quinta-feira, 4 de setembro de 2025

China exibiu novas armas ante o líder russo e o norte-coreano

 

A China realizou, a 3 de setembro, um grande desfile militar, para comemorar os 80 anos da rendição do Japão, na Segunda Guerra Mundial. O desfile faz parte de uma “guerra da memória” em que a China oferece uma narrativa diferente da ocidental, pois sente que foi subestimado o seu papel na guerra. Com feito, na recente cimeira sobre segurança regional da Organização para Cooperação de Xangai (OCX), que antecedeu o grande desfile militar, o presidente chinês, Xi Jinping, disse que é preciso promover uma “perspetiva histórica correta” da Segunda Guerra Mundial, um conflito que significa um importante ponto de viragem no “grande rejuvenescimento da nação chinesa”, pois a China superou a invasão do Japão e tornou-se uma potência económica e geopolítica.

A CNN Brasil e a Reuters sustentam que, de acordo com a sua memória nacional, a China foi o primeiro país a entrar no que viria a ser a Segunda Guerra Mundial e foi aliada dos Estados Unidos da América (EUA) e do Império Britânico, desde Pearl Harbor, em 1941, até à rendição japonesa em 1945. Cerca de 14 milhões de Chineses morreram e perto de 100 milhões tornaram-se refugiados, durante os oito anos do conflito com o Japão, de 1937 a 1945.

A 7 de julho de 1937, um confronto entre as tropas chinesas e as japonesas, na ponte Marco Polo, nos arredores de Pequim, levou a uma guerra total; e, um ano depois, em meados de 1938, a situação militar chinesa era desesperante.

A maior parte do Leste da China – Xangai, Nanjing, Wuhan – estava nas mãos dos Japoneses e muitos observadores externos presumiram que a China não resistiria, vindo a ser o cenário mais provável uma vitória japonesa sobre a China. Porém, o líder da China, o nacionalista Chiang Kai-shek e os comunistas, os seus improváveis ​​aliados, recusaram-se a desistir, recuando para o interior, para continuarem a resistência.

Esta decisão mudou o destino da Ásia. Se a China se tivesse rendido, o Japão teria controlado a China, durante uma geração ou mais. As forças do Japão poderiam ter-se voltado para a então União Soviética, para o Sudeste Asiático ou, mesmo, para a Índia Britânica. A guerra poderia ter seguido um curso totalmente diferente. Não obstante, os Chineses resistiram e, depois de Pearl Harbor, a guerra atingiu o nível mundial. Os Aliados ocidentais e a China uniram-se contra o Japão, a relação entre os dois lados tornou-se mais próxima e a China foi tratada como um dos Aliados. Todavia, como tinha muito menos recursos do que os outros Aliados, levantou-se uma verdadeira divergência nos pontos de vista do Ocidente e da China, em relação à contribuição chinesa para a guerra.

Os Aliados Ocidentais valorizaram o facto de a resistência chinesa ter investido contra mais de 600 mil soldados japoneses. No início da guerra, isto significou que essas tropas não poderiam ser facilmente transferidas para o resto da Ásia. Contudo, os EUA e o Reino Unido tinham de priorizar os seus objetivos. Libertar a Europa do terror nazista era a prioridade, até porque Josef Estaline insistia que os Aliados ocidentais deviam fornecer ajuda aos soviéticos.

Ora, os Chineses viam a questão de maneira diferente. Para os Nacionalistas e para os Comunistas, a guerra começou em 1937 e eles foram “os primeiros a lutar”. É certo que os exércitos da China eram fracos, mas muitas das melhores tropas foram sacrificadas em grandes batalhas, como as de Xangai e de Xuzhou.

A China sentia que tinha de aguentar os fardos de um grande aliado, sem ter os mesmos recursos que os EUA, o Reino Unido e, mesmo, a União Soviética. E, embora não pudesse ter vencido a guerra sozinha – a derrota do Japão dependeu das finanças, do apoio militar e dos suprimentos ocidentais e, em particular, dos norte-americanos (ainda que as tropas terrestres ocidentais não tenham lutado na China) – o seu contributo foi muito importante para o esforço de guerra. Na verdade, ao manter grande número de tropas japonesas no seu território, serviu de exemplo a outros países não-ocidentais, mostrando ser possível lutar com o Ocidente e opor-se fortemente ao imperialismo. Chiang Kai-shek tentou persuadir os nacionalistas indianos, Jawaharlal Nehru e Mahatma Gandhi, a apoiar ativamente o esforço de guerra, embora sem sucesso.

