sábado, 31 de dezembro de 2022

Ano findo: eventos que marcaram 2022 em Portugal

 

O ano de 2022 foi marcado pelas consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia, a 24 de fevereiro, com galopante subida da inflação, que induziu o aumento do custo de vida, sobretudo no encarecimento dos bens essenciais e da energia, bem como na perda de salários reais; e pelas insuficientes medidas de compensação do Governo, que prefere aumentar a receita do Estado, para diminuir a dívida e o défice – austeridade por omissão que afeta principalmente os pensionistas e que, apesar das medidas de mitigação, se manterá enquanto durar a guerra.

No entanto, o ano também propiciou vários cenários, em que sobressai o lado político.

A nível político, destacam-se as eleições legislativas, de 30 de janeiro, em que o Partido Socialista (PS) atingiu a maioria absoluta (a segunda vez que a obtém). O Partido Socialdemocrata (PSD), o Bloco de Esquerda (BE) e o Partido Comunista Português (PCP) tiveram perdas eleitorais graves. O Chega (CH) e a Iniciativa Liberal (IL) cresceram, obtendo grupos parlamentares próprios. O Partido do Centro Democrático Social (CDS) e o Partido Ecologista dos Verde (PEV) perderam, pela primeira vez, a representação parlamentar.

Entretanto, devido a anomalias nas operações de contagem dos votos que resultaram na anulação de 157 mil votos, o Tribunal Constitucional (TC) decidiu considerar nulo o apuramento dos votos do círculo eleitoral da Europa, determinando a repetição da votação nesse círculo, que se realizou a 12 e 13 de março, o que atrasou, em muito, o início da XV Legislatura e a posse do Governo.

A 23 de março, foi divulgada a orgânica do futuro XXIII Governo Constitucional e a comunicação social noticiou os nomes dos novos ministros, antes de o primeiro-ministro (PM) entregar, como estava previsto para o fim da tarde, a lista ao Presidente da República (PR), o qual, irritado com a fuga de informação para os jornalistas, cancelou a audiência com António Costa.

No dia em que se assinalavam os 60 anos da crise académica de 1962 (24 de março), coincidente com o dia em que o tempo de democracia excedeu o de ditadura (17499 dias), iniciaram-se as comemorações oficiais dos 50 anos da Revolução dos Cravos, que se estenderão até 2024.

A 28, o PM assumiu interinamente a pasta dos Negócios Estrangeiros, para o ministro Augusto Santos Silva, exercer o múnus de deputado na XV Legislatura e prosseguir a candidatura à Presidência da Assembleia da República (AR). No dia 29, realizou-se a primeira sessão plenária da XV Legislatura da III República e Santos Silva foi eleito Presidente da Assembleia da República (PAR). E, no dia 30, tomou posse o XXIII Governo Constitucional.

No dia 5 de setembro, o PM apresentou o plano “Famílias Primeiro”, um pacote de medidas de apoio ao rendimento das famílias no combate à inflação e à subida dos preços da energia e prometeu apoio às empresas, sob certas condições. Depois, em visita oficial a Moçambique, para a V Cimeira Luso-Moçambicana, após cerimónia no Centro Cultural Português de Maputo, a artista Janeth Mulapha surpreendeu-o ante as câmaras e, de martelo na mão, puxou-o para uma coreografia improvisada com grande componente de expressão corporal.

Jerónimo de Sousa, secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), foi submetido, no início de janeiro, a urgente intervenção cirúrgica, para correção de estenose da artéria carótida esquerda. As ações de campanha eleitoral mantiveram-se com João Ferreira e João Oliveira. E, em novembro, Paulo Raimundo a sucedeu-lhe como secretário-geral.

A 29 de junho, o ministro da Habitação e das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, anunciou nova solução aeroportuária para Lisboa com um despacho sobre o Plano de Ampliação da Capacidade Aeroportuária da Região de Lisboa: construção do Aeroporto do Montijo, para funcionar no final de 2026; e a de um segundo em Alcochete até 2035 para se encerrar o Aeroporto Humberto Delgado. Porém, o PM ordenou a revogação do despacho, vincando que a solução tem de ser negociada e consensualizada com a oposição e com informação prévia ao PR.

