quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Santa Mónica, mãe de Santo Agostinho e padroeira das mães cristãs

 

A Igreja Católica, a 27 de agosto, fez a memória litúrgica de Santa Mónica, mãe de Santo Agostinho, mulher de oração que deve ser imitada.

O Papa Francisco apontou-a, várias vezes, como modelo a imitar, sobretudo, pela sua constante oração a Deus, um diálogo de fé que sustentou a sua caminhada cristã.

Uma mulher tenaz e amorosa, com fé sólida, esposa virtuosa e mãe cuidadosa são predicados que fazem o retrato de Mónica, que alimentou a fé com a oração, com a prática piedosa e com a escuta da Palavra de Deus, constituindo o exemplo de oração incessante que deve alimentar a fé de todo o cristão. De facto, a oração é o segredo da vida de Mónica, um diálogo com Deus nunca interrompido, uma oração que, embora parecesse que não era ouvida, foi insistente, sustentada pela vontade de ferro de querer ser boa esposa e ver os filhos seguros no porto de Deus. Numa meditação matinal na Capela da Casa de Santa Marta (a 11 de outubro de 2018), o Papa chamou à oração “um trabalho” que nos pede vontade, constância e determinação, sem vergonha.

Era oração constante e intrusiva, a de Santa Mónica, vivida com lágrimas pela conversão do filho.

Foi na oração que alcançou a sabedoria e a perfeição, tanto que, um dia, conversando com o filho Agostinho, já determinado a dar a vida inteiramente pela Igreja e a desejar a plenitude em Deus e a bem-aventurança eterna, disse que a vida não tinha mais nenhuma atração para ela. E perto da morte, encontrando-se em Óstia, longe da Numídia, região do Norte da África onde nasceu, comentou com os parentes que não queriam deixar que os seus restos mortais ficassem em terra estrangeira, recomendou: “Enterrai este corpo onde ele está, sem nenhuma piedade. Peço-vos apenas uma coisa: lembrai-vos de mim, onde quer que estejais, diante do altar do Senhor” (Confissões IX, 11.27).

 O que distingue a sua oração é a tenacidade e insistência em arrancar Agostinho da seita maniqueísta e dos erros da adolescência, para o trazer à felicidade certa, a estabilidade com Deus. A insistência e liberdade desta mulher e mãe para com Deus são comparáveis às da mulher sirofenícia do Evangelho que, para a sua filha doente, insistiu face às respostas que parecem bruscas de Jesus e queria, a todo custo, a cura da filha, com aquela liberdade que não a faz dizer: “Ah, Senhor, tens razão, eu não pertenço à casa de Israel. Com licença, vou embora.” Não, ela insiste. E isto ensina-nos a perseverança e a confiança no Pai que nos salva. E é o fruto da maternidade: é rezar como ventres que geram continuamente vida. Agostinho diz-nos de Mónica que ela havia criado os filhos, dando à luz, tantas vezes quantas as que os viu a afastarem-se de Deus. E isto não nos separa da oração ancorada no nosso tecido vital, do nosso ser mulheres ou homens, sacerdotes ou homens consagrados, mulheres casadas ou mulheres que vivem a castidade, mas ancoradas na sua realidade. Portanto, Mónica é a mulher-mãe, que insiste na vida e dá à luz e gera, continuamente, vida concreta e vida na fé. Agostinho lembra a mãe, quando ele passava um tempo em Milão a ouvir Ambrósio. E o espaço que ele dedicava à escuta, à oração, deu a Mónica essa Sabedoria que é o sabor da presença de Deus na sua vida. Mónica aprendeu e ensina-nos que estar com Deus, “desperdiçando o nosso tempo”, torna possível adquirir o bom sabor da vida que é esta eternidade que se encarna nos fragmentos da nossa existência. É bonito, quando Agostinho, nos diálogos com os amigos neste caminho de busca, agora próximo da conversão, vê Mónica presente a lançar estas pérolas de sabedoria.

A sabedoria nela, que não tem os fundamentos filosóficos que aqueles jovens têm, vem desta bela Sabedoria que é o Evangelho, que é a escuta dos textos, que é esta oração, este sabor que torna Deus presente na História e que nos torna sábios.

