De acordo com o respetivo comunicado,
de 11 a 14 de novembro, decorreu em Fátima a 210.ª Assembleia Plenária da
Conferência Episcopal Portuguesa (CEP). Além dos seus membros, estiveram
presentes o Núncio Apostólico, o presidente e a vice-presidente da Conferência
dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP) e a presidente da Conferência
Nacional dos Institutos Seculares de Portugal (CNISP).
Após reflexão sobre os desafios que
se colocam à pastoral dos jovens, que são “sinal
de esperança para a Igreja e para o Mundo”, foi aprovado o documento “Pastoral
Juvenil em Portugal”, quadro de referência” como instrumento de trabalho
inicial, a enviar aos jovens através do Departamento Nacional de Pastoral
Juvenil (DNPJ), para auscultação e discernimento, e foi nomeado o Dr. Pedro
Carvalho, leigo da Diocese de Aveiro, como coordenador, a tempo inteiro, do
DNPJ.
No âmbito da Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis, foi recebido o
Grupo VITA para fazer o ponto de situação do trabalho que vem desenvolvendo, em
articulação com as Comissões Diocesanas, e foi analisada a aplicação do
Regulamento para atribuição de compensações financeiras às vítimas de abusos
sexuais de crianças e de adultos vulneráveis, ocorridos no âmbito da Igreja
Católica em Portugal, tendo-lhe sido introduzida uma adenda com algumas
clarificações ao processo em curso, alargando o prazo de apresentação dos
pedidos até 31 de março de 2025.
Nesse sentido e de acordo com o anexo
ao referido comunicado, importa recordar que “estes processos, sem caráter
judicial, se justificam com o especial dever de solidariedade da Igreja para
com as vítimas”, pelo que são alterados alguns termos que melhor clarificam a sua
natureza, não devendo ser confundidos com perícias médico-legais. E esclarece-se
que a alteração do prazo não atrasa o andamento dos processos, pois estes já
estão a ser tratados, em
articulação pelo Grupo VITA, pelas Comissões Diocesanas de Proteção de Menores
e Adultos Vulneráveis e pela Equipa de Coordenação Nacional, durante o período de apresentação dos
pedidos de compensação.
O Regulamento está previsto de forma a evitar um
processo de revitimização da parte de quem faz o pedido de compensação, pelo
que, se o relato da situação abusiva vivenciada já é do conhecimento do Grupo
VITA, das Comissões Diocesanas ou dos Institutos Religiosos e das Sociedades de
Vida Apostólica, não é preciso repetir os dados referentes ao mesmo relato.
A Comissão de Instrução, no respeitante aos processos
da responsabilidade das dioceses, será constituída, pelo menos, por duas
pessoas, uma designada pelo Grupo VITA e outra pela Equipa de Coordenação
Nacional. Para maior uniformidade de critérios, “pretende-se a constituição de
membros pertencentes à mesma equipa de profissionais especializados nesta
matéria que escute todas as pessoas que solicitam a compensação financeira”. E
a Comissão de Fixação da Compensação, que determina os montantes das
compensações a atribuir, deverá fundamentar o seu parecer aprovado pela maioria
dos seus membros.
Na sequência da conclusão da XVI
Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, procedeu-se a uma reflexão sobre o processo sinodal, ressaltando que deve continuar nas
Igrejas locais, “para se tornar efetiva a sinodalidade no seio das comunidades,
traduzindo-se em oportunidade de diálogo com o Mundo”. Para tanto, decidiu-se
realizar um encontro nacional dirigido aos membros dos Conselhos Pastorais
Diocesanos e às equipas sinodais de cada diocese, que terá lugar em Fátima, a
11 de janeiro de 2025, e que será organizado pela Equipa Sinodal da CEP, em
colaboração com as pessoas de contacto das equipas sinodais diocesanas.
Julga-se
relevante que as próximas Jornadas Pastorais do Episcopado (16 a 18 de junho de
2025) se dediquem à sinodalidade na CEP, de modo a “aprofundar o espírito
sinodal” e a “prosseguir um caminho de aperfeiçoamento nos seus processos de
atuação.
Na sequência
da preocupação partilhada na Visita ad
Limina e após a publicação do documento final do Sínodo dos Bispos,
foi sugerido tratar, em próxima assembleia plenária, o tema dos Seminários, no atinente
à formação e ao estilo do sacerdote, considerando “os desafios e as mudanças do
Mundo em que vivemos”.
Estando prestes a abertura oficial do Jubileu de 2025 com o tema
“Peregrinos de Esperança”, foi acolhida a partilha de iniciativas celebrativas
das dioceses e dos institutos de vida consagrada, de modo que este seja, em
ambiente sinodal, “um tempo transformador dentro da Igreja e na sua relação com
o Mundo” e que seja possível “levar a todos o rosto da esperança que é Cristo”.
Além disso, ficou previsto um momento de celebração comum para todos os Bispos
de Portugal, a realizar em Fátima, em data a definir.
Foi recebida a direção da Federação Portuguesa pela
Vida, a partilhar a situação referente ao processo legislativo em curso sobre o aborto e a eutanásia, tendo a Assembleia
manifestado preocupação com as “propostas legislativas que procuram limitar a
objeção de consciência dos médicos e [dos] demais profissionais de saúde” e
reafirmado que “a vida humana é inviolável, um dom inestimável que tem de ser
liminarmente defendido em todas as suas fases”.
A CEP acompanha, preocupada, a situação de Moçambique e exprime
a sua solidariedade para com a Igreja irmã e com o povo irmão presentes nesse
país. Há vários anos, a população da região de Cabo Delgado vem sendo vítima de
ataques terroristas que têm causado a morte e a deslocação forçada de largos
milhares de pessoas. O drama perdura, apesar de periodicamente esquecido. Os
bispos portugueses assumem o apelo dos bispos moçambicanos e do Papa Francisco
para o restabelecimento do caminho da democracia, da justiça e da paz.
De igual modo, a CEP manifestou a sua proximidade e
solidariedade para com a população
de Valência,
gravemente atingida pela dramática situação de destruição ambiental, que redundou
na perda de centenas de vidas humanas e de inúmeras perdas materiais.
Foi decidida a organização da Campanha de Advento/Natal em favor das
comunidades cristãs da Terra Santa, atingidas pela guerra, através da
criação de uma conta solidária, devendo cada diocese encontrar outras formas de
recolha de fundos.
Foram aprovados os estatutos do Serviço Nacional de Comunhão do Renovamento Carismático
Católico em Portugal, com o objetivo de “servir e [de] criar comunhão
entre as diversas realidades ou expressões carismáticas católicas portuguesas”.
A Assembleia homologou as nomeações do padre Pedro Silveira Lima, da Diocese de Angra, como
assistente nacional da LOC/MTC/JOC (Liga Operária Católica / Movimento de
Trabalhadores Cristãos / Juventude Operária Católica); de Inês Marques, como
secretária nacional da Juventude Operária Católica; e do Padre Miguel Gonçalves
Ferreira, sacerdote jesuíta, atual diretor da Pastoral Universitária e do
Ensino Superior da Arquidiocese de Évora, como coordenador do Serviço Nacional
da Pastoral do Ensino Superior.
Aprovou também a integração de D. Fernando Maio de
Paiva como membro da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e
Comunicações Sociais.
Por fim, aprovou o Orçamento do Secretariado Geral da
CEP para 2025 e acolheu informações, comunicações e programações da
Presidência, das Comissões Episcopais e dos Delegados da CEP, bem como de
outros organismos eclesiais.
***
São também de relevar algumas
asserções de D. José Ornelas Carvalho, Bispo de Leiria-Fátima e presidente da
CEP, no discurso de abertura, no dia 11.
Apos a saudação aos presentes e, em especial,
aos novos bispos e aos profissionais dos órgãos de comunicação social,
agradeceu ao arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, aos bispos que partilham com
ele o serviço pastoral e a toda a arquidiocese, o esforço de preparação e a
ampla participação na renovada manifestação da dimensão eucarística da Igreja em
Portugal, que foi o 5.º Congresso Eucarístico
Nacional, realizado em Braga.
Da Visita “Ad
Limina”, enalteceu a análise, com grande diversidade de interlocutores, da
situação da Igreja em Portugal, no contexto do percurso de toda a Igreja, em
espírito de renovação sinodal.
Os bispos sentiram-se confirmados no rumo que vêm seguindo,
mas desafiados pelo Santo Padre e pelos diversos dicastérios. Foi nota comum “a
expressão de apreço e de alegria pelo desenrolar da JMJ de 2023 em Lisboa, pela
sua organização e pelo clima de festa, universalidade e fraternidade gerado
entre os jovens. Fica, para todos, o desafio e o compromisso de não se perder o
dinamismo ali vivido e anunciado. As dioceses portuguesas têm procurado manter
viva esta chama e o encontro de Lisboa, em outubro, a nível nacional, é sinal
do esforço comum de envolver e contar com os jovens.
Outra das interpelações que foi deixada por Francisco prende-se
com os desafios que a sociedade apresenta à missão da Igreja no Mundo, pois “a
Igreja não vive para si própria, vive num Mundo com enormes desafios ao qual
não pode ser indiferente”. Neste aspeto, emerge a tragédia das guerras em
várias geografias da Terra, bem como “os ataques ao equilíbrio ecológico”, que “levam
à intensificação da frequência e da força destruidora dos desastres naturais,
atingindo níveis que fazem temer a irreversibilidade dos danos”, parecendo a
comunidade internacional “cada vez mais frágil e incapaz de deter as armas e os
interesses corporativos”. E os bispos, unindo-se à sua oração e às suas ações
no terreno de promoção da paz, escutaram os apelos do Papa e a sua insistência
no diálogo e no encontro entre as partes em conflito.
O presidente da CEP apontou a polarização política dos
últimos meses, imprópria de regimes democráticos, que parece esquecer as
conquistas que mudaram o rumo de Portugal, há 50 anos.
Especial realidade tem marcado os últimos tempos da Igreja,
em Portugal, a dos abusos sexuais e dos dramas das suas vítimas, o que “não
deixou indiferente nem a Igreja nem a sociedade. Há um caminho percorrido, desde
a criação das Comissões Diocesanas, passando pelo trabalho da Comissão
Independente, da Equipa de Coordenação Nacional e, agora, do Grupo VITA, onde
se inclui o trabalho da prevenção, com diversas iniciativas de formação local.
O processo de atribuição de compensações financeiras é parte
do caminho na procura de ir ao encontro pessoal de cada vítima. Ninguém paga
ou anula os dramas do passado, mas os bispos querem “que este seja um passo
importante para o reconhecimento do mal que lhes foi infligido e de pedido de
perdão, que contribuam para sarar feridas e [para] afirmar a dignidade, contra
a qual nunca alguém devia ter atentado”. Por conseguinte, é preciso manter a
atenção constante ao sofrimento das vítimas e a firmeza na formação e na
prevenção, bem como na clareza e determinação no tratamento de eventuais casos
futuros.
Sobre o Sínodo dos Bispos – em que participou com o bispo de
Coimbra, por eleição da CEP, a que se juntou o cardeal Américo Aguiar, por
convite do Papa Francisco – enfatizou que “foi um passo determinante de um
percurso sinodal, que teve início, há três anos”, e que tem várias novidades,
tendo destacado três: os membros com direito a voto não foram apenas bispos, não
tendo estes perdido o seu papel nos processos de decisão da Igreja (não decidem
sozinhos, mas com outros membros da Igreja, pela sua condição de batizados), princípio
que se torna orientação para “mudanças de mentalidade, em todo o tecido
eclesial, sobretudo nas estruturas de decisão”; as decisões do Sínodo foram
entregues ao Papa, que prescindiu da exortação pós-sinodal, para tornar o
Documento final imediato instrumento do magistério ordinário da Igreja; e não
foram tratados temas fraturantes, como a
questão da possível ordenação de homens casados, ou de mulheres diáconos ou
presbíteros, pois algumas destes temas têm de ser aprofundados e
discutidos, para o que se criaram 10 grupos de estudos para questões deste e de
outro tipo, com tempo definido para apresentarem o seu trabalho (25 de junho de
2025).
Neste contexto sinodal, a Igreja prepara-se para o Jubileu de
2025, com o tema “Peregrinos de Esperança”, fazendo
“memória particularmente atualizada da vinda de Jesus ao Mundo, a partir da
qual se estabeleceu a contagem dos anos, hoje de referência universal na
datação dos eventos. De facto, ante a situação sombria da Humanidade, há
motivos para celebrar a “esperança”. Do
ponto de vista dos cristãos, para lá dos motivos e das possibilidades, há a
necessidade e a urgência da “esperança como fundamento da criação de futuro”.
Os profetas de esperança surgem, sobretudo, “em situações sombrias, difíceis,
injustas e de grande sofrimento”.
No Jubileu, os cristãos celebram Jesus, o Homem da esperança,
para lá de tudo o que parecia lógico esperar, assumindo os dramas de todos,
incluindo a injustiça, a dor e a morte. Passou pela morte, mas está vivo, dá
vida e chama “homens e mulheres que vivam e sintam, como Ele, a urgência de
sonhar e de construir uma História nova, livre do ódio, da injustiça, da guerra
e da miséria, com prioridade aos frágeis e excluídos, para que todos tenham
esperança e colaborem na “criação desse Mundo de coração novo que se alarga até
aos horizontes da vida plena”.
Neste sentido, “como dom e caminho para uma Igreja Sinodal e
para a celebração do Jubileu”, o Santo Padre dirigiu à Igreja a carta encíclica
Dilexit Nos (DN), a convidar “à redescoberta do Coração de Jesus como
modelo de identificação e projeto de transformação, a partir do coração
renovado”. A este respeito, o presidente da CEP citou: “O Coração de Cristo é êxtase, é saída, é dom, é encontro. Nele,
tornamo-nos capazes de nos relacionarmos uns com os outros de forma saudável e
feliz, e de construir, neste Mundo, o Reino de amor e de justiça. O nosso
coração unido ao de Cristo é capaz deste milagre social” (DN, 28). E concluiu: “Que esta carta encíclica
possa guiar-nos, sinodalmente, na celebração do Jubileu 2025 e no caminho
transformador para uma Igreja sinodal, misericordiosa e missionária.”
***
De cima vem o exemplo. Passará a CEP, sem deixar de ser agremiação
de bispos e sem estes se diminuírem no seu papel nas decisões eclesiais, a ser
estrutura de topo da sinodalidade? Constituirão a rua da Buraca, em Lisboa, e o
Santuário de Fátima a referência sinodal da Igreja em Portugal? Abandonar-se-á,
em Igreja, o aforismo “cada macaco no seu galho?
2024.11.16
– Louro de Carvalho
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