terça-feira, 6 de agosto de 2024

Futuras edições dos Jogos Olímpicos de Verão envoltas em polémica

 

Em 2024, os Jogos Olímpicos de Verão, em Paris, na França, retornaram ao tradicional ciclo olímpico de quatro anos, já que os Jogos de 2020, em Tóquio, no Japão, foram adiados para 2021, devido à pandemia de covid-19. E, enquanto a França é palco do atual evento multidesportivo, já as atenções se vão voltando para as próximas edições desta modalidade de eventos, em espírito de competição, mas também de união de todos os povos.

Assim, os Jogos Olímpicos de 2028, oficialmente conhecidos como os Jogos da XXXIV Olimpíada, mais comumente Los Angeles 2028, serão um evento multidesportivo a realizar no segundo semestre de 2028, em Los Angeles, na Califórnia, nos Estados Unidos da América (EUA), esperando-se que sigam, no geral, o dinamismo introduzido por Paris 2024 e que tragam também inovações positivas, no quadro do espírito olímpico.

Será a quinta edição dos Jogos Olímpicos de Verão sediada nos EUA e a terceira sediada em Los Angeles, após 1932 e 1984. Los Angeles também será a terceira cidade a sediar três edições dos Jogos, depois de Londres (em 1908, em 1948 e em 2012) e de Paris (em 1900, em 1924 e em 2024). As datas previstas pelo comité organizador são entre 14 e 30 de julho.

A escolha da cidade-sede era programada para iniciar em 2019, com a escolha da sede em 2021. No entanto, após dificuldades com as cidades que retiraram as suas candidaturas, no processo de escolha para as sedes dos jogos de Inverno de 2022 e de Verão de 2024, o Comité Olímpico Internacional (COI) decidiu, em julho de 2017, escolher, ao mesmo tempo, a sede das edições de 2024 e de 2028. Em 31 de julho de 2017, o COI anunciou que Los Angeles sediaria a edição de 2028, enquanto Paris sediaria a edição de 2024. Em 13 de setembro de 2017, durante a 131.ª Sessão, em Lima, no Peru, o COI ratificou e oficializou a decisão. Essa foi a segunda vez que Los Angeles foi eleita sede dos Jogos Olímpicos sem oposição, já que, em 1984, acabou por ser a única candidata, visto que, no processo interno do Comité Olímpico dos EUA, Los Angeles disputava contra Nova Iorque para ser a representante estadunidense.

Seguir-se-ão os Jogos Olímpicos de 2032, oficialmente conhecidos como os Jogos da XXXV Olimpíada, mais comumente Brisbane 2032, um evento multidesportivo a realizar entre 23 de julho e 8 de agosto de 2032, em Brisbane, capital do estado de Queensland, na Austrália.

A escolha da cidade-sede, Brisbane, foi anunciada como preferida, pela primeira vez, em 24 de fevereiro de 2021, e obteve a aprovação formal da Junta Executiva do COI, a 10 de julho de 2021. Brisbane tornou-se a primeira cidade anfitriã dos Jogos Olímpicos segundo os novos procedimentos de concurso, e a primeira a ganhar sem oposição, desde Los Angeles 1984. A cidade foi anunciada como anfitriã pelo COI, na sua 138.ª Sessão, em 20 de julho de 2021, pouco antes do início dos Jogos Olímpicos de Tóquio. É a terceira vez que a Austrália recebe uma edição de Olimpíadas de Verão, depois dos jogos de 1956 e de 2000, em Melbourne e em Sydney, e a segunda vez que os Jogos Olímpicos de Verão acontecerão na estação de inverno do Hemisfério Sul (as edições anteriores na Austrália aconteceram na primavera local).

O novo processo de licitação do COI foi aprovado na 134.ª Sessão do COI, em 24 de junho de 2019, em Lausanne, na Suíça. As principais propostas, impulsionadas pelas recomendações relevantes da Agenda Olímpica 2020, são: estabelecer um diálogo permanente e contínuo para explorar e criar interesse entre cidades / regiões / países e Comités Olímpicos Nacionais para qualquer evento olímpico; criar duas Comissões Anfitriãs Futuras (Jogos de Verão e Inverno) para supervisionar o interesse em eventos olímpicos futuros e reportar ao conselho executivo do COI; e dar mais influência à Sessão do COI, fazendo com que membros não executivos façam parte das Comissões Anfitriãs do Futuro.