Hoje, é difícil rezar, porque estamos imersos numa sociedade tão frenética e apressada que parar e adorar o Santíssimo Sacramento, ler as Escrituras, neste tempo livre, parecem perda de tempo. Ora, cultivar a oração significa aprender que, só tomando tempo e espaço durante o dia, chegaremos à Sabedoria que Mónica nos ensinou, que é a de garantir que, em tudo o que fazemos, ali esteja a reverberação da eternidade que Deus nos dá. Depois, há um espaço sagrado a preservar – a partir da própria interioridade, da escuta da Palavra, de uma oração, também vocal, da que é a forma pessoal de oração – mas, para chegar a esta conexão com a realidade, a esta compreensão de toda a realidade, com fadigas e alegrias, com doenças e dores, com solidões e vazios. É nesta realidade que Deus nos fala. A Mónica Deus falou pelo sofrimento da distância de Deus, da parte de Agostinho e do marido, pelo que assumiu o grito materno orante.

Assim, estar ancorado na própria vida, faz com que a doação de espaços de silêncio torne a vida plena, bela, cheia de Deus, pois, como Agostinho, estamos inquietos, de coração continuamente ansioso, preocupado, até que O encontremos e descansemos n’Ele. Isto significa alcançar, acolher aqui o Paraíso e a eternidade que o Senhor quer nos dar em cada fragmento do dia. Podemos aprender isto com a oração e podemos cultivá-lo, se descobrirmos o desejo básico que é a felicidade que habita em nós e temos escrito no coração. Assim, fazer florescer este desejo que nos habita o coração significa aprender a tomar tempo e a permanecer nesta bela escola da vida.

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A autora católica Maggie Green oferece, no livro The Saint Monica Club (O Clube de Santa Mónica) cinco conselhos para quem, como a mãe de Santo Agostinho, enfrenta a dor de ter familiares afastados da fé. A piedade e a oração contínua de Mónica levaram à conversão do marido e da sogra, permitiu a entrada de dois filhos na vida religiosa e que o filho Agostinho chegasse a Doutor da Igreja. Vejam-se os conselhos de Green, inspirados na fé de Santa Mónica, para esperar em Cristo por todos os familiares que estão distantes da fé.

1. Rezar sem cessar. “Preparai os santos, preparai os vossos anjos da guarda, pedi às santas almas do purgatório; pedi às almas dos mortos que vós conhecestes que rezem para que esses pródigos sejam considerados merecedores das promessas de Cristo”, são recomendações de Green.

2. Oferecer jejum e sacrifícios. Segundo a autora, Mónica dava esmolas e oferendas, até que lhe dissessem que não, “e fez dessa obediência também uma oferta”. Por isso, o conselho é oferecer até mesmo algo pequeno, como indício de que a sua vontade se “molda” à de Deus, no ordinário, “em expiação dos pecados que ofendem a Deus”.

3. Amar os filhos pródigos. “Come com eles, ora na presença deles, gostem ou não, e está totalmente presente e autenticamente fiel. Não deixes de te revestir de Cristo na sua presença, mas mostra Cristo na sua presença pela forma como os acolhes”, diz a autora.

4. Pedir a outras pessoas que rezem convosco por eles. Isto deve ser feito, diz Green, “mesmo que não saibam que o ente querido está longe da fé”, pois “cada um de nós que reza por outro revela a nossa confiança em que Deus ouve as nossas orações e procura curar aqueles que amamos, independentemente do que pedimos”.

5. Persistir. Green conclui, dizendo que os membros do clube de Santa Mónica “entendem que Deus usa as nossas vidas para encantar cada alma, e que nenhum momento – nenhum segundo de devoção, oração, amor, sacrifício ou serviço – é desperdiçado”. “Nunca devemos desanimar, porque sabemos que Deus deseja mais do que nós a sua companhia no grande banquete”, diz ela.

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“Continue a rezar, pois é impossível que se perca um filho de tantas lágrimas”. Este foi o conselho dado por um bispo a Mónica. A santa seguiu este conselho, não se deixou abater pelas dificuldades até ver o filho, Agostinho, convertido. Por isso, tornou-se a padroeira das mães cristãs.

Ao recordar a vida desta santa, em 2013, o papa Francisco destacou o exemplo que ela deixa a tantas mulheres que choram por seus filhos. “Quantas lágrimas derramou aquela santa mulher pela conversão do filho! E quantas mães, também hoje, vertem lágrimas a fim de que os seus filhos voltem para Cristo! Não percais a esperança na graça de Deus!”, disse o Pontífice.

