Nos primeiros seis meses de 2024, as empresas
cotadas na Bolsa de Lisboa bateram, novamente, recordes. É o terceiro ano
consecutivo de lucros recorde para as grandes empresas nacionais. Simultaneamente,
os cinco maiores bancos em Portugal alcançaram mais lucro até junho do que no
total de 2022 – 31% acima do valor do mesmo período de 2023.
A EDP Renováveis e a Altri mais do que duplicaram
os seus lucros, enquanto a EDP e a Galp lideram como as empresas que mais
lucram em Portugal. A Bolsa nacional (índice PSI20 – Portuguese
Stock Index 20) acumula ganhos de 8%. Isto, segundo os dados já divulgados, apesar de
haver empresas cotadas, como a Mota-Engil ou a Ibersol, que ainda não
apresentaram resultados, pois só os apresentarão a 28 de agosto e a 13 de
setembro, respetivamente. Por isso, os dados em referência ainda são provisórios.
No total, as empresas que já apresentaram
números atingiram um resultado líquido conjunto de 3015 milhões de euros (€3015
milhões), entre janeiro e junho, o que representa uma subida de 27,5% (mais €651
milhões), face ao período homólogo. Assim, as 13 empresas cotadas na Bolsa de
Lisboa lucraram quase €17 milhões, por dia, entre janeiro e junho. Oito empresas
cotadas aumentaram os lucros, face ao período homólogo e, em dois casos (EDP Renováveis
e Altri), o lucro mais do que duplicou. As demais viram cair o seu lucro, mas
com impacto insuficiente para contrair o resultado global.
Entre as empresas que aumentam os seus
lucros, estão a Navigator, a NOS, a Semapa e a Sonae. Entre as cinco empresas
com mais lucros absolutos, três delas estão concentradas na indústria
energética: a EDP, a Galp (esta foi a que mais surpreendeu os analistas: os
seus ficaram 35% acima do previsto) e a EDP Renováveis.
A Galp conseguiu lucrar mais 23%, estabilizar
as receitas e o EBITDA (resultado antes de juros, de impostos, de depreciações
e de amortizações) e diminuir a dívida em 15%. Já a Jerónimo Martins e os CTT surpreenderam
pela negativa. A dona do Pingo Doce, que foi
a quarta empresa que mais lucrou, apesar da descida de 100 milhões de um ano
para o outro (lucrou €253 milhões – reduziu 29%, face ao período homólogo),
deve manter forte pressão sobre as margens de lucro. Falhou as expectativas de resultado
líquido (por 12%), no segundo trimestre, devido às margens da Biedronka, a sua
unidade polaca. E Os CTT apresentaram um aumento de custos que redundaram numa queda
substancial de lucro (queda de 24%), para os €19,8 milhões.
Das telecomunicações, apenas a NOS aparece na lista e foi
das que mais cresceu do ano passado para este ano.
As papeleiras tiveram os números reforçados, graças
à evolução do preço do papel nos mercados internacionais.
Além da Jerónimo Martins, a REN, a Corticeira
Amorim e os CTT tiveram margens mais curtas. Só a EDP e a EDP renováveis juntas
lucraram €972 milhões, um terço dos lucros totais.
Apesar
do valor global ser um recorde, houve cinco
empresas com lucros mais baixos do que no ano passado.
Neste semestre, as empresas
cotadas na Bolsa de Lisboa aumentaram as receitas para um total de 44 milhões
de euros (+3,2%), destacando-se a Altri, a Navigator, a Jerónimo Martins e a Sonae.
Enfim, os lucros subiram
globalmente, mas a dívida também. Todas as
empresas juntas endividaram-se em mais 19% para um total
de €37 mil milhões. Além disso, houve uma deterioração da alavancagem, porque o
rácio que mede a relação entre a dívida líquida anual e o EBITDA subiu para 2,4
vezes, face a 1,9 vezes no final de 2023. Em 2011, este indicador subiu para
cerca das quatro vezes.
***
Por seu turno, os bancos portugueses também
continuam a bater recordes. Os cinco maiores bancos em Portugal – a Caixa Geral
de Depósitos (CGD), o Banco Comercial Português (BCP), o Santander, o Novo
Banco (NB) e o Banco Português de Investimento (BPI) – lucraram tanto, em conjunto,
nos primeiros seis meses de 2024, como na totalidade do ano de 2022,
apresentando um lucro global de 2,6 mil milhões de euros, 31% acima do mesmo
período em 2023.
