Em
reunião do dia 14 de agosto, o Comité de Emergência
da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a mpox, por extenso, monkeypox (antes conhecida como a varíola dos macacos) declarou que a
situação constitui uma emergência de saúde pública de âmbito internacional. E a
OMS está no terreno a trabalhar de perto com os países afetados e ou em risco.
A declaração é considerada o mais alto nível de alerta da OMS,
com base no regulamento sanitário internacional vigente. Esta é a oitava vez
que a entidade decreta emergência em saúde pública de interesse internacional e
a segunda conexa especificamente à mpox
– entre 2022 e 2023, a doença também figurou como emergência global em meio à propagação
do vírus, em diversos países.
Com efeito, foi
detetada, na República Democrática do Congo (RDC), em
setembro de 2023, uma nova estirpe, denominada “clade 1b”, e foram reportados,
mais tarde, casos em vários países vizinhos. Segundo a OMS, esta estirpe
provoca doenças mais graves do que a anterior e daí a necessidade de
classificar a doença como uma emergência mundial.
Tedros Adhanom
Gebreyesus, diretor-geral da OMS, anunciou que tinha desencadeado um
processo de pesquisa de um fabricante de vacinas contra a varíola, ou seja, um
procedimento baseado no risco para avaliar e listar vacinas, tendo em conta a
tendência preocupante da propagação da doença. Aliás, a OMS está a pedir aos
fabricantes de vacinas que apresentem dados que garantam que as vacinas são
seguras, eficazes, de qualidade assegurada e adequadas para as populações-alvo.
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Já em 23 de julho de
2022, a OMS tinha declarado o surto de mpox
como uma emergência de saúde pública de preocupação internacional. Este era o nível mais elevado de alerta, pois
estavam já registados cerca de 17 mil casos, em 74 países.
A varíola dos macacos é, há décadas, endémica em várias partes de África Central e Ocidental.
Desde maio daquele ano, espalhou-se para outras partes do globo, em
especial para a Europa,
onde estavam, na altura, 80% dos casos registados e onde o risco de infeção
subira para o nível de “elevado”, e para a América do Norte.
O anúncio da OMS surgiu um dia depois da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) ter recomendado a aprovação
do alargamento da vacina Imvanex,
usada no combate à varíola, para a proteção de adultos contra o vírus da
varíola dos macacos, após estudos clínicos terem revelado que era eficaz e
segura.
A doença viral tem vindo a propagar-se, principalmente, em homens que fazem
sexo com outros homens, mas o diretor-geral da OMS frisava que “o estigma e a discriminação podem ser tão
perigosos como qualquer vírus”. No entanto, a OMS, a 28 de julho de 2022, apelou
à redução de parceiros sexuais entre
homens para diminuir o risco de exposição à mpox.
Numa conferência, em Genebra, Tedros Adhanom Ghebreyesus pediu responsabilidade
pessoal a todos e disse que o surto podia ser interrompido, “se países,
comunidades e indivíduos se informarem e levarem os riscos a sério”. Ao
mesmo tempo, deixou um apelo aos homens que mantêm relações sexuais com outros
homens: “Para os homens que fazem sexo com homens, isso também significa
reduzir o número dos parceiros sexuais e trocar informações com qualquer novo parceiro
para poder contactá-los”.
Foram detetados, desde maio daquele ano e fora do continente africano, 18
mil casos de mpox. Mais de 70% das infeções foram registadas na
Europa. Cinco pessoas morreram com a doença, todas em África.
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A 10 de agosto de 2022, tinham sido registados
casos de mpox em mais de 80 países,
mas a mortalidade associada à doença permanecia baixa. Porém, os profissionais de saúde alertavam e vêm alertando a que não se
desvalorize a doença, pois trata-se de
uma infeção grave, sendo importante tentar controlá-la.
Jimmy Whitworth, professor de Saúde Pública Internacional
na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, explicava: “Neste surto, têm vindo a ser registados
casos em crianças e isso é preocupante por duas razões. Uma delas é o facto de
acreditarmos que as crianças com menos de oito anos correm um risco elevado de
contrair doenças graves, se forem infetadas. A outra razão assenta no desafio
que é tentar controlar o contacto próximo entre crianças. É um desafio
diferente de tentar controlar o contacto entre adultos.”
Em todo o Mundo, eram já mais de 25 mil as infeções relacionadas
com o surto de mpox. À data já havia, registo de,
pelo menos, 10 mortos.
Embora muitos dos casos
relatados sejam relativos a pessoas homossexuais, bissexuais ou
homens que têm relações sexuais com outros homens, a agência da ONU para a
Saúde (OMS) frisou que o risco de contrair a varíola dos macacos não se limita
apenas a estes grupos. Qualquer pessoa que tenha um contacto próximo com alguém que esteja infetado está em risco. Por isso, o especialista
em referência considerou: “Há a
necessidade de tentar minimizar, tanto quanto
possível, o estigma em torno da doença, se quisermos controlá-la. Senão, a
propagação vai acontecer de forma secreta e vamos estar numa situação pior do
que aquela em que nos encontramos atualmente.”
Ao mesmo tempo, instou as pessoas a quem for oferecida a vacina a tomá-la, de modo a
controlar as cadeias de
transmissão do vírus.
Na mesma data (30 de julho de 2022) o Ministério da Saúde de Espanha
anunciara a segunda morte por varíola dos macacos. E, segundo o último balanço
feito pelas autoridades, no país havia cerca de 4300 pessoas infetadas e 120
doentes internados.
A campanha de vacinação começara, na semana anterior, com um número limitado
de vacinas. Os médicos davam prioridade aos grupos de risco onde foram
identificadas a maioria dos casos. Eram homens que têm relações sexuais com
outros homens ou com mulheres transexuais. E a campanha de vacinação também
arrancou em Paris e em Londres. Na capital britânica, Harun Tulunay foi
infetado e considerava que “o governo não reagiu com a rapidez suficiente”.
