segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Covid-19 mantém-se como emergência de saúde pública internacional

 

Com o mundo a tentar voltar à normalidade no atinente à covid-19, há agora informações de alerta a que estejamos atentos e a que se redobrem os cuidados.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou, a 19 de outubro, que decidiu manter a pandemia da covid-19 como uma emergência de saúde pública internacional, na sequência da recomendação do comité de emergência, uma vez que o coronavírus continua a afetar “negativa e fortemente a saúde da população mundial”, registando ainda um número de mortes consideravelmente alto em comparação com outros vírus respiratórios.

De acordo com um comunicado da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus concorda com o parecer do comité em relação à pandemia e “determina que o evento continua a constituir uma Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional” (PHEIC, na sigla em inglês).

É de realçar que a PHEIC é o nível mais alto de alerta e se aplica a “um evento extraordinário, grave, repentino, incomum ou inesperado”, com implicações para a saúde pública para lá da fronteira nacional de um Estado afetado, podendo exigir uma ação internacional imediata.

Segundo a OMS, os peritos de vários países que aconselham a organização concordaram que a covid-19 se mantém como “evento de saúde pública que continua a afetar negativa e fortemente a saúde da população mundial” e “ainda há o risco de novas variantes agravarem o impacto contínuo na saúde, particularmente à medida que o inverno se aproxima no hemisfério norte”, o que exige “a necessidade de uma resposta internacional coordenada para enfrentar as desigualdades no acesso a ferramentas que salvam vidas”.

A organização sediada em Genebra salienta que, embora as mortes semanais estejam próximas do valor mais baixo desde que a pandemia começou, tal número “permanece alto em comparação com outros vírus respiratórios”. Por outro lado, o comité de emergência, na sua recomendação, considerou as dúvidas sobre as caraterísticas genéticas e antigénicas das futuras variantes do SARS-CoV-2, que são agravadas, em grande medida, pelas “lacunas atuais” na vigilância global, que dificultam a identificação e a avaliação atempada dessas mudanças. A evolução contínua do vírus pode “representar desafios para as vacinas e terapêuticas atuais”, pois ainda permanecem “iniquidades no acesso” à vacinação e a tratamentos entre países.

Nos termos do comunicado em referência, o comité observou que, no geral, “a situação permanece dinâmica e requer reavaliações frequentes”, devendo o término da PHEIC, quando considerado viável, ser implementado “da forma mais segura possível”.

Na sequência da decisão de manter a covid-19 como PHEIC, Tedros Adhanom Ghebreyesus emitiu uma série de recomendações temporárias para os países, entre as quais o reforço da vigilância do SARS-CoV-2, melhorando, quando necessário, a capacidade de detetar e avaliar as variantes emergentes e mudanças significativas na epidemiologia da covid-19. Além disso, importa alcançar as metas nacionais de vacinação, com a proteção integral dos grupos de risco, manter uma resposta nacional forte à pandemia, com a atualização dos planos de preparação e resposta, e adaptar as medidas de proteção individual à mudança do contexto epidemiológico.

Recorde-se que o comité de emergência para a covid-19 realizou a sua primeira reunião a 22 e 23 de Janeiro de 2020 e, dias depois, o diretor-geral da OMS declarou que o surto de SARS-CoV-2 constituía uma emergência de saúde pública internacional. Com efeito, a este comité, que reúne por convocação do diretor-geral da OMS, cabe verificar se um surto constitui emergência de saúde pública e propor medidas temporárias para prevenir e reduzir a propagação de uma doença e gerir a resposta global à saúde pública, se necessário.

Por sua vez, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC), a 21 de outubro, alertou para a possibilidade de uma nova linhagem da variante Ómicron passar a ser dominante na Europa até dezembro, o que poderá provocar um aumento de contágios.

Na verdade, as previsões do ECDC, nos termos de um comunicado seu, indicam que a “BQ.1 e a sua sublinhagem BQ.1.1 se tornarão dominantes na União Europeia (UE) e no Espaço Económico Europeu (EEE) entre meados de novembro e o início de dezembro de 2022”. Assim, caso se confirme essa previsão, poderá verificar-se na Europa um aumento do número de casos de covid-19 nas próximas semanas.

Estudos laboratoriais preliminares na Ásia indicam que a BQ.1 tem a capacidade de escapar à resposta do sistema imunológico, mas, segundo os dados disponíveis, “não há evidência de que possa estar associada ao aumento da gravidade da infeção em comparação com as variantes BA.4 e BA.5 da Ómicron”. Não obstante, o ECDC disse esperar que a BQ.1 (em conjunto com a sublinhagem BQ.1.1) seja responsável por mais de 50% das infeções até ao início de dezembro, uma prevalência que deve subir para os 80% no início de 2023.

“Pelo menos cinco países da UE/EEE detetaram a circulação” da BQ.1 na semana de 3 a 9 de outubro, adiantou o ECDC europeu, ao avançar que a França, Bélgica, Irlanda, Países Baixos e Itália foram os países que registaram as percentagens mais elevadas nas amostras recolhidas.

