Os quatro homens – Abdul Elah Al Boni, Muhammad Bashir,
Ibrahim Juail e Hassan Thabet – tinham sido capturados em maio de 2023, quando
indivíduos armados e mascarados das autoridades Houthi do Iémen detiveram 17
Bahá’ís inocentes em violenta rusga a uma casa particular, onde estavam
reunidos para uma atividade comunitária pacífica.
Acabaram por
ser libertados, depois de terem enfrentado pressões fortes, mas sem sucesso,
para renunciarem à fé, através da participação forçada em “cursos culturais”
conduzidos por agentes Houthi, que equivalem a tentativas de doutrinação
forçada.
“A Comunidade Internacional Bahá’í congratula-se com a
libertação destes quatro Bahá’ís iemenitas”, afirmou Saba Haddad, representante
da Comunidade Internacional Bahá’í (BIC) junto das Nações Unidas, em Genebra,
citado num comunicado de imprensa, considerando: “Estamos aliviados com o facto
de este episódio sombrio, injusto e absurdo ter finalmente terminado. Porém,
estes 17 Bahá’ís nunca deveriam ter sido detidos. O grupo tinha-se reunido numa
casa privada para uma atividade comunitária pacífica: um direito humano
fundamental protegido pelo direito internacional e pela liberdade de religião
ou crença.”
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A Fé Bahá’í, também chamada bahaísmo, é uma religião abraâmica monoteísta que preconiza
a união espiritual da Humanidade. São a base do seu ensinamento três
princípios básicos: a unidade de Deus (há só um Deus que é a fonte de toda
a criação; a unidade da religião (todas as maiores religiões têm a mesma
fonte espiritual e o mesmo Deus); e a unidade da Humanidade (todos os
seres humanos foram criados igualmente; e a diversidade racial e cultural deve
ser apreciada e aceite). Segundo os ensinamentos da Fé Bahá’i, o propósito
humano é aprender a conhecer e a amar a Deus, através de métodos, como
orações, reflexões e ajuda aos outros.
O termo Bahá’í é usado tanto como um adjetivo para se
referir à Fé Bahá’í como nome para se referir aos seguidores de Bahá’u’lláh. A
palavra não significa a religião como um todo. É derivada do árabe
Bahá’, que significa “glória” ou “esplendor”.
A Fé Bahá’i foi fundada, na Pérsia, por Bahá’u’lláh, que foi exilado da Pérsia para o Império
Otomano, devido ao seu ensinamento, falecendo enquanto era prisioneiro.
Após a sua morte, sob a liderança do filho, `Abdu’l-Bahá, a religião expandiu-se
das suas raízes persa e otomana e ganhou espaço na Europa e nas Américas, além
de se ter consolidado no Irão, onde sofre intensa perseguição. Após a
morte de `Abdu’l-Bahá, a liderança da comunidade entrou em nova fase, passando
do líder único para uma ordem administrativa com órgãos eleitos e indivíduos
indicados. Há mais de cinco milhões de Bahá'ís espalhados por mais de 200
países e territórios.
Na Fé Bahá’í, a História religiosa da Humanidade é
vista como manifestada por uma série de mensageiros divinos, cada um dos quais
instituiu a religião adequada às necessidades do seu tempo e à capacidade dos
coevos (por exemplo, Moisés, Jesus, Maomé, figuras abraâmicas; e os dármicos Krishna
e Buda). Para os Bahá’is, os mensageiros mais recentes são o Báb e Bahá’u’lláh. Segundo os ensinamentos bahá’ís, cada mensageiro
profetizou sobre os próximos e a vida e o ensinamento de Bahá’u’lláh completou
as promessas escatológicas das escrituras anteriores. Entende-se que
a Humanidade faz parte de um processo de evolução coletiva e que a necessidade
do tempo atual é o estabelecimento de paz, de justiça e de unidade, à escala
global.
A BIC é uma organização não-governamental criada,
em 1948, para representar os Bahá’ís junto da Organização
das Nações Unidas (ONU). Funciona sob a direção da Casa Universal da
Justiça, tem representações em mais de 180 países e territórios e possui
estatuto consultivo junto dos seguintes organismos: Conselho Económico e Social
(ECOSOC); Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF); Organização Mundial
da Saúde (OMS); Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (UNIFEM);
e Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente (PNUMA). Possui escritórios
na ONU, em Nova Iorque em Genebra, representações nas comissões regionais
da ONU e outros escritórios em Adis Abeba, em Banguecoque, em Roma, em
Nairobi, em Santiago (do Chile) e em Viena.
