quinta-feira, 4 de abril de 2024

Alta de conversões de muçulmanos ao cristianismo na França

 

O tema foi abordado por Solène Tadié, correspondente europeia do National Catholic Register, no ACI Digital, a 4 de abril, em artigo intitulado “Alta de conversões de muçulmanos na França: como responde a Igreja?”.

A articulista é franco-suíça e cresceu em Paris, na França. Depois de se formar em Jornalismo pela Universidade Roma III, começou a abordar matérias sobre Roma e sobre o Vaticano para a Aleteia. Ingressou no L’Osservatore Romano em 2015, onde trabalhou, sucessivamente, na secção francesa e nas páginas culturais do jornal do Vaticano. Também colaborou com várias organizações de media católicos de língua francesa. É também bacharel em Filosofia pela Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino.

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Estando a crescer a preocupação com a ascensão do islão, que ameaça tornar-se a principal religião em países historicamente católicos como a França, não se pode ignorar este fenómeno de crucial relevância: o crescimento exponencial de conversões de muçulmanos ao cristianismo.

Marie-Anne e Nicolas são dois convertidos do islão batizados nesta Páscoa. Como a de muitos outros catecúmenos que deixaram o islamismo, a sua caminhada é “desafiadora e edificante”.

Enquanto Marie-Anne (nome de batismo – segundo Solène Tadié, o nome civil não é revelável por segurança) acompanhava o marido moribundo da Argélia num hospital, na Bélgica, em 2015, ficou impressionada com a humanidade e compaixão demonstradas por uma enfermeira católica, a ponto de querer saber mais sobre Jesus, como explicou, em entrevista, ao jornal National Catholic Register, do grupo EWTN, a que pertence o ACI Digital.

A sede de Cristo, que se tornou insaciável, ao longo dos anos, despertou as suspeitas da família, na Argélia. Viúva e prometida a um homem que a “reeducaria” na fé muçulmana, abandonou uma posição de prestígio e o conforto material, para fugir para França com os dois filhos, onde completou o catecumenato.

Foi a mesma atração pela distinta relação do cristianismo com a caridade e com o amor ao próximo, sem distinções, que levou Nicolas, um francês que se converteu ao islamismo, em 2008, aos 26 anos, e que, depois, emigrou para a Indonésia, a abraçar a fé católica e voltar à sua terra natal. A sua conversão, que começou a florescer em 2017 – e culminou numa experiência espiritual na basílica do Sacré-Coeur, em Paris, ao rezar ao lado de uma estátua de santa Teresinha de Lisieux – resultou no divórcio da esposa muçulmana e no afastamento dos dois filhos, que permaneceram na Indonésia.

Nicolas disse que o seu está longe de ser um caso isolado na Indonésia, onde conheceu muitos ex-muçulmanos que se converteram ao cristianismo, sem conseguirem formalizar a sua nova religião, uma vez que a conversão ao cristianismo é proibida no islamismo. “Pude observar que a guerra civil na Síria e a ascensão do Estado Islâmico, em particular, provocaram uma onda de apostasia, muitas vezes a favor do cristianismo”, disse ao Register.

O missionário David Garrison mostra isso no estudo apresentado no seu livro de 2014 “A Wind in the House of Islam ” (Um vento na casa do islão, em tradução livre), estimando que, entre dois milhões e sete milhões de muçulmanos se converteram ao cristianismo, em todo o Mundo, nas últimas duas décadas, constituindo esse movimento “a maior conversão de muçulmanos a Cristo na História”.

Assim como as Igrejas locais, na Europa, começam a reconhecer a necessidade de responder de forma adequada ao retorno dos jovens ao catolicismo, através de comunidades tradicionalistas e carismáticas, também começam a pensar como acolher os vários convertidos do islamismo.

A arquidiocese de Paris criou o serviço pastoral “Ananie”, em 2000, para encaminhar os novos convertidos do islamismo para paróquias adequadas às suas necessidades e para formar sacerdotes e fiéis para os acolherem da melhor forma possível.