Refere a CNN Brasil que grande parte desta narrativa foi esquecida, no Ocidente e na China, durante a Guerra Fria. Poucos queriam lembrar do regime de Chiang Kai-shek, que foi empurrado para Taiwan pelos comunistas de Mao Tsé-Tung. Com efeito, na China de Mao, o Partido Comunista tinha pouco interesse em proporcionar qualquer espaço para reflexões positivas sobre os seus inimigos nacionalistas.

Só a partir da década de 1980, quando a Revolução Cultural estava em declínio e era necessária nova fonte de nacionalismo, as autoridades chinesas permitiram uma reavaliação mais ampla da guerra, lembrando o contributo do governo nacionalista e das tropas que lutaram na guerra. E, hoje, a China abraça, explicitamente, grandes partes da sua História de guerra que permaneceram tabu, durante grande parte da Guerra Fria, e sustenta que, se o contributo dos EUA para a derrota do Japão lhe confere o direito a uma presença contínua na região, também os sacrifícios da China deveriam garantir os mesmos direitos a Pequim.

Porém, na Ásia, a Segunda Guerra Mundial ainda é um assunto inacabado, de acordo com a CNN Brasil e com a Reuters.

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O Japão anunciou a sua rendição incondicional, a 15 de agosto de 1945, através de um discurso do Imperador Hirohito, mas a rendição oficial e formal foi assinada a 2 de setembro de 1945, no USS Missouri, marcando o fim da Segunda Guerra Mundial. 

O 15 de agosto de 1945, o dia em que o Imperador Hirohito anunciou ao povo japonês que o país se renderia aos Aliados, é conhecido e celebrado como Dia V-J (Vitória sobre o Japão), tendo marcado o fim da Segunda Guerra Mundial no Pacífico. Porém, a 2 de setembro de 1945, foi assinada a rendição formal do Japão, a bordo do navio de guerra americano USS Missouri, na Baía de Tóquio. 

Este ato oficializou o fim da Segunda Guerra Mundial e iniciou o período de ocupação do Japão pelas forças dos Aliados. 

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Pequim aproveitou a oportunidade da realização da parada militar comemorativa do 80.º aniversário da rendição do Japão, na Segunda Guerra Mundial, para mostrar as suas mais recentes tecnologias de Defesa, desde novos mísseis a sistemas de defesa espacial. Com a revelação desta série de novas armas na sua parada militar do Dia da Vitória, a China pretendeu mostrar a sua força e apresentar-se como alternativa global à era pós-guerra, dominada pelos EUA.

O novo míssil hipersónico YJ-15 foi apresentado, pela primeira vez, durante o desfile. A linha de rockets YJ – ou Ying Ji (ataque da águia) – pode ser lançada a partir de navios ou aeronaves e foi concebida para perfurar grandes embarcações, causando danos significativos no impacto.

Pequim também revelou o seu novo Veículo Submarino Não Tripulado Extragrande (XLUUV na sigla em Inglês), exibindo o AJX002. O drone marítimo tem pouco mais de 18 metros de comprimento e foi projetado para operar em modo furtivo. Soma-se à frota já bem desenvolvida de XLUUV da China, que conta com, pelo menos, cinco tipos diferentes de sistemas e consolida, ainda mais, o domínio da China no espaço dos drones marítimos.

As forças armadas chinesas também exibiram três novos tipos de mísseis balísticos intercontinentais com capacidade nuclear: o Dong Feng-61, o Dong Feng-31BJ e o Dong Feng-5C. O novo sistema JL-1 de Pequim complementa esses novos sistemas, sendo o seu primeiro míssil nuclear lançado do ar.

A comunicação social chinesa afirma que o Dong Feng-5C tem um alcance superior a 20 mil quilómetros, colocando o Mundo inteiro ao alcance de Pequim. O DF-5C pode transportar até uma dúzia de ogivas num único míssil.

O desfile também marcou a estreia do primeiro sistema de defesa espacial da China, o HQ-29, um míssil capaz de derrubar satélites estrangeiros com um único golpe, destacando ainda mais o domínio aéreo do país.

