quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Secretaria-geral do Ministério da Administração Interna foi assaltada

 

A 29 de agosto, o jornal online Observador noticiou que o edifício da Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna (SGMAI), na rua de São Mamede, em Lisboa, foi assaltado durante a madrugada do dia 28. Vários gabinetes, incluindo os dos principais responsáveis, foram remexidos pelos assaltantes, tendo sido levados um total de oito computadores portáteis, dois dos quais seriam de chefias da secretaria. Segundo foi apurado, as câmaras de vigilância não estavam a funcionar.

Os assaltantes terão mesmo conseguido furtar os equipamentos informáticos utilizados por chefias desta secretaria, como por exemplo o computador de Teresa Costa, secretária-geral adjunta e o do responsável pela área informática. A investigação, a cargo da Divisão de Investigação Criminal da Polícia de Segurança Pública (DICPSP), tenta, agora, identificar os responsáveis e perceber quais as motivações.

Foi já na manhã do dia 28, quando começou um novo dia de trabalho, que quem foi chegando se apercebeu de que, nas horas anteriores, algo de estranho ocorrera: diversos gabinetes estavam desarrumados e com sinais de terem sido remexidos. O caso foi comunicado à Polícia de Segurança Pública (PSP) pelo elemento que esta força civil de segurança tem em permanência na SGMAI.

Os agentes da PSP chegaram ao local pouco antes das 10h00 e, rapidamente, confirmaram a denúncia, tendo a investigação ficado, a partir desse momento, a cargo da DICPSP. Acredita-se que o crime terá acontecido várias horas antes do alerta, pelas 5h00.

Uma das principais suspeitas é a de que quem entrou no edifício da SGMAI terá tido acesso por uma das janelas do 6.º andar, dado que a entrada do edifício tem vigilância mesmo durante a noite. Para chegar ao topo do prédio, os assaltante terão usado o andaime do edifício contíguo, que está em obras. A fuga também aconteceu com recurso ao referido andaime.

Este edifício do Ministério da Administração Interna (MAI) tem sempre um elemento a fazer segurança na entrada, que não se terá apercebido de nada e as câmaras de videovigilância também não registaram o momento, porque estão avariadas. Além disso, não havia sistema de alarme. Dado tratar-se de crime de furto, a investigação é da competência da PSP, neste caso, através da DICPSP, não tendo havido, por isso, até agora, qualquer intervenção da Polícia Judiciária (PJ).

Todavia, não se podendo descartar que o furto tivesse outros objetivos, como por exemplo o interesse em aceder a informações sigilosas que constavam nos aparelhos informáticos e nos gabinetes, é normal que outros serviços diferenciados, como o Serviço de Informações de Segurança (SIS), sejam informados e estejam a acompanhar e a colaborar com a investigação.

Em comunicado, o MAI confirmou a informação avançada pelo Observador, assumindo a intrusão no edifício, que “só terá sido possível, através do escalamento de um prédio contíguo, que se encontra a ser intervencionado”, e que foram “furtados alguns computadores”, sendo que alguns “ainda não tinham tido uso, já que são de reserva/substituição”. Contudo e como a situação está “a ser acompanhada pelas autoridades de investigação criminal competentes”, o MAI considera que “não é oportuno transmitir quaisquer outros dados ou factos”.

Já a Direção Nacional da PSP, questionada sobre o caso, limitou-se a dizer “que a Secretaria-Geral do MAI foi alvo de furto, tendo chegado ao local pelas 9h52”. “Esse facto foi comunicado por um polícia de serviço, segundo o qual haveria vários gabinetes remexidos”, acrescentou.

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O gabinete da ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, confirmou a notícia do assalto só no início da noite de 29 de agosto, considerando que, de acordo com indicações da PSP, que está a liderar a investigação, os assaltantes furtaram diverso material informático, incluindo computadores das chefias.    

“O gabinete da Ministra da Administração Interna confirma que, na madrugada de dia 28 de agosto, houve uma intrusão no edifício onde funciona a Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, na Rua de São Mamede, em Lisboa. De acordo com aquilo que se tem vindo a apurar, tal intrusão só terá sido possível, através do escalamento de um prédio contíguo, que se encontra a ser intervencionado”, revela o gabinete da ministra, em comunicado enviado às redações, acrescentando:Confirma-se ainda que foram furtados alguns computadores, sendo que alguns deles ainda não tinham tido uso já que são de reserva/substituição.”

Fonte da PSP disse à Lusa que o alerta do assalto foi dado às 09h52 pelo polícia que estava de serviço no edifício, após ter dado conta de que existiam gabinetes remexidos.

Outra fonte policial indicou à Lusa que foi furtado vário material informático existente nos gabinetes.

A investigação está a cargo da PAP, que não adiantou, oficialmente, mais nenhum pormenor sobre o assalto.

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O facto ocorrido e relatado suscita o levantamento de algumas questões.

