A Igreja Católica, a 27 de agosto, fez a memória litúrgica de Santa
Mónica, mãe
de Santo Agostinho, mulher de oração que deve ser imitada.
O Papa Francisco apontou-a, várias vezes, como modelo a imitar,
sobretudo, pela sua constante oração a Deus, um diálogo de fé que sustentou a
sua caminhada cristã.
Uma mulher tenaz e
amorosa, com fé sólida, esposa virtuosa e mãe cuidadosa são predicados que
fazem o retrato de Mónica, que alimentou a fé com a oração, com a prática
piedosa e com a escuta da Palavra de Deus, constituindo o exemplo de oração
incessante que deve alimentar a fé de todo o cristão. De facto, a oração é o
segredo da vida de Mónica, um diálogo com Deus nunca interrompido, uma oração
que, embora parecesse que não era ouvida, foi insistente, sustentada pela vontade
de ferro de querer ser boa esposa e ver os filhos seguros no porto de Deus.
Numa meditação matinal na Capela da Casa de Santa Marta (a 11 de outubro de
2018), o Papa chamou à oração “um trabalho” que nos pede vontade, constância e
determinação, sem vergonha.
Era oração constante e
intrusiva, a de Santa Mónica, vivida com lágrimas pela conversão do filho.
Foi na oração que alcançou
a sabedoria e a perfeição, tanto que, um dia, conversando com o filho
Agostinho, já determinado a dar a vida inteiramente pela Igreja e a desejar a
plenitude em Deus e a bem-aventurança eterna, disse que a vida não tinha mais
nenhuma atração para ela. E perto da morte, encontrando-se em Óstia, longe da
Numídia, região do Norte da África onde nasceu, comentou com os parentes que
não queriam deixar que os seus restos mortais ficassem em terra estrangeira,
recomendou: “Enterrai este corpo onde ele está, sem nenhuma piedade. Peço-vos
apenas uma coisa: lembrai-vos de mim, onde quer que estejais, diante do altar
do Senhor” (Confissões IX, 11.27).
O que distingue a sua oração é a tenacidade e
insistência em arrancar Agostinho da seita maniqueísta e dos erros da
adolescência, para o trazer à felicidade certa, a estabilidade com Deus. A
insistência e liberdade desta mulher e mãe para com Deus são comparáveis às da mulher
sirofenícia do Evangelho que, para a sua filha doente, insistiu face às
respostas que parecem bruscas de Jesus e queria, a todo custo, a cura da filha,
com aquela liberdade que não a faz dizer: “Ah, Senhor, tens razão, eu não
pertenço à casa de Israel. Com licença, vou embora.” Não, ela insiste. E isto ensina-nos
a perseverança e a confiança no Pai que nos salva. E é o fruto da maternidade:
é rezar como ventres que geram continuamente vida. Agostinho diz-nos de Mónica
que ela havia criado os filhos, dando à luz, tantas vezes quantas as que os viu
a afastarem-se de Deus. E isto não nos separa da oração ancorada no nosso
tecido vital, do nosso ser mulheres ou homens, sacerdotes ou homens
consagrados, mulheres casadas ou mulheres que vivem a castidade, mas ancoradas
na sua realidade. Portanto, Mónica é a mulher-mãe, que insiste na vida e dá à
luz e gera, continuamente, vida concreta e vida na fé. Agostinho lembra a mãe,
quando ele passava um tempo em Milão a ouvir Ambrósio. E o espaço que ele dedicava
à escuta, à oração, deu a Mónica essa Sabedoria que é o sabor da presença de
Deus na sua vida. Mónica aprendeu e ensina-nos que estar com Deus, “desperdiçando
o nosso tempo”, torna possível adquirir o bom sabor da vida que é esta
eternidade que se encarna nos fragmentos da nossa existência. É bonito, quando Agostinho,
nos diálogos com os amigos neste caminho de busca, agora próximo da conversão,
vê Mónica presente a lançar estas pérolas de sabedoria.
A sabedoria nela, que
não tem os fundamentos filosóficos que aqueles jovens têm, vem desta bela
Sabedoria que é o Evangelho, que é a escuta dos textos, que é esta oração, este
sabor que torna Deus presente na História e que nos torna sábios.
