Com
vitórias expressivas nos principais estados de batalha – Pensilvânia, Carolina
do Norte e Wisconsin, o candidato
republicano Donald Trump será o 47.º presidente dos Estados Unidos América
(EUA), num regresso histórico como o segundo presidente a ganhar dois mandatos
não consecutivos, uma vez que obterá bastante mais do que os 270 votos
dos grandes eleitores necessários para conquistar a presidência.
Nos
EUA, o presidente não é eleito diretamente, mas cada estado elege os seus
representantes (deputados ou delegados – grandes eleitores) e, depois, esse
colégio eleitoral elege, formalmente, o presidente. Contudo, a política
norte-americana costuma ser consequente e, ganhando um partido a maioria no colégio
eleitoral, o presidente será o candidato que fez a campanha por esse partido.
Pode acontecer que um partido obtenha o maior número de votos do eleitorado e
não consiga obter a maioria no tal colégio eleitoral. Porém, a 5 de novembro,
Donald Trump obteve, folgadamente, mais do que 50% dos votos e mais de 270
grandes eleitores (no momento desta escrita, eram 51% do votos e 279 grandes
eleitores). Além disso, os republicanos recuperaram o controlo do Senado, tendo
conquistando lugares na Virgínia Ocidental e no Ohio. No entanto, a Câmara dos
Representantes ainda estava em disputa.
Os apoiantes de Donald Trump
reuniram-se, no dia 5, à noite, em frente da sua residência em West Palm Beach,
na Florida, quando os resultados começaram a chegar. Para Joseph, artista e fã
de Trump, ele é “como o Super-Homem”, ou seja, “o tipo de pessoa que se quer a
dirigir o país”.
O líder dos republicanos declarou-se
vencedor das eleições na manhã do dia 6, logo após os resultados parciais terem
indicado que tinha vencido em três estados-chave. “Este foi o maior movimento
político de todos os tempos”, enfatizou no discurso de vitória, na sede de
campanha, com os resultados eleitorais oficiais ainda não confirmados,
acrescentando: “Esta é uma vitória magnífica para o povo americano, que nos vai
permitir tornar a América grande de novo.”
E enunciou o seu propósito: “Vou governar com um lema simples: ‘promessas
feitas, promessas cumpridas’. Vamos manter a nossa promessa. Nada me impedirá de
manter a minha palavra para convosco, o povo. Vamos tornar a América segura,
forte, próspera, poderosa e livre novamente. E peço a todos os cidadãos de todo
o nosso país que se juntem a mim neste nobre e justo esforço.”
Trump apelidou o seu segundo mandato
de “era de ouro”, para a América e para o seu povo, tudo isto sob os gritos da
multidão: “USA! USA!” Afirmando que o seu partido iria ajudar o país a “sarar”,
prometeu corrigir as fronteiras da América, dizendo que ele e o Partido
Republicano tinham “feito História” por uma razão: “A América deu-nos um mandato
poderoso e sem precedentes”, declarou, referindo que os republicanos tinham
“retomado o controlo” do Senado.
Os republicanos reconquistaram o
Senado dos EUA, pela primeira vez, em quatro anos, o que lhes garante um centro
de poder crucial, em Washington, o papel de liderança na confirmação do governo
e a conveniente alteração da composição do Supremo Tribunal, caso haja uma
vaga.
Donald Trump considerou que Deus
“salvou a sua vida por uma razão, aludindo a um atentado contra a sua vida, num
comício na Pensilvânia, em julho.
A Fox News projetara uma vitória para Donald
Trump, com aplausos de júbilo na sede de Trump, na Florida. Outras redes
noticiosas, incluindo a NBC News,
seguiram-no pouco depois.
O
primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, declarou a vitória de Trump, ao início
da manhã do dia 6. “Bom dia, Hungria, a caminho de uma bela vitória”, escreveu
nas redes sociais. Os principais membros da campanha de Trump seguiram o
exemplo, afirmando que tinha ganhado a presidência, mesmo antes de ter sido
projetada a vitória na Pensilvânia. “A América falou. Parabéns ao 47.º
Presidente”, disse Kevin McCarthy, presidente da Câmara dos Representantes.
Kamala
Harris tinha, ao início da manhã do dia 6, apenas 214 votos no colégio
eleitoral, contra 267 de Trump. Muitos estados ainda não estavam apurados, mas
não era claro como Harris poderia garantir uma vitória, após os ganhos de
Trump. Ao longo da
noite, o ambiente na festa na sede da campanha do Partido Democrata foi-se
tornando cada vez mais desanimador.