Desde logo, é de questionar como é que o profissional da PSP de guarda ao edifício não dá conta do assalto e deu conta de que os gabinetes foram remexidos. Foram os responsáveis da SGMAI que o chamaram? Não foi uma equipa especializada da PSP que verificou o estado do edifício?

Outra questão que se levanta é: Estando o prédio contíguo em obras e com andaimes exteriores, a vigilância policial do edifício da SGMAI, não deveria ter sido reforçada?

A vigilância que, antigamente, era feita quase exclusivamente à base de pessoas, hoje é feita à base de pessoas e de meios eletrónicos e informáticos. Não é admissível que as câmaras de vigilância não estejam a funcionar, quando se trata da segurança de edifícios públicos, muito menos onde se suspeite que haja informação sigilosa. Porém, câmaras a não funcionar em edifícios públicos é o que há mais.  

Por outro lado, o reforço da vigilância tem de contar, necessariamente (os recursos humanos são indispensáveis), com pessoas confiáveis e de especial preparação. Com efeito, atualmente nem um aquartelamento militar dispõe de pessoal suficiente para responder a um eventual alerta de sentinela. Por isso, a segurança e a vigilância de edifícios do Estado deve ser feita com base em pessoas e em produtos das novas tecnologias.

Não se percebe que, podendo os computadores conter material informativo que atinja a segurança do Estado, como é que a investigação do furto é confiada à PSP e não à PJ. Aquando do assalto aos paióis de Tancos e da saga da recuperação de parte do material, a Polícia Judiciária Militar (JPM) foi retirada da investigação, que ficou a cargo da PJ.  

Comparando com o que se passou, em 2023, no gabinete do antigo ministro das Infraestruturas, então foi altamente criticada a intervenção do SIS, intervenção que agora se admite. Na ocasião, também se suspeitava que o computador furtado contivesse informação privilegiada que, a ser revelada, poderia colocar em causa o território e o Estado. Aliás, o MAI e o Ministério das Infraestruturas (ou equivalente) dispõem de materiais e de informação sensíveis para a segurança do território e das pessoas.

Além disso, sendo o titular da pasta responsável político pelo que se passa nas instalações e com o pessoal que supervisiona, porque não se pede responsabilidades políticas e explicações à atual ministra da Administração interna, quando não se deixava descansar Constança Urbano, Eduardo Cabrita e João Galamba?    

É óbvio que todos os governantes podem falhar, mas, para uns, funciona o silêncio, ao passo que, para outros, as línguas estão afiadas, e as canetas prontas.    

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A SGMAI tem por missão assegurar o apoio técnico e administrativo aos gabinetes dos membros do governo integrados no MAI e a prestação de serviços comuns nos domínios: técnico-jurídico; organização e gestão de recursos; gestão financeira; acompanhamento e controlo da execução orçamental; documentação e arquivo; e comunicação e relações públicas.

A SGMAI prossegue, designadamente, as seguintes atribuições no âmbito do acompanhamento, avaliação e controlo da atividade financeira das entidades, serviços e organismos do MAI:

a) Apoiar a definição das principais opções estratégicas em matéria orçamental, assegurando a elaboração do orçamento consolidado do MAI, acompanhando a execução orçamental, efetuando o controlo da gestão e apresentando os respetivos relatórios de execução, bem como controlando a execução orçamental dos investimentos previstos;

b) Proceder à elaboração dos instrumentos de planeamento integrado e de investimentos, de acordo com os diplomas programáticos e de opção estratégica do governo, assegurando a articulação entre os instrumentos de planeamento, de previsão orçamental, de reporte e de prestação de contas, e acompanhando e controlando a execução dos [instrumentos] que forem da responsabilidade de quaisquer outros serviços e organismos do MAI.

A SGMAI prossegue, designadamente, as seguintes atribuições, no âmbito da prestação de serviços comuns:

a) O apoio técnico e administrativo nas áreas do planeamento, da comunicação, da qualificação e da inovação, do desenvolvimento e da gestão de recursos humanos, da execução orçamental e contabilística, da negociação, do aprovisionamento e da logística, da consultadoria jurídica e do contencioso, da documentação e arquivo, assim como da informação, da comunicação e relações públicas;

b) No quadro do exercício de funções transversais: i) assegurar a gestão dos contratos de prestação de serviços de suporte não integrados em entidades públicas prestadoras de serviços partilhados; ii) Assegurar a centralização e desmaterialização dos procedimentos de contratação pública, exercendo as funções de unidade ministerial de compras;

c) Acompanhar e apoiar a política de instalações das forças e serviços de segurança e demais serviços do MAI, manter atualizado o respetivo recenseamento e centralizar a informação relativa ao património daquele ministério.

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Perante o ocorrido, em 28 de agosto, torna-se imperativo o achamento dos assaltantes, assacando-lhes a devida responsabilidade, a recuperação dos materiais furtados e o acautelamento da não divulgação de informação reservada. Por outro lado, sem deixar de ter em conta o provérbio “casa roubada, trancas à porta”, há que retirar as devidas lições. Mal é não querer aprender!

2024.08.29 – Louro de Carvalho

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