sábado, 13 de abril de 2024

BCE mantém, pela quinta vez, inalteradas as taxas de juro

 

O conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE), na reunião de 11 de abril, à semelhança do que aconteceu nas quatro anteriores, voltou a deixar as suas taxas de juro inalteradas. Assim, pela quinta vez, a instituição responsável pela política monetária da Zona Euro não mexeu nas taxas diretoras do banco central.

Não obstante, o BCE mostrou-se mais otimista, moderou o discurso e abriu a porta a uma descida, na reunião de 6 de junho, ocorrendo então o primeiro corte de juros desde 2019.

Com a inflação da Zona Euro a aliviar em direção à meta dos 2% e com a atividade económica a permanecer débil, estão reunidas as condições para o organismo liderado por Christine Lagarde começar a baixar o nível restritivo da política monetária, mas ainda há necessidade de maior certeza de que a inflação está controlada e de que não surgirão efeitos secundários relacionados com a evolução dos salários e dos preços das matérias-primas.

Contudo, existe um consenso cada vez mais forte de que o mês de junho será marcado pelo primeiro corte de juros da Zona Euro, em quase cinco anos. O BCE desceu os juros, pela última vez, em setembro de 2019, quando colocou a taxa dos depósitos em -0,5%. Os juros ficaram em mínimos históricos até julho de 2022, seguindo-se, depois, 10 agravamentos consecutivos em pouco mais de um ano, num total de 450 pontos base, ou seja 4,5 pontos percentuais (4,5%).

O conselho de governadores aproveitou a reunião de abril para reforçar esta perspetiva, havendo a dúvida se o faria de forma explícita, pré-anunciando o corte de juros, em junho, ou se deixaria apenas o terreno preparado avançar daqui a dois meses. Já na reunião de março a presidente do BCE deu um passo em ordem à baixa dos juros, mencionando que “saberemos um pouco mais em abril, mas saberemos muito mais em junho”. E, agora, a informação foi bastante contida.

Os dados revelados, desde então, deram ao banco central maior confiança para inverter a política monetária. A inflação de março baixou para 2,4%, um mínimo desde julho de 2021. O indicador subjacente, que exclui alimentos e energia, baixou duas décimas para 2,9%, o que representa o nível mais baixo desde fevereiro de 2022.

No atinente à atividade económica, os dados mais recentes apontam para a continuação da estagnação, mas com sinais de melhoria em março. A indústria está a recuperar e os indicadores avançados sugerem que o ponto mais baixo do ciclo já ficou para trás. Porém, este progresso não deverá ser suficiente para impedir uma recessão técnica na Alemanha.

Até à reunião de 6 de junho serão conhecidos os dados do produto interno bruto (PIB) dos países da Zona Euro, no primeiro trimestre, os números da inflação de abril e maio e a evolução dos salários. Será a última peça do puzzle para o BCE avançar com cortes de juros, sendo expectável que se acentue a tendência de abrandamento a tornar-se evidente no último trimestre de 2024.

À espera destes dados, o Comité de Política Monetária do BCE optou pela quinta manutenção da taxa dos depósitos, que está nos 4%, desde o último aumento, em setembro de 2023. A taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento e as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez devem permanecer nos 4,5% e 4,75%, respetivamente.

As poucas dúvidas que existiam sobre a abertura para o BCE baixar os juros, em junho, ficaram desfeitas, depois de Joachim Nagel (do Bundesbank) e Robert Holzmann (do banco central da Áustria), dois dos membros mais conservadores (“falcões”) do conselho do BCE, terem admitido este cenário. Alguns líderes de outros bancos centrais de países da Zona Euro defenderam que o corte de juros deveria estar em cima da mesa na reunião de abril, mas a probabilidade de tal acontecer era considerada “minúscula” pelos economistas.