Santa Mónica é de origem berbere, pois, nasceu em Tagaste (atual Souk Ahras) da Numídia, atual Argélia, na África, em 331. Ainda jovem e por um acordo dos pais, casou, aos 17 ou 18 anos, com Patrício, homem de status social, mas violento e mulherengo. Algumas mulheres perguntaram-lhe por que o marido nunca lhe batia, ao que retorquiu: “É que, quando o meu marido está de mau humor, eu esforço-me por estar de bom humor. Quando ele grita, eu calo-me. E, para brigar são precisos dois e eu não aceito a briga, pois... não brigamos.”

Suportando tudo no silêncio e na mansidão, encontrava o consolo nas orações que elevava a Cristo e à Virgem Maria pela conversão do esposo, que mudou de vida, se batizou e morreu como bom cristão. Porém, a dor desta mulher não terminaria aí. Agostinho, o filho mais velho, tinha atitudes egoístas, caprichosas e não se aproximava da fé. Levava uma vida dissoluta; e ela sofria por ver o filho afastado de Deus. Por isso, durante anos, continuou a rezar e a oferecer sacrifícios.

Agostinho tornou-se brilhante professor de Retórica, em Cartago. Mais tarde, foi, às escondidas, para Roma e, depois, para Milão, onde obteve o cargo de professor numa importante universidade. Em Milão, começaria a busca por respostas que a vida intelectual não oferecia. Abraçou o maniqueísmo e rejeitava a fé cristã. Porém, Mónica não desistiu e viajou atrás do filho. E sentiu que a sua missão foi realizada quando, tempos depois, Agostinho foi batizado na Páscoa de 387. Mãe e filho decidiram voltar para a terra natal, mas, chegando ao porto de Óstia, perto de Roma, Mónica adoeceu e, logo depois. faleceu, em 27 de agosto de 387.

O papa Alexandre III confirmou o tradicional culto à Santa Mónica, em 1153, quando a proclamou padroeira das mães cristãs. Da mãe, Santo Agostinho, que se tornou bispo de Hipona e doutor da Igreja, escreveu: “Ela gerou-me, seja na sua carne, para que eu viesse à luz do tempo, seja com o seu coração, para que eu nascesse à luz da eternidade.”

No Angelus de 27 de agosto de 2006, o papa Bento XVI, recordando estes dois santos, disse: “Santa Mónica e Santo Agostinho convidam-nos a dirigirmo-nos com confiança a Maria, Sede da Sabedoria. A Ela confiemos os pais cristãos para que, como Mónica, acompanhem, com o exemplo e com a oração o caminho dos filhos.”

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Santa Mónica foi, segundo as tradições católicas, criada por uma dada, ou seja, uma escrava que cuidava dos filhos dos senhores, de quem recebeu “educação e rígidos ensinamentos religiosos.

Foi mãe de Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja. E foi, segundo ele, o seu alicerce espiritual que o conduziu em direção à “fé verdadeira” e o converteu ao cristianismo. Ele julgava ser a mãe a “intermediária” entre ele e Deus. Durante a adolescência de Agostinho até ao seu batismo, Mónica vivia entre lágrimas, lamentando a “vida de heresias” do filho, e orava fervorosamente para que ele encontrasse a verdadeira fé. Agostinho atribuiu a um sonho da mãe o passo definitivo para a sua conversão e a “confirmação” da sua vocação religiosa. Desse modo, Mónica torna-se responsável pelo destino cristão do filho.

A partir daí, o filho vê a mãe de forma santificadora, mas reconhece o fardo feminino que ela carrega, já que, nos primórdios da cristandade, a mulher era vista entre dois extremos, o da exaltação e da condenação. A parte boa do sexo feminino era representada por Maria e a parte ruim, que se entrega à tentação, representada por Eva. Foi da forma boa que Mónica foi vista pelo filho e pela Igreja.

Aos 22 anos, Mónica deu à luz Agostinho, o primogénito, a seguir outro filho, Navígio, e uma filha, de quem não se sabe o nome, e educou-os segundo os princípios cristãos. Ficando viúva aos 39 anos, administrou os bens da família, dedicando-se, com amor incomensurável à sua prole.

Morreu aos 56 anos, no ano de 387, em Óstia, na Itália, no mesmo ano da conversão do seu filho. O seu corpo foi descoberto em 1430 e transferido para a Basílica de Santo Agostinho, em Roma. Foi canonizada, não por ter operado milagres, mas por ter sido a responsável pela conversão do filho, revelando empenho em ensinar condutas cristãs como moral, pudor e mansidão, mostrando a intervenção feminina na família, pois foi o meio, pela oração, para a vida religiosa do filho.

2024.08.28 – Louro de Carvalho

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