O padre Ramzi Saadé, que dirige o “Ananie”, em Paris, estima que 10% a 20% dos batismos na Páscoa deste anom na arquidiocese de Paris, são de convertidos do islamismo. E salienta que, embora a ausência de números oficiais impeça uma avaliação precisa, o que está a acontecer é definitivamente um fenómeno exponencial. “Cerca de 50 pessoas que passaram pelo “Ananie” serão batizadas, entre este ano e o ano que vem, na arquidiocese de Paris, mas ouvi falar de muitos outros catecúmenos do islão com os quais não tenho contacto”, revelou ao Register.

Esse aumento nos batismos de convertidos do islamismo faz parte da tendência geral do aumento acentuado nos batismos de jovens adultos, entre os 18 e os 25 anos, na França, com o aumento do número de mais de 30% de novos catecúmenos, em 2024, aumento que foi de 28%, em 2023.

Na turbulência da sua conversão imprevista, Marie-Anne e Nicolas também enfrentaram o desafio de se integrarem nas suas novas comunidades católicas. A rede “Ananie” desempenhou papel crucial no processo, oferecendo aos novos convertidos uma âncora valiosa, graças à missa semanal, à quarta-feira, seguida de um tempo de estudo e de diálogo amigável entre ex-muçulmanos. “Senti uma espécie de indiferença na minha nova paróquia por causa do meu passado”, lembrou Nicolas. “Embora eu tenha nascido na França, demorei muito para me sentir integrado. Senti-me muito isolada e conhecer a rede “Ananie” fez-me muito bem.”

Precisamente para compensar a falta de preparação de muitas paróquias católicas para acolher os convertidos do islamismo, surgiu o serviço “Ananie”, a pedido do padre Saadé ao então arcebispo de Paris, Dom Michel Aupetit. Cristão maronita do Líbano, Saadé foi ordenado sacerdote, em 2018 na Igreja Maronita, que está em comunhão com Roma, e traz a experiência de campo inestimável para o projeto. Além da missão de acolher os novos convertidos e de os orientar para as paróquias adequadas, oferece, através do site da rede, “manuais” para paróquias e para acompanhantes dos catecúmenos, assim como vídeos de formação.

“Percebi que muitos novos convertidos do islamismo abandonaram a Igreja Católica, não porque os fiéis foram indelicados com eles, mas porque, muitas vezes, querem mostrar-se tão favoráveis ​​ao islamismo que chegam a explicar que adoramos o mesmo Deus e que, no final, não há necessidade de se tornar cristão para ter acesso à salvação”, disse Saadé, ao destacar que esta abordagem equivocada diz respeito tanto a clérigos como a leigos. “No entanto, muitos dos que se unem a Cristo fazem-no arriscando a sua vida: alguns deixaram os seus países, foram rejeitados pelas famílias; estão em perigo real – a última coisa que precisam é de serem enviados de volta à sua identidade muçulmana.”

Em sua opinião, o diálogo inter-religioso implementado pelas autoridades da Igreja nas últimas décadas, que tem sido benéfico para a compreensão mútua das culturas e dos povos, também pode, por vezes, ser fonte de mal-entendidos sobre o dever de anunciar dos cristãos no Ocidente. “Muitas pessoas de origem islâmica que chegam a uma paróquia para se tornarem cristãs são muitas vezes acolhidas de forma inadequada à sua situação, como se ainda fossem muçulmanas, quando na verdade já não o são”, observou.

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Uma pesquisa do historiador e missionário David Garrison, que trabalhou com muçulmanos em vários países, mostra que o número de convertidos do islão ao cristianismo é “sem precedentes” na História. Segundo relatou, a esposa e ele passaram cerca de 30 anos como missionários evangélicos comprometidos no mundo muçulmano, vivendo entre os islâmicos no Médio Oriente e no sul da Ásia. No final da primeira década do século XXI, viu relatos de conversões, em grande escala, de muçulmanos à fé cristã: “Dado o facto de que a conversão do islão é uma ofensa capital em muitas comunidades muçulmanas tradicionais, os relatos de movimentos substanciais merecem atenção.

No seu artigo, na NewsweekGarrison escreveu que decidiu investigar vários “fenómenos relatados”, a fim de compreender porque essas pessoas arriscaram as suas vidas para mudarem a sua lealdade religiosa.  