Durante o discurso, o candidato
ganhador agradeceu à família e à mulher e fez uma saudação especial a Elon
Musk, referindo-se aos foguetões e ao furacão na Carolina do Norte.
Disse que o teórico da conspiração antivacinas
Robert F. Kennedy Jr. ia “tornar a América saudável de novo”, mas insistiu que
o seu aliado devia “deixar o petróleo comigo”.
Trump terminou o discurso, insistindo
na grandeza da América e frisando que, durante o seu mandato, não houve
guerras. “Esta é uma grande vitória da democracia e da liberdade”, concluiu.
***
A
vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, que disputou a eleição, taco a taco (as
sondagens recentes davam um empate técnico) com o republicano Donald Trump, discursou na tarde do dia 6,
em Washington, para dizer que felicitou Donald Trump pela vitória e que a sua
equipa irá estar empenhada “numa transferência pacífica do poder”. Aliás, Joe
Biden, que prometeu falar ao país no dia 7, não se atrasou a felicitar o,
simultaneamente, antecessor e sucessor.
“Quando perdemos uma eleição, aceitamos os resultados. É isso que distingue
a democracia da anarquia”, afirmou a candidata não vencedora, numa atitude de
genuína democrata.
De coração
cheio e grata. Foi assim que Kamala Harris se apresentou à multidão que a
aguardava em frente à Universidade Howard, em Washington. O resultado eleitoral
da noite passada não foi o esperado, mas a democrata garantiu: “A luz da promessa da América arderá sempre.”
A candidata
agradeceu à família, a Joe Biden, o ainda presidente, ao companheiro de corrida
eleitoral, Tim Walz, aos funcionários e aos voluntários que a acompanharam nas
semanas de campanha. Os resultados não lhe deram a vitória, mas ela garante que
se sente “orgulhosa da corrida que fizemos e da forma como a fizemos”.
Revelou
que já tinha telefonado a Donald
Trump para o felicitar pela vitória, reconhecendo a derrota. “Temos de aceitar o resultado destas eleições”,
porfiou, reforçando: Quando perdemos uma eleição, aceitamos os resultados. Isso
distingue a democracia da anamarquia [anarquia].”
Não sei onde
os tradutores encontraram a palavra “anamarquia”.
A
vice-presidente garantiu que sua equipa e ela estão empenhadas numa “transição
pacífica do poder”. “Na nossa nação
devemos lealdade, não a um presidente ou a um partido, mas à Constituição deste
país”, sustentou. Aliás, Joe Biden já convidou Donald Trump para uma
visita à Casa Branca e assegurou a transição tranquila.
Não
obstante, apesar de aceitar os resultados eleitorais, Kamala Harris garantiu
que não desistirá dos seus valores: “Embora aceite esta eleição, não cedo na luta pela liberdade, pela
justiça e pela dignidade de todas as pessoas”, garantiu.
No final do
discurso reconheceu que os resultados podem ter frustrado parte do eleitorado,
podendo muitas pessoas sentir “que estamos a entrar num período negro”. “Mas,
para o bem de todos nós, espero que não seja esse o caso. Mas o que se passa é
o seguinte, América, se assim for, vamos encher o céu com a luz de um
brilhante, brilhante bilião de estrelas. A luz do otimismo, da fé, da verdade e
do serviço. E que esse trabalho nos guie, mesmo perante os contratempos, em
direção à extraordinária promessa dos Estados Unidos da América”, proclamou
Kamala Harris.
“O
presidente Donald J. Trump e a vice-presidente Kamala Harris falaram hoje por
telefone e ela felicitou-o pela sua vitória histórica. O presidente Trump
reconheceu a força, profissionalismo e tenacidade da vice-presidente Harris,
durante toda a campanha, e ambos os líderes concordaram com a importância de
unificar o país”, afirmou o diretor de comunicação da campanha de Trump, Steven
Cheung, em comunicado.
Segundo a
Casa Branca, Joe Biden, felicitou Donald Trump pela vitória, tendo expressado
“o seu empenho em assegurar uma transição suave”, em conversa ao
telefone. O presidente convidou Trump a encontrar-se com ele na Casa Branca e
falou com Kamala Harris, felicitando-a “pela sua campanha histórica”. Harris
abraçou o desafio de se tornar a primeira mulher presidente dos EUA, após a
desistência de Joe Biden, dada sua saúde e a idade avançada.
Apesar do
entusiasmo vivido em toda a campanha eleitoral, a candidata acabou por não
conseguir transformá-lo em votos, uma vez que perdeu em vários estados-chave,
nomeadamente, os importantes Geórgia e Pensilvânia. Além disso, e ao contrário
do que aconteceu com Hillary Clinton, em 2016, a vice-presidente não conseguiu
reunir preferência no voto popular.
