terça-feira, 1 de julho de 2025

Nuvens que pareciam um tsunami criaram pânico

 
A 29 de junho, dia marcado por temperaturas extremas e por forte instabilidade atmosférica, milhares de banhistas, em várias praias da costa portuguesa, foram surpreendidos por um raro fenómeno meteorológico conhecido como “nuvens rolo”, mas que assustou os veraneantes, convictos de que se tratava de um tsunami. No entanto, com o decorrer no tempo, verificou-se que não se tratava de um regresso da água, mas de uma nuvem enorme.
As “nuvens rolo”, de grandes dimensões e com formação tubular e horizontal que pareciam uma onda gigante, deslocaram-se, rapidamente, em direção ao litoral, acompanhadas de vento forte, levando muitas pessoas a abandonar as praias. O fenómeno, registado em, pelo menos, três cidades costeiras, gerou espanto e curiosidade, tendo enxameado as suas imagens as redes sociais.
Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), as nuvens avistadas correspondem à espécie volutus (rolo, espiral, anel), conhecidas, em Inglês, como “roll clouds” e, em Português, como nuvens em forma de rolo. E, de acordo com o serviço nacional de meteorologia do Reino Unido (Met Office), este tipo de nuvens está, por norma, associado a tempestades de ventos fortes, de granizo, de trovões e de relâmpagos. “À medida que esse ar [quente] sobe [e bate de frente], o vapor condensa-se, formando os padrões típicos das nuvens rolo”, refere o Met Office.
Este tipo de nuvem é relativamente raro e foi oficialmente introduzido, apenas em 2017, no Atlas Internacional das Nuvens, da Organização Meteorológica Mundial (OMM), segundo a qual a nuvem rolo – que se forma a partir da interação do ar frio, que desce do interior da nuvem, com um ar mais aquecido do ambiente – é uma “massa de nuvem longa, tipicamente baixa, horizontal, destacada e em forma de tubo, que, muitas vezes, parece rolar lentamente em torno de um eixo horizontal”.
Estas nuvens formam-se em torno de um eixo horizontal, quando há uma diferença de temperatura forte entre a superfície da Terra e o mar, e estão, geralmente, associadas aos géneros altocúmulos ou estratocúmulos, (dois tipos de nuvens de altitudes médias e baixas, respetivamente). As nuvens desenvolveram-se no mar, por volta das 15h30, e aproximaram-se da costa Oeste do Continente, entre Peniche e a Póvoa de Varzim, entre as 17 e as 18 horas.
A sequência de várias nuvens deste tipo, que foi visível nas imagens do satélite, evidencia a existência de um fluxo atmosférico perturbado com ondas no interior da atmosfera, conhecidas como ondas gravíticas internas, em particular, numa camada baixa da atmosfera, segundo o IPMA. Além deste fenómeno curioso, o calor extremo que se espalhou pelo país provocou ainda outros episódios de instabilidade meteorológica, como aguaceiros, ventos fortes, trovoadas e queda de granizo, sobretudo no interior. E o calor extremo, coadjuvado por ventos fortes, contribuiu para o agravamento do risco de incêndios, sendo o mais preocupante o que deflagrou no concelho de Castelo Branco, em Almaceda e em Padrão, por volta das 17 horas do dia 29.
Fenómeno semelhante ocorreu em 1999, no Algarve, criando pânico geral entre os veraneantes.
“Na altura, várias pessoas acreditaram estar perante um tsunami. Falaram em “onda gigante no horizonte” e fugiram, em massa, das praias”. No fim, tratou-se de uma ilusão de ótica, provocada por condições atmosféricas”, refere a página Meteo Trás-os-Montes.
As nuvens de rolo e nuvens de prateleiras são os dois principais tipos de arcus. As nuvens de arcus são, mais frequentemente, formadas ao longo da borda de ataque ou “frentes de rajada” da saída de tempestade. Algumas das formações arcus mais dramáticas marcam as frentes de raios dos sistemas convectivos de mesoescla que produzem tempestades de vento chamadas “direitos”. As nuvens de rolo também podem surgir na ausência de tempestades, formando-se ao longo das correntes de ar frio rasas em alguns limites de brisas marítimas e  de frentes frias.
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A nuvem (em Latim, “nubes”) é hidrometeoro, ou seja, um conjunto visível de partículas diminutas de gelo (nuvem sólida) ou de água (nuvem líquida) ou de ambos (nuvem mista), ao mesmo tempo, que se encontram em suspensão, na atmosfera, após se terem condensado ou liquefeito, devido a fenómenos atmosféricos. A nuvem pode conter partículas de água líquida ou de gelo, em maiores dimensões, e partículas procedentes, por exemplo, de vapores industriais, de fumaças ou de poeiras. Analogicamente, fala-se de nuvem de fumo, de cinza ou de poeira.
As nuvens apresentam diversas formas, que variam, essencialmente, em razão da natureza, das dimensões, do número e da distribuição espacial das partículas que as constituem e das correntes de ventos atmosféricos. A forma e a cor da nuvem dependem da intensidade e da cor da luz que a nuvem recebe, bem como das posições relativas ocupadas pelo observador e da fonte de luz (Sol, Lua, raios), em relação à nuvem.
O estudo das nuvens é a Nefologia (em Grego, “néphos” e “nefélê”, nuvem + “logos”, palavra, estudo) – não confundir com nefrologia (especialidade médica dedicada ao diagnóstico e ao tratamento clínico das doenças do sistema urinário, principalmente, conexas com o rim) – e o seu catálogo de classificações é definido pelo Atlas Internacional das Nuvens, regulado pela OMM. Foi o cientista inglês Luke Howard, um metódico observador das nuvens, quem propôs, no início do século XIX, um sistema de classificação das nuvens. Os nomes propostos por Howard eram em Latim e, dessa forma, nasceu o sistema de classificação que ainda se utiliza. As nuvens podem classificar-se de acordo com a sua altura, a que vêm associadas formas, densidade e luminosidade (de um ou de vários tons) ou a falta desta. Assim, temos nuvens baixas, médias e altas. Ao total, são 10 géneros de nuvens, distribuídos nas três diferentes alturas.
São nuvens baixas as que, geralmente, têm a base até dois mil metros de altura. Assim, vemos:
Stratus (St): camada de nuvens acinzentada, frequentemente escura. A sua aparência é caraterizada por chuva ou por neve, de forma mais ou menos contínua, que, na maioria dos casos, atinge o solo. À superfície, é nevoeiro. É suficientemente espessa, a ponto de cobrir o Sol. Às vezes, as nuvens St aparecem em fragmentos irregulares, os fractostratus (Fs).
* Stratocumulus (Sc): de cinza e/ou esbranquiçada, aparece como um caminho, um manto ou uma camada de nuvens, quase sempre com partes mais escuras, compostas por partes arredondadas ou rolos. Geralmente, não têm o aspeto fibroso e aparecem arranjadas em elementos pequenos que tem um tamanho que varia entre 5° e 10° (tamanho de um punho fechado com o braço estendido). Quando em viagem aérea, sente-se turbulência dentro da nuvem.
* Cumulus (Cu): nuvens separadas, geralmente, densas e de contornos bem definidos, desenvolvendo-se verticalmente sob a forma de montes, de cúpulas ou de torres em ascensão, das quais a parte superior, muitas vezes, se assemelha à couve-flor. As suas partes iluminadas pelo Sol são, em gera, brancas e brilhantes, ou relativamente escuras, e têm posição quase horizontal.
* Cumulonimbus (Cb): nuvem densa, de aspeto pesado e de extensão vertical considerável, sob a forma de montanha ou de grandes torres. Parte do seu topo é, geralmente, lisa, fibrosa ou estriada e quase sempre achatada. E, em geral, espalha-se na forma de bigorna ou de grande pluma.
São nuvens médias aquelas que, geralmente, possuem a entre dois mil e seis mil metros de altura. Neste âmbito, vemos:
* Altocumulus (Ac): bancos, mantos ou camadas, com ondulações de nuvens brancas ou cinzentas, no formato de torres pequenas, de lentes ou de bolas de algodão. O tamanho de cada elemento está entre 1° e 5° (com o braço estendido). Tendo, em geral, sombras próprias, constituem o chamado “céu encarneirado”.
* Altostratus (As): camada de nuvens extensa e uniforme que não produz sombra. São nuvens compostas de gotículas superesfriadas e de cristais de gelo. Não formam halo, pois encobrem o Sol de modo a filtrar a sua luz; dão origem a precipitação leve e contínua. Vêm, muitas vezes, associadas a Ac. O Sol ou a Lua aparecem como um ponto brilhante borrado.
* Nimbostratus (Ns): é, geralmente, caraterizada por uma camada de nuvens cinzentas com base bastante uniforme e que pode precipitar neve. Quando o Sol é visível, através da nuvem, o seu esboço é claramente discernível. Ocorrem, normalmente, abaixo da camada de Ns, nuvens baixas e irregulares, podendo formar uma espécie de “fusão” entre as nuvens.
São nuvens altas as que têm a base acima de seis mil metros de altura. Neste âmbito, vemos:
* Cirrus (Ci): camada de nuvens extensa e uniforme que não produz sombra. De aspeto delicado, sedoso ou fibroso e de cor branca brilhante, estas nuvens ficam a oito quilómetros de altitude, numa temperatura a 0 °C. Por isso, são constituídas de microscópicos cristais de gelo. O Sol ou a Lua aparecem como um ponto brilhante borrado.
* Cirrocumulus (Cc): camadas finas de pequenos elementos (em forma de grãos ou de tiras). O tamanho de cada elemento é inferior a 1° (com o braço estendido). Agrupam-se num padrão regular. São compostas de elementos extremamente pequenos e em forma de grãos e de rugas. Servem para indicar a base de corrente de jato e de turbulência.
* Cirrostratus (Cs): branca translúcida, esbranquiçada, fina ou de véu fibroso. Estas nuvens não ocultam o Sol ou a Lua. Produzem sombra e formam halo (fotometeoro). Localizam-se logo abaixo dos Cirrus e também são formadas por cristais de gelo.
Além dessas formas básicas, existem nuvens acessórias, como o pileus (um tipo de capuz que se forma no topo de nuvens maiores) e pannus (fragmentos irregulares na base). 
A observação contínua da evolução das nuvens é fundamental para a identificação precisa de suas formas, visto que há transições graduais entre os diversos tipos. 
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Com base na aparência, distinguem-se três tipos: Cirrus, Cumulus e Stratus. Os Cirrus são nuvens de desenvolvimento horizontal; são fibrosas, altas, brancas e finas; são formadas por cristais de gelo minúsculos e não dão origem a precipitação, mas são fortes indicativos de precipitação. 
Os Stratus são camadas de desenvolvimento horizontal que cobrem grande parte ou todo o céu, à vista; apresentam pouca espessura; e dão origem a precipitação de caráter leve e contínuo.
Os Cumulus são massas individuais globulares de nuvens, com aparência de domos salientes; são nuvens de desenvolvimento vertical, em grande extensão; surgem isoladas; e dão origem a precipitação forte, em pancadas e localizadas.
Qualquer nuvem reflete uma destas formas básicas ou é combinação delas. Entre essas combinações, sobressaem as estratocumuliformes, nuvens de desenvolvimento horizontal, sob a forma de rolos ou ondulações.
Com base na altitude, as nuvens mais comuns na troposfera (a camada mais baixa da Terra) são agrupadas em quatro famílias: altas, médias, baixas e nuvens com desenvolvimento vertical. As nuvens das três primeiras famílias são produzidas por levantamento brando, sobre áreas extensas. Espalham-se lateralmente e são chamadas estratiformes. As nuvens com desenvolvimento vertical cobrem, geralmente, pequenas áreas e são associadas com levantamento bem mais vigoroso. São as nuvens cumuliformes.