“Como historiador da Igreja, precisaria de explorar o contexto histórico dos movimentos muçulmanos para Cristo para ver o que estava a ocorrer”, disse o diretor executivo da agência missionária Global Gates e PhD pela Universidade de Chicago em História do Cristianismo

Foi assim que aconteceu a pesquisa de Garrison, que passou a entrevistar, pelo menos, mil muçulmanos de cada comunidade etnolinguística, que se converteram e que foram batizados voluntariamente, correndo grandes riscos. 

Mesmo com as pesquisas a apontar para o islão como a religião que mais cresce hoje, no Mundo, e com pesquisas populacionais a indicar que, até 2060, também poderá ser a maior religião do mundo, há controvérsias. 

O pesquisador mostrou que é enorme o número de muçulmanos convertidos ao cristianismo, nas últimas décadas, e descobriu que, nos primeiros 1400 anos, desde que o islão foi fundado e estabelecido, houve 15 movimentos registados de muçulmanos que se tornaram cristãos.

Garrison define “movimento” como, pelo menos, mil muçulmanos de uma determinada comunidade que não apenas professam a sua fé em Cristo, mas também a demonstram voluntariamente, por meio do ato do batismo. “Apenas nas duas primeiras décadas do século XXI, já houve 70 movimentos de conversão florescentes”, revelou.

Segundo o historiador, ex-muçulmanos têm repetidamente compartilhado como Deus usou sonhos para vir até eles. Segundo estimativas, até 25% dos muçulmanos convertidos tiveram um sonho ou visão. Os resultados da pesquisa mostram que, para alguns, o próprio Jesus falou das Escrituras para eles, mesmo que eles nunca tivessem ouvido nada a respeito disso, antes. 

Outros disseram que Jesus lhes pediu para fazerem algo. Muitos relataram sonhos com Jesus e sentiram-se em paz. E há os que tiveram uma visão física de “um homem de branco”.

“A maneira como Deus falou com o seu povo, há dois mil anos, é a maneira como Ele fala agora. Está a usar os mesmos meios para atrair a sua criação para Si mesmo”, concluiu o historiador. 

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Recentemente, mais de 200 muçulmanos na Faixa de Gaza tomaram a decisão de se converterem ao cristianismo, após relatarem terem sonhado com Jesus na mesma noite, em meio ao conflito com Israel. O professor de Teologia da Huston Christian University e presidente do ministério Risen Jesus, Michael Licona, compartilhou esse movimento sobrenatural nas suas redes sociais, destacando a atuação de ministérios cristãos clandestinos na região.

Segundo Licona, esses ministérios realizaram atividades humanitárias, oferecendo ajuda a pais palestinianos que perderam os filhos no conflito. Além disso, compartilharam a mensagem de esperança do Evangelho, proporcionando momentos de leitura da Bíblia e abordando o caminho da paz por meio de Jesus. De acordo com a CBN News, o professor expressou a sua gratidão por ver a intervenção divina a acontecer no meio da guerra, vincando que Deus está a agir mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Encorajou os cristãos a orarem, não só pela situação em Israel, mas também pelos Palestinianos inocentes que estão a sofrer no conflito.

Licona compartilhou a sua perspetiva sobre a guerra em Israel, expressando o seu apoio a Israel no conflito, não só por razões teológicas, mas por considerar o Hamas e seus apoiantes como agentes do mal. Reconhecendo que nem todos os Palestinianos apoiam o Hamas, destacou a importância de orar pela paz na região. E, no final, da sua mensagem, pediu orações pela rápida conclusão da guerra e expressou a esperança de que Israel possa eliminar a ameaça representada pelo Hamas, proporcionando a liberdade aos Palestinianos.

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Fica, pois, demonstrado que a tendência geral não é o abandono do cristianismo. Isso ocorre, basicamente, nos países cansados da riqueza e do poder, nomeadamente em termos da hegemonia político-militar e/ou económica. Esses países tendem a utilizar a religião em favor dos seus desígnios de afirmação e de expansão. Já foi assim na História!

2024.04.04 – Louro de Carvalho

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