quarta-feira, 9 de julho de 2025

UE espera alcançar acordo comercial com EUA até 1 de agosto

 
O presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, determinou que 1 de agosto (ultrapassado que está fixado para 9 de julho) é a nova data-limite para que os países interessados alcancem um acordo com Washington e que, a partir da data, serão aplicadas tarifas elevadas. Para tanto, a partir de 7 de julho, seriam enviadas cartas aos governos dos países potencialmente interessados en negociar.
Contudo, de acordo com Olof Gill, um porta-voz comercial da Comissão Europeia, a União Europeia (UE), embora tenha muito pouco tempo para negociar um acordo com os EUA, para evitar a implementação de tarifas mútuas no grande comércio entre o bloco europeu e Washington, quer definir um acordo com o inquilino da Casa Branca, antes do prazo final reestabelecido por Donald Trump.
Como parte do esforço negocial, o comissário europeu do Comércio, Maros Sefcovic, tem mantido contactos permanentes com funcionários de alto escalão, em Washington, tendo conversado, segundo Olof Giil, a 8 de julho, com o secretário de Comércio dos Estados Unidos da América, Howard Lutnick, e devendo conversar, a 9 de julho, com o Alto Representante de Comércio, Jamieson Greer.
A UE insiste que está “pronta para alcançar um acordo de princípio” com os EUA, comentou o referido porta-voz, e insiste que está pronta para o alcançar, mas, caso as negociações não solucionem a controvérsia, planeia tarifas sobre produtos norte-americanos no valor global de 100 bilhões de euros.
A este respeito, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, persiste em dizer que defenderemos os nossos direitos e que lutaremos pelos nossos interesses.   
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A 8 de julho, ainda se esperava que o acordo fosse alcançado, a 9 de julho, data do termo do primeiro prazo estabelecido pelo presidente dos EUA
Segundo fontes informadas pelo comissário europeu do Comércio, Maroš Šefčovič, esperava-se um acordo preliminar até ao dia 9, com a implementação prevista para 1 de agosto, antes que as tarifas adicionais entrem em vigor. As negociações estão a acelerar para a obtenção de um acordo comercial que envolve uma base tarifária de 10% dos EUA sobre os produtos europeus, mas com isenção tarifária de 10%, em determinados setores estratégicos.
“Os Estados Unidos [da América] não vão abandonar a base tarifária, porque é uma fonte de receita”, disse aos jornalistas, no dia 8, o eurodeputado Bernd Lange (Alemanha/S&D), presidente da comissão parlamentar do Comércio, lembrando que os aviões e as bebidas espirituosas estão isentos da base tarifária de 10%, mas ainda não é claro se os vinhos estão incluídos.
Atualmente, os EUA aplicam direitos aduaneiros de 25% aos automóveis da UE, 50% ao aço e ao alumínio e 10% a todas as outras importações da UE.
Bernd Lange afirmou que estão em curso negociações para tentar eliminar os direitos aduaneiros sobre os automóveis, com muito interesse para a indústria automóvel alemã, que está fortemente exposta ao comércio com os EUA. “Estima-se que cerca de 50 mil postos de trabalho possam estar em risco”, precisou.
De acordo com um diplomata europeu, a Alemanha e a Itália – os maiores exportadores europeus de mercadorias para os EUA, bem como a Irlanda – continuam preocupadas com as propostas dos EUA de não isentar setores-chave, como os automóveis, o aço e o alumínio ou os produtos farmacêuticos.
As medidas de retaliação da UE continuam em cima da mesa, mas ainda não foram finalizadas pela Comissão Europeia, na expectativa da obtenção do acordo.
O porta-voz da Comissão, Olof Gill, declarava, no dia 7, que o objetivo “continua a ser chegar a um acordo, antes do dia 9 de julho”.
Uma primeira lista de medidas, que abrange 21 mil milhões de euros de produtos norte-americanos, foi suspensa até 14 de julho. E, de acordo com a Agence France-Presse (AFP), uma segunda lista, reduzida após pressão das indústrias da UE e dos estados-membros, de 95 mil milhões de euros para 72 mil milhões de euros de produtos norte-americanos, ainda não foi submetida à aprovação final dos estados-membros da UE.
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Entretanto, a 9 de julho, o chanceler alemão Friedrich Merz afirmou estar “cautelosamente otimista”, quanto à possibilidade de a UE conseguir um acordo comercial com os EUA, nos dias subsequentes, ou, até ao final do mês, o mais tardar.
