quarta-feira, 14 de agosto de 2024

OMS declarou o vírus mpox como “emergência de saúde pública global”

 

Em reunião do dia 14 de agosto, o Comité de Emergência da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a mpox, por extenso, monkeypox (antes conhecida como a varíola dos macacos) declarou que a situação constitui uma emergência de saúde pública de âmbito internacional. E a OMS está no terreno a trabalhar de perto com os países afetados e ou em risco.

A declaração é considerada o mais alto nível de alerta da OMS, com base no regulamento sanitário internacional vigente. Esta é a oitava vez que a entidade decreta emergência em saúde pública de interesse internacional e a segunda conexa especificamente à mpox – entre 2022 e 2023, a doença também figurou como emergência global em meio à propagação do vírus, em diversos países.

Com efeito, foi detetada, na República Democrática do Congo (RDC), em setembro de 2023, uma nova estirpe, denominada “clade 1b”, e foram reportados, mais tarde, casos em vários países vizinhos. Segundo a OMS, esta estirpe provoca doenças mais graves do que a anterior e daí a necessidade de classificar a doença como uma emergência mundial.

Tedros Adhanom Gebreyesus, diretor-geral da OMS, anunciou que tinha desencadeado um processo de pesquisa de um fabricante de vacinas contra a varíola, ou seja, um procedimento baseado no risco para avaliar e listar vacinas, tendo em conta a tendência preocupante da propagação da doença. Aliás, a OMS está a pedir aos fabricantes de vacinas que apresentem dados que garantam que as vacinas são seguras, eficazes, de qualidade assegurada e adequadas para as populações-alvo.

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Já em 23 de julho de 2022, a OMS tinha declarado o surto de mpox como uma emergência de saúde pública de preocupação internacional. Este era o nível mais elevado de alerta, pois estavam já registados cerca de 17 mil casos, em 74 países.

A varíola dos macacos é, há décadas, endémica em várias partes de África Central e Ocidental.

Desde maio daquele ano, espalhou-se para outras partes do globo, em especial para a Europa, onde estavam, na altura, 80% dos casos registados e onde o risco de infeção subira para o nível de “elevado”, e para a América do Norte.

O anúncio da OMS surgiu um dia depois da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) ter recomendado a aprovação do alargamento da vacina Imvanex, usada no combate à varíola, para a proteção de adultos contra o vírus da varíola dos macacos, após estudos clínicos terem revelado que era eficaz e segura.

A doença viral tem vindo a propagar-se, principalmente, em homens que fazem sexo com outros homens, mas o diretor-geral da OMS frisava que “o estigma e a discriminação podem ser tão perigosos como qualquer vírus”. No entanto, a OMS, a 28 de julho de 2022, apelou à redução de parceiros sexuais entre homens para diminuir o risco de exposição à mpox.

Numa conferência, em Genebra, Tedros Adhanom Ghebreyesus pediu responsabilidade pessoal a todos e disse que o surto podia ser interrompido, “se países, comunidades e indivíduos se informarem e levarem os riscos a sério”. Ao mesmo tempo, deixou um apelo aos homens que mantêm relações sexuais com outros homens: “Para os homens que fazem sexo com homens, isso também significa reduzir o número dos parceiros sexuais e trocar informações com qualquer novo parceiro para poder contactá-los”.

Foram detetados, desde maio daquele ano e fora do continente africano, 18 mil casos de mpox. Mais de 70% das infeções foram registadas na Europa. Cinco pessoas morreram com a doença, todas em África.

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A 10 de agosto de 2022, tinham sido registados casos de mpox em mais de 80 países, mas a mortalidade associada à doença permanecia baixa. Porém, os profissionais de saúde alertavam e vêm alertando a que não se desvalorize a doença, pois trata-se de uma infeção grave, sendo importante tentar controlá-la.

Jimmy Whitworth, professor de Saúde Pública Internacional na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, explicava: “Neste surto, têm vindo a ser registados casos em crianças e isso é preocupante por duas razões. Uma delas é o facto de acreditarmos que as crianças com menos de oito anos correm um risco elevado de contrair doenças graves, se forem infetadas. A outra razão assenta no desafio que é tentar controlar o contacto próximo entre crianças. É um desafio diferente de tentar controlar o contacto entre adultos.”

Em todo o Mundo, eram já mais de 25 mil as infeções relacionadas com o surto de mpox. À data já havia, registo de, pelo menos, 10 mortos.

Embora muitos dos casos relatados sejam relativos a pessoas homossexuais, bissexuais ou homens que têm relações sexuais com outros homens, a agência da ONU para a Saúde (OMS) frisou que o risco de contrair a varíola dos macacos não se limita apenas a estes grupos. Qualquer pessoa que tenha um contacto próximo com alguém que esteja infetado está em risco. Por isso, o especialista em referência considerou: “Há a necessidade de tentar minimizar, tanto quanto possível, o estigma em torno da doença, se quisermos controlá-la. Senão, a propagação vai acontecer de forma secreta e vamos estar numa situação pior do que aquela em que nos encontramos atualmente.”

Ao mesmo tempo, instou as pessoas a quem for oferecida a vacina a tomá-la, de modo a controlar as cadeias de transmissão do vírus.

Na mesma data (30 de julho de 2022) o Ministério da Saúde de Espanha anunciara a segunda morte por varíola dos macacos. E, segundo o último balanço feito pelas autoridades, no país havia cerca de 4300 pessoas infetadas e 120 doentes internados.