O COI também modificou a Carta Olímpica, para aumentar a sua flexibilidade, removendo a data de eleição de sete anos antes dos jogos e mudando a cidade-sede como uma cidade de uma única cidade / região / país para várias cidades, regiões ou países.

A mudança no processo licitatório foi criticada pelos integrantes da licitação alemã como “incompreensível” e difícil de superar, “em termos de não transparência”.

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As duas edições posteriores (de 2036 e de 2040) já estão envoltas em polémica, quer por memórias ideológicas, quer por competição de países.

Assim, já estão em curso conversações sobre a organização dos Jogos Olímpicos de 2036, na Alemanha, mas há preocupações e controvérsias a perseguir a proposta.

Com efeito, o Estádio Olímpico de Berlim, construído para os Jogos Olímpicos de 1936 sob o regime nazi, tem sido utilizado para os principais eventos desportivos do país, desde o Euro 2024 até aos Jogos Olímpicos Especiais de 2023, mas tem um passado negro que pode assombrar a organização da Alemanha, em 2036.

A Confederação Alemã de Desportos Olímpicos está a considerar a possibilidade de apresentar uma candidatura para as olimpíadas de 2036 – no 100.º aniversário –, dando força à evolução da democracia no país. Contudo, os opositores parecem preocupados com o sinal que a proposta pode enviar, dado que o projeto nascido há quase uma centena de anos não o foi num contexto democrático. “Toda a gente falaria apenas desse ano [1936] e não podemos dizer agora como será a Alemanha em 2036, não sabemos realmente quão democrática e agradável será a Alemanha, nesse ano”, discorre Klara Schedlich, deputada dos Verdes no Parlamento de Berlim e porta-voz para a política desportiva.

A ministra do Interior, Nancy Faeser, esteve em Paris, em julho, para assinar uma declaração de candidatura dos Jogos Olímpicos, mas, ao que tudo indica, o governo alemão prefere receber a edição de 2040, visto que, nesse ano, se assinala o 50.º aniversário da reunificação da Alemanha.

Porém, em ambos os casos, o país poderá ter algumas resistências, quer da opinião pública ou de opositores, quer da concorrência europeia.

Um porta-voz do ministério do Interior e da Comunidade disse que o governo vai acompanhar de perto as próximas conversações entre o COI e a Confederação Alemã de Desportos Olímpicos, mas não adiantou se o governo apoiará uma candidatura para os Jogos Olímpicos de 2036.

O principal partido da oposição, a União Democracia-Cristã (CDU), diz-se a favor do acolhimento dos Jogos, mas está preocupada com a falta de apoio público suficiente. “Penso que esta é a tarefa mais importante e, para ser honesto, não me apercebo deste movimento entre o público alemão, pelo menos atualmente. Certamente que ainda pode ser criado num futuro próximo, mas há um longo caminho a percorrer”, alerta Stephan Mayer, deputado da CDU e membro da Comissão Parlamentar de desporto.

Também a visão economicista, e o investimento que seria necessário fazer, são argumentos desfavoráveis para os céticos desta organização. "Custar-nos-ia 240 milhões de euros renovar todas as infraestruturas desportivas em Berlim", diz. E não é tudo. "Quando recebermos os Jogos Olímpicos, o montante estimado apenas para as medidas de segurança será de dois mil milhões de euros, pelo que se trata de uma grande diferença e deveríamos primeiro fazer os nossos trabalhos de casa antes de acolher um grande evento”, diz Klara Schedlich.

A Confederação Alemã de Desportos Olímpicos diz que a decisão sobre o ano em que se candidatará aos Jogos será tomada em 2025.

Entretanto, perfilam-se potências europeias (e não só) concorrentes da Alemanha. O presidente da Câmara de Londres afirma querer que a sua cidade acolha os Jogos de 2040, enquanto a Hungria considera uma candidatura para 2036. Estas duas potências europeias são assim concorrentes da Alemanha na sua intenção de receber uma ou outra edição.