O chanceler declarou aos deputados no Bundestag (Parlamento alemão): “Eu próprio estou em estreito contacto com o governo americano, com o presidente e com a Comissão Europeia.”
Com efeito, segundo Friedrich Merz, a UE está a trabalhar para evitar uma taxa de direitos aduaneiros de 50%, antes do prazo de 1 de agosto, podendo estar, atualmente, em cima da mesa uma taxa de 10% sobre os produtos importados do bloco. Efetivamente, o objetivo é chegar a um acordo, “o mais rapidamente possível, que ligue o comércio mútuo entre os EUA e a União Europeia com as tarifas mais baixas possíveis”, na ótica do chanceler alemão.
A pausa do presidente dos EUA nas “tarifas recíprocas” termina a 1 de agosto e, de facto, a administração norte-americana, tal como o presidente avisou, começou a enviar cartas aos parceiros comerciais, notificando-os dos direitos que serão aplicados às suas exportações norte-americanas.
Até ao momento, Washington apenas garantiu quadros comerciais com o Reino Unido, com o Vietname e com a China. Mais de uma dúzia de outros países receberam cartas com as taxas dos direitos aduaneiros, incluindo a África do Sul, a Coreia do Sul e o Japão. A UE ainda não assinou um quadro comercial com os EUA, nem recebeu a carta, mas pode vir a recebê-la. Não obstante, Donald Trump admitiu, no dia 8, que a administração norte-americana “pode fazer muitos mais acordos”, mas afirmou também que isso é “demasiado moroso” e torna tudo mais complicado. Por isso, sugeriu que se podem “fazer as coisas ao longo dos anos”. Mesmo assim, defende o uso de cartas, em vez de processos de negociação mais tradicionais.
Do meu ponto de vista, enquanto não se chega a acordo – carta vai, carta vem e, assim, sucessivamente –, o presidente norte-americano vai fazendo o jogo da conveniência e, mesmo que haja medidas de retaliação, nunca serão tão gravosas como a imposição de tarifas não recíprocas, sobretudo, estando em causa países mais dependentes. Veja-se, por exemplo, o caso da Ucrânia, que aceitou, embora com relutância, a princípio, um acordo, gizado na Casa Branca, de cedência de terras raras, a troco de uma ajuda dos EUA, bastante indefinida e precária, para já, uma remessa de armamento, do que interessa despachar         
Recorde-se que Donald Trump ameaçou impor uma taxa de 50% sobre os produtos da UE enviados para os EUA, embora pareça que Bruxelas terá de enfrentar uma taxa de 10%.
Para lá dos direitos “retaliatórios”, a UE enfrenta uma tarifa de 25% sobre os automóveis (e sobre as peças de automóveis) enviados para os EUA, bem como a tarifa de 50% sobre as exportações de aço e de alumínio. Porém, as duas partes estão a tentar encontrar soluções para atenuar o impacto das tarifas, em determinados setores.
Os direitos sobre as mercadorias enviadas para os EUA deverão afetar, fortemente, a Alemanha, visto que os EUA continuam a ser o destino mais importante das exportações alemãs. Isto, quando a economia alemã ainda está a lutar para se reerguer (chegou a estar em recessão técnica), após o aumento dos preços da energia, na Europa, e após a pandemia de covid-19, prejudicada pelo envelhecimento das infraestruturas, pela burocracia excessiva e pela baixa produtividade.
O presidente dos EUA tem sido mais hostil para com a UE, no processo de negociação, nomeadamente, em comparação com o Reino Unido. Chegou a classificar o bloco europeu de “desagradável” e a afirmar que este foi formado para tramar os EUA. Porém, embora não tenha revelado qual é o valor da tarifa que pretende aplicar à UE, durante uma reunião do seu gabinete, a 8 de julho, transmitida em direto na rede social que criou à sua medida, afirmou que os negociadores europeus têm “tratado muito bem os EUA”, durante as conversações comerciais – as quais deveriam ser concluídas até ao dia 9, se ele não tivesse, entretanto, avançado uma nova data para a aplicação das tarifas “recíprocas”: 1 de agosto.
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Que o processo de negociações da UE com os EUA tem sido complicado mostra-o, por exemplo, o facto de a França e a Alemanha terem estado em desacordo, quanto à estratégia de negociação, tendo a Comissão Europeia, em fins de junho, revelado muitas dúvidas sobre a possibilidade de garantir um acordo de tarifa zero.
