quarta-feira, 10 de maio de 2023

Dia da Europa 2023 inaugura o Ano Europeu das Competências

 

Celebrou-se, a 9 de maio, o Dia da Europa, instituído para, anualmente, se festejar a paz e a unidade do continente europeu. A efeméride assinala o aniversário da histórica “Declaração de Schuman”, de maio de 1950, que expôs a visão de Robert Schuman de nova forma de cooperação política na Europa, que tornaria impensável a guerra entre os países europeus.

Considera-se que a génese da União Europeia (UE) radica na proposta de Robert Schuman, então ministro dos Negócios Estrangeiros de França e tido como um dos pais da UE, a qual se iniciou com a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), com vista a instituir um mercado comum do carvão e do aço entre os países fundadores (França, República Federal da Alemanha, Itália, Países Baixos, Bélgica e Luxemburgo), tendo sido esta a primeira de uma série de instituições europeias supranacionais.

A UE pauta-se por valores axiais consignados no artigo 2.º do Tratado de Lisboa, de 13 de dezembro de 2007, que reformou o funcionamento da União e que entrou em vigor a 1 de janeiro de 2009, bem como na Carta dos Diretos Fundamentais da UE.

Os valores da UE, cujo lema “Unida na Diversidade”, são:  

A dignidade do ser humano, que é inviolável, tem de ser respeitada e protegida, constituindo a base de todos os direitos fundamentais;

A Liberdade, que inclui a liberdade de circulação, confere aos cidadãos europeus o direito de viajarem e residirem onde quiserem no território da União, bem como as liberdades individuais, como o respeito pela vida privada, a liberdade de pensamento, de religião, de reunião, de expressão e de informação, como estão consagradas na Carta dos Direitos Fundamentais da UE;

A democracia, nomeadamente na sua vertente representativa, conferindo, automaticamente, ao cidadão europeu os direitos políticos, em virtude dos quais “todos os cidadãos adultos da UE têm o direito de se apresentarem como candidatos e de votar nas eleições para o Parlamento Europeu, bem como o direito de se apresentarem como candidatos e de votarem no seu país de residência ou no seu país de origem;

A igualdade que implica, para todos os cidadãos – homens e mulheres –, os mesmos direitos perante a lei, princípio que está subjacente a todas as políticas europeias e que é a base da integração europeia, aplicando-se em todas as áreas (o princípio da remuneração igual para trabalho igual foi consagrado em 25 de março de 1957, no Tratado de Roma);

E o Estado de direito, nos termos do qual as ações da UE assentam em Tratados acordados voluntária e democraticamente pelos países que a constituem, e o direito e a justiça são garantidos por um poder judicial independente, concretizado no Tribunal de Justiça da União Europeia, cujos acórdãos têm obrigatoriamente de ser respeitados por todos;

E os direitos humanos, protegidos pela Carta dos Direitos Fundamentais da UE, que proíbe a discriminação em razão, designadamente, do sexo, da origem étnica ou racial, da religião ou das convicções, da deficiência, da idade ou da orientação sexual, e consagra o direito à proteção dos dados pessoais e o direito de acesso à justiça.

Ao mesmo tempo, a UE tem um conjunto ambicioso de objetivos, quer a nível interno, quer no âmbito das relações com o resto do Mundo, como consta do artigo 3.º do Tratado de Lisboa.

Os objetivos atinentes ao nível intrafronteiriço são: promover a paz, os seus valores e o bem-estar dos seus cidadãos; proporcionar um espaço de liberdade, de segurança e de justiça sem fronteiras internas, em conjugação com medidas adequadas nas fronteiras externas para regular o asilo e a imigração e prevenir e combater a criminalidade; estabelecer um mercado interno; favorecer o desenvolvimento sustentável, assente num crescimento económico equilibrado e na estabilidade dos preços, e numa economia de mercado altamente competitiva, com pleno emprego e progresso social; proteger e melhorar a qualidade do ambiente; fomentar o progresso científico e tecnológico; combater a exclusão social e a discriminação; promover a justiça e a proteção sociais, a igualdade entre homens e mulheres e a proteção dos direitos da criança; promover a coesão económica, social e territorial, e a solidariedade entre os países da UE; respeitar a riqueza da diversidade cultural e linguística da UE; criar a união económica e monetária cuja moeda é o euro.

Os objetivos da UE atinentes às relações com o resto do Mundo são: afirmar e promover os seus valores e interesses; contribuir para a paz e para a segurança e para o desenvolvimento sustentável da Terra; contribuir para a solidariedade e o respeito mútuo entre os povos, o comércio livre e equitativo, a erradicação da pobreza e a proteção dos direitos humanos; e contribuir para a rigorosa observância do direito internacional.

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Porém, a UE, que recebeu, em 2012, o Prémio Nobel da Paz, pelos seus esforços em prol da paz, da reconciliação, da democracia e dos direitos humanos na Europa, debate-se com a necessidade de apoiar uma guerra – que dura há mais de uma ano e sem fim à vista –, entre países que fazem fronteira com alguns dos Estados-membros. Assim, a Europa da Paz decreta sanções económicas, entrega dinheiro, envia armas e outros equipamentos para continuar a guerra e leva a mal que a critiquem por favorecer a guerra e não querer falar de paz.

A Europa da Paz faz bem em condenar o agressor e em ajudar o agredido, mas faria melhor se, enquanto ajuda a lutar, cessasse as sanções económicas e pusesse a funcionar as armas da diplomacia, que estão longe de se ter esgotado. Aliás, só se esgotam quando falta a boa vontade.

