As ondas de
calor e a seca têm prejudicado a produção de azeite, nos últimos anos, mas, na
Espanha – o maior fornecedor de azeite do Mundo, na ordem dos 40% –, a
expectativa é de que a produção caia para metade, em 2024, com base na campanha
desta estação.
Esta queda
abrupta, além de convidar à contrafação, fará disparar os preços, que já estão
elevados, aponta o setor agrícola, acusando os supermercados de tirarem partido
da situação, para aumentarem os lucros à custa dos consumidores. “O preço
inicial dos nossos produtos aumentou apenas 3%. E, ainda assim, os consumidores
estão a pagar 59% mais, quando compram nos grandes supermercados”, disse Carles
Peris Ramos, secretário-geral da associação de agricultores La Unió, a 26 de
agosto.
Todavia, os
supermercados negam que estejam a inflacionar os preços. “O preço do azeite virgem
manteve-se abaixo dos 10 euros, durante todo o ano de 2024”, garante Pedro Reig,
diretor da Asucova, associação de supermercados da Comunidade Valenciana. Já as
associações de consumidores afirmam que os preços se mantiveram elevados,
apesar da eliminação total do imposto sobre o valor acrescentado (IVA) sobre o
azeite em Espanha, desde 1 de julho.
Efetivamente,
o governo espanhol anunciou, a 26 de junho, a abolição temporária do imposto
sobre as vendas do azeite, para
ajudar os consumidores a obviar à subida dos preços, já que, apesar de a Espanha ser o maior produtor e exportador
mundial, o custo aumentou drasticamente (272%, desde setembro de 2020), para os
consumidores domésticos, devido à inflação contínua e à seca prolongada que
dizimou os abastecimentos. O imposto já tinha sido reduzido de 10% para 5%, em
2023; agora, de julho a setembro não é tributado; depois, será tributado a 2%;
e, a partir do fim do ano, será considerado produto alimentar básico, sendo
tributado a 4%.
Em Espanha,
o maior produtor mundial de azeite, os preços aumentaram 62,9%, em janeiro, em
comparação com o ano anterior. A título de comparação, a inflação dos produtos
alimentares foi de 4,8%, em janeiro, em todo o bloco europeu. Comparativamente,
em Portugal, de acordo com dados do Eurostat, de fevereiro deste ano, o preço
do azeite amentou 69,1%, em janeiro, em relação a 2023, acima da média de 50%,
na União Europeia (UE).
Assim,
o azeite, alma dourada da cozinha mediterrânica, está a sofrer vertiginosa subida
de preço, sobretudo, nos países do Sul da Europa, onde é produzido, pois a taxa de inflação deste ouro líquido
disparou no segundo semestre de 2023, superando a inflação geral dos géneros
alimentícios em toda a Europa.
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Em
toda a UE, o aumento anual dos preços acelerou no segundo semestre de 2023,
passando de 37%, em agosto, para 51%, em novembro, que foi o seu pico. Em janeiro de 2024, cada país da UE registou considerável
aumento da inflação anual do azeite, com Portugal a registar o maior aumento,
juntamente com a Grécia e a Espanha.
Entretanto, a Roménia registou o
menor aumento de preços na UE (mas ainda assim 13%), com a Suíça de fora do
bloco a fechar as fileiras. O Eurostat não comunicou quaisquer dados relativos
ao Reino Unido.
A maior parte da inflação subiu nos
últimos dois anos e deve-se, principalmente, à seca e às ondas de calor
extremas em países como a Espanha, onde a produção diminuiu para 50%, já
em 2023.
Tradicionalmente, existe enorme
procura nos países mediterrânicos, o que faz aumentar os preços e, em Espanha,
por exemplo, 80% do azeite é produzido para a exportação. Existia, em 2023, a
expetativa de que os preços globais do azeite subissem ainda mais, uma vez que
a seca fustigou o ano agrícola de 2023/24, que começou, oficialmente, a 1 de
outubro de 2023. E as autoridades, em Espanha, esperavam que a produção
permanecesse abaixo de um milhão de toneladas, para uma segunda colheita
consecutiva sem precedentes.