O presidente da China, Xi Jinping, no seu discurso, antes do desfile, disse que a Humanidade, hoje, deve escolher entre a paz e a guerra, entre o diálogo e o confronto, prestou homenagem às vítimas da guerra, lamentou a morte dos corajosos soldados que sacrificaram as suas vidas pelo país e apelou à erradicação das raízes da guerra, para evitar que a História se repita.

Pouco depois do início do desfile, o presidente dos EUA, Donald Trump, foi à rede social Truth, para partilhar as suas opiniões sobre a ocasião. “A grande questão a ser respondida é se o presidente Xi da China vai ou não mencionar a enorme quantidade de apoio e ‘sangue’ que os Estados Unidos da América deram à China, para a ajudar a garantir a sua LIBERDADE de um invasor estrangeiro muito hostil”, questionou.

“Muitos americanos morreram na busca da vitória e da glória da China. Espero que sejam legitimamente honrados e recordados pela sua bravura e sacrifício!”, escreveu o presidente dos EUA, Donald Trump.

“Que o presidente Xi e o maravilhoso povo da China tenham um grande e duradouro dia de celebração. Por favor, deem os meus mais sinceros cumprimentos a Vladimir Putin e a Kim Jong Un, enquanto conspiram contra os Estados Unidos da América”, escreveu o inquilino da Casa Branca, no final da sua publicação.

O líder chinês, no seu discurso, não mencionou os EUA pelo nome, mas expressou a sua gratidão aos países estrangeiros que ajudaram a China a resistir à invasão japonesa, durante a Segunda Guerra Mundial.

O presidente Xi Jinping foi acompanhado por dois ilustres convidados no desfile, o presidente russo, Vladimir Putin, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, que chegaram à histórica porta de Tiananmen, para assistirem ao desfile.

A nível interno, a comemoração deste aniversário é uma forma de mostrar o caminho percorrido pela China. Pequim foi uma das principais frentes da guerra, um facto frequentemente ignorado nos relatos que se centram mais na luta pela Europa e nas batalhas navais dos EUA no Pacífico, como se referiu acima. Com efeito, uma invasão japonesa antes da guerra e o próprio conflito mataram milhões de Chineses.

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O presidente chinês Xi Jinping foi acompanhado pelo presidente russo Vladimir Putin e pelo líder norte-coreano Kim Jong Un num grande desfile militar em Pequim, na quarta-feira.

No evento, Xi afirmou que iria "acelerar a construção de um exército de classe mundial" que "forneceria suporte estratégico para a realização do grande rejuvenescimento da nação chinesa".

A parada, que assinala o 80.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, exibiu mísseis, aviões de combate modernos e outras capacidades militares, numa altura em que a China procura exercer maior influência no cenário global. Alguns dos equipamentos militares foram apresentados ao público pela primeira vez.

Esta demonstração do crescente poderio militar da China suscitou preocupações entre alguns dos seus vizinhos asiáticos e os EUA, com alguns líderes ocidentais a optarem por não comparecer ao evento.

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Por fim, é de anotar que, depois da cimeira regional da OCX, o presidente chinês, Xi Jinping, e o presidente russo, Vladimir Putin, entabularam uma série de conversações em Pequim, a 2 de setembro, caminhando juntos fora da residência de Xi após uma cerimónia do chá.

Antes, os dois líderes mantiveram discussões formais onde Vladimir Putin, dirigindo-se a Xi como “querido amigo”, afirmou que as relações entre Moscovo e Pequim estavam num nível “sem precedentes” e sublinhou a importância da história partilhada, recordando a aliança dos seus povos, durante a guerra e comprometendo-se a continuar a cooperação.

Xi Jinping também presidiu a uma reunião trilateral com Vladimir Putin e com o Presidente da Mongólia, Ukhnaa Khurelsukh, onde o líder do Kremlin destacou os seus países como bons vizinhos ligados pela amizade. E os três participarão no desfile de 3 de setembro, na capital chinesa, comemorando 80 anos desde o fim da Segunda Guerra Mundial, acompanhados por cerca de duas dezenas de líderes estrangeiros, basicamente os que tinham participado na cimeira da OCX.

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Claramente, a China, a Rússia, a Mongólia e a Coreia do Norte estão a constituir-se como um bloco político, militar e económico em contraponto aos EUA, com ou sem a União Europeia (UE), numa palavra, ao dito Ocidente, no que podem envolver todos os países da OCX. Temos de nos habituar.

2025.09.03 – Louro de Carvalho

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