De acordo
com a Sétima Pesquisa Climática anual encomendada pelo Banco Europeu de
Investimento (BEI) e divulgada a 11 de novembro, quase três quartos das pessoas
entrevistadas, na União Europeia (UE), reconhecem a necessidade de adaptar o seu
estilo de vida, devido aos efeitos das mudanças climáticas. Entre os desafios
enfrentados pelos seus países, sobressaem as mudanças climáticas em segundo
lugar, apenas atrás do custo de vida. E muitos pensam que investir na adaptação
impulsionará a economia e evitará custos mais altos, no futuro.
O inquérito
apresenta as opiniões de mais de 24 mil entrevistados de toda a UE e dos
Estados Unidos da América (EUA) sobre o tópico das mudanças climáticas. Na UE,
23138 pessoas participaram na pesquisa, que foi realizada em agosto de 2024.
As principais conclusões da pesquisa são: 94% dos entrevistados da UE dizem que é importante que o seu país se adapte
às mudanças climáticas, enquanto 50% dizem que isso tem de ser priorizado; 86% acreditam que investir em
adaptação pode criar empregos e impulsionar as economias locais; e 85%
concordam que é preciso investir, urgentemente, na adaptação climática, para
evitar custos ainda mais elevados, no futuro.
À medida que
os desastres naturais aumentam, em frequência e em gravidade, o custo económico
das alterações climáticas aumenta. Os cientistas avisam que estes desastres se
tornarão cada vez mais dispendiosos. De acordo com um relatório da Agência
Europeia do Ambiente (AEA), a Europa, é atualmente, o continente com o
aquecimento mais rápido, prevendo-se que o número de eventos meteorológicos
extremos aumente, à medida que as temperaturas globais sobem. Um maior número
de eventos meteorológicos extremos representa significativa ameaça para as infraestruturas
e para a estabilidade dos abastecimentos globais de água e alimentos, emergindo
a necessidade urgente de estratégias abrangentes de adaptação às alterações
climáticas.
“Neste ano, vimos o impacto trágico de eventos climáticos extremos na
Europa Central e, mais recentemente, no meu próprio país, a Espanha, onde
muitos perderam as suas vidas e milhares ficaram desabrigados. Do Paquistão ao
Caribe e à Carolina do Norte, o impacto das mudanças climáticas está a ser
sentido em todo o Mundo. A pesquisa divulgada hoje [11 de novembro] confirma
que as pessoas sabem que devemos agir, agora, para nos adaptarmos e para mitigarmos
os efeitos das mudanças climáticas. Uma transição ordenada também faz mais
sentido económico. Cada euro investido em prevenção e resiliência economiza
entre cinco e sete euros em reparos de danos”, considera Nadia Calviño, presidente
do BEI.
Para os Europeus,
a mudança climática é o segundo maior desafio enfrentado pelos seus países, depois
do aumento do custo de vida, pelo que 94% deles reconhecem a necessidade de
adaptação às mudanças climáticas. Metade dos entrevistados (50%) considera a
adaptação climática uma das prioridade para o seu país, nos próximos
anos. As pessoas que vivem nos países do Sul da Europa estão, geralmente,
mais preocupadas, considerando 65% a adaptação como uma das prioridades (15
pontos acima da média da UE: de 50%).
A adaptação
às alterações climáticas também é vista como uma oportunidade económica e um
investimento a longo prazo: 86% dos Europeus dizem que investir na adaptação às
mudanças climáticas pode criar empregos e impulsionar a economia local; e 85%
acreditam que a adaptação às mudanças climáticas exige investimento, agora,
para evitar custos mais altos, no futuro.
Os Europeus
reconhecem as oportunidades económicas das medidas de adaptação às mudanças
climáticas, enquanto as experiências, em primeira mão, de eventos climáticos
extremos aumentam a sensação de que uma ação urgente é necessária: 80% dos
entrevistados da UE (89% nos países do Sul da Europa) vivenciaram, pelo menos,
um evento climático extremo, nos últimos cinco anos; 55% sofreram com calor
extremo e com ondas de calor (o número sobe para 73%, na Espanha, e 71%, na
Roménia); 35% vivenciaram secas (62%, na Roménia, e 49%, na Espanha); e 34%
vivenciaram fortes tempestades ou granizo (62%, na Eslovénia, e 49%, na
Croácia).
Os eventos
climáticos extremos têm consequências graves e abrangentes: 68% dos
entrevistados europeus relataram ter sofrido, pelo menos, uma consequência
direta de um evento climático extremo; 21% foram afetados por interrupções no
transporte; 20% por cortes de energia ou por problemas de fornecimento de
energia; 20% por problemas de saúde; e 19% viram florestas ou espaços naturais
perto de suas casas destruídos.