A principal união agrícola da
Espanha, as Cooperativas Agroalimentares, citadas pelo Olive Oil Times, estimou que a produção aumentaria para 755
toneladas, o que ainda está abaixo
da média, mas é uma melhoria, em relação ao rendimento recorde de 664,033 toneladas
da safra anterior.
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Em março deste ano, um estudo do Instituto Piepoli revelava
que um, em cada três Italianos, deixava
o azeite em troca de outros óleos, devido ao aumento do preço, o que leva a
concluir que os Italianos estão a afastar-se do azeite
e procuram outros produtos. O inquérito – realizado junto de 500 adultos, (margem
de erro de cerca de 4,4%) – refere que um, em cada três consumidores, reduziu o
consumo do que é considerado um dos pilares da dieta mediterrânica e que 45%
dos consumidores recorreu ao óleo de sementes.
Em Itália, o preço médio do azeite
nos supermercados aumentou de quatro para nove euros a garrafa; e os produtores
contradizem com tais dados, garantindo que as vendas de azeite de qualidade
superior estão a aumentar. Porém, o aumento do preço do azeite não está a
acontecer apenas na Itália e na Espanha. Noutros países europeus, como Portugal
(já referido), a situação é idêntica, em grande parte devido à inflação.
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Já no
outono de 2023 se verificava que o
preço do azeite, um dos produtos mais consumidos no Mundo e essencial na dieta
mediterrânica, na Espanha, atingira níveis recorde, nos últimos meses. E
foi o país onde o preço mais subiu, em toda a UE.
A seca e o
calor extremos reduziram para metade a produção de azeite no país. O preço, na
origem, aumentou 112%, em relação ao ano anterior, mas a situação dos
produtores é complexa, pois, segundo Jesus Anchuelo, da Unión pequeños
Agricultores (UPA), tiveram os custos de produção mais elevados da História. O
preço do azeite que estava a ser vendido, acabado de ser produzido, aumentava
todas as semanas, mas o valor que lhes foi pago mal cobria os custos de
produção.
O litro de
azeite nas lojas espanholas aumentou 52,5%, num ano, segundo o último índice
harmonizado de preços, muito acima da média de 38,3% registada na Europa e em
países produtores como a Itália, a Grécia e Portugal. A subida afetou outros
produtos, como as conservas. O ingrediente mais caro na lata de sardinhas
passou a ser o azeite, como referiu Jaime Velázquez, repórter da Euronews. A Espanha exporta 70% da sua
produção. No contexto de escassez da oferta, os s espanhóis competem num
mercado global cada vez mais concorrencial.
Jaime Lillo,
diretor-adjunto do “Consejo Oleícola Internacional”, explicava que, em Espanha,
estão “habituados a preços de azeite mais baixos do que no resto do Mundo”, mas,
agora, estão mais alinhados com os preços italianos, com os preços pagos nos
Estados Unidos da América (EUA), em França, na Grécia. E previa-se que a
produção de 2023 fosse muito semelhante à do ano anterior, como adiantava o
jornalista. “A descida do preço só será possível com o aumento da produção mas,
para isso, é preciso combater as alterações climáticas”, apontava.
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A escassez de azeite e a subida em flecha dos preços
criaram o terreno ideal para fraudes, como foi dito. E, segundo a Europol, a venda de azeite
falso tornou-se uma prática comum. A asserção foi proferida depois de as
autoridades terem apreendido 260 mil litros de produtos falsificados em
operações coordenadas em Itália e emEspanha, em novembro de 2023. Menos de dois
meses depois, cerca de 50 restaurantes foram objeto de investigação pelo mesmo
motivo, em Roma, dando origem a novos alarmes.
Alguns autores de fraudes substituem
este “ouro líquido” por óleo de sementes, muito mais barato. Como o óleo de
sementes é transparente, colorem-no com clorofila, para obter tonalidade verde,
e utilizam carotenoides, para obter traços amarelos, o que cria uma cor
semelhante à do azeite. Porém, mesmo que semelhantes, têm grandes diferenças. O
óleo de sementes não tem sabor nem cheiro, enquanto o azeite não é insípido. “Pode
ser mais ou menos doce, amargo ou picante, mas nunca será insípido”, disse o
professor de Ciências Alimentares Maurizio Servili, acrescentando: “Qualquer
pessoa que tenha experimentado o azeite, pelo menos, algumas vezes é capaz de
notar a diferença. São os polifenóis que lhe dão o seu sabor peculiar.”
A fraude pode ser mais difícil de
detetar, se o óleo de sementes for misturado com algum azeite verdadeiro. “Uma
análise simples pode desmascarar a fraude. Como o teste de composição de ácidos
gordos, ou a composição de esteróis, bem como as constantes
espectrofotométricas”, diz o professor Servili.
Nalguns países, a venda deste tipo de
mistura é legal, mas a quantidade de azeite na garrafa tem de estar indicada no
rótulo e o produto não pode ser designado por “azeite”.
Outras fraudes utilizam uma mistura
de azeite e “óleo lampante” (tem este nome, devido à sua utilização histórica
como combustível em lamparinas). É azeite de qualidade inferior, impróprio para
consumo, devido à elevada acidez.
Quando se comprar ou encomendar
azeite virgem extra, há que verificar, sempre, as informações contidas na garrafa,
certificar-se de que há data e local de colheita, verificar se se pode
digitalizar um código QR, para rastrear a cadeia de produção, e procurar selos
de certificador, testador ou consórcio de terceiros, como DOP ou IGP. “Os
consórcios de azeite mais avançados utilizam sistemas de cadeia de blocos para
a rastreabilidade”, afirma Sabina Petrucci, produtora de azeite italiana,
segundo a qual “as verificações nunca são suficientes” e os consumidores deviam
estar informados da “existência de tais ferramentas de rastreabilidade”.
A venda de azeite falso está a
aumentar, devido à grave escassez global, que também leva à subida de preço
(não é só a inflação). “A produção entrou em colapso, nos últimos dois anos”,
diz Servili, referindo: “Só em 2023, perdemos entre 20 e 25%, a nível mundial.”
O principal culpado é a seca extrema no Mediterrâneo, região que representa
quase 90% da produção mundial de azeite virgem extra. “Espanha, Grécia, Itália,
Tunísia...todos estes países foram atingidos. E este ano pode ser pior. Os
recursos hídricos estão extremamente reduzidos.
Os preços subiram em flecha. O azeite
virgem extra normal custava de três a cinco euros, por litro, no supermercado;
agora custa entre 10 e 12 euros. Tornou-se fácil, para os burlões, venderem os
seus produtos, com a cumplicidade de alguns restaurantes, que “sabem o que
estão a comprar”, segundo Servili, que diz: “Sempre houve um mercado para o
azeite falsificado, mas, agora, está a tornar-se mais poderoso, porque os
restaurantes não querem pagar os preços atuais do azeite.”
***
No primeiro estudo do género, os cientistas descobriram
que o azeite pode reduzir, em 28%, o risco de morte por demência. Há muito que o azeite era apontado
como superalimento que ajuda a viver mais tempo, se consumido no âmbito duma
dieta saudável. Agora, novo estudo, realizado por investigadores de Harvard, sugere que o azeite pode ajudar a
reduzir o risco de morte por demência. Esta informação surge quando
muitos países enfrentam taxas crescentes da doença de Alzheimer e
de outras demências, no contexto de envelhecimento da
população. De acordo com os investigadores, a utilização de azeite, em vez de
gorduras, como a margarina e a maionese comercial, pode reduzir o risco de
morte por demência.
A demência inclui uma série de
condições que afetam a memória e outras habilidades mentais, o suficiente para
interferir na vida diária. São doenças causadas por alterações físicas no
cérebro, sendo a doença de Alzheimer o tipo mais
comum.
No estudo que investiga a relação
entre a alimentação e a morte conexa com a demência, os cientistas analisaram questionários
alimentares e registos de óbito de mais de 90 mil cidadãos,
ao longo de três décadas. Destes, 4749 foram
registados como tendo morrido de demência. E o estudo reforça as diretrizes
dietéticas que recomendam azeites vegetais, como o azeite, e sugere que as
recomendações apoiam a saúde do coração e a do cérebro. Porém, serão necessários
mais estudos para confirmar o efeito.
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Enfim, além de fazerem a depauperação
das carteiras e dos estômagos, a escassez do azeite e a sua adulteração prejudicam
os corações e os cérebros.
2024.08.27 – Louro de Carvalho
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