terça-feira, 20 de agosto de 2024

Sistema de Entrada/Saída da UE será lançado a 10 de novembro

 

O Sistema de Entrada/Saída (SES) da União Europeia (UE), após o Brexit, será lançado a 10 de novembro, confirmou a Comissária Europeia dos Assuntos Internos.

“O momento chegou, finalmente. Pode ter havido alturas em que se pensou que nunca iria acontecer”, declarou Ylva Johansson, durante uma visita à eu-LISA, sediada em Tallinn, a agência da UE responsável pela infraestrutura informática subjacente ao SES, explanando: “Mas vai acontecer. Tudo se está a compor. Estamos na fase final de testes. Existe, agora, uma verdadeira dinâmica. Transportadoras, operadores, estações de comboio, aeroportos, todos se preparam para o grande dia.”

O lançamento do SES estava previsto para 2022, mas foi reagendado para 2023 (primeiro, para maio; depois, para o fim o ano), por ter enfrentado vários contratempos, devido a problemas informáticos e a atrasos na instalação das barreiras automatizadas necessárias em todas as fronteiras internacionais terrestres, marítimas e aéreas do Espaço Schengen.

É de recordar que Schengen é uma pequena aldeia no Luxemburgo, na fronteira com a Alemanha e com a França, onde foram assinados o Acordo de Schengen e a Convenção de Schengen em 1985 e 1990, respetivamente. Nos termos destes documentos, os países, não efetuam controlos nas suas fronteiras internas, exceto em casos de ameaças específicas, e efetuam controlos harmonizados nas suas fronteiras externas, com base em critérios claramente definidos.

Atualmente, o Espaço Schengen abrange mais de quatro milhões de quilómetros quadrados, com uma população de quase 420 milhões de pessoas, e inclui 29 países: 25 dos 27 estados-membros da UE (não fazem parte o Chipre e a Irlanda) e todos os membros da EFTA – Associação Europeia de Comércio Livre (Islândia, Listenstaine, Noruega e Suíça).

O SES é um sistema de registo automatizado para os viajantes do Reino Unido e de outros países terceiros, que não necessitam de visto para entrarem na UE. Quando estiver operacional, no outono, os viajantes de países terceiros que entrem no Espaço Schengen passarão por novos controlos nas fronteiras. Têm de digitalizar os passaportes ou outros documentos de viagem num quiosque de autoatendimento, sempre que atravessarem uma fronteira externa da UE. O sistema não se aplica a cidadãos ou residentes legais da UE, nem a titulares de vistos de longa duração.

O sistema registará o nome do viajante, os dados biométricos, a data e o local de entrada e saída. As digitalizações faciais e as impressões digitais, a efetuar de três em três anos, são válidas para viagens múltiplas, durante esse período.

O sistema, que será aplicável à entrada em todos os do Espaço Schengen, será introduzido para reforçar a segurança nas fronteiras e para identificar os viajantes que ultrapassam o período permitido no Espaço Schengen (90 dias, num período de 180 dias). “Com o SES, saberemos, exatamente, quem entra no espaço Schengen com um passaporte estrangeiro”, afirmou Ylva Johansson, assegurando: “Saberemos se as pessoas ficam, demasiado tempo, a combater a migração irregular. E o SES tornará mais difícil a utilização de passaportes falsos por criminosos, terroristas ou espiões russos, graças à identificação biométrica, fotografias e impressões digitais.”

No Reino Unido e noutros países, há receios de que o SES aumente os atrasos nos postos de controlo fronteiriços. Todavia, um relatório do Conselho Europeu, divulgado pela organização sem fins lucrativos Statewatch, revela que vários países manifestaram preocupação com os atrasos na implementação do sistema. Em 2023, afirmaram que o período de tempo de que dispunham para testar o sistema, antes do seu lançamento, estava a diminuir rapidamente.

As autoridades francesas, que efetuarão os controlos fronteiriços do SES no porto de Dover, no Eurostar (empresa ferroviária que opera os serviços ferroviários internacionais) e no Eurotúnel do Reino Unido, já estão a trabalhar com o governo do Reino Unido, para minimizarem o impacto do sistema nos fluxos e no tráfego fronteiriço, mas estão preocupadas com os potenciais tempos de espera. As agências governamentais e os representantes do setor do turismo dizem que o SES provocará longas filas de espera para o tráfego de embarcações que partem de Dover para Calais.