Os investidores estão a descontar um corte acumulado entre 80 a 90 pontos base, em 2024, o que aponta para, pelo menos, três cortes de 25 pontos base, até dezembro. O consenso dos economistas emparceira com a sondagem da Bloomberg, que apontava para três cortes de juros, neste ano, com uma redução em cada trimestre. Depois de junho, o BCE tem reuniões agendadas para 18 de julho, para 12 de setembro, para 17 de outubro e para 12 de dezembro.

Alguns economistas não esperavam um corte nas taxas, já em abril, mas acreditavam que o BCE deixaria para junho o primeiro corte de 25 pontos base, já que o rumo da economia é propício a uma redução das taxas, com a inflação a aproximar-se dos 2% (objetivo do banco central), sem sinais de efeitos de segunda ordem que comprometam o objetivo, com a atividade a estagnar num ambiente monetário restritivo, com elevada incerteza e com fraca procura externa. Contudo, o BCE insiste que os cortes não estão garantidos, dependendo da trajetória previsível da inflação.

As perspetivas para a evolução da política monetária mudam de forma célere, pelo que não se deve dar por garantido que o BCE avance com um ciclo de corte de taxas de juro. A política monetária da FED (reserva federal norte-americana) e a evolução dos preços do petróleo representam a maior ameaça, embora os economistas descartem que seja suficiente para demover o BCE de reduzir o nível restritivo das taxas de juro.

A evolução robusta da economia norte-americana, a par da persistência da inflação em níveis elevados nos Estados Unidos da América (EUA), levou o mercado a reduzir o número de cortes de juros estimados para a FED, neste ano, para apenas dois, estando em dúvida se a primeira baixa de juros acontece já em junho. O petróleo atingiu um máximo, desde outubro, acima de 90 dólares por barril, acumulando uma subida de 16%, em 2024, o que faz ressurgir o fantasma das pressões inflacionistas impulsionadas pelos preços da energia.

É real a possibilidade de a FED esperar até à segunda metade do ano para começar a cortar nas taxas de juro, bem como o risco de nova crise energética provocada pela turbulência geopolítica.

Ora, a economia da Zona Euro não tem a vitalidade da norte-americana, com a inflação a estar também em níveis mais baixos. Não obstante, é provável que o BCE avance, em junho, com um corte de 25 pontos base, e que repita, pelo menos, mais duas vezes, até ao final do ano. Com efeito, se o processo de desinflação não descarrilar, assistiremos a um progresso decente na normalização da política monetária da Zona Euro, já neste ano.

O Deutsche Bank entende que o BCE deve definir a política monetária em função dos dados económicos. Ou seja, considerando “o crescimento mais baixo, a inflação mais reduzida e as condições orçamentais mais rigorosas, pode cortar os juros antes da FED e adotar uma magnitude e frequência diferente, sobretudo no início do ciclo”, como referem os seus economistas.

O cenário de o BCE descer os juros antes da FED e de reduzir a política monetária de forma mais intensa saiu reforçado no dia 10, depois de ter sido revelado que a inflação de março, nos EUA, subiu para 3,5%, superando o estimado pelos economistas e o registado em fevereiro (3,2%). O dólar reagiu em forte alta e vários analistas já admitem a possibilidade de o euro regressar à paridade, face ao dólar (desvalorização de 8% face aos níveis atuais).

***

“A inflação continuou a cair, liderada pela inflação mais baixa dos preços dos produtos alimentares e dos bens”, refere o BCE, no comunicado com a decisão de manutenção das taxas de juro, especificando: “A maior parte das medidas da inflação subjacente estão a diminuir, o crescimento dos salários está a moderar-se gradualmente e as empresas estão a absorver parte do aumento dos custos laborais nos seus lucros.” É uma indicação de que a entidade poderá estar a preparar o primeiro corte de juros em junho, como esperado pelo mercado.

Tal como no anterior comunicado, o BCE reitera que “as condições de financiamento são restritivas e os anteriores aumentos das taxas de juro continuam a pesar sobre a procura, o que está a ajudar a reduzir a inflação”, acrescentando, porém, que “as pressões internas sobre os preços são fortes e mantêm a inflação dos preços dos serviços elevada”.