Tem desenvolvido atividades conexas com a construção
da paz, com os direitos humanos, com os direitos das mulheres, com a educação, com
a saúde e com o desenvolvimento sustentável. E, porque o ensinamento de Bahá’u’lláh
vinca a necessidade de um sistema de governação mundial, muitos Bahá’ís
colaboram nos esforços para melhorar as relações entre países e povos junto de
organizações como a Liga das Nações e a ONU.
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A rusga de maio de 2023 suscitou repetidos apelos da
comunidade internacional para a libertação dos Bahá’ís detidos. Em agosto de
2023, seis membros do Conselho de Segurança da ONU Nações Unidas deploraram as
detenções e, em maio deste ano, poderosa coligação de relatores especiais da
ONU, de parlamentares europeus, de embaixadores, de organizações internacionais
de direitos humanos e de um laureado com o Prémio Nobel abordou o assunto em
conjunto com a campanha online #FreeYemeniBahais.
E 13 dos 17 indivíduos detidos foram libertados nos últimos 15 meses, tendo o
último desses, Abdullah Al-Olofi, sido libertado em junho de 2024.
Vários líderes tribais e figuras religiosas iemenitas
desempenharam também papel importante na libertação dos detidos bahá’ís. Apesar
de todos os esforços em curso, a Comunidade Bahá’í nas zonas controladas pelos
Houthi, no Iémen, continua a ser perseguida e os seus membros estão privados da
liberdade de realizar reuniões ou de praticar a sua fé.
“Os Houthis
no Iémen têm de respeitar os direitos de todas as minorias, incluindo os grupos
religiosos, de se reunirem, de prestarem culto e de servirem a sociedade como
desejarem”, referiu Haddad. “E nunca mais devem deter ninguém, devido a
preconceitos religiosos ou por outras razões sem fundamento. As autoridades
houthis devem também libertar todos os outros prisioneiros inocentes que
detiveram arbitrariamente. Se as autoridades houthis querem receber respeito
internacional, então elas próprias devem respeitar e reconhecer os direitos
humanos básicos de todos os cidadãos iemenitas”, concluiu.
Perseguição resulta de ditadura ou de democracia enviesada.
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Não é só no Iémen que se regista este fenómeno persecutório.
Também no Irão, é perseguida a Comunidade
Bahá’í, com especial incidência nas mulheres, sobretudo, desde, a
manifestação de apoio às mulheres iranianas, em 2022. Assim, detenções, convocatórias,
julgamentos, penas de prisão, buscas domiciliárias, arrestos de bens,
destruição de cemitérios, recusa de enterros, encerramento de empresas ou
impedimento de acesso à educação são exemplos da repressão à comunidade. Mais
de três quartos dos Bahá’ís chamados a tribunal ou enviados para a prisão,
desde o início de, março são mulheres.
“Os recentes
ataques contra as mulheres bahá’ís mostram verdadeiramente a mensagem de que a
nossa história é uma só, como mulher no Irão, quer se seja bahá’í, muçulmana,
cristã, judia, zoroastriana, de qualquer fé ou de nenhuma fé”, referiu Simin
Fahandej, representante da BIC na ONU. “O governo iraniano prende-a, expulsa-a
da universidade, põe termo ao seu emprego e persegue-a por defender a sua
aspiração a viver uma vida plena como seres humanos iguais, trabalhando, em
conjunto e lado a lado, com os outros, independentemente do sexo, da origem e
da fé, para tornar o seu país melhor para todos”, explicitou.
Dezenas de
mulheres foram convocadas para o tribunal, com acusações criminais sem
fundamento e condenações de anos de prisão, separando-as das famílias e
colocando-as diante da “crueldade e violência do sistema judicial iraniano”.
Dois terços dos presos bahá’ís do Irão são mulheres. No vasto contexto da
perseguição das mulheres e dos desafios à igualdade de género no país, este
“aumento dramático” da perseguição contra as mulheres bahá’ís constitui uma
“escala alarmante” que afeta um grupo de pessoas que enfrenta uma perseguição
interseccional: enquanto mulheres e enquanto bahá’ís, a maior minoria religiosa
não muçulmana do Irão, que tem sido sistematicamente perseguida desde a
Revolução Islâmica de 1979.