A Europa da Paz faria bem em escutar o secretário-geral das Nações Unidas, quando, ao receber o Prémio Carlos V, das mãos do rei de Espanha, Filipe VI, no dia da Europa, avisou que a guerra “não é coisa do passado” e pediu a mobilização de “arsenais de paz”.

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Entretanto, em 2023, a Europa afirma-se unida para resolver as questões mais importantes do nosso tempo e para construir um futuro melhor para todos os europeus. É a democracia em ação.  

Agora, em maio, a UE convida à participação numa série de atividades que decorrem em todos os Estados-Membros da UE e nas instituições sediadas em Bruxelas, no Luxemburgo e em Estrasburgo. E, como 2023 é o Ano Europeu das Competências, que vai de 9 de maio de 2023, a 9 de maio de 2024, a UE está empenhada em ajudar as pessoas a adquirir as competências adequadas para empregos de qualidade e as empresas a obviar à escassez de competências.

Competência é o conjunto de habilidades, comportamentos, atitudes e conhecimentos inter-relacionados, de que a pessoa precisa para a eficácia na ocupações profissional e gerencial. É a combinatória de saber (conhecimento), saber ser, aptidões e traços de personalidade. Conhecimentos, habilidades e atitudes são os três eixos que compõem a competência.   

O Ano Europeu das Competências dará novo impulso à aprendizagem ao longo da vida, capacitando as pessoas e as empresas para contribuírem para as transições ecológica e digital, apoiando a inovação e a competitividade.

No âmbito da promoção da competitividade, da participação e do talento, a UE quer dispor de mão-de-obra com as competências procuradas no mercado, contribuindo para o crescimento sustentável, para mais inovação e para melhoria da competitividade das empresas.

É preciso ajudar as empresas, em especial as pequenas e médias, a fazer face à escassez de competências na UE, promovendo a mentalidade de requalificação e de melhoria de competências e ajudando as pessoas a adquirir as competências adequadas para empregos de qualidade. Assim, as transições ecológica e digital criam novas oportunidades para as pessoas e para a economia.

Os trabalhadores qualificados beneficiarão de melhores oportunidades de emprego e participarão plenamente na sociedade. Este aspeto é fundamental para assegurar que a recuperação económica e as transições ecológica e digital são socialmente justas e equitativas.

O Ano Europeu das Competências dará novo impulso para alcançar os objetivos sociais da UE para 2030, de modo que, pelo menos, 60 % dos adultos participem em atividades de formação todos os anos e que, pelo menos, 78 % tenham emprego. E contribuirá, igualmente, para alcançar as metas das Orientações para a Digitalização ate 2030, que pretendem que, pelo menos, 80 % dos adultos possuam competências digitais básicas e que haja 20 milhões de especialistas em tecnologias de informação e comunicação (TIC) empregados na UE. 

Atualmente, mais de três quartos das empresas da UE têm dificuldade em encontrar trabalhadores com as competências necessárias, e só 37 % dos adultos recebem formação regularmente. 

O índice de digitalidade da economia e da sociedade mostra que 40% dos adultos e um terço dos trabalhadores europeus carecem de competências digitais básicas. As mulheres estão sub-representadas em profissões e em estudos relacionados com a tecnologia, uma vez que apenas em cada cinco especialistas em TIC e um em cada três diplomados em ciência, tecnologia, engenharia e matemática (CTEM) são mulheres.

A Comissão Europeia destacará as iniciativas e o financiamento pertinentes da UE, a fim de apoiar a aceitação e implantação no terreno. Serão organizados eventos e campanhas de sensibilização para apoiar a aprendizagem mútua dos parceiros em matéria de melhoria e de requalificação de competências. E será dada especial atenção à mobilização de um maior número de pessoas para o mercado de trabalho, com destaque para as mulheres e os jovens, em especial os que não trabalham, não estudam nem seguem qualquer formação.

Para o Ano Europeu das Competências, a UE basear-se-á em muitas iniciativas em curso, como:

Agenda de Competências para a Europa, como quadro da cooperação política da UE em matéria de competências;

Pacto para as Competências, com mil membros e 14 parcerias de grande escala em setores estratégicos, para ajudar a melhorar as competências de até 6 milhões de pessoas;

As recomendações do Conselho às contas individuais de aprendizagem e às microcredenciais para ajudar as pessoas a atualizar ou completar as competências de forma flexível e direcionada;

Coligação da UE para a Criação de Competências e Emprego na Área Digital, para colmatar o défice de competências digitais, reunindo todos os parceiros relevantes;

Plataforma Europeia para as Competências e o Emprego na Área Digital, lançada no âmbito do Mecanismo Interligar a Europa, com informações e recursos sobre competências digitais;

O diálogo estruturado com os Estados-membros sobre educação e competências digitais;

Nova Agenda Europeia de Inovação, com um conjunto de ações destinadas a criar as condições-quadro adequadas para os nossos talentos;

Estratégia europeia para as universidades, com várias ações para desenvolver competências de alto nível e adequadas ao futuro para um vasto leque de aprendentes;

E a implantação da reserva de talentos da UE e de parceiras de atração de talentos com parceiros terceiros selecionados, para adequar as competências dos candidatos a trabalhar na Europa às necessidades do mercado de trabalho.

Se a UE lograr tudo o que agendou no Ano Europeu das Competências e, sobretudo, se acabasse com a guerra na Ucrânia, em vez de tentar alargar a NATO e a própria UE, poderia candidatar-se, de novo, ao Prémio Nobel da Paz e oferecer candidatos ao Prémio Carlos V (Europa unida, justa, igualitária e livre) e ao Prémio Carlos Magno (mérito no contributo para a UE).   

2023.05.10 – Louro de Carvalho

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