Em 2024, os Jogos
Olímpicos de Verão, em Paris, na França, retornaram
ao tradicional ciclo olímpico de quatro anos, já que os Jogos de 2020, em Tóquio, no Japão, foram adiados
para 2021, devido à pandemia de covid-19. E, enquanto a França é palco
do atual evento multidesportivo, já as atenções se vão voltando para as próximas
edições desta modalidade de eventos, em espírito de competição, mas também de
união de todos os povos.
Assim, os Jogos
Olímpicos de 2028, oficialmente conhecidos como os Jogos da XXXIV Olimpíada, mais
comumente Los Angeles 2028,
serão um evento multidesportivo a realizar no segundo semestre
de 2028, em Los Angeles, na Califórnia, nos Estados Unidos da América
(EUA), esperando-se que sigam, no geral, o dinamismo introduzido por Paris 2024
e que tragam também inovações positivas, no quadro do espírito olímpico.
Será a quinta edição dos Jogos Olímpicos de Verão sediada nos EUA e a terceira
sediada em Los Angeles, após 1932 e 1984.
Los Angeles também será a terceira cidade a sediar três edições dos Jogos,
depois de Londres (em 1908, em 1948 e em 2012) e de Paris (em 1900,
em 1924 e em 2024). As datas previstas pelo comité organizador são entre 14 e
30 de julho.
A escolha da cidade-sede era programada para iniciar
em 2019, com a escolha da sede em 2021. No entanto, após dificuldades com as
cidades que retiraram as suas candidaturas, no processo de escolha para as
sedes dos jogos de Inverno de 2022 e de Verão de 2024, o Comité
Olímpico Internacional (COI) decidiu, em julho de 2017, escolher, ao mesmo
tempo, a sede das edições de 2024 e de 2028. Em 31 de julho de 2017, o COI
anunciou que Los Angeles sediaria a edição de 2028, enquanto Paris sediaria a
edição de 2024. Em 13 de setembro de 2017, durante a 131.ª Sessão, em
Lima, no Peru, o COI ratificou e oficializou a decisão. Essa foi a
segunda vez que Los Angeles foi eleita sede dos Jogos Olímpicos sem oposição,
já que, em 1984, acabou por ser a única candidata, visto que, no processo
interno do Comité Olímpico dos EUA, Los Angeles disputava contra Nova
Iorque para ser a representante estadunidense.
Seguir-se-ão
os Jogos Olímpicos de 2032,
oficialmente conhecidos como os Jogos
da XXXV Olimpíada, mais comumente Brisbane 2032, um evento multidesportivo a realizar
entre 23 de julho e 8 de agosto de 2032, em Brisbane, capital do estado de Queensland, na Austrália.
A escolha da
cidade-sede, Brisbane, foi
anunciada como preferida, pela primeira vez, em 24 de fevereiro de 2021, e
obteve a aprovação formal da Junta Executiva do COI, a 10 de julho de
2021. Brisbane tornou-se
a primeira cidade anfitriã dos Jogos Olímpicos segundo os novos
procedimentos de concurso, e a primeira a ganhar sem oposição, desde Los
Angeles 1984. A cidade foi anunciada como anfitriã pelo COI, na sua 138.ª Sessão, em 20 de julho de 2021, pouco
antes do início dos Jogos Olímpicos de Tóquio. É a terceira vez que a
Austrália recebe uma edição de Olimpíadas de Verão, depois dos jogos de
1956 e de 2000, em Melbourne e em
Sydney, e a segunda vez que os Jogos Olímpicos de Verão acontecerão na estação de
inverno do Hemisfério Sul (as edições anteriores na Austrália
aconteceram na primavera local).
O novo processo de licitação do COI foi aprovado na
134.ª Sessão do COI, em 24 de junho de 2019, em Lausanne, na Suíça. As
principais propostas, impulsionadas pelas recomendações relevantes da Agenda
Olímpica 2020, são: estabelecer um diálogo permanente e contínuo para explorar
e criar interesse entre cidades / regiões / países e Comités Olímpicos
Nacionais para qualquer evento olímpico; criar duas Comissões Anfitriãs Futuras
(Jogos de Verão e Inverno) para supervisionar o interesse em eventos olímpicos
futuros e reportar ao conselho executivo do COI; e dar mais influência à Sessão
do COI, fazendo com que membros não executivos façam parte das Comissões
Anfitriãs do Futuro.