Esta perseguição cresceu
50%, a cada ano, desde 2021.
Os deliberados atrasos na prestação de cuidados médicos, o restrito
acesso a água quente e a negação de informações sobre os motivos das detenções
ou sobre as acusações de que são alvo, evidenciam a escalada alarmante das
novas e duras táticas do governo contra a Comunidade Bahá’í. Os agentes do
Ministério dos Serviços Secretos empenharam-se numa campanha orquestrada de
coação e de intimidação dos vizinhos de alguns dos Bahá’ís, para obterem
declarações forçadas de queixa contra as mulheres bahá’ís detidas.
Enquanto prossegue a campanha ‘A nossa História é uma só’,
que assinalou a execução de 10 mulheres bahá’í, há 40 anos, bem como das
mulheres que se a sacrificam pela igualdade entre os sexos, o governo insiste
no esforço antigo e fracassado de criar divisões entre os cidadãos, através de
uma perseguição crescente de discursos de ódio e de perseguição das mulheres. As
suas ações provam que a história das 10 mulheres bahá’í é a de todas as
mulheres iranianas de hoje, e o seu fracasso em criar tais divisões, como visto
através do apoio à campanha, mostra que nenhuma quantidade de discurso de ódio
e discriminação pode destruir o mais profundo anseio do coração humano pela
unidade e para trabalhar em conjunto com os outros, em igualdade, pela justiça.
No início do
ano, a BIC apresentou um relatório à Missão de Averiguação da ONU, mandatada
para investigar as violações dos direitos humanos no Irão, desde setembro de
2022, em que detalha o impacto destes acontecimentos na Comunidade Bahá’í no
Irão, particularmente nas mulheres bahá’í. Por sua vez, a Human Rights Watch
lançou novo relatório que inclui a determinação legal que postula que o
tratamento do governo iraniano aos Bahá’ís equivalia ao “crime contra a
Humanidade de perseguição” e recomenda que a Missão de Averiguação da ONU
concentrasse parte das investigações em curso no “aumento do número de mulheres
bahá’í visadas”.
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Como noutros anos, o verão foi
utilizado pelos jovens bahá’ís como oportunidade para dedicarem tempo ao
serviço dos outros. A Caravana de Serviço, projeto que reúne jovens de diversas
localidades para atividades de serviço comunitário de Norte a Sul de Portugal,
começou, no final de junho, com o evento Reconecta, em Monchique, a que se
seguiu, em julho, em Palmela, o acampamento nacional.
Entre caminhadas na serra e workshops, os participantes debruçaram-se sobre o potencial
dos jovens para “mover o Mundo”, e como canalizar a energia vital desta etapa
da vida para a melhoria do Mundo, “através de ações puras e boas e uma conduta
louvável e digna”.
Não faltaram artes, diversão,
momentos devocionais e atos de serviço. Os jovens partilharam canções e
momentos artísticos com os idosos e ouviram-nos, em Monchique, tal como aprenderam
sobre amizade entre o dono e os seus animais (num santuário de burros), e
fizeram uma caminhada com eles. E, a finalizar o acampamento, em Palmela, os
jovens organizaram o “festival das famílias”, ao qual os pais dos participantes,
bem como famílias locais se puderam juntar, num piquenique cheio de alegria, de
música, de jogos e de outras atividades.
A Caravana de Serviço continuou, depois,
por Viana do Castelo, Braga, Aveiro, Palmela, Setúbal, Lisboa, Portimão e
Madeira, proporcionando aos jovens o ensejo de desenvolverem as suas
capacidades para o serviço, e às comunidades o benefício da sua energia,
resultando, tipicamente, em novas atividades regulares de empoderamento
espiritual para todas as idades. Porque “todos devem levantar-se, mas os jovens
devem voar”.
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Seja qual for a religião ou a ideologia, quem faz o bem e
luta por valores não pode ser perseguido. Antes, deve ser respeitado e apoiado,
quer pela sociedade civil, quer pelos decisores políticos.
2024.08.25
– Louro de Carvalho
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