“Se a avaliação atualizada do Conselho do BCE relativamente às perspetivas de inflação, a dinâmica da inflação subjacente e a força da transmissão da política monetária aumentassem ainda mais a sua confiança em que a inflação está a convergir para o objetivo de forma sustentada, seria apropriado reduzir o nível atual de restrição da política monetária“, admite o conselho do BCE, abrindo, claramente, a porta a uma descida de juros, o que vem dar força às expectativas dos mercados, que estão a apontar para junho a primeira descida de juros.

Os investidores, como se disse já, estão a descontar um corte acumulado entre 80 a 90 pontos base, em 2024, o que aponta para pelo menos três cortes de 25 pontos base, até dezembro. A sondagem da Bloomberg aponta para três cortes de juros, neste ano, com uma redução em cada trimestre. Depois de junho, o BCE tem reuniões agendadas para 18 de julho, 12 de setembro, 17 de outubro e 12 de dezembro.

Para já, a taxa de facilidade permanente de depósito permanece nos 4%, mantendo-se no nível mais elevado de sempre. A taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento e as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez mantém-se nos 4,5% e nos 4,75%, respetivamente.

O conselho do BCE refere, porém, que continuará a decidir reunião a reunião, com base nos dados económicos, “para determinar o nível e a duração apropriados da restrição, e não se compromete previamente com uma trajetória de taxas específica“.

Com a inflação a mostrar sinais de que está a convergir para o objetivo de 2% do banco central, os investidores estão mais confiantes numa mudança na política monetária na Zona Euro. A inflação de março baixou para 2,4%, um mínimo desde julho de 2021. O indicador subjacente baixou duas décimas para 2,9%, o que representa o nível mais baixo desde fevereiro de 2022.

Quanto ao programa de compra de ativos (APP) e do programa de compra de ativos devido a emergência pandémica (PEPP), o BCE não fez alterações, reiterando que a carteira do APP está a “diminuir a um ritmo comedido e previsível” e que no primeiro semestre deste ano, “o Conselho do BCE tenciona continuar a reinvestir, na totalidade, os pagamentos de capital dos títulos vincendos adquiridos ao abrigo do PEPP”.

Tal como no comunicado anterior, o BCE refere que, no segundo semestre, pretende reduzir a carteira do PEPP, em média, em 7,5 mil milhões de euros por mês e relembrou que “o Conselho do BCE tenciona descontinuar os reinvestimentos no contexto do PEPP no final de 2024”.

***

O Banco Nacional da Suíça inaugurou o ciclo de corte de juros, tendo decidido, na reunião de 21 de março, reduzir os juros em 25 pontos-base, fixando a taxa em 1,5%, a segunda mais baixa depois do Japão (fixada entre 0% e 0,1%) nas economias desenvolvidas. Nas reuniões já realizadas em abril por bancos centrais de economias desenvolvidas, o Banco do Canadá e o Banco da Reserva da Nova Zelândia não mexeram nos juros. Na União Europeia (UE), entre as economias emergentes fora do euro, a Chéquia e a Hungria cortaram juros, em março.

O mercado da dívida norte-americana e Wall Street viveram um pequeno abalo sísmico, a 10 de abril, depois de ser avançada a estimativa para a inflação, em março, nos EUA, que subiu para 3,5%, com a inflação subjacente a manter-se, pelo segundo mês, em 3,8%. E os juros da dívida, a 10 anos, subiram acima de 4,5% (o que compara com 2,5% para as obrigações alemãs).

Entretanto, os mercados de futuros (mercado de futuro é um ambiente de compra e venda de diversos ativos com data de vencimento predeterminada) têm negociado a taxa de remuneração dos depósitos, no caso do BCE, em vez da taxa de refinanciamento (que é de 4,5%).

***

Vamos ver por quanto tempo se sentirão os governos a ajudar os detentores de contratos de crédito à habitação a satisfazer os seus encargos com a banca. Por outras palavras, quando teremos taxas decentes de juros de crédito à habitação? a economia das famílias não pode ser asfixiada.

2024.04.13 – Louro de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário