quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Donald Trump volta à Casa Branca por inequívoca maioria

 

Com vitórias expressivas nos principais estados de batalha – Pensilvânia, Carolina do Norte e Wisconsin, o candidato republicano Donald Trump será o 47.º presidente dos Estados Unidos América (EUA), num regresso histórico como o segundo presidente a ganhar dois mandatos não consecutivos, uma vez que obterá bastante mais do que os 270 votos dos grandes eleitores necessários para conquistar a presidência.

Nos EUA, o presidente não é eleito diretamente, mas cada estado elege os seus representantes (deputados ou delegados – grandes eleitores) e, depois, esse colégio eleitoral elege, formalmente, o presidente. Contudo, a política norte-americana costuma ser consequente e, ganhando um partido a maioria no colégio eleitoral, o presidente será o candidato que fez a campanha por esse partido. Pode acontecer que um partido obtenha o maior número de votos do eleitorado e não consiga obter a maioria no tal colégio eleitoral. Porém, a 5 de novembro, Donald Trump obteve, folgadamente, mais do que 50% dos votos e mais de 270 grandes eleitores (no momento desta escrita, eram 51% do votos e 279 grandes eleitores). Além disso, os republicanos recuperaram o controlo do Senado, tendo conquistando lugares na Virgínia Ocidental e no Ohio. No entanto, a Câmara dos Representantes ainda estava em disputa.

Os apoiantes de Donald Trump reuniram-se, no dia 5, à noite, em frente da sua residência em West Palm Beach, na Florida, quando os resultados começaram a chegar. Para Joseph, artista e fã de Trump, ele é “como o Super-Homem”, ou seja, “o tipo de pessoa que se quer a dirigir o país”.

O líder dos republicanos declarou-se vencedor das eleições na manhã do dia 6, logo após os resultados parciais terem indicado que tinha vencido em três estados-chave. “Este foi o maior movimento político de todos os tempos”, enfatizou no discurso de vitória, na sede de campanha, com os resultados eleitorais oficiais ainda não confirmados, acrescentando: “Esta é uma vitória magnífica para o povo americano, que nos vai permitir tornar a América grande de novo.”

E enunciou o seu propósito: “Vou governar com um lema simples: ‘promessas feitas, promessas cumpridas’. Vamos manter a nossa promessa. Nada me impedirá de manter a minha palavra para convosco, o povo. Vamos tornar a América segura, forte, próspera, poderosa e livre novamente. E peço a todos os cidadãos de todo o nosso país que se juntem a mim neste nobre e justo esforço.”

Trump apelidou o seu segundo mandato de “era de ouro”, para a América e para o seu povo, tudo isto sob os gritos da multidão: “USA! USA!” Afirmando que o seu partido iria ajudar o país a “sarar”, prometeu corrigir as fronteiras da América, dizendo que ele e o Partido Republicano tinham “feito História” por uma razão: “A América deu-nos um mandato poderoso e sem precedentes”, declarou, referindo que os republicanos tinham “retomado o controlo” do Senado.

Os republicanos reconquistaram o Senado dos EUA, pela primeira vez, em quatro anos, o que lhes garante um centro de poder crucial, em Washington, o papel de liderança na confirmação do governo e a conveniente alteração da composição do Supremo Tribunal, caso haja uma vaga.

Donald Trump considerou que Deus “salvou a sua vida por uma razão, aludindo a um atentado contra a sua vida, num comício na Pensilvânia, em julho.

A Fox News projetara uma vitória para Donald Trump, com aplausos de júbilo na sede de Trump, na Florida. Outras redes noticiosas, incluindo a NBC News, seguiram-no pouco depois.

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, declarou a vitória de Trump, ao início da manhã do dia 6. “Bom dia, Hungria, a caminho de uma bela vitória”, escreveu nas redes sociais. Os principais membros da campanha de Trump seguiram o exemplo, afirmando que tinha ganhado a presidência, mesmo antes de ter sido projetada a vitória na Pensilvânia. “A América falou. Parabéns ao 47.º Presidente”, disse Kevin McCarthy, presidente da Câmara dos Representantes.

Kamala Harris tinha, ao início da manhã do dia 6, apenas 214 votos no colégio eleitoral, contra 267 de Trump. Muitos estados ainda não estavam apurados, mas não era claro como Harris poderia garantir uma vitória, após os ganhos de Trump. Ao longo da noite, o ambiente na festa na sede da campanha do Partido Democrata foi-se tornando cada vez mais desanimador.