Hoje, é difícil rezar, porque
estamos imersos numa sociedade tão frenética e apressada que parar e adorar o
Santíssimo Sacramento, ler as Escrituras, neste tempo livre, parecem perda de
tempo. Ora, cultivar a oração significa aprender que, só tomando tempo e espaço
durante o dia, chegaremos à Sabedoria que Mónica nos ensinou, que é a de
garantir que, em tudo o que fazemos, ali esteja a reverberação da eternidade
que Deus nos dá. Depois, há um espaço sagrado a preservar – a partir da própria
interioridade, da escuta da Palavra, de uma oração, também vocal, da que é a
forma pessoal de oração – mas, para chegar a esta conexão com a realidade, a esta
compreensão de toda a realidade, com fadigas e alegrias, com doenças e dores,
com solidões e vazios. É nesta realidade que Deus nos fala. A Mónica Deus falou
pelo sofrimento da distância de Deus, da parte de Agostinho e do marido, pelo
que assumiu o grito materno orante.
Assim, estar ancorado na
própria vida, faz com que a doação de espaços de silêncio torne a vida plena,
bela, cheia de Deus, pois, como Agostinho, estamos inquietos, de coração
continuamente ansioso, preocupado, até que O encontremos e descansemos n’Ele. Isto
significa alcançar, acolher aqui o Paraíso e a eternidade que o Senhor quer nos
dar em cada fragmento do dia. Podemos aprender isto com a oração e podemos cultivá-lo,
se descobrirmos o desejo básico que é a felicidade que habita em nós e temos
escrito no coração. Assim, fazer florescer este desejo que nos habita o coração
significa aprender a tomar tempo e a permanecer nesta bela escola da vida.
***
A autora católica Maggie Green oferece,
no livro The Saint Monica Club (O Clube de Santa Mónica) cinco conselhos
para quem, como a mãe de Santo Agostinho, enfrenta a dor de ter familiares
afastados da fé. A piedade e a oração contínua de Mónica levaram à conversão do
marido e da sogra, permitiu a entrada de dois filhos na vida religiosa e que o
filho Agostinho chegasse a Doutor da Igreja. Vejam-se os conselhos de Green,
inspirados na fé de Santa Mónica, para esperar em Cristo por todos os
familiares que estão distantes da fé.
1. Rezar sem
cessar. “Preparai os santos,
preparai os vossos anjos da guarda, pedi às santas almas do purgatório; pedi às
almas dos mortos que vós conhecestes que rezem para que esses pródigos sejam
considerados merecedores das promessas de Cristo”, são recomendações de Green.
2. Oferecer
jejum e sacrifícios. Segundo a autora, Mónica dava esmolas e oferendas, até que lhe dissessem
que não, “e fez dessa obediência também uma oferta”. Por isso, o conselho é
oferecer até mesmo algo pequeno, como indício de que a sua vontade se “molda” à
de Deus, no ordinário, “em expiação dos pecados que ofendem a Deus”.
3. Amar os filhos
pródigos. “Come com eles, ora
na presença deles, gostem ou não, e está totalmente presente e autenticamente
fiel. Não deixes de te revestir de Cristo na sua presença, mas mostra Cristo na
sua presença pela forma como os acolhes”, diz a autora.
4. Pedir a
outras pessoas que rezem convosco por eles. Isto deve ser feito, diz Green, “mesmo que não saibam
que o ente querido está longe da fé”, pois “cada um de nós que reza por outro
revela a nossa confiança em que Deus ouve as nossas orações e procura curar
aqueles que amamos, independentemente do que pedimos”.
5. Persistir. Green conclui, dizendo que os membros do
clube de Santa Mónica “entendem que Deus usa as nossas vidas para encantar cada
alma, e que nenhum momento – nenhum segundo de devoção, oração, amor,
sacrifício ou serviço – é desperdiçado”. “Nunca devemos desanimar, porque
sabemos que Deus deseja mais do que nós a sua companhia no grande banquete”,
diz ela.
***
“Continue a rezar, pois é impossível que
se perca um filho de tantas lágrimas”. Este foi o conselho dado por um bispo a Mónica.
A santa seguiu este conselho, não se deixou abater pelas dificuldades até ver o
filho, Agostinho, convertido. Por isso, tornou-se a padroeira das mães cristãs.
Ao recordar a vida desta santa, em 2013,
o papa Francisco destacou o exemplo que ela deixa a tantas mulheres que choram
por seus filhos. “Quantas lágrimas derramou aquela santa mulher pela conversão
do filho! E quantas mães, também hoje, vertem lágrimas a fim de que os seus
filhos voltem para Cristo! Não percais a esperança na graça de Deus!”, disse o
Pontífice.
Santa Mónica é de origem berbere, pois, nasceu
em Tagaste (atual Souk
Ahras) da Numídia, atual
Argélia, na África, em 331. Ainda jovem e por um acordo dos pais, casou, aos 17
ou 18 anos, com Patrício, homem de status
social, mas violento e mulherengo. Algumas mulheres perguntaram-lhe por que
o marido nunca lhe batia, ao que retorquiu: “É que, quando o meu marido está de
mau humor, eu esforço-me por estar de bom humor. Quando ele grita, eu calo-me.