No 40.º Congresso Nacional do PSD, em julho, Luís Montenegro, sucedeu a Rui Rio como líder do partido e como líder da oposição. E o Chega apresentou na AR moção de censura ao Governo, rejeitada com votos contra do PS do PCP, do BE e dos dois deputados únicos do Partido da Pessoas, Animais e Natureza (PAN) e do Livre, as abstenções do PSD e da IL, obtendo apenas os votos favoráveis do proponente.

A 30 de agosto, a ministra da Saúde, Marta Temido, apresentou a demissão, “por entender que deixou de ter condições para se manter no cargo”, na sequência da morte de uma grávida durante a transferência do Hospital de Santa Maria para o Hospital de S. Francisco Xavier.

Em novembro, Miguel Alves, secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro, pediu a demissão, acusado pelo Ministério Público (MP) do crime de prevaricação, em adiantamento duvidoso de 300 mil euros feito enquanto era Presidente da Câmara de Caminha para um projecto que não saiu do papel. Antes, dois secretários de Estado foram demitidos por incompatibilidade com o Ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva.

No plano internacional, em fevereiro, no fim da visita oficial ao nosso país, o Presidente da Eslovénia, Borut Pahor, por atraso da comitiva, não embarcou no voo da TAP (não soube esperar) que o levaria a casa, mas contratou-se um voo privado que custou 40 mil euros ao erário público. E Oliver Antic, embaixador da Sérvia em Lisboa, morreu por afogamento na Boca do Inferno.

A 21 de fevereiro, em linha com a União Europeia (UE), no contexto da iminente escalada militar russa, o PM e, mais tarde, o PR condenaram, em declarações públicas, o reconhecimento russo da República Popular de Lugansk e da República Popular de Donetsk, duas regiões separatistas da Ucrânia, como violação dos Acordos de Minsk. E, a 21 de abril, o Presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, discursou em sessão solene na AR, por videoconferência, sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, discurso recebido com longa ovação de pé da parte de todos os partidos com assento parlamentar, com exceção do PCP, que não esteve presente.

A nível do crime, sobressaíram também os ciberataques: em janeiro, ao grupo Impresa, ficando indisponíveis os seus sítios eletrónicos e algumas das suas páginas nas redes sociais; em fevereiro, à Vodafone, gerando instabilidade nos serviços móveis e fixos, tendo a disrupção alastrado às comunicações de vários serviços e infraestruturas críticas, como o INEM, hospitais, bombeiros, serviços postais e bancários e a rede Multibanco; em abril, aos sistemas informáticos do Hospital Garcia de Orta, Almada, com os hackers a exigir um resgate financeiro em bitcoins, para devolverem o acesso aos dados da unidade hospitalar, registando-se graves constrangimentos à sua atividade assistencial; e, em vários momentos, houve ciberataques a outras empresas e a departamentos do Estado. A Polícia Judiciária (PJ) impediu, a 10 de fevereiro, uma ação terrorista  planeada para a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tendo um estudante de engenharia informática, de 18 anos, ficado preso preventivamente, indiciado pelos crimes de terrorismo e de detenção de arma proibida. A 20 de junho, Jéssica Biscaia, de três anos, foi morta em Setúbal, após ter sido raptada e sujeita a violentas agressões, por uma mulher a quem a mãe encomendou bruxarias para resolver os problemas da sua relação com o padrasto. O caso comoveu a opinião pública, motivando reações do Governo, na pessoa da ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva e do PR. No dia 26, um incêndio no Centro Comercial Colombo, em Lisboa, com origem num posto de transformação no parque de estacionamento, levou à evacuação do edifício, tendo sido registados três feridos ligeiros, mas sem danos materiais.

