A 12 de agosto, o Instituto Nacional de
Estatística (INE) indicou que a taxa de inflação foi de 2,5%, em julho,
confirmando, a estimativa rápida divulgada no final do mês passado. Por outro
lado, a taxa de inflação, em julho, desceu 0,3%, em relação à observada no mês
anterior.
Segundo o INE, a variação homóloga do índice de preços
ao consumidor (IPC) foi de 2,5%, em julho, taxa inferior em 0,3 pontos
percentuais (p.p.) à observada no mês anterior.
“Com arredondamento a uma casa decimal, esta taxa
coincide com o valor da estimativa rápida divulgada a 31 de julho”, lê-se no
comunicado do organismo, que releva: “O indicador de inflação subjacente
(índice total excluindo produtos alimentares não transformados e energéticos)
registou uma variação de 2,4% (idêntica em junho).”
A variação do índice relativo aos
produtos energéticos diminuiu para 4,2% (9,4% no mês precedente), devido ao
menor aumento mensal registado nos preços da eletricidade (0,3%), quando
comparado com o que se tinha verificado em julho de 2023 (15,4%). A variação do
índice referente aos produtos alimentares não transformados aumentou para 2,8%
(1,8% em junho).
A variação mensal do IPC foi -0,6% (nula,
no mês precedente, e -0,4%, em julho de 2023), tendo a variação média dos
últimos 12 meses sido 2,5% (valor idêntico em junho).
O índice harmonizado de preços no
consumidor (IHPC) português apresentou a variação homóloga de 2,7%, valor
inferior em 0,4 p.p. ao registado no mês anterior e superior em 0,1 p.p. ao
valor estimado pelo Eurostat para a Zona Euro (em junho, a taxa em Portugal
tinha sido superior à da Zona Euro em 0,6 p.p.).
Excluindo produtos alimentares não
transformados e energéticos, o IHPC em Portugal atingiu uma variação homóloga
de 2,6%, em julho (2,7% em junho), inferior à taxa correspondente para a Zona
Euro (estimada em 2,8%).
O IHPC registou uma variação mensal
de -0,8% (-0,3%, no mês anterior, e -0,4%, em julho de 2023) e uma variação
média dos últimos doze meses de 3,1% (no mês precedente, 3,2%).
A taxa de inflação continua a
aproximar-se de 2%, meta do Banco Central Europeu (BCE). Segundo as estimativas
de 31 de julho, a taxa de variação homóloga da inflação na Zona Euro
terá acelerado, em julho, para os 2,6%.
***
Não obstante, de acordo com a Deloitte, só um terço
dos Portugueses consegue poupar dinheiro ao final do mês, enquanto 51% diz não
conseguir fazer face a despesa inesperada no espaço de três meses. E, segundo
os dados do ConsumerSignals, base de dados da Deloitte Global que reúne
informação relativa aos padrões de despesa dos consumidores em vários países (recolhe
dados mensalmente e tem como base informação relativa a mil consumidores
portugueses, adultos com mais de 18 anos), 69% dos Portugueses afirma, assim,
não conseguir poupar dinheiro no final de cada mês. Assim, metade dos Portugueses
não faz face a uma despesa inesperada importante nos próximos três meses, admitindo
uma fatia semelhante (54%) adiar compras de grande dimensão. Mesmo assim, o
número de Portugueses que diz conseguir poupar subiu ligeiramente em junho (de
30% para 31%), após a queda de maio – quase um terço. “Nestes dois indicadores,
Portugal regista o valor mais alto no último mês entre todos os [17] países
analisados”, indica a Deloitte.
A última compra extraordinária reportada pelos
inquiridos teve o valor médio de 40 euros, tendo a principal preferência sido
roupa e acessórios. Por outro lado, “noutros países europeus, como a Alemanha, a
Espanha, a França e a Itália, a prioridade foi comida e bebida”.
Nas questões de inflação, a maioria dos Portugueses
(83%) está preocupada com a subida do custo de vida, com mais de metade a
sinalizar que, em junho, comprou, sobretudo, marcas brancas.
Os Portugueses continuam a cortar nos gastos no
supermercado. Vão, mais vezes, às compras, mas trazem menos produtos de cada
vez, baixando, assim, o gasto médio por cesta; outros optam por mercados de
proximidade. Nos primeiros seis meses do ano, cada família foi, em média, 73,1
vezes às compras, ou seja, uma vez a cada dois dias e meio. Em cada uma, trouxe
para casa a cesta com 7,6 quilogramas, no valor de 21,86 euros, o que
representa aumento homólogo de 1% na frequência, mas quebra de 4%, em volume, e
de 2%, em valor. Todavia, o preço médio dos artigos subiu 2%, para 2,88 euros.
Quase metade das compras (48%) foi de marcas brancas.
Os dados do FMCG Monitor 360, da Kantar, mostram que o
consumo fora de casa e a compra de combustíveis se mantiveram dinâmicos, na
primeira metade do ano, com o primeiro a crescer 7,1%, em valor, e 9,4%, em
volume, e a segunda a aumentar 7,3%, em valor, mas apenas 2,6%, em volume. Já a
compra de vestuário e calçado diminuiu drasticamente, com quebras de 19%, tanto
em valor como em volume. Quanto ao segmento alimentar, os números mostram que
se fazem cada vez mais refeições fora de casa e, nas compras para o lar, são os
frescos e a alimentação animal as únicas categorias a crescer 2% e 1%,
respetivamente.
Para o diretor-geral da Centromarca, a Associação
Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca, os números da Kantar mostram que,
retirado o efeito inflação, o consumo das famílias volta a ter evolução mais
padronizada, dentro do habitual num mercado maduro. E mesmo os gastos em marcas
da distribuição, que chegaram a crescer, em 2023, a dois dígitos, mês após mês,
neste ano, estão a perder alguma tração. A questão da cesta mais curta e da ida
mais repetida às compras já não será só reação às dificuldades económicas,
mas alteração de hábitos, algo mais estrutural, até porque começa a vingar
a ideia de que este comportamento de compra promove a sustentabilidade e evita
o desperdício, segundo Pedro Pimentel.
Do lado da Associação Portuguesa de Empresas de
Distribuição (APED), a tónica é colocada na descida da inflação e na melhoria
dos índices de confiança dos Portugueses, que promovem uma “estabilização do
mercado”. No entanto, Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED, fala num
mercado “muito concorrencial”, e com “grande pressão” para que os preços não
subam. “Quem ganha é o consumidor que, além de ter maior diversidade de oferta,
tem maior liberdade de escolha”, assegura. No entanto, assume preocupação com o
eventual aumento dos custos das matérias-primas e com o seu impacto no mercado
e no consumo. “Tipicamente, em setembro ou em outubro, poderão existir alguns
ajustamentos de preços, porque as matérias-primas têm estado muito impactadas
pelo aumento do custo dos transportes, decorrentes dos ataques houthis no Mar
Vermelho”, diz, acrescentando que o setor olha com “alguma preocupação” para o
aparecimento de regulamentos europeus que terão, também, efeitos ao nível dos
preços dos produtos e, consequentemente, na carteira dos consumidores.
Instado a fazer previsões para o que será o segundo
semestre em retalho alimentar, Lobo Xavier admite que, agora, “é tudo um
bocadinho imprevisível”, mas assume que a “estabilização política” no país, com
a aprovação do Orçamento do Estado para 2025, “pode ser determinante para que
as famílias se sintam mais corajosas no seu investimento no consumo”.
Já Pedro Pimentel reconhece que o consumidor está hoje
“menos ansioso” do que estava há um ano e que a expectativa do setor é que o
segundo semestre corra “um bocadinho melhor” do que o primeiro, do ponto de
vista da saúde económica das famílias. “A questão da descida das taxas de juro
vai ser muito importante. Quanto às medidas do IRS logo veremos qual é o seu
impacto efetivo, mas entre uma e outra [medida], as famílias terão mais
rendimento disponível e esperamos que os consumidores possam ter um
comportamento um bocadinho mais risonho na segunda metade do ano”, observou.
Até porque, admite o dirigente associativo, “um
bocadinho mais de saúde financeira poderá permitir uma maior aproximação entre
[os gastos em] marcas próprias e de fabricantes”.
Em todo o caso, o preço do cabaz alimentar de produtos
essenciais desceu e está, agora, nos 136,82 euros, menos 1,89% do que no mês
passado. A análise é da plataforma de comparação de preços de supermercados kabaz.pt, que destaca que, dos 45
produtos monitorizados desde o início do ano, 13 têm vindo a ficar mais
baratos, com especial destaque para batatas, leite, iogurte grego, bacalhau,
pescada ou azeite. Porém, o pão, o esparguete, o arroz carolino, o feijão, o
grão-de-bico, os brócolos e a perna de peru são exemplos de alguns produtos cujos
preços subiram. Por isso, a recomendação é comparar preços entre supermercados
e entre marcas.
