Deus vem até nós como Luz”, pois o Natal é festa de luz, “basta olhar para as ornamentações natalícias. Jesus vem para nos libertar das trevas que nos ameaçam e que tantas vezes experimentamos, quando não encontramos o sentido da nossa vida, “quando não vemos saída para os nossos problemas, dificuldades e dúvidas”.

O reitor afirmou também que o Deus-Menino nos é apresentado “como Vida, vida verdadeira”. O Natal celebra “a Vida que nasce no nosso mundo, para que cada ser humano tenha a vida que só Deus pode oferecer, uma vida plena de sentido”. Celebrar o Natal é acolher Jesus, que vem como Palavra, Luz e Vida, e celebrar cristãmente o Natal é pôr Jesus Cristo, o Menino do presépio, no centro da quadra festiva e no centro da nossa vida.

“Jesus Cristo é a Palavra definitiva de Deus, que o mundo não quer escutar”. Por isso, acolher o Deus Menino “é convite a escutá-Lo, a dar tempo para meditar e rezar esta Palavra; é desafio a levarmos esta Palavra a outros”, pois “deixar que Ele ilumine a nossa vida significa acolher os seus ensinamentos e imitar as suas atitudes, e significa aceitar pô-Lo no centro da nossa vida, para que Ele a guie e ilumine”. Jesus é a verdadeira Vida, “mas foi ignorado, desprezado, maltratado e morto numa cruz, e identificou-se sempre com os mais pobres e desprezados, com os que sofrem e vivem situações de morte”.

Enfim, segundo o Padre Cabecinhas, acolher a Vida que Jesus nos traz implica abandonar o egoísmo, que nos centra em nós, indiferentes aos outros, implica assumir atitudes de atenção e cuidado pelos outros e implica defender a vida em todos os seus momentos e fases.

2022.12.25 – Louro de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário