De acordo
com o noticiado, a 14 de agosto, por vários meios de comunicação social alemães,
a Justiça do país emitiu um mandato de captura europeu para Volodomyr Z. (a lei alemã não permite a
publicação do apelido do suspeito), um
mergulhador ucraniano suspeito de integrar a equipa que fez explodir os
gasodutos Nord Stream, no Mar Báltico, em 26 de setembro de 2022.
O mandado de
captura europeu foi emitido, em junho passado, pelo Ministério Público Federal
da Alemanha contra um instrutor de mergulho ucraniano que vivia na Polónia, não
muito longe de Varsóvia, segundo a televisão pública alemã ARD e os jornais Suddeutsche
Zeitung e Die Zeit.
Os investigadores suspeitam que o visado
esteve envolvido, juntamente com outros dois mergulhadores ucranianos,
na sabotagem e na colocação de explosivos nos gasodutos North Stream 1 e
North Stream 2. Todavia, a Justiça alemã não emitiu ainda mandados de captura
para os dois alegados cúmplices.
De acordo
com as regras europeias de auxílio judiciário mútuo, as autoridades polacas dispunham de 60 dias
para responder ao pedido alemão e deter o suspeito.
Segundo os
meios de comunicação social alemães, a detenção não ocorreu por razões que não
foram explicadas. O suspeito terá
entretanto fugido, embora não se saiba se viajou para a Ucrânia.
Volodomyr Z.,
que foi brevemente contactado por telefone pelos meios de comunicação alemães,
negou qualquer envolvimento no ataque.
A Suécia e a
Dinamarca pararam a investigação no início do ano, mas as autoridades da
Alemanha prosseguiram com o caso, concentrando-se, em particular, no referido mergulhador
ucraniano.
Com
efeito, a 26 de fevereiro deste ano, as autoridades
dinamarquesas anunciaram o encerramento da investigação à sabotagem, em
setembro de 2022, aos gasodutos russos, por falta de base legal para abrir um
processo criminal.
Enquanto os
Russos acusavam os aliados da Ucrânia, estes suspeitavam da Rússia. E “a
investigação levou as autoridades de vários países afetados a concluírem
que houve sabotagem deliberada dos gasodutos.
Contudo, não há base suficiente para prosseguir com um processo criminal na
Dinamarca”, afirmou um comunicado conjunto da polícia e dos serviços de
informação dinamarqueses (PET).
Também o Ministério
Público (MP) sueco já tinha anunciado, no início de fevereiro deste ano,
o encerramento da sua própria investigação,
alegando falta de jurisdição.
O procurador
Mats Ljungqvist, do MP sueco, disse, num comunicado, que “a investigação foi sistemática
e completa”, tendo partilhado informações com as autoridades dinamarquesas e
alemãs. “No contexto da situação que temos, neste momento, podemos afirmar que
a jurisdição sueca não se aplica”, referiu Ljungqvist, vincando que “a investigação alemã continua e,
devido ao sigilo que prevalece na cooperação jurídica internacional”, não
poderia “comentar mais sobre a cooperação que aconteceu” entre os países.
“Também não
poderei comentar sobre as conclusões da investigação sueca ou comentar sobre
quaisquer pessoas suspeitas na investigação sueca”, disse Ljungqvist.
***
Quatro
enormes vazamentos de gás, precedidos por explosões subaquáticas, ocorreram em
26 de setembro de 2022, com algumas horas de intervalo, no Nord Stream 1
no Nord Stream 2, gasodutos que conectam a Rússia à Alemanha e transportavam a
maior parte do gás russo para a Europa. Os ataques ocorreram quando a Europa
estava a afastar-se das fontes de energia russas, após a invasão da Ucrânia
pela Rússia, contribuindo para as tensões que se seguiram ao início da guerra
no território ucraniano, em 24 de fevereiro de 2022.