O COI também modificou a Carta Olímpica, para
aumentar a sua flexibilidade, removendo a data de eleição de sete anos antes
dos jogos e mudando a cidade-sede como uma cidade de uma única cidade / região
/ país para várias cidades, regiões ou países.
A mudança no processo licitatório foi criticada pelos
integrantes da licitação alemã como “incompreensível” e difícil de superar, “em
termos de não transparência”.
***
As duas edições posteriores (de 2036 e de 2040) já estão envoltas em polémica,
quer por memórias ideológicas, quer por competição de países.
Assim, já estão em curso conversações sobre a organização dos Jogos
Olímpicos de 2036, na Alemanha, mas há preocupações e controvérsias a perseguir
a proposta.
Com efeito,
o Estádio Olímpico de Berlim,
construído para os Jogos Olímpicos
de 1936 sob o regime nazi, tem sido utilizado para os principais
eventos desportivos do país, desde o Euro 2024 até aos Jogos Olímpicos
Especiais de 2023, mas tem um passado negro que pode assombrar a organização
da Alemanha, em 2036.
A
Confederação Alemã de Desportos Olímpicos está a considerar a possibilidade de
apresentar uma candidatura para as
olimpíadas de 2036 – no 100.º aniversário –, dando força à evolução da
democracia no país. Contudo, os opositores parecem preocupados com o sinal que a
proposta pode enviar, dado que o projeto nascido há quase uma centena de anos
não o foi num contexto democrático. “Toda a gente falaria apenas desse ano
[1936] e não podemos dizer agora como será a Alemanha em 2036, não sabemos
realmente quão democrática e agradável será a Alemanha, nesse ano”, discorre
Klara Schedlich, deputada dos Verdes no Parlamento de Berlim e porta-voz para a
política desportiva.
A ministra
do Interior, Nancy Faeser, esteve em Paris, em julho, para assinar uma
declaração de candidatura dos Jogos Olímpicos, mas, ao que tudo indica, o governo
alemão prefere receber a edição de 2040, visto que, nesse ano, se assinala o
50.º aniversário da reunificação da Alemanha.
Porém, em ambos os casos, o país
poderá ter algumas resistências, quer da opinião pública ou de opositores, quer
da concorrência europeia.
Um porta-voz do ministério do Interior
e da Comunidade disse que o governo vai acompanhar de perto as próximas
conversações entre o COI e a Confederação Alemã de Desportos Olímpicos, mas não adiantou se o governo apoiará uma candidatura para os Jogos Olímpicos
de 2036.
O principal partido
da oposição, a União Democracia-Cristã (CDU), diz-se a favor do acolhimento dos
Jogos, mas está preocupada com a falta de apoio público suficiente. “Penso
que esta é a tarefa mais importante e, para ser honesto, não me apercebo deste
movimento entre o público alemão, pelo menos atualmente. Certamente que ainda
pode ser criado num futuro próximo, mas há um longo caminho a percorrer”,
alerta Stephan Mayer, deputado da CDU e membro da Comissão Parlamentar de
desporto.
Também a
visão economicista, e o investimento que seria necessário fazer, são argumentos
desfavoráveis para os céticos desta organização. "Custar-nos-ia 240
milhões de euros renovar todas as infraestruturas desportivas em Berlim",
diz. E não é tudo. "Quando recebermos os Jogos Olímpicos, o montante
estimado apenas para as medidas de segurança será de dois mil milhões de euros,
pelo que se trata de uma grande diferença e deveríamos primeiro fazer os nossos
trabalhos de casa antes de acolher um grande evento”, diz Klara Schedlich.
A
Confederação Alemã de Desportos Olímpicos diz que a decisão sobre o ano em que
se candidatará aos Jogos será tomada em 2025.
Entretanto, perfilam-se potências europeias
(e não só) concorrentes da Alemanha. O presidente da Câmara de Londres afirma
querer que a sua cidade acolha os Jogos de 2040, enquanto a Hungria considera
uma candidatura para 2036. Estas duas potências europeias são assim
concorrentes da Alemanha na sua intenção de receber uma ou outra edição.