Entretanto, Guy Opperman, ministro dos transportes do Reino Unido, explicou que o sistema terá um “arranque suave de seis meses”, para tornar o processo mais simples.Se chegássemos a uma situação em que houvesse um certo número de filas ou atrasos, as disposições das medidas de flexibilidade cautelares permitiriam uma maior liberdade de passagem de veículos, autocarros, veículos pesados e automóveis. […] Isso resolve grande parte das filas de espera e muitas das complicações”, considerou.

Outros países estão ainda a trabalhar em planos de implementação do SES. A Comissão Europeia sugeriu que o sistema pode ter de ser introduzido, de forma gradual e flexível, para reduzir a probabilidade de longos tempos de espera nas fronteiras.

Cerca de seis meses após o lançamento do SES, será introduzido o Sistema Europeu de Informação e Autorização de Viagem (SEIAV ou ETIAS, na sigla original), que obriga os cidadãos de países terceiros que não necessitam de visto da UE a obterem autorização de viagem para entrarem no bloco (ao contrário do SES, que é um sistema de controlo da passagem das fronteiras por nacionais de países terceiros). A isenção de visto será obrigatória para qualquer pessoa que pretenda visitar o Espaço Schengen, por um curto período de tempo.

O SEIAV estava previsto para estar operacional a partir de novembro de 2023. Agora, a Comissão Europeia afirma que entrará em vigor em 2025. Embora não haja uma data exata, a UE indicou, anteriormente, que será introduzido cinco a seis meses após o SES. Poderá, assim, haver um período de implementação em que será, gradualmente, introduzido juntamente com o SES.

Os viajantes poderão solicitar a autorização online antes da viagem, a um custo de 7 euros. Uma vez aprovada, a autorização eletrónica de viagem será ligada, eletronicamente, ao passaporte e terá a duração de três anos.

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Apesar dos contínuos contratempos, o lançamento está, finalmente, previsto para este outono. Mas uma parte significativa dos adultos britânicos diz não fazer ideia de como funcionará o EEE.

Para os perplexos com o sistema, é de referir como funcionará o EEE (Espaço Económico Europeu, criado, em 1994, para alargar as disposições do mercado interno da UE aos países da EFTA. Em poucas palavras, o SES é um novo sistema eletrónico que substituirá o carimbo físico dos passaportes, quando se passa pelo controlo de passaportes à chegada.

Todos os Estados-Membros da UE, com exceção do Chipre e da Irlanda, onde os passaportes continuarão a ser carimbados manualmente, e os quatro países não pertencentes ao espaço Schengen da UE – Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça – participarão no sistema. Serão registadas todas as entradas e saídas de e para os países participantes. Ou seja, os movimentos do viajante serão gravados, sempre que atravessar uma fronteira dentro ou fora da UE ou do espaço Schengen. Quando o sistema entrar em funcionamento, ao chegar a novo país, o viajante terá de apresentar passaporte, como sempre, e tirar uma fotografia de rosto e digitalizar eletronicamente as suas impressões digitais.

As pessoas que já são cidadãos da UE ou dos países do espaço Schengen não serão abrangidas e poderão viajar livremente em todo o espaço. O SES aplicar-se-á às pessoas provenientes daquilo a que a UE chama um “país terceiro”, isto é, as pessoas que não são cidadãos da UE ou do espaço Schengen. Aplica-se a quem viaja para uma estadia curta, ou seja, visitas, férias ou viagens de negócios, com a duração total máxima de 90 dias num período de 180 dias.

Os titulares de passaportes britânicos com residência na UE estão isentos do controlo SES.

Na maioria dos casos, os controlos serão feitos na Europa, quando se chegar ao aeroporto ou ao porto de destino. Se se viajar pelo porto de Dover ou por comboio internacional a partir do Reino Unido, os controlos serão efetuados à partida, à passagem no controlo de passaportes do lado britânico. Isto, porque existe fronteira dupla – britânica e francesa – em ambos os locais, pelo que não será preciso efetuar o controlo, quando se chegar ao outro lado.