Fora da UE/EEE, os países com maiores percentagens registadas nas amostras recolhidas no início de outubro são a Suíça (9%) e o Reino Unido (8%).

Em Portugal, de acordo com o último relatório do Instituto Ricardo Jorge (INSA), a sublinhagem BQ.1.1 tem aumentado de frequência em Portugal, chegando aos 4,9% nas últimas semanas. E o índice de transmissibilidade (Rt) do coronavírus SARS-CoV-2 que provoca a covid-19 subiu para os 0,88 em Portugal, com uma média de 972 novos casos por dia.

Por tudo isto, como salientou a diretora do ECDC, Andrea Ammon, citada no referido comunicado, “os países devem permanecer vigilantes para sinais de emergência e disseminação da BQ.1 e manter uma testagem representativa”, assim como monitorizar as taxas de casos de covid-19 e os indicadores de hospitalizações, especialmente em pessoas com 65 ou mais anos.

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Entretanto, o Governo fez cessar o estado de alerta a 1 de outubro. E o último relatório do INSA (de 20 de outubro), assumido pela Direcção-Geral de Saúde (DGS), considera que a consequente alteração da testagem induziu a verificação de uma descida acentuada da incidência e valor do R(t), mas alertou que estes dados podem não corresponder a decréscimos reais.

O objetivo deste relatório era apresentar as estimativas da curva epidémica da infeção por SARS-CoV-2 por data de início de sintomas e as estimativas dos parâmetros de transmissibilidade R0 (número básico de reprodução) e R(t) (número de reprodução efetivo em função do tempo).

Foram três os métodos seguidos: correção da curva epidémica de SARS-CoV-2/COVID-19 em Portugal para o atraso de notificação de casos confirmados (Nowcasting); estimativa dos parâmetros epidemiológicos número básico de reprodução (R0) e número efetivo de reprodução (R(t)); e posicionamento de Portugal no contexto europeu em termos de transmissibilidade R(t) e taxa de notificação acumulada a 14 dias.

Após a correção da curva epidémica para o atraso de notificação, estima-se que até 15-10-2022 tenham ocorrido 5.512.398 casos. O valor médio do R(t) (número de reprodução efetivo) para os dias de 11-10-2022 a 15- 10-2022 foi de 0,88, podendo o seu verdadeiro valor estar entre 0,87 e 0,89 com uma confiança de 95%. Foram ainda estimados os seguintes valores de R(t) para as regiões: 0,84 na região Norte, 0,88 na região Centro, 0,89 na região LVT, 0,79 na região Alentejo, 0,80 na região Algarve, 1,09 nos Açores e 1,22 na Madeira. No comparativo Europeu, Portugal apresenta a taxa de notificação acumulada de 14 dias entre 120 a 239.9 casos por 100.000 habitantes e R(t) inferior a 1, ou seja, taxa de notificação elevada e com tendência decrescente.

Segundo o boletim epidemiológico semanal da DGS (de 21 de outubro), em relação à semana anterior, registaram-se mais 761 casos de infeção, verificando-se mais oito mortes na comparação entre os dois períodos; no dia 17, estavam internadas 465 pessoas, mais 45 do que no mesmo dia da semana anterior, com 32 doentes em unidades de cuidados intensivos, mais quatro.

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É de recordar que a covid-19 é uma doença infeciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2. É certo que a maioria das pessoas que contraem a doença tem sintomas ligeiros a moderados e recupera sem necessitar de tratamento especial, porém, muitas ficam gravemente doentes, pelo que necessitam de assistência médica e até de internamento hospitalar e algumas morrem.

O vírus pode propagar-se a partir da boca ou do nariz de uma pessoa infetada através de pequenas partículas líquidas que a pessoa emite quando tosse, espirra, fala, canta ou respira. Estas partículas vão desde gotículas respiratórias de maiores dimensões a aerossóis mais pequenos.

Qualquer pessoa pode ser infetada ao inspirar o vírus, estando perto de alguém com covid-19 ou tocando em superfície contaminada e, a seguir, nos olhos, no nariz ou na boca. O vírus propaga-se mais em ambientes fechados e espaços lotados, bem como em períodos propícios à gripe.

Não obstante, a não ser o uso de máscara em serviços de saúde e em lares de idosos, nenhuma outra medida condicionante está em vigor. Temos apenas recomendações dos especialistas.

Em geral, os serviços aboliram as barreiras protetoras e os cidadãos perderam alguns hábitos, nomeadamente de circulação de um único sentido, sempre que possível, de entradas e saídas diferentes e de algum distanciamento físico. Em vez de termos aprendido com uma pandemia que se tornou devastadora e criou incertezas e restrições às liberdades, só desaprendemos…

Os sintomas da covid-19 são idênticos aos da gripe. Os especialistas apelam, por isso, a que, em caso de tosse persistente, de espirros e de febre, se use máscara, para proteção dos que nos rodeiam, e lembram, uma vez mais, a importância da vacinação. Enfim, todo o cuidado é pouco!

2022.10.25 – Louro de Carvalho

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