***
Em
relação ao calçado, outros estudos chegam a conclusões diferentes do FMCG Monitor 360. Os dados do World Foot-wear 2024, anuário
estatístico que a Associação Portuguesa da Indústria de Calçado,
Componentes, Artigos, Pele e Sucedâneos (APICCAPS)
publicou pelo 14.º ano consecutivo, mostram que o consumo de calçado cresceu 9,5%, em Portugal.
Não que os Portugueses estejam a comprar mais calçado, mas à boleia das compras
dos turistas.
De facto, em ano de inflação
e de taxas de juro altas, o calçado foi penalizado, a nível mundial, com
quebras em produção, em exportações e em consumo. Porém, no mercado nacional,
foram vendidos 69 milhões de pares, mais seis milhões do que em 2022.
Assim, o consumo de calçado, em Portugal está a
crescer: passou de 63 milhões de pares, em 2022, para 69 milhões, em 2023.
Aumentou 9,5%, em contraciclo com a performance mundial, marcada pela
retração para cerca de 20,6 mil milhões de pares, influenciada pelo disparo da
inflação e das taxas de juro. Só na Europa, nos Estados Unidos da América (EUA)
e na China foram consumidos menos 1546 milhões de pares de sapatos. Em
contraste, houve países que reforçaram as compras. É o caso da Rússia que, em
2022, fora o 10.º maior importador de calçado do Mundo e, em 2023, subiu à 5.ª
posição, tendo entrado para o 8.º lugar no ranking
dos maiores consumidores de calçado.
Em Portugal, a explicação está, para a APICCAPS, no
crescimento do turismo. “É um facto que, hoje, há cada vez mais consumidores Portugueses
a procurarem calçado nacional e Portugal é já um mercado relevante na
estratégia de muitas das nossas empresas. Por outro lado, essas são compras
feitas por Portugueses, mas também pelos muitos turistas que visitam o país”,
diz o porta-voz da associação.
A atestar a maior atenção dos fabricantes portugueses
pelo mercado nacional está o facto de a orientação exportadora da indústria
portuguesa ter sido, em 2023, de 81,9%, face aos 89,1% de 2022. Em 2017, era de
100,6%, o que mostra que nem todo o calçado exportado era produzido em
Portugal. Aliás, é tendência crescente noutros países europeus, como a Itália e
a Espanha, com taxas de orientação exportadora de 128,8% e de 194,5%,
respetivamente. Foi de Espanha que vieram quatro, em cada 10, dos 54 milhões de
pares de sapatos que Portugal importou em 2023. Seguiu-se a China (quota de
32%), a França (7%), a Alemanha e a Bélgica (ambas com 5%).
Nos últimos cinco anos, as importações de calçado a
partir da Espanha, da Bélgica e da Alemanha cresceram 14%, 35% e 47%,
respetivamente, enquanto as compras ao Reino Unido e à China caíram 72% e 21%.
A indústria portuguesa está muito concentrada na área produtiva propriamente
dita, mas começam a surgir casos de empresas a importar calçado, até para
diversificarem e enriquecerem a sua própria coleção. Em causa está a
necessidade de subcontratar fora aquilo em que a indústria nacional não é
competitiva. Com 81 milhões de pares de sapatos fabricados em 2023, Portugal
subiu dois lugares e é o 18.º maior produtor mundial, pois, embora a produção
nacional tenha encolhido 3,6%, recuou menos do que a dos principais
concorrentes.
A China continua a ser o maior fabricante mundial de
calçado, com 12,3 mil milhões de pares e com a quota de 54,9%, e domina no
consumo, pois mais de 1400 milhões de habitantes compraram, no ano passado,
3532 milhões de pares, o que lhe dá a quota de 17,1% do consumo mundial. A 2.ª
posição cabe à Índia, com 2563 milhões de pares e 12,4% de quota, destronando
os EUA que caíram para o 3.º lugar, com 9,4% da quota mundial, quase menos 3% do
que em 2022, com o consumo de 1934 milhões de pares, menos 749 mil do que no
ano anterior.
***
Há cada vez mais pobres, mas a produção e o fluxo comercial
são imparáveis.
2024.07.13 –
Louro de Carvalho
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