A UE está a planear ir ainda mais longe com as suas restrições de viagem em 2025. O SEIAV será mais um sistema para os viajantes dentro do bloco. Este novo sistema de autorização de viagem terá de ser solicitado antes de uma viagem para 30 países europeus envolvidos no sistema. A Irlanda está isenta, porque integra a Zona de Deslocação Comum.

O sistema é semelhante ao ESTA (Sistema Eletrónico para Autorização de Viagem) dos EUA e à ETA (Autorização Eletrónica de Viagem) do Reino Unido. Deverá ser introduzido em meados de 2025, mas não há data certa para a sua entrada em vigor. Portanto, ainda não é necessário ter um SEIAV para viajar para a Europa e, como o sistema não está operacional (o próprio site não está operacional, nem recebe pedidos) ainda não é possível obter um SEIAV oficial. Os sites que já afirmam oferecer esse serviço não são oficiais, pelo que devem ser evitados.

Quando se tornar oficial, os viajantes isentos de visto de países terceiros terão de o requerer, com um custo de sete euros, e o tempo de processamento situar-se-á entre 30 minutos e 96 horas. Isto significa que, se viajar para a UE para uma estadia curta e não for cidadão de um país da UE ou do espaço Schengen, precisará de um SEIAV. À semelhança dos termos do SES, uma “estadia curta” refere-se a visitas, a férias ou a viagens de negócios com a duração máxima de 90 dias e realizadas num período de 180 dias. E, se estiver a viajar com um visto, não precisará de um SEIAV e se for titular de passaporte britânico, mas tiver residência na UE, também não precisará.

Custará sete euros, para a maioria dos viajantes, mas será gratuito, para menores de 18 anos e para maiores de 70 anos. Cada pedido terá a duração de três anos e permitirá aos titulares efetuar várias viagens, neste período, utilizando o mesmo pedido. Porém, há ressalvas a ter em conta. Se o passaporte caducar durante o período de validade, terá de ser solicitado um novo. O passaporte também não será válido, se expirar durante a estadia. Nesses casos, será necessário solicitar um novo SEIAV, antes da viagem, para cobrir a duração da permanência.

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Desde as companhias de ferries às agências de viagens sem voos, há confusão e ceticismo em relação ao novo regime. Mas muitos viajantes continuam com dúvidas sobre o funcionamento do SES e do SEIAV. E os agentes de viagens não tinham a certeza da data de lançamento do SES e não receberam perguntas ou orientações sobre o sistema. Por isso, não davam qualquer tipo de conselho. Todavia, pensam que, quanto maior for a burocracia, pior será para a liberdade de viajar e que regimes como o SES são suscetíveis de levar as pessoas a deixarem de viajar para a Europa.

Sempre que os lançarem, complicarão as viagens e criarão problemas ao turismo. Por isso é que a França não aceitou a sua introdução antes dos Jogos Olímpicos deste verão.

Em abril, a P&O Ferries manifestou-se preocupada com a aplicação do sistema no porto de Dover.

“O processo SES foi concebido para passageiros pedestres que passam por um aeroporto e é fundamentalmente inadequado para um ambiente portuário”, escreveu o diretor de operações europeias da empresa, Jack Steer, em carta enviada ao Parlamento britânico, pois a configuração do porto impossibilita a separação do tráfego de passageiros e de mercadorias para efeitos de processamento, o que traz “graves perturbações”.

O Eurostar está a expandir a sua base londrina na estação de St Pancras, instalando mais quiosques para processar os dados do SES. E, com bilhetes de comboio, muitas vezes, mais baratos com antecedência, os passageiros da ferrovia já pensam como é que o SES afetará as suas viagens.

Algumas empresas de viagens já receberam perguntas de clientes sobre quando o sistema será implementado, se é preciso obter vistos e que documentação é necessária. E, pela falta de conhecimento do público sobre o funcionamento do SES e do SEIAV, muitos viajantes confiarão nos agentes de viagens para os orientarem, quando os sistemas entrarem em vigor.

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Enfim, é preciso, mas difícil, articular a liberdade de circulação com a segurança.

2024.08.20 – Louro de Carvalho

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