A nível eclesial, D. José Ornelas passou de Bispo de Setúbal para Bispo de Leiria Fátima, sucedendo ao cardeal D. António Marto, que resignou por motivos de saúde; D. José Cordeiro tomou posse como Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas; e a Comissão Intendente revelou 424 casos de abuso sexual de menores por parte de clérigos, prevendo que o número seja maior.

No atinente à pandemia, a 18 de fevereiro, terminou a situação de calamidade que vigorava no território continental, devido à pandemia de covid 19, desde 1 de dezembro de 2021, passando-se à situação de alerta; a 17 de março, a situação de alerta, que terminaria a 22, foi prorrogada até 30 de março; e, a 27 de agosto, face à evolução favorável da pandemia de covid-19 e à tendência estável do número de casos, foi decretado o fim do uso obrigatório de máscaras nos transportes coletivos de passageiros e nas farmácias de venda ao público, mantendo-se em serviços de saúde e em estruturas residenciais ou de acolhimento de pessoas vulneráveis.

A nível cultural, em maio, foi inaugurada, em Santa Cruz da Trapa, São Pedro do Sul, a escultura de nove metros de altura, “A Foda dos Nus”, da autoria de Custódio Almeida, representando “dois corpos nus que contam histórias de intimidade”. Em junho, foi inaugurado o Museu do Tesouro Real realizou-se a 9.ª edição do Rock in Rio Lisboa. E, em setembro, teve lugar a 1.ª edição do festival Meo Kalorama, frequentado por mais de 112 mil pessoas.

No âmbito das alterações climáticas, de 27 de junho a 1 de julho, Lisboa acolheu, no Altice Arena, a 2.ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, copresidida por Portugal e pelo Quénia, com participantes de cem países, organizações não-governamentais e cerca de 150 universidades.

O mês de julho foi assolado pela onda de calor que se abateu na Europa,  atingindo Portugal com maior intensidade, com significativo aumento do perigo de incêndio rural e por incêndios no concelho de Ourém, nas localidades de Cercal e de Cumeada que alastraram para Alvaiázere e Ferreira do Zêzere (ali ficou totalmente destruído o Moinho de Avecasta), numa zona florestal de Carrazeda de Ansiães, e no Pombal. O verão foi de seca severa e até extrema. E novembro ofereceu a Lisboa o tornado de Alcântara e a Benavente o de Santo Estevão. Ambos produziram danos significativos nas áreas afetadas, designadamente queda de árvores de grande porte, arrancamento e projeção de telhas, danos em viaturas, edifícios, moradias, etc. E, em dezembro, Portugal sentiu os efeitos da depressão do intenso comboio de tempestades que atingiu a Península Ibérica. A Grande Lisboa foi especialmente afetada, tendo caído em poucas horas, na noite de 7 para 8 de dezembro, 40 mm de precipitação, com várias ocorrências, ficando com vias de comunicação intransitáveis e extensos estragos materiais. Uma mulher de cerca de 55 anos morreu encurralada na cave da habitação. E, menos de uma semana depois, ocorreu novo agravamento meteorológico, com chuva intensa e persistente por todo o país, causando centenas de ocorrências entre inundações, quedas de árvores, e registo de vários desalojados.

No desporto, Portugal perdeu para a Argentina o Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins; e foi eliminado por Marrocos nos quartos-de-final do Campeonato Mundial de Futebol 2022.

Por fim, a obscena indemnização da TAP a Alexandra Reis, de que ninguém sabia (como convém) acarretou a sua demissão de fugaz Secretária de Estado do Tesouro, acarretando, após uma série de casos, a queda do ministro da Habitação e das Infraestruturas e do secretário de Estado das Infraestruturas. Hipocrisia sobre o que se passa, há décadas na TAP, oportunidade de a oposição se mostrar e a emergência da luta interna no PS! Como a inflação e com a guerra – e, segundo o ministro das Finanças, com o crescimento de 6,8% – são fenómenos que transitam para 2023, com a remodelação do Governo e com as exéquias de Bento XVI, falecido no fim do Ano.      

2022.12.30 – Louro de Carvalho

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