***
Mal foi conhecida
a notícia da vitória de Donald
Trump, os líderes europeus apressaram-se a felicitar Donald Trump, prometendo estreitar as
relações entre os respetivos países e a Administração Norte-Americana.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán,
mostrou-se particularmente entusiasmado com o resultado, que considerou o
“maior regresso da história política ocidental”. Mas mesmo governos que
apoiaram abertamente Kamala Harris, como o executivo do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez,
mostraram-se dispostos a trabalhar com o novo ocupante da Casa Branca.
No entanto,
no eixo Paris-Berlim, já se notam os preparativos para uma nova era, com
o presidente francês, Emmanuel
Macron, em contacto com o chanceler
alemão, Olaf Scholz.
Em Portugal,
o Presidente da República recordou
uma visita à Casa Branca, em 2018, e o primeiro-ministro mostrou-se disponível a trabalhar com Donald Trump
a nível bilateral, multilateral e na Organização do Tratado do Atlântico Norte
(NATO).
No momento
deste escrito, Vladimir Putin ainda não tinha dado sinais de propósito de
felicitação pela vitória de Trump, pois, segundo o porta-voz d Kremlin, as
relações entre a Rússia e os EUA estão fracas e é bom que não piorem. Porém, o
presidente ucraniano apressou-se a felicitar Donald Trump, recordando-lhe a
conversa que tiveram em tempo. O agora eleito prometera acabar com a guerra,
caso fosse eleito.
Entretanto,
apesar da vontade dos líderes europeus em trabalhar com o novo presidente, as
bolsas europeias e chinesas ressentiram-se negativamente. Já a banca
norte-americana e a bolsa dos EUA uparam no dia 6, em valores muito
significativos. Espera-se que, na Europa, o estremeção bolsista seja
momentâneo. Os principais índices do Velho Continente sofreram perdas, que
foram particularmente significativas na praça de Lisboa, devido às ações do
grupo EDP. O
índice de referência europeu Stoxx 600 desvalorizou 0,6%, com as ações
das utilities a serem as mais castigadas, seguidas
dos títulos ligados ao setor imobiliário. Para o
português PSI, foi o pior dia de negociações desde setembro de 2022 (mais de dois anos), com o índice nacional a ceder 3,27%, para 6334,18 pontos.
Já nos
EUA, os principais índices de Wall Street atingiram novos recordes, com
as small caps, bancos e seguradoras de saúde entre as ações mais beneficiadas,
no dia em que foi confirmada a eleição de Donald Trump para a Casa Branca e a
conquista do Senado pelo Partido Republicano, bem posicionado para controlar
também a câmara baixa do Congresso. No mercado de dívida, as yields das obrigações do Tesouro norte-americano estão a subir,
sobretudo nos prazos mais longos, com os investidores a
ajustarem as perspetivas de cortes nas taxas de juro pela Reserva Federal
Americana (FED) e a anteciparem novas pressões inflacionistas, em resultado das
políticas protecionistas de Trump.
Nas
criptomoedas, a bitcoins continua a negociar perto do máximo histórico de
mais de 75 mil dólares alcançado durante a madrugada, com a moeda virtual a trocar de mãos por 74693,11 dólares, uma subida
de 6,28%.
A nível da
economia mundial, as eleições nos EUA terão algumas consequências. Na
Alemanha, os analistas preveem um aumento necessário da Defesa e uma maior
atenção à Ucrânia.
À medida que os resultados
das se iam definindo, a Europa começava um novo capítulo nas relações
transatlânticas. A Alemanha, um dos aliados mais próximos
dos EUA, preparava-se tanto para um segundo mandato de Donald Trump,
como para uma presidência de Kamala Harris.
O deputado alemão Thomas Erndl
defende que a Europa precisa de aumentar as despesas com a defesa e de priorizar
a segurança. Michael Link, coordenador transatlântico e vice-líder do
grupo parlamentar do Partido Democrático Liberal (FDP), adverte que o Mundo
estará mais em jogo, se a Ucrânia perder a guerra. O
diplomata norte-americano Daniel Benjamin diz que pode haver grandes
consequências para a economia. É evidente que um novo amanhecer está prestes a
abalar o Velho Continente.
A questão é saber se a Europa
está preparada. De facto, no dilema entre a economia verde e a crise na
agricultura, com uma indústria anémica, ao invés do protecionismo dos EUA,
existente e cuja continuação e reforço ambos os candidatos às eleições
preconizavam, e com a crassa dependência cerealífera e energética, é de
questionar para onde vai a União Europeia (UE).
2024.11.06 – Louro de Carvalho
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