Também entre a França e a Alemanha, houve divergência, em relação às estratégias na disputa comercial entre a UE e os EUA, em curso desde meados de março, após a cimeira do Conselho Europeu, em Bruxelas, a 26 de junho. Enquanto a Alemanha se mostrou ansiosa por chegar a um acordo rápido, a todo o custo, a França vincava a importância de o bloco não demonstrar fraqueza.
Numa conferência de imprensa, após a cimeira, o chanceler alemão, Friedrich Merz, afirmou que o Conselho Europeu incentivou a Comissão Europeia a utilizar as duas semanas que restam para chegar, rapidamente, a um acordo, mas que o mesmo Conselho Europeu tinha encorajado Ursula von der Leyen a adotar as contramedidas da UE, se necessário.
Enfim, o chanceler alemão, sustentando que é importante chegar a um acordo, rapidamente, assinalou os riscos para os setores automóvel, químico e farmacêutico, se o dia 9 de julho chegasse e as tarifas de Trump entrassem em vigor.
Também o presidente francês, Emmanuel Macron, relevou a esperança de que se possa chegar a “uma conclusão rápida, mas advertiu: “Esta vontade não deve ser confundida com fraqueza. Queremos chegar a uma conclusão rápida, porque isso serve o nosso interesse coletivo, apoia a estabilidade do comércio internacional e beneficia as nossas empresas, mas não a qualquer preço.”
A 23 de junho, Friedrich Merz, criticando a estratégia da Comissão, por ser demasiado técnica, apelou à aceleração das negociações, concentrando-se em setores estratégicos, como os automóveis, o aço, a energia, os produtos químicos e farmacêuticos. 
As negociações entre os EUA e a UE ganharam ímpeto desde que o presidente Donald Trump e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se reuniram na cimeira do G7, no Canadá, a 16 de junho, à medida que se aproximava o prazo crítico de 9 de julho, após o qual Donald Trump ameaçou impor tarifas de 50%, sobre todas as importações da UE.
A 26 de junho, Ursula von der Leyen, anunciou aos estados-membros da UE que tinha recebido uma contraproposta dos EUA à oferta da UE, embora não tenha revelado pormenores.
Há vários meses que a UE tem vindo a oferecer aos EUA um acordo de tarifa zero, para todos os produtos industriais, juntamente com compromissos de compra de bens estratégicos, como o gás natural líquido (GNL) e a soja. Todavia, poucos acreditam que a obtenção de direitos aduaneiros nulos, por parte dos EUA, seja ainda uma possibilidade realista. “Uma vez que decidiram impor direitos aduaneiros múltiplos aos seus parceiros comerciais em todo o Mundo, os EUA têm, agora, apetite pelas receitas que os direitos aduaneiros geram”, disse um funcionário da UE, deixando perceber que os EUA rejeitaram a oferta da UE.
A Comissão estava a reconsiderar a sua abordagem a um futuro acordo baseado em direitos aduaneiros, embora os termos específicos ainda não tenham sido determinados. “O pressuposto predominante é que uma tarifa de 10% poderá ser a referência”, adiantava um diplomata da UE.
“Nalgumas áreas, 10% não é assim tanto. A UE impõe 10%, sobre muitas importações de automóveis, sejam eles chineses ou japoneses”, disse outro funcionário da UE, frisando que, “para outros produtos, como os aviões, é muito mais complicado, porque a linha de produção é muito interdependente entre os EUA e a UE, pelo que “é necessária uma análise granular”.
Se a UE chegasse a um acordo, até 9 de julho, não seria um acordo abrangente, afirmaram dois diplomatas de alto nível da UE. “O resultado mais realista seria, provavelmente, um quadro geral ou um “acordo de princípios”, devido “às limitações de tempo”, comentava um diplomata da UE.
Parece que, de momento, é de que um acordo de princípios que se trata.
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Nada disto era necessário. Estava a funcionar, em termos globais, o estabelecido pela Organização Mundial do Comércio (OMC), que, além de supervisionar a liberalização das relações comerciais, responde à realidade da cooperação geral dos diversos países, na extração de matérias-primas, no seu transporte, na sua transformação e na sua circulação-aplicação.
Talvez fossem necessários ou acordos específicos bilaterais entre países ou entre grupos de países, para otimização da permuta de bens. Contudo, supostamente em nome dos supremos interesses dos EUA – MAGA (Make America Geat Again) – e quiçá longe do resultado previsto, Donald Trump preferiu a guerra comercial. E o Mundo todo refilou, mas não teve força para obrigar Donald Trump a fletir.

2025.07.09 – Louro de Carvalho


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