Quando foi visto no hospital, disseram-lhe para ir para casa e só mais tarde
foi internado.
Na véspera, o estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América (EUA), declarou
o estado de emergência por causa do aumento dos casos nos últimos dias,
principalmente na cidade de Nova Iorque. De acordo com a declaração de
emergência, o estado contava, então, 1400 casos.
Em todo o Mundo, já tinham sido detetados mais de 18 mil casos de varíola
dos macacos, com Portugal a confirmar 588 casos. Ao mesmo tempo, a Europa
continuava no “epicentro” de um surto global de varíola dos macacos, como assegurava
a representação europeia da OMS. Eram 25 países a relatar mais de 1500 casos,
na Europa – 85% do total global, segundo a OMS.
“A magnitude deste surto representa um risco real. Quanto mais tempo o
vírus circular, mais estenderá o seu alcance e mais forte será a presença da
doença em países não endémicos”, referia o diretor regional da OMS para a
Europa, Hans Kluge, apelando a que os pacientes com casos suspeitos ou
confirmados fossem isolados até que os sintomas estivessem ultrapassados.
A maioria dos casos de varíola dos macacos conhecidos foi reportada entre
homens que têm relações sexuais com homens com muitos pacientes – embora não
todos – a referir múltiplos parceiros sexuais, segundo Kluge, que apelou, no
entanto, à não-estigmatização de certas comunidades, dizendo que o vírus não
estava “ligado a um grupo específico”.
Também enfatizou que havia “quantidades limitadas de vacinas e antivirais
contra a varíola dos macacos e dados limitados sobre seu uso”.
“A vacinação em massa não é recomendada ou necessária neste momento”,
ressalvou, pedindo aos países que não usem uma abordagem individualista, em
primeiro lugar: “Peço aos governos que combatam a varíola dos macacos sem
repetir os erros da pandemia – e que mantenham a equidade no centro de tudo o
que se faz.”
Foi um apelo verbalizado um dia depois de a União Europeia (UE) anunciar a
compra de 110 mil doses da vacina contra a varíola dos macacos. Porém, a OMS
considerava o surto global de varíola dos macacos “incomum e preocupante”.
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A varíola é uma doença que é transmitida dos animais para os seres humanos,
com casos frequentemente encontrados perto de florestas tropicais onde existem
animais portadores do vírus.
Foram encontradas provas de infeção pelo vírus da mpox em animais como esquilos, ratos da Gâmbia, arganazes,
diferentes espécies de macacos e outros. Porém, já circula entre humanos.
A mpox origina sintomas como
febre, dores musculares, erupção cutânea característica extensa e, normalmente,
gânglios linfáticos inchados.
De todos os casos, 98% estão relacionados com o contacto sexual entre
homens. Porém, de acordo com a OMS, qualquer pessoa pode ser infetada através
de abraços, beijos, ou, por exemplo, em toalhas ou roupas de cama contaminadas.
Efetivamente, a doença pode propagar-se entre os seres humanos através do contacto
com fluidos corporais, com lesões na pele ou através das mucosas internas, como
a boca ou a garganta, pelas gotículas respiratórias e objetos contaminados.
A vacina da varíola pode ser usada contra a mpox nos EUA,
no Canadá, em toda a UE. E o mercado está a fabricar duas outras vacinas, mas
ainda não há estudos sobre a sua eficácia.
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O atual surto de mpox é mais preocupante do que os anteriores, porque envolve uma
nova variante do vírus, que os especialistas dizem ser a versão mais perigosa
que já se viu.
Esse agente infecioso pertence ao mesmo
grupo de vírus da varíola, embora costume ser menos prejudicial. Este vírus foi, originalmente,
transmitido de animais para humanos, mas agora também circula entre pessoas.
É mais comum em aldeias remotas nas
florestas tropicais da África, especialmente em países como a RDC. Nessas
regiões, ocorrem milhares de casos e centenas de mortes por mpox, todos os anos. As crianças com menos de 15 anos são as mais
afetadas.
Duas cepas principais do vírus circulam pelo
Mundo. A primeira, a “clado 1” é endémica na África Central. Já a “clado 1b”
abrange uma nova versão do patógeno, que é mais virulenta e está envolvida no
surto atual.
O Centro de Contro e Prevenção de
Doenças (CDC) africano afirma que foram detetadas mais de 14,5 mil infeções e
mais de 450 mortes por mpox, entre o
início de 2024 e o final de julho deste ano, o que representa um aumento de
160%, nos casos, e um incremento de 19%, nos óbitos, em comparação com o mesmo
período de 2023.
Embora 96% dos casos de mpox ocorram na RDC, a doença propagou-se para muitos países
vizinhos, como o Burundi, o Quénia, o Ruanda e o Uganda, onde normalmente não é
endémica.
Uma cepa mais branda de mpox, que pertence à “clado 2”, causou
um surto global em 2022. Disseminou-se por quase 100 países,
incluindo o Brasil e partes da Europa e da Ásia, em que normalmente o vírus não
circula. O surto foi controlado por meio da vacinação de grupos
vulneráveis.
O acesso às vacinas e aos
tratamentos contra mpox é deficiente
na RDC, pelo que as autoridades de saúde seguem preocupadas com a propagação da
doença.
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Como qualquer outra doença
contagiosa, também a mpox suscita
cuidados na prevenção, atenção aos sintomas e tratamento adequado. A saúde é um
bem a preservar. E as recomendações sanitárias sobre as infetocontagiosas não
perdem atualidade.
2024.08.14 –
Louro de Carvalho
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