terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

O Carnaval reganhou o protagonismo tradicional em 2023

 

Após dois anos de festejos de carnaval restringidos pelo confinamento, em virtude da pandemia de covid-19, o Carnaval regressou às ruas e às praças um pouco por toda a parte, com especial relevo no Brasil, assumindo o protagonismo que a tradição e a criatividade lhe emprestam.

Também em Portugal, estes dias foram prolíferos em iniciativas: desfiles, corsos, cortejos, bailes e concertos. Os festejos mobilizaram autarquias, associações, foliões, artistas, satíricos, momos, crianças e jovens em idade escolar. Pontificaram os exageros e as exorbitâncias no traje, no palavreado, nos gestos, na comida e na bebida – contra o frio e contra a chuva.

Registaram-se números tão interessantes como exóticos.

Por exemplo, em Loures, sobressaíram o Baile Trapalhão, a Noite Jovem Trapalhona e o Cortejo Fúnebre de Enterro do Carnaval. 

Sesimbra, além de desfiles e cortejos, ofereceu o desfile das escolas de samba.

No Funchal, o Carnaval desenvolveu atividades para crianças, peças de teatro, concertos e cortejos; várias atuações diárias na baixa citadina, com bandas filarmónicas e concertos; workshops sobre iguarias e produtos da Madeira para divulgação de tradições da época; o cortejo alegórico de Carnaval, com cerca de 1500 foliões e mais de uma dezena de carros alegóricos; e, por fim, o Cortejo Trapalhão.

Vila Nova de Famalicão exibiu a 3.ª edição da exposição “Máscaras e Caretos”; organizou vários desfiles pela cidade; promoveu vários concertos; e realizou, ndia de Carnaval, os desfiles de Fradelos e a Queima de Galheiros.

O Carnaval é particularmente intenso, expressivo e diversificado em Caminha, em Ovar, em Estarreja, em Albergaria-a-Velha, na Mealhada, na Figueira da Foz, na Nazaré, em Alcobaça, em Torres Vedras (um dos Carnavais mais antigos e autênticos do país) e em Loulé.

Relevam os caretos de Lazarim (concelho de Lamego) e os de Podence (concelho de Macedo de Cavaleiros), tal como o enterro do Rico Irmão no Touro (concelho de Vila Nova de Paiva).

Imperdíveis são o Dança dos Cus, tradição secular em Cabanas de Viriato, o Entrudo Tradicional das Aldeias do Xisto de Góis ou o Carnaval de Canas de Senhorim e o Carnaval de Nelas.

A Praça Central de Coja, no concelho de Arganil, encheu-se de música, com artistas convidados, e houve bailes de máscaras. No dia 21, acolheu o Desfile de Carnaval acompanhado de fogo-de-artifício e o tradicional Enterro do Entrudo.

Esteve de volta o Carnaval de Vale de Ílhavo, tendo marcado a diferença com a folia e com a irreverência que lhe são peculiares. Nos dois dias, os cortejos percorreram as ruas de Vale de Ílhavo com Suas Majestades o Rei D. Carlitos XXIII e a Rainha D. Ritinha I, ao leme.

Foram cerca de 400 figurantes, ao todo, que, após vários meses de trabalho de preparação, proporcionaram folia e diversão, conferida pela beleza dos fatos e dos carros alegóricos, aliando a cor e a alegria à sátira social e à brejeirice.

No concelho de Pedrógão Grande, decorreu o tradicional Desfile de Carnaval com a Filarmónica Pedroguense, com Bombos, Cabeçudos, máscaras, prémios para as melhores máscaras e carros e muita animação, que encheram a tarde do dia 19, em Vila Facaia; e, no dia 21, procedeu-se à 2.ª edição do Passeio D’Entrudo, em Pedrógão Grande, e o Enterro do Entrudo, em Vila Facaia.

E não é de passar em claro o Carnaval em Vila Velha de Ródão, cujo desfile encheu a tarde do dia 19, no Campo das Feiras, com o tema da Biodiversidade. E, além do Desfile, decorreu, em simultâneo, a Feira do Domingo Gordo. Foi um Carnaval com prémios, música e muita animação.