Os Europeus
estão bem conscientes da necessidade de adaptação: 72% dos entrevistados da UE
(81% nos países do Sul da Europa) reconhecem que terão de adaptar o seu estilo
de vida, devido às mudanças climáticas; 35% acham que terão de se mudar para um
lugar menos vulnerável ao clima (localmente ou no exterior), para evitar
inundações, incêndios florestais ou outros eventos climáticos extremos; e 28%
dizem ter de se mudar para uma região ou país mais frio.
Para se conseguirem
adaptar às mudanças climáticas, os indivíduos precisam das informações certas.
Encorajadoramente, 71% dos Europeus sentem-se informados sobre o que podem
fazer para adaptar as casas e os estilos de vida, de forma eficaz. Contudo, a
maioria (60%) desconhece subsídios públicos ou incentivos financeiros para
apoiar seus esforços.
Os
entrevistados da UE identificam as seguintes prioridades principais para a
adaptação climática local: 42% destacam o resfriamento das cidades; 39% citam
melhorias na infraestrutura, por exemplo, instalação de melhores sistemas de
drenagem, barreiras contra enchentes, abrigos contra tempestades ou redes
elétricas mais resilientes; 38% observam a necessidade de educar o público
sobre quais comportamentos a adotar, para prevenir ou para responder a
problemas causados por eventos climáticos extremos.
Quando
perguntados sobre quem deveria pagar as adaptações às mudanças climáticas: 35% (mais
de um terço) acreditam que os custos devem ser suportados pelas empresas e
indústrias que mais contribuem para as alterações climáticas; 32% (quase outro
terço) acha que todos devem pagar igualmente; e 15% dizem que os indivíduos
mais ricos devem arcar com os custos por meio de impostos mais altos.
Quando
perguntados sobre quem deveria receber apoio, primeiro: 38% acreditam que todos
se devem beneficiar igualmente; 28% acham que os idosos devem ser priorizados;
e 23% dizem que as pessoas que vivem em áreas de alto risco devem ser as
primeiras a receber apoio.
As
preocupações sobre quem deve beneficiar da ajuda à adaptação vão além das
prioridades locais. A maioria (57%) dos entrevistados da UE reconhece a
necessidade de apoiar os esforços globais de adaptação e acredita que o seu
país deve fazer mais, para ajudar as nações em desenvolvimento mais vulneráveis
a adaptarem-se ao crescente impacto das mudanças climáticas.
***
A Sétima Pesquisa
Climática anual do BEI contou com a participação de 1009 pessoas em Portugal,
sendo que dois terços consideram que a
adaptação às alterações climáticas é uma prioridade nacional e mais de três quartos reconhecem a necessidade de mudar
e adaptar o seu estilo de vida, aos efeitos das alterações climáticas. E, embora
os inquiridos tenham classificado as alterações climáticas como a quinta
prioridade que o seu país tem pela frente, a grande maioria acredita que
investir na adaptação, agora, evitará custos mais elevados, no futuro.
As principais conclusões são, no atinente a Portugal: 99 % dos Portugueses afirmam que é importante que
o seu país se adapte às alterações climáticas e, destes, 66 % dizem que é
necessário dar prioridade a esta questão; e 95 % concordam que é
necessário investir, de imediato, nessa adaptação, para evitar custos ainda
mais elevados no futuro.
Os Portugueses colocam as alterações climáticas entre
os cinco maiores desafios que o país enfrenta, a par da instabilidade política
e a seguir ao aumento do custo de vida, ao acesso aos cuidados de saúde, à
migração em grande escala e ao desemprego. E, embora não as considerem o maior desafio quando lhes é dada a
possibilidade de as classificarem, a grande maioria reconhece a necessidade de
adaptação às alterações climáticas e considera-a uma prioridade: 99 % dos inquiridos reconhecem a necessidade de
adaptação às alterações climáticas (em comparação com a média da UE: de
94 %). Mais especificamente, dois terços (66 %, 16 pontos acima da
média da UE: de 50 %) consideram que essa adaptação é uma prioridade, em Portugal, nos
próximos anos, e 33 % consideram-na importante.
A adaptação às alterações climáticas é encarada como
uma oportunidade económica e um investimento a longo prazo para o país: 95 % dos inquiridos afirmam que o investimento na
adaptação às alterações climáticas pode ajudar a criar emprego e a estimular a
economia local (em comparação com 86 %, na UE); e 95 % consideram que
tal adaptação exige investimentos, no presente, para evitar custos mais
elevados, no futuro (em comparação com 85 %, na UE).
Embora os inquiridos reconheçam as oportunidades
económicas das medidas de adaptação aos impactos das alterações climáticas, a
sua experiência pessoal, relativamente a fenómenos meteorológicos extremos,
aumenta o sentimento de que é urgente agir: 86 % dos Portugueses (6 pontos acima da média da UE) foram afetados
por, pelo menos, um fenómeno meteorológico extremo nos últimos cinco anos.