Durante o discurso, o candidato ganhador agradeceu à família e à mulher e fez uma saudação especial a Elon Musk, referindo-se aos foguetões e ao furacão na Carolina do Norte.

Disse que o teórico da conspiração antivacinas Robert F. Kennedy Jr. ia “tornar a América saudável de novo”, mas insistiu que o seu aliado devia “deixar o petróleo comigo”.

Trump terminou o discurso, insistindo na grandeza da América e frisando que, durante o seu mandato, não houve guerras. “Esta é uma grande vitória da democracia e da liberdade”, concluiu.

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A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, que disputou a eleição, taco a taco (as sondagens recentes davam um empate técnico) com o republicano Donald Trump, discursou na tarde do dia 6, em Washington, para dizer que felicitou Donald Trump pela vitória e que a sua equipa irá estar empenhada “numa transferência pacífica do poder”. Aliás, Joe Biden, que prometeu falar ao país no dia 7, não se atrasou a felicitar o, simultaneamente, antecessor e sucessor.

“Quando perdemos uma eleição, aceitamos os resultados. É isso que distingue a democracia da anarquia”, afirmou a candidata não vencedora, numa atitude de genuína democrata.

De coração cheio e grata. Foi assim que Kamala Harris se apresentou à multidão que a aguardava em frente à Universidade Howard, em Washington. O resultado eleitoral da noite passada não foi o esperado, mas a democrata garantiu: “A luz da promessa da América arderá sempre.”

A candidata agradeceu à família, a Joe Biden, o ainda presidente, ao companheiro de corrida eleitoral, Tim Walz, aos funcionários e aos voluntários que a acompanharam nas semanas de campanha. Os resultados não lhe deram a vitória, mas ela garante que se sente “orgulhosa da corrida que fizemos e da forma como a fizemos”.

Revelou que já tinha telefonado a Donald Trump para o felicitar pela vitória, reconhecendo a derrota. “Temos de aceitar o resultado destas eleições”, porfiou, reforçando: Quando perdemos uma eleição, aceitamos os resultados. Isso distingue a democracia da anamarquia [anarquia].”

Não sei onde os tradutores encontraram a palavra “anamarquia”.

A vice-presidente garantiu que sua equipa e ela estão empenhadas numa “transição pacífica do poder”. “Na nossa nação devemos lealdade, não a um presidente ou a um partido, mas à Constituição deste país”, sustentou. Aliás, Joe Biden já convidou Donald Trump para uma visita à Casa Branca e assegurou a transição tranquila.

Não obstante, apesar de aceitar os resultados eleitorais, Kamala Harris garantiu que não desistirá dos seus valores: “Embora aceite esta eleição, não cedo na luta pela liberdade, pela justiça e pela dignidade de todas as pessoas”, garantiu.

No final do discurso reconheceu que os resultados podem ter frustrado parte do eleitorado, podendo muitas pessoas sentir “que estamos a entrar num período negro”. “Mas, para o bem de todos nós, espero que não seja esse o caso. Mas o que se passa é o seguinte, América, se assim for, vamos encher o céu com a luz de um brilhante, brilhante bilião de estrelas. A luz do otimismo, da fé, da verdade e do serviço. E que esse trabalho nos guie, mesmo perante os contratempos, em direção à extraordinária promessa dos Estados Unidos da América”, proclamou Kamala Harris.

“O presidente Donald J. Trump e a vice-presidente Kamala Harris falaram hoje por telefone e ela felicitou-o pela sua vitória histórica. O presidente Trump reconheceu a força, profissionalismo e tenacidade da vice-presidente Harris, durante toda a campanha, e ambos os líderes concordaram com a importância de unificar o país”, afirmou o diretor de comunicação da campanha de Trump, Steven Cheung, em comunicado.

Segundo a Casa Branca, Joe Biden, felicitou Donald Trump pela vitória, tendo expressado  “o seu empenho em assegurar uma transição suave”, em conversa ao telefone. O presidente convidou Trump a encontrar-se com ele na Casa Branca e falou com Kamala Harris, felicitando-a “pela sua campanha histórica”. Harris abraçou o desafio de se tornar a primeira mulher presidente dos EUA, após a desistência de Joe Biden, dada sua saúde e a idade avançada.

Apesar do entusiasmo vivido em toda a campanha eleitoral, a candidata acabou por não conseguir transformá-lo em votos, uma vez que perdeu em vários estados-chave, nomeadamente, os importantes Geórgia e Pensilvânia. Além disso, e ao contrário do que aconteceu com Hillary Clinton, em 2016, a vice-presidente não conseguiu reunir preferência no voto popular.

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Mal foi conhecida a notícia da vitória de Donald Trump, os líderes europeus apressaram-se a felicitar Donald Trump, prometendo estreitar as relações entre os respetivos países e a Administração Norte-Americana.

primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, mostrou-se particularmente entusiasmado com o resultado, que considerou o “maior regresso da história política ocidental”. Mas mesmo governos que apoiaram abertamente Kamala Harris, como o executivo do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, mostraram-se dispostos a trabalhar com o novo ocupante da Casa Branca.

No entanto, no eixo Paris-Berlim, já se notam os preparativos para uma nova era, com o presidente francês, Emmanuel Macron, em contacto com o chanceler alemão, Olaf Scholz.

Em Portugal, o Presidente da República recordou uma visita à Casa Branca, em 2018, e o primeiro-ministro mostrou-se disponível a trabalhar com Donald Trump a nível bilateral, multilateral e na Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

No momento deste escrito, Vladimir Putin ainda não tinha dado sinais de propósito de felicitação pela vitória de Trump, pois, segundo o porta-voz d Kremlin, as relações entre a Rússia e os EUA estão fracas e é bom que não piorem. Porém, o presidente ucraniano apressou-se a felicitar Donald Trump, recordando-lhe a conversa que tiveram em tempo. O agora eleito prometera acabar com a guerra, caso fosse eleito. 

Entretanto, apesar da vontade dos líderes europeus em trabalhar com o novo presidente, as bolsas europeias e chinesas ressentiram-se negativamente. Já a banca norte-americana e a bolsa dos EUA uparam no dia 6, em valores muito significativos. Espera-se que, na Europa, o estremeção bolsista seja momentâneo. Os principais índices do Velho Continente sofreram perdas, que foram particularmente significativas na praça de Lisboa, devido às ações do grupo EDP. O índice de referência europeu Stoxx 600 desvalorizou 0,6%, com as ações das utilities a serem as mais castigadas, seguidas dos títulos ligados ao setor imobiliário. Para o português PSI, foi o pior dia de negociações desde setembro de 2022 (mais de dois anos), com o índice nacional a ceder 3,27%, para 6334,18 pontos.

Já nos EUA, os principais índices de Wall Street atingiram novos recordes, com as small caps, bancos e seguradoras de saúde entre as ações mais beneficiadas, no dia em que foi confirmada a eleição de Donald Trump para a Casa Branca e a conquista do Senado pelo Partido Republicano, bem posicionado para controlar também a câmara baixa do Congresso. No mercado de dívida, as yields das obrigações do Tesouro norte-americano estão a subir, sobretudo nos prazos mais longos, com os investidores a ajustarem as perspetivas de cortes nas taxas de juro pela Reserva Federal Americana (FED) e a anteciparem novas pressões inflacionistas, em resultado das políticas protecionistas de Trump.

Nas criptomoedas, a bitcoins continua a negociar perto do máximo histórico de mais de 75 mil dólares alcançado durante a madrugada, com a moeda virtual a trocar de mãos por 74693,11 dólares, uma subida de 6,28%.

A nível da economia mundial, as eleições nos EUA terão algumas consequências. Na Alemanha, os analistas preveem um aumento necessário da Defesa e uma maior atenção à Ucrânia.

À medida que os resultados das se iam definindo, a Europa começava um novo capítulo nas relações transatlânticas. A Alemanha, um dos aliados mais próximos dos EUA, preparava-se tanto para um segundo mandato de  Donald Trump, como para uma presidência de Kamala Harris.

O deputado alemão Thomas Erndl defende que a Europa precisa de aumentar as despesas com a defesa e de priorizar a segurança. Michael Link, coordenador transatlântico e vice-líder do grupo parlamentar do Partido Democrático Liberal (FDP), adverte que o Mundo estará mais em jogo, se a Ucrânia perder a guerra. O diplomata norte-americano Daniel Benjamin diz que pode haver grandes consequências para a economia. É evidente que um novo amanhecer está prestes a abalar o Velho Continente.

A questão é saber se a Europa está preparada. De facto, no dilema entre a economia verde e a crise na agricultura, com uma indústria anémica, ao invés do protecionismo dos EUA, existente e cuja continuação e reforço ambos os candidatos às eleições preconizavam, e com a crassa dependência cerealífera e energética, é de questionar para onde vai a União Europeia (UE). 

2024.11.06 – Louro de Carvalho

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