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O termo “carnaval” vem do Latim carnem levare, que significa “abster-se, afastar-se da carne”.

Segundo a Grande Enciclopédia Larousse Cultural: “... no Latim medieval, carnelevarium, carnilevaria, carnilevamem, véspera de Quarta-Feira de Cinzas, tempo em que se iniciava a abstinência da carne.” O afastamento da carne é uma exigência da sobriedade quaresmal.

Segundo o dicionário Houaiss: “...do Latim clássico carnem levare (...) fixa-se no Italiano carnevale (século XIV) e daí no Francês carneval (em 1552) e no Português carnaval (em 1680), passando às demais línguas europeias ainda no século XVII.”

O primeiro elemento vem do latim caro, carnis (=carne), e o segundo elemento vem do verbo latino levare (= levantar, tirar, sustar, afastar). Há quem suponha que a segunda parte do vocábulo pertença ao domínio popular, do latim vale (=adeus); daí carnevale (=adeus à carne).

A origem do Carnaval remontará à Grécia, em meados dos anos 600 a 520 a. C., na celebração dos deuses gregos, valorizando a inversão da ordem, com as pessoas a poderem esconder a identidade, trocar de identidade ou adquirir funções socialmente diferentes das que tinham.

Com a ascensão do Cristianismo, as festas pagas ganharam novo significado, de tal forma que, na Idade Média, as festas do Carnaval se iniciavam no Natal e se prolongavam até à Quaresma.

Assim, o Carnaval terá surgido na Idade Média, mas alguns elementos foram herdados de celebrações da antiguidade, o que ajuda a entender alguns dos seus elementos e práticas.

Esses elementos antigos foram herdados de celebrações de diferentes povos, destacando-se os Mesopotâmicos, os Gregos e os Romanos. A ideia que marcava o Carnaval medieval era a do “mundo de cabeça para baixo”, ou seja, em que a ordem das coisas foi invertida temporariamente, encontrando-se tal caraterística encontrada numa festa mesopotâmica. Gregos e romanos festejavam Dioniso (Baco, para os romanos), promovendo bebedeiras e outros prazeres carnais.

No decurso da Idade Média e com a consolidação da Igreja Católica, buscou-se o controlo dos ímpetos festivos da população, pois as festas eram tidas como exageros e propensas a práticas vistas como pecaminosas. Assim, durante a Alta Idade Média, a Igreja estabeleceu a Quaresma – período de 40 dias que antecede a Semana Santa e é marcado pela contrição e pelo jejum.

A existência de um período de 40 dias de rigidez e de restrição conseguiu condensar o ímpeto festivo da população para as semanas e meses anteriores à Quaresma. O carne vale surgiu como o período em que as pessoas extravasavam os seus instintos e desejos antes de iniciarem a Quaresma. A expressão significa “retirar a carne” e representa o Carnaval como o momento de preparação para os prazeres carnais serem retirados. Lembro-me de se rezar nas igrejas em desagravo pelos pecados dos dias de Carnaval. E algumas paróquias celebram as Quarenta Horas: adora-se Cristo na Hóstia, há pregação e missa solene, com a comunhão geral.

Foi no século XVIII que surgiram, em Itália, os Bailes de Máscaras. E cidades como Florença e Veneza competem pelas mais exuberantes festas de Carnaval, realizadas em magníficos palácios, construídos e decorados pelos mestres renascentistas. Porém, afirmam os historiadores, que o conceito do Carnaval Moderno – com desfiles, danças e fantasias –, nasceu em Paris, de onde foi exportado para o mundo.

Dantes, era o Entrudo (do Latim, introitus, entrada, pois é à entrada da Quaresma, preparação para a Páscoa). Os primeiros registos do Carnaval português datam de 1252, no reinado de D. Afonso III. E, hoje, faz parte da identidade cultural lusitana e, sobretudo, no Centro de Portugal, encontra-se um vasto e rico conjunto de celebrações carnavalescas, com registos muito diferentes, que são o reflexo da cultura de cada uma das suas comunidades. Do litoral ao interior, em cidades, vilas ou aldeias, as pessoas unem-se em torno destas celebrações. Prepararam carros alegóricos, ensaiam em escolas de samba, preparam disfarces, cartazes e músicas com sátiras políticas, sociais e religiosas. E as críticas, por vezes, são mordazes, mas muito divertidas. Porém, como diz o povo, “É Carnaval, ninguém leva a mal!

Não é somente entre nós. O Carnaval festeja-se por toda a parte e é uma das festas populares mais do mundo ocidental, sendo a maior festividade do Brasil. Com as caraterísticas análogas às de hoje, radica na Idade Média, associado diretamente com o cristianismo, e chegou ao Brasil, durante o período colonial, caraterizado por diversas brincadeiras, como o entrudo.

Ao longo do século XX, uma série de ritmos e danças passaram a fazer parte do Carnaval brasileiro. Atualmente, ritmos como o samba, o maracatu e o frevo são os seus símbolos mais peculiares. Transformou-se na principal festa popular brasileira a partir da década de 1930 e, atualmente, conta com os blocos de rua que acontecem nos grandes centros do país, assim como os desfiles das escolas de samba.

O Carnaval, durante a Idade Média, podia estender-se por meses, logo após o Natal e antes da Quaresma, como podia ocorrer só por algumas semanas antes da Quaresma. Eram comuns as brincadeiras e zombarias públicas, bem como peças teatrais, tudo com muita bebida e fartura de alimento, incluindo carne, alimento inacessível à maioria das pessoas durante o resto do ano.

O Carnaval no Brasil é a maior festa popular. É uma festa móvel cuja data joga com os critérios que definem a data da Páscoa. Estabelecidos os dias da Páscoa, é possível definir os do Carnaval, já que a Terça-feira de Carnaval é exatamente 47 dias antes da Páscoa.

O Carnaval brasileiro leva milhões de pessoas para as ruas e constitui um momento muito importante para a economia, uma vez que movimenta biliões de reais todos os anos. As maiores festas de rua do Brasil ocorrem nas cidades de São PauloRio de JaneiroRecife e Salvador. Também são importantes as festas de estados do interior, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.

O Carnaval foi levado para o Brasil pelos colonizadores portugueses. Os historiadores afirmam que a festividade se estabeleceu no país entre os séculos XVI e XVII e teve como primeira prática o entrudo, brincadeira que se fixou, primeiro, no Rio de Janeiro, antes do início da Quaresma.

O entrudo – realizado tanto pelas classes altas como pelas camadas populares – tinha o clima de zombaria pública que regia o Carnaval e foi brincadeira comum até meados do século XIX. A sua manifestação mais tradicional era conhecida como “molhadelas”: as pessoas atiravam umas às outras ovos, farinha, lama, água e líquidos malcheirosos. Porém, também eram usadas águas aromatizadas. Além disso, era um momento de flertes, sobretudo quando mais privado, isto é, entre famílias. Com o passar do tempo, essa prática foi sendo substituída, nas elites, por elaboradas práticas carnavalescas, em evidência na aristocracia europeia no século XVIII. E, assim, surgiram os bailes de máscaras no Brasil. A partir do século XIX, os bailes começaram a popularizar-se, e, com a criação de sociedades carnavalescas, foram levados para as ruas. Consolidava-se, assim, o hábito de se mascarar durante o Carnaval brasileiro.

As sociedades carnavalescas também passaram a desfilar publicamente. A partir do século XX, o envolvimento popular contribuiu para a consolidação de ritmos que incorporavam a influência da cultura africana na capital carioca. Assim, na década de 1930, o samba e os desfiles das escolas de samba tornaram-se elemento fundamental do Carnaval brasileiro, que passou a influenciar outros carnavais. O sucesso das escolas de samba levou à construção e à inauguração, em 1984, do Sambódromo, local dos desfiles na cidade do Rio de Janeiro.

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Enfim, foi Carnaval, espero que ninguém me tenha levado a mal.

2023.02.21 – Louro de Carvalho

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