De acordo
com informação de diplomatas europeus, de 12 de julho de 2023, encontraram-se
vestígios de explosivos em amostras recolhidas de um iate, no âmbito de uma
investigação sobre a sabotagem dos gasodutos Nord Stream.
Os
investigadores alemães que averiguam o ataque afirmaram que “foram encontrados
vestígios de explosivos submarinos nas amostras recolhidas do barco”.
O Ministério
dos Negócios Estrangeiros da Dinamarca publicou na rede social Twitter (atual X) uma carta conjunta, enviada, naquele dia, pelos embaixadores da
Alemanha, da Suécia e da Dinamarca ao presidente do Conselho de Segurança da
ONU, com informações sobre as suas atividades até então. Uma secção da carta
que detalhava as descobertas da Alemanha dizia que a rota exata do iate à vela
ainda não tinha sido definitivamente estabelecida.
A
investigação também ainda não tinha determinado quem foram os autores e se
houve envolvimento de um Estado.
Em março do
mesmo ano, as autoridades mostraram-se cautelosas, em relação às notícias dos
meios de comunicação social de que um grupo pró-Ucrânia estaria envolvido na
sabotagem.
Os meios de
comunicação alemães noticiaram, então, que cinco homens e uma mulher utilizaram
um iate alugado por uma empresa ucraniana na Polónia, para levarem a cabo o
ataque, que partiu do porto alemão de Rostock.
Os
procuradores federais alemães recusaram-se a comentar, diretamente, esta
alegação, mas confirmaram que um barco foi revistado, em janeiro,
suspeitando-se de que poderia ter sido utilizado para transportar os engenhos
explosivos utilizados para fazer explodir os gasodutos.
“Nesta
altura, não é possível determinar com segurança a identidade dos autores e os
seus motivos, em particular no que se refere à questão de saber se o incidente
foi dirigido por um Estado ou por um ator estatal”, refere a mencionada carta
conjunta.
As explosões
submarinas provocaram a rutura do gasoduto Nord Stream 1, que era, até ao corte
do abastecimento pela Rússia, no final de agosto, a principal via de
abastecimento da Alemanha.
A suspeita
sabotagem também danificou o gasoduto Nord Stream 2, que nunca entrou em
funcionamento, porque a Alemanha suspendeu o processo de certificação, pouco
antes de a Rússia invadir a Ucrânia, em fevereiro de 2022.
A União
Europeia (UE) começou por classificar o ato como “deliberado”, acusando Moscovo
de manipular o fornecimento de gás, em retaliação às sanções ocidentais.
“Qualquer
perturbação deliberada das infraestruturas energéticas europeias ativas é
inaceitável [e] conduzirá à resposta mais enérgica possível”, declarou a
presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no rescaldo da explosão.
Os gasodutos
foram durante muito tempo alvo de críticas por parte dos EUA e de alguns dos
seus aliados, que alertaram para o facto de representarem um risco para a
segurança energética da Europa, ao aumentarem a dependência do gás russo.
O presidente
russo, Vladimir Putin, e as autoridades russas acusaram os EUA de encenar as
explosões dos gasodutos, que descreveram como um ataque terrorista. A Ucrânia
rejeitou as alegações de que poderia ter ordenado o ataque. E os países que
estão a investigar as explosões não comentaram os possíveis responsáveis. “Todas
as informações que permitam esclarecer o assunto serão procuradas durante as
investigações em curso", diz a carta conjunta. *
***
Mykhailo Podolyak, conselheiro do presidente
da Ucrânia, nega o envolvimento do seu país nas explosões que
causaram danos aos gasodutos Nord Stream e culpa a Rússia pelo
sucedido, com base na necessidade de meios técnicos e financeiros que, ao
tempo, só a Rússia teria.
“Tal ato só pode ser levado a cabo
com amplos recursos técnicos e financeiros. E quem possuía tudo isto na altura
do bombardeamento? Só a Rússia”, afirmou Podolyak à Reuters, num comentário escrito, frisando que a Ucrânia não obteve
qualquer vantagem estratégica ou tática.