Mais especificamente, 63 % (8 pontos acima da
média da UE) foram atingidos por calor extremo e por ondas de calor; 48 %
(27 pontos acima da média da UE) enfrentaram incêndios florestais; e 43 %
(8 pontos acima da média da UE) foram afetados por secas.
As consequências dos fenómenos meteorológicos extremos
são tangíveis e variadas: 71 % dos inquiridos mencionaram ter sofrido,
pelo menos, uma consequência direta de fenómenos meteorológicos extremos;
28 % tiveram florestas ou espaços naturais destruídos perto das suas
habitações (9 pontos acima da média da UE); 24 % sofreram problemas de
saúde (como insolação ou problemas respiratórios); e 19 % enfrentaram
perturbações dos transportes.
Neste contexto, os Portugueses estão cientes da
necessidade de se adaptarem: 77 %
dos inquiridos (em comparação com 72 % na UE) reconhecem que terão de
mudar e de adaptar o seu estilo de vida, devido às alterações climáticas; 37 %
pensam que terão de mudar-se para um local menos vulnerável ao clima, mesmo que
seja a mesma região (para evitar inundações, incêndios florestais ou outros fenómenos
meteorológicos extremos); e 30 % afirmam que terão de mudar-se para uma
região ou para um país mais fresco.
A adaptação individual às alterações climáticas exige
bom nível de informação. A maioria dos portugueses (77 %, 6 pontos acima
da média da UE de 71 %) sente-se informada sobre as medidas que pode
adotar para adaptar, eficazmente, os seus lares e estilos de vida. Todavia, a
maior parte destes (53 %, em comparação com a média da UE: de 60 %)
continua a desconhecer a existência de subvenções públicas ou de incentivos
financeiros para apoiar esses esforços.
Os inquiridos identificaram as seguintes prioridades
essenciais para a adaptação às alterações climáticas, a nível local: educação dos cidadãos, no sentido de adotarem comportamentos
para prevenir e enfrentar fenómenos meteorológicos extremos (52 %, 14
pontos acima da média da UE: de 38 %); arrefecimento das cidades
(38 %); e melhoria das infraestruturas (37 %).
Quanto a quem deve pagar a adaptação às alterações climáticas: quase metade dos inquiridos (49 %, 14 pontos acima da
média da UE) considera que os custos devem ser suportados pelas empresas e
indústrias que mais contribuem para as alterações climáticas; quase um terço
(30 %) considera que todos devem pagar o mesmo; e 8 % afirmam que as
pessoas mais ricas devem suportar os custos através de impostos mais elevados.
Sobre quem deve beneficiar, primeiro, da ajuda à
adaptação: 38 % consideram que todos devem
beneficiar de igual modo; 32 % pensam que deve ser dada prioridade aos
idosos; e 25% afirmam que os primeiros beneficiários devem ser as pessoas que
vivem em zonas de alto risco. A
preocupação sobre quem deve beneficiar da ajuda à adaptação vai para além das
prioridades locais. A maioria dos Portugueses (67 %, 10 pontos acima da
média da UE) reconhece a necessidade de apoiar os esforços de adaptação a nível
mundial e considera que o seu país deve fazer mais para ajudar os países em
desenvolvimento mais vulneráveis a adaptarem-se aos impactos crescentes das
alterações climáticas.
***
Todos os projetos financiados pelo
Grupo BEI estão em consonância com o Acordo de Paris sobre o Clima, pelo que
exclui investimentos em combustíveis fósseis. Diz estar no bom caminho para
honrar o compromisso de apoiar um bilião de euros de investimentos no domínio
do clima e da sustentabilidade ambiental, ao longo desta década, até 2030. Mais
de metade do financiamento anual do Grupo BEI apoia projetos que contribuem,
diretamente, para a atenuação das alterações climáticas, para a adaptação aos
seus efeitos e para um ambiente mais saudável. E cerca de metade do financiamento concedido
pelo BEI na UE destina-se a regiões de coesão, que apresentam um
rendimento per capita mais baixo.
Em 2023, em Portugal, o investimento na ação climática
e na sustentabilidade ambiental atingiu 746 milhões de euros. Entre outros
projetos de referência, o Grupo BEI assinou várias operações de titularização com
bancos comerciais, para apoio ao financiamento da eficiência energética, na
reabilitação de edifícios, e à construção de edifícios menos poluentes.
Parece que a divulgação da Sétima Pesquisa Climática
anual BEI, a 11 de setembro, terá sido feita para fazer furor à COP29, que se iniciou,
no mesmo dia, em Baku, no Azerbaijão, com o alerta de que 2024 será ser o ano
mais quente registado no Mundo, segundo a
Organização Meteorológica Mundial (OMM).
2024.11.11
– Louro de Carvalho
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