Em 29 de setembro de 2023 – ainda não havia processo de candidatura aberto ou campanha oficial para os Jogos Olímpicos, como era o caso de 2022, após as mudanças de regras feitas pelo COI, há alguns anos –, o presidente polaco, Andrzej Duda, após consultas com o Comité Olímpico Polaco, entrando na batalha com outros concorrentes, incluindo Indonésia, México e Índia, informou, em conferência em Zakopane, no sul da Polónia, que o seu país se candidataria para sediar os Jogos Olímpicos de 2036.

“Os nossos amigos polacos já demonstraram com sucesso que têm o que é preciso para organizar grandes eventos esportivos internacionais da mais alta qualidade”, considerou Hasan Arat, membro do Comité Executivo dos Comités Olímpicos Europeus.

Também o México e Indonésia manifestaram, oficialmente, interesse, enquanto uma candidatura da Índia parece praticamente inevitável. Por seu turno, a Turquia e cidades da região do Golfo também podem querer candidatar-se.

A 16 de maio de 2024, o Catar fazia saber que pretende avançar com a candidatura à organização dos Jogos Olímpicos de 2036, segundo revelou Hassan Abdullah al Thawadi, secretário-geral do Comité Supremo do país, garantindo total capacidade para uma edição de sucesso.

O Catar quer seguir os passos de Paris 2024, Los Angeles 2028 e Brisbane 2032. Segundo Al Thawadi, o país do Golfo Pérsico ainda colhe os benefícios de ter acolhido o Campeonato do Mundo de futebol, em 2022, e as suas infraestruturas tornam-no “preparado para receber mais eventos em todas as áreas, e não apenas no mundo do desporto”.

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Não bastam os diferentes países a querem organizar os Jogos Olímpicos. A União Europeia (UE) pretende competir em cada modalidade desportiva olímpica, como se fosse um país (uma delegação única). A ideia ressurge regularmente, mas a prática é opção impensável, de acordo com as regras do COI, que recusa outras bandeiras que não as dos Comités Olímpicos Nacionais.

Somadas, as medalhas europeias nos Jogos Olímpicos fariam da UE a primeira equipa nas provas de Paris. “Foi o que aconteceu, por exemplo, em 2021, em Tóquio, onde o representante esloveno pediu que a delegação eslovena marchasse com uma bandeira europeia, porque, na altura, ocupava a presidência da União Europeia (UE), e isso foi recusado pelo COI”, refere Carole Gomez, professora de Sociologia do Desporto na Universidade de Lausanne, na Suíça.

O desporto desempenha um papel importante no desenvolvimento das identidades, na medida em que dá a conhecer um Estado, uma bandeira e um hino, e gera entusiasmo.

A UE compreendeu este interesse e tem vindo a desenvolver a diplomacia desportiva, desde há dez anos. Incentiva, igualmente, iniciativas como a organização conjunta de competições e o desenvolvimento do desporto no âmbito do programa Erasmus +. Porém, a criação de uma equipa conjunta não é do interesse dos 27, segundo Carole Gomez: “Trata-se de algo que, no papel, seria muito bonito, do ponto de vista simbólico, seria extremamente interessante. Mas, na minha opinião, tem um limite, no sentido em que, na realidade, ter uma equipa europeia significaria ter de fazer seleções e desqualificações entre todos os atletas europeus de alto nível”, sustenta Gomez, acrescentando: “Assim, por exemplo, em vez de termos um pódio com um grego, um espanhol e um esloveno, teríamos apenas um representante da União Europeia.”

São possíveis outras iniciativas para consolidar a identidade europeia através do desporto.

A bandeira da UE foi hasteada na cerimónia de abertura de Paris 2024. Em 2026 e em 2030, a Itália e França acolherão condicionalmente os Jogos Olímpicos de Inverno, oportunidade para evocar esta identidade partilhada.

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É importante que cada país se apresente com a sua idiossincrasia. Além disso, facultar à UE participar com uma única delegação implicaria dar a mesma faculdade a outros blocos, o que reduziria o painel de participantes. E o espírito olímpico ficaria mais diluído e empobrecido.

2024.08.06 – Louro de Carvalho

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