Para o aumento exponencial destes
lucros, ajudou a subida dos juros protagonizada pelo Banco Central
Europeu (BCE), liderado por Christine Lagarde. Os juros dos créditos já passaram
o seu pico, mas ainda influenciaram as contas no arranque do corrente ano. E,
apesar do abrandamento previsto para o segundo semestre, com a descida dos juros,
os banqueiros não excluem a ultrapassagem das contas de 2023, no período homólogo,
que somaram um lucro de 4,4 mil milhões de euros.
A CGD liderou a arrecadação de lucros
com €889 milhões, um aumento de 46,2%, face ao período homólogo, seguida do
Santander (€548 milhões, mais 64%) e do BCP (€485,3 milhões, mais 14,7%). Estes
três bancos apresentam valores inéditos para um primeiro semestre, somando,
sozinhos, €1,9 mil milhões. Seguem-se o NB (€370 milhões, menos 1%) e o BPI
(€327 milhões, mais 28%), que já atingiram resultados mais elevados em anos
anteriores.
O banco público conseguiu a entrega
adicional de dividendos ao acionista Estado, acrescentando €300 milhões aos
€525 milhões já decididos.
A perspetiva é que a margem dos bancos comece a
baixar, à medida que as taxas desçam. Paulo Macedo, CEO (presidente
da Comissão Executiva) da CGD, alertou, na apresentação de contas, que, para os lucros continuarem a aumentar, é preciso não haver “atuação extraordinária”, uma alusão ao corte dos juros, o que também pensam os
líderes do Santander e do BCP.
No semestre em causa, a banca, além de juros,
beneficiou de menor esforço de aprovisionamento, colocando menos dinheiro de lado
para futuras eventualidades.
Os banqueiros sustentam que a rendibilidade
é bom sinal, por contribuir para a liquidez de capital e por permitir a atribuição
de mais crédito. Porém, a observância dos critérios conservadores na concessão impede
que os créditos fiquem longe dos depósitos guardados.
Por outro lado, o aumento das taxas de
juro tem sido criticado pelos partidos mais à esquerda, por dificultar o acesso
à habitação e aumentar o custo de vida, dificultando a vida a quem trabalha e pondo
em prática a transferência de riqueza das famílias para a banca.
É de lembrar que estes resultados foram
conhecidos na semana em que o Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) admitiu
que as trocas de informação, sobre spreads
em créditos, entre os grandes grupos bancários, de 2002 a 2013, em Portugal,
podem configurar uma infração à luz da concorrência, no sentido de cartel da
banca. A sentença será conhecida a 20 de setembro, da parte do Tribunal da Concorrência.
Porém, os CEO da CGD, do BCP e do BPI negam tal cartel, contrariando a decisão
da Autoridade da Concorrência a condenar 14 bancos ao pagamento de €225 milhões,
em 2019. E o TJUE confirmou, a 29 de julho, as multas e rejeitou os recursos.
***
A CGD, ainda este ano, pagará ao Estado
€1248 milhões, entre dividendos e imposto sobre o rendimento de pessoas
coletivas (IRC), em relação a 2023. Paulo Macedo referiu que, neste ano, serão distribuídos
€825 milhões de dividendos, reembolsando integralmente a recapitalização pública
em dinheiro, realizada em 2017. Quanto ao IRC, o CEO da CGD explicou que, “numa
base de caixa”, será de €840 milhões, referindo-se aos exercícios de 2023 e de
2024, num total de €1665 milhões.
Além disso, a margem financeira do banco
(diferença entre juro pago em depósitos e juro cobrado em créditos) subiu 8,4%,
para €1426 milhões. E, no final de junho, a CGD contava com 6247 trabalhadores
em 512 agências, mantendo o número de balcões, mas com mais quatro funcionários
no fim de dezembro.
Aplaudiria a administração da CGD, se a evolução
de resultados fosse proveniente, sobretudo, da recuperação dos dinheiros dispersos
por grandes devedores de modo pouco rigoroso, ao invés do espartilho criado, usualmente,
a pequenos e médios clientes, quando precisam da Caixa.
O CEO conta o número de balcões e de trabalhadores,
mas esquece a “reestruturação” que impôs, com encerramento de balcões e com
dispensa de trabalhadores (por vários processos, incluindo rescisão por mútuo
acordo, reforma antecipada, etc.). Por outro lado, dificulta a movimentação de
conta a clientes débeis (pobres, idosos, etc.), por exemplo, por abolição de caderneta
e por incentivo à caixa direta. As populações continuam longe do multibanco e
clientes de parcos recursos pagam taxas de manutenção de conta, sobretudo, se
já forem incapazes de assinar alterações contratuais. Ora, o banco do Estado, que
tem enorme rol quase obrigatório de clientes, devia investir no apoio às
populações e conter-se nos lucros. É obsceno o lucro à custa dos pobres!
2024.08.02 –
Louro de Carvalho
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