Em
29 de setembro de 2023 – ainda não havia
processo de candidatura aberto ou campanha oficial para os Jogos Olímpicos,
como era o caso de 2022, após as mudanças de regras feitas pelo COI, há alguns
anos –, o presidente polaco, Andrzej Duda, após consultas com
o Comité Olímpico Polaco, entrando na batalha com outros concorrentes, incluindo
Indonésia, México e Índia, informou, em conferência em Zakopane, no sul da Polónia,
que o seu país se candidataria para sediar os Jogos Olímpicos de 2036.
“Os nossos
amigos polacos já demonstraram com sucesso que têm o que é preciso para
organizar grandes eventos esportivos internacionais da mais alta qualidade”, considerou
Hasan Arat, membro do Comité Executivo dos Comités Olímpicos Europeus.
Também o México
e Indonésia manifestaram, oficialmente, interesse, enquanto uma candidatura da
Índia parece praticamente inevitável. Por seu turno, a Turquia e cidades da
região do Golfo também podem querer candidatar-se.
A 16 de maio
de 2024, o Catar fazia saber que pretende avançar com a candidatura à
organização dos Jogos Olímpicos de 2036, segundo revelou Hassan Abdullah al
Thawadi, secretário-geral do Comité Supremo do país, garantindo total
capacidade para uma edição de sucesso.
O Catar quer seguir os passos de Paris 2024, Los Angeles
2028 e Brisbane 2032. Segundo Al Thawadi, o país do Golfo Pérsico ainda colhe
os benefícios de ter acolhido o Campeonato do Mundo de futebol, em 2022, e as suas
infraestruturas tornam-no “preparado para receber mais eventos em todas as
áreas, e não apenas no mundo do desporto”.
***
Não bastam os diferentes países a querem organizar os Jogos Olímpicos. A União
Europeia (UE) pretende competir em cada
modalidade desportiva olímpica, como se fosse um país (uma delegação única). A ideia ressurge regularmente, mas a prática
é opção impensável, de acordo com as regras do COI, que recusa outras bandeiras
que não as dos Comités Olímpicos Nacionais.
Somadas, as
medalhas europeias nos Jogos
Olímpicos fariam da UE a primeira equipa nas provas
de Paris. “Foi o que aconteceu, por exemplo, em 2021, em Tóquio, onde o
representante esloveno pediu que a delegação eslovena marchasse com uma
bandeira europeia, porque, na altura, ocupava a presidência da União Europeia
(UE), e isso foi recusado pelo COI”, refere Carole Gomez, professora de
Sociologia do Desporto na Universidade de Lausanne, na Suíça.
O desporto
desempenha um papel importante no desenvolvimento das identidades, na medida em
que dá a conhecer um Estado, uma bandeira e um hino, e gera entusiasmo.
A UE
compreendeu este interesse e tem vindo a desenvolver a diplomacia desportiva,
desde há dez anos. Incentiva, igualmente, iniciativas como a organização
conjunta de competições e o desenvolvimento do desporto no âmbito do programa
Erasmus +. Porém, a criação de uma equipa conjunta não é do interesse dos 27,
segundo Carole Gomez: “Trata-se de algo que, no papel, seria muito bonito, do
ponto de vista simbólico, seria extremamente interessante. Mas, na minha
opinião, tem um limite, no sentido em que, na realidade, ter uma equipa
europeia significaria ter de fazer seleções e desqualificações entre todos os
atletas europeus de alto nível”, sustenta Gomez, acrescentando: “Assim, por
exemplo, em vez de termos um pódio com um grego, um espanhol e um esloveno,
teríamos apenas um representante da União Europeia.”
São
possíveis outras iniciativas para consolidar a identidade europeia através do
desporto.
A bandeira
da UE foi hasteada na cerimónia de abertura de Paris 2024. Em 2026 e em 2030, a
Itália e França acolherão condicionalmente os Jogos Olímpicos de Inverno, oportunidade
para evocar esta identidade partilhada.
***
É importante
que cada país se apresente com a sua idiossincrasia. Além disso, facultar à UE participar
com uma única delegação implicaria dar a mesma faculdade a outros blocos, o que
reduziria o painel de participantes. E o espírito olímpico ficaria mais diluído
e empobrecido.
2024.08.06 – Louro de Carvalho
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