A campanha de vacinação começara, na semana anterior, com um número limitado de vacinas. Os médicos davam prioridade aos grupos de risco onde foram identificadas a maioria dos casos. Eram homens que têm relações sexuais com outros homens ou com mulheres transexuais. E a campanha de vacinação também arrancou em Paris e em Londres. Na capital britânica, Harun Tulunay foi infetado e considerava que “o governo não reagiu com a rapidez suficiente”. Quando foi visto no hospital, disseram-lhe para ir para casa e só mais tarde foi internado.

Na véspera, o estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América (EUA), declarou o estado de emergência por causa do aumento dos casos nos últimos dias, principalmente na cidade de Nova Iorque. De acordo com a declaração de emergência, o estado contava, então, 1400 casos.

Em todo o Mundo, já tinham sido detetados mais de 18 mil casos de varíola dos macacos, com Portugal a confirmar 588 casos. Ao mesmo tempo, a Europa continuava no “epicentro” de um surto global de varíola dos macacos, como assegurava a representação europeia da OMS. Eram 25 países a relatar mais de 1500 casos, na Europa – 85% do total global, segundo a OMS.

“A magnitude deste surto representa um risco real. Quanto mais tempo o vírus circular, mais estenderá o seu alcance e mais forte será a presença da doença em países não endémicos”, referia o diretor regional da OMS para a Europa, Hans Kluge, apelando a que os pacientes com casos suspeitos ou confirmados fossem isolados até que os sintomas estivessem ultrapassados.

A maioria dos casos de varíola dos macacos conhecidos foi reportada entre homens que têm relações sexuais com homens com muitos pacientes – embora não todos – a referir múltiplos parceiros sexuais, segundo Kluge, que apelou, no entanto, à não-estigmatização de certas comunidades, dizendo que o vírus não estava “ligado a um grupo específico”.

Também enfatizou que havia “quantidades limitadas de vacinas e antivirais contra a varíola dos macacos e dados limitados sobre seu uso”.

“A vacinação em massa não é recomendada ou necessária neste momento”, ressalvou, pedindo aos países que não usem uma abordagem individualista, em primeiro lugar: “Peço aos governos que combatam a varíola dos macacos sem repetir os erros da pandemia – e que mantenham a equidade no centro de tudo o que se faz.”

Foi um apelo verbalizado um dia depois de a União Europeia (UE) anunciar a compra de 110 mil doses da vacina contra a varíola dos macacos. Porém, a OMS considerava o surto global de varíola dos macacos “incomum e preocupante”.

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A varíola é uma doença que é transmitida dos animais para os seres humanos, com casos frequentemente encontrados perto de florestas tropicais onde existem animais portadores do vírus.

Foram encontradas provas de infeção pelo vírus da mpox em animais como esquilos, ratos da Gâmbia, arganazes, diferentes espécies de macacos e outros. Porém, já circula entre humanos.

A mpox origina sintomas como febre, dores musculares, erupção cutânea característica extensa e, normalmente, gânglios linfáticos inchados.

De todos os casos, 98% estão relacionados com o contacto sexual entre homens. Porém, de acordo com a OMS, qualquer pessoa pode ser infetada através de abraços, beijos, ou, por exemplo, em toalhas ou roupas de cama contaminadas. Efetivamente, a doença pode propagar-se entre os seres humanos através do contacto com fluidos corporais, com lesões na pele ou através das mucosas internas, como a boca ou a garganta, pelas gotículas respiratórias e objetos contaminados.

A vacina da varíola pode ser usada contra a mpox nos EUA, no Canadá, em toda a UE. E o mercado está a fabricar duas outras vacinas, mas ainda não há estudos sobre a sua eficácia.

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O atual surto de mpox é mais preocupante do que os anteriores, porque envolve uma nova variante do vírus, que os especialistas dizem ser a versão mais perigosa que já se viu.

Esse agente infecioso pertence ao mesmo grupo de vírus da varíola, embora costume ser menos prejudicial. Este vírus foi, originalmente, transmitido de animais para humanos, mas agora também circula entre pessoas. É mais comum em aldeias remotas nas florestas tropicais da África, especialmente em países como a RDC. Nessas regiões, ocorrem milhares de casos e centenas de mortes por mpox, todos os anos. As crianças com menos de 15 anos são as mais afetadas.

Duas cepas principais do vírus circulam pelo Mundo. A primeira, a “clado 1” é endémica na África Central. Já a “clado 1b” abrange uma nova versão do patógeno, que é mais virulenta e está envolvida no surto atual.

O Centro de Contro e Prevenção de Doenças (CDC) africano afirma que foram detetadas mais de 14,5 mil infeções e mais de 450 mortes por mpox, entre o início de 2024 e o final de julho deste ano, o que representa um aumento de 160%, nos casos, e um incremento de 19%, nos óbitos, em comparação com o mesmo período de 2023.

Embora 96% dos casos de mpox ocorram na RDC, a doença propagou-se para muitos países vizinhos, como o Burundi, o Quénia, o Ruanda e o Uganda, onde normalmente não é endémica.

Uma cepa mais branda de mpox, que pertence à “clado 2”, causou um surto global em 2022. Disseminou-se por quase 100 países, incluindo o Brasil e partes da Europa e da Ásia, em que normalmente o vírus não circula. O surto foi controlado por meio da vacinação de grupos vulneráveis.

O acesso às vacinas e aos tratamentos contra mpox é deficiente na RDC, pelo que as autoridades de saúde seguem preocupadas com a propagação da doença.

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Como qualquer outra doença contagiosa, também a mpox suscita cuidados na prevenção, atenção aos sintomas e tratamento adequado. A saúde é um bem a preservar. E as recomendações sanitárias sobre as infetocontagiosas não perdem atualidade.  

2024.08.14 – Louro de Carvalho

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