“A Ucrânia não tem nada a ver com as
explosões do Nord Stream”, asseverou Podolyak.
A 9 de agosto, o diário
americano Wall Street Journal noticiou
que funcionários ucranianos estiveram envolvidos nas explosões que aconteceram
em setembro de 2022, e que provocaram quatro fugas: duas na zona dinamarquesa e
duas na zona sueca.
De acordo com o jornal
norte-americano, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy,
terá aprovado a operação de rebentamento e, mais tarde, tentou,
sem sucesso, cancelá-la após, uma intervenção da CIA. A operação terá sido
efetuada sob a supervisão de Valerii Zaluzhnyi, antigo
comandante-chefe das Forças Armadas da Ucrânia.
As explosões foram consideradas um ato
deliberado de sabotagem pelos Estados Unidos da América (EUA), pelo
Reino Unido e pela UE. A Rússia afirmou que os EUA e os seus aliados tinham um
interesse direto no incidente que cortou, em grande parte, o acesso do gás
russo ao lucrativo mercado europeu. Além de Kiev, Washington e Londres também
negaram qualquer participação nos rebentamentos.
Por sua vez, a Alemanha, como foi
referido, emitiu um mandato de captura europeu contra o mencionado
instrutor de mergulho ucraniano pelo alegado envolvimento na sabotagem dos
gasodutos Nord Stream no Mar Báltico. Os investigadores alemães acreditam que o
homem fazia parte de uma equipa que, em setembro de 2022, colocou engenhos
explosivos na rota do gasoduto que transporta gás natural da Rússia para a
Alemanha.
A investigação jornalística na
Alemanha refere que o suspeito é um instrutor de mergulho, que vivia na cidade
de Pruszków, a Oeste de Varsóvia, na Polónia, mas que terá passado,
recentemente, à clandestinidade. Não se sabe se regressou à Ucrânia.
O MP da Polónia polaco disse à AFP que tinha recebido o mandado de
captura de um homem chamado “Volodymyr Z.”, em junho, “em ligação com um
processo contra ele na Alemanha”.
“Achamos estranho que a pessoa tenha
sido procurada pelo lado alemão, mas que a detenção planeada não tenha sido
anunciada nem registada no sistema Schengen. É por isso que esta pessoa pôde,
simplesmente, sair do país, o que também achamos estranho”, salientou Piotr
Skiba, procurador local de Varsóvia.
O facto de o suspeito ser um cidadão
ucraniano é uma coisa, mas não é nada que me permita tirar conclusões sobre a
participação dos Estados. No entanto, pelo menos, há sucessos na busca e, agora,
na investigação”, notou Ralf Stegner, deputado do partido no governo alemão
SPD.
A investigação sobre as explosões no
gasoduto Nord Stream é uma prioridade da Alemanha, mas os seus resultados não
prejudicarão as relações com a Ucrânia, afirmou o porta-voz adjunto do governo
federal alemão, Wolfgang Büchner.
***
Tem lógica a acusação russa, no
sentido de interessar ao Ocidente o agravamento das sanções económicas ocidentais
decretadas contra o país invasor, até porque os EUA criticaram a existência dos
referidos gasodutos por acentuarem a dependência da Europa do gás russo. Contudo,
na lógica da guerra que se faz também com a manipulação da informação – e mesmo
com a contrainformação –, não é descartável uma sabotagem por parte do
adversário russo, precisamente para acusar a parte contrária, destabilizando-a.
Apesar de os rombos terem ocorrido em
zonas da Dinamarca e da Suécia, países cuja Justiça parou com as investigações,
é natural que a Alemanha, a grande prejudicada pelo incidente, queira levar até
ao fim a investigação e, se possível, pronunciar os sabotadores para julgamento
e para eventual condenação.
Enfim, coisas da guerra, tão inevitáveis
como a própria guerra, sorvedouro de vidas, de dinheiro e de património, sem reais
vencedores!
2024.08.15 – Louro de Carvalho
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