As nuvens altas (nuvens sólidas) têm, normalmente, bases acima de seis quilómetros de altura; as nuvens médias (nuvens líquidas ou mistas) têm, geralmente, base entre dois a quatro quilómetros, nos polos, entre dois a sete, em latitudes médias, e entre dois a oito, no Equador; e as nuvens baixas (nuvens líquidas) têm base até dois quilómetros. E nuvens baixas a médias, verticalmente desenvolvidas, podem alcançar altitudes de cerca de três quilómetros.
Estes números não são fixos. Há variações sazonais e latitudinais. Em altas latitudes ou durante o inverno, em latitudes médias, as nuvens altas são, geralmente, encontradas em altitudes menores.
Devido às baixas temperaturas e às pequenas quantidades de vapor de água, em altas altitudes, todas as nuvens altas são finas e formadas de cristais de gelo. Como há mais vapor de água disponível em altitudes mais baixas, as nuvens médias e baixas são mais densas.
Nuvens em camadas em qualquer dessas altitudes indicam, geralmente, que o ar é estável. Não esperaríamos, normalmente, que as nuvens crescessem ou persistissem no ar estável. Todavia, o desenvolvimento de nuvens desse tipo é comum, quando o ar é forçado a subir, como ao longo de uma frente ou próximo do centro de um ciclone, e os ventos convergentes provocam a subida do ar. Tal subida forçada de ar estável leva à formação de uma camada estratificada de nuvens com uma extensão horizontal grande, comparativamente com a sua profundidade.
As nuvens com desenvolvimento vertical estão relacionadas com ar instável. Correntes convectivas associadas ao ar instável podem produzir nuvens cumulus, cumulus congestus e cumulonimbus. Como a convecção é controlada pelo aquecimento solar, o desenvolvimento de nuvens cumulus segue, frequentemente, a variação diurna da insolação. Num dia de bom tempo as nuvens cumulus começam a formar-se do meio para o final da manhã, após o sol ter aquecido o solo. A cobertura de cumulus no céu é maior à tarde – usualmente o período mais quente do dia. Se as nuvens cumulus apresentam algum crescimento vertical, estas, normalmente, chamadas cumulus de “bom tempo” podem produzir leve chuva. Ao aproximar-se o pôr-do-sol a convecção se enfraquece e as nuvens cumulus começam a dissipar-se (pois evaporam).
Uma vez formados os cumulus, o perfil de estabilidade da troposfera determina o seu crescimento. Se o ar ambiente é estável, mais para cima, é inibido o crescimento vertical; se é instável para ar saturado, então, é aumentado o movimento vertical e sobem os topos das nuvens cumulus; e, se o ar ambiente é instável até grandes altitudes, a massa da nuvem toma a aparência de couve-flor, enquanto se transforma em cumulus congestus e em cumulonimbus, que produz tempestades.
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Nestes tipos de nuvens encaixam as nuvens em forma de rolo, como as que deram origem ao pânico balnear de 29 de junho, em praias da costa portuguesa, avultando, ainda, a nuvem da mão de Deus (como a que surgiu, com as cores do arco-íris, a 29 de março de 2017, na cidade de Lagoa de Sítio, no Estado do Piauí, no Brasil), a nuvem em forma de funil, a nuvem em forma de cruz, a nuvem em forma de coração, a nuvem em forma anjo, a nuvem em forma de cavalo, a nuvem em forma de Jesus, a nuvem em forma de arcus (a de rolo e a de prateleiras) e, sobretudo, a nuvem em forma de tsunami.  
Sobre esta matéria, muitos nos podem ensinar os nefologistas, não os nefelibatas (do Grego "nefélê", nuvem + "bates", que anda), que estes limitam-se a andar nas nuvens. Não sei se os pilotos-aviadores (militares ou civis), que atravessam as nuvens, nos podem fornecer informação valiosa sobre as nuvens. Porém, há que aguardar.

2025.07.01 – Louro de Carvalho


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