E, para brigar são precisos dois e eu não aceito a briga, pois... não brigamos.”
Suportando tudo no silêncio e na mansidão,
encontrava o consolo nas orações que elevava a Cristo e à Virgem Maria pela conversão
do esposo, que mudou de vida, se batizou e morreu como bom cristão. Porém, a
dor desta mulher não terminaria aí. Agostinho, o filho mais velho, tinha
atitudes egoístas, caprichosas e não se aproximava da fé. Levava uma vida
dissoluta; e ela sofria por ver o filho afastado de Deus. Por isso, durante
anos, continuou a rezar e a oferecer sacrifícios.
Agostinho tornou-se brilhante professor
de Retórica, em Cartago. Mais tarde, foi, às escondidas, para Roma e, depois,
para Milão, onde obteve o cargo de professor numa importante universidade. Em
Milão, começaria a busca por respostas que a vida intelectual não oferecia.
Abraçou o maniqueísmo e rejeitava a fé cristã. Porém, Mónica não desistiu e
viajou atrás do filho. E sentiu que a sua missão foi realizada quando, tempos
depois, Agostinho foi batizado na Páscoa de 387. Mãe e filho decidiram voltar
para a terra natal, mas, chegando ao porto de Óstia, perto de Roma, Mónica
adoeceu e, logo depois. faleceu, em 27 de agosto de 387.
O papa Alexandre III confirmou o
tradicional culto à Santa Mónica, em 1153, quando a proclamou padroeira das
mães cristãs. Da mãe, Santo Agostinho, que se tornou bispo de Hipona e doutor
da Igreja, escreveu: “Ela gerou-me, seja na sua carne, para que eu viesse à luz
do tempo, seja com o seu coração, para que eu nascesse à luz da eternidade.”
No Angelus
de 27 de agosto de 2006, o papa Bento XVI, recordando estes dois santos, disse:
“Santa Mónica e Santo Agostinho convidam-nos a dirigirmo-nos com confiança a
Maria, Sede da Sabedoria. A Ela confiemos os pais cristãos para que, como Mónica,
acompanhem, com o exemplo e com a oração o caminho dos filhos.”
***
Santa
Mónica foi, segundo as tradições católicas, criada por uma dada, ou
seja, uma escrava que cuidava dos filhos dos senhores, de quem
recebeu “educação e rígidos ensinamentos religiosos.
Foi
mãe de Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja. E foi, segundo ele, o
seu alicerce espiritual que o conduziu em direção à “fé verdadeira” e o
converteu ao cristianismo. Ele julgava ser a mãe a “intermediária” entre ele
e Deus. Durante a adolescência de Agostinho até ao seu batismo, Mónica
vivia entre lágrimas, lamentando a “vida de heresias” do filho, e orava
fervorosamente para que ele encontrasse a verdadeira fé. Agostinho
atribuiu a um sonho da mãe o passo definitivo para a sua conversão e a “confirmação”
da sua vocação religiosa. Desse modo, Mónica torna-se responsável pelo destino
cristão do filho.
A
partir daí, o filho vê a mãe de forma santificadora, mas reconhece o fardo
feminino que ela carrega, já que, nos primórdios da cristandade, a mulher era
vista entre dois extremos, o da exaltação e da condenação. A parte boa do sexo
feminino era representada por Maria e a parte ruim, que se entrega à
tentação, representada por Eva. Foi da forma boa que Mónica foi vista pelo
filho e pela Igreja.
Aos 22 anos, Mónica deu à luz Agostinho, o
primogénito, a seguir outro filho, Navígio, e uma filha, de quem não se sabe o
nome, e educou-os segundo os princípios cristãos. Ficando viúva aos 39
anos, administrou os bens da família, dedicando-se, com amor incomensurável à
sua prole.
Morreu
aos 56 anos, no ano de 387, em Óstia, na Itália, no mesmo ano da conversão
do seu filho. O seu corpo foi descoberto em 1430 e transferido para a Basílica
de Santo Agostinho, em Roma. Foi canonizada, não por ter operado milagres,
mas por ter sido a responsável pela conversão do filho, revelando empenho em
ensinar condutas cristãs como moral, pudor e mansidão, mostrando a intervenção
feminina na família, pois foi o meio, pela oração, para a vida religiosa
do filho.
2024.08.28 –
Louro de Carvalho
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