sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Lucros das grandes empresas e da banca batem novos recordes

 

Nos primeiros seis meses de 2024, as empresas cotadas na Bolsa de Lisboa bateram, novamente, recordes. É o terceiro ano consecutivo de lucros recorde para as grandes empresas nacionais. Simultaneamente, os cinco maiores bancos em Portugal alcançaram mais lucro até junho do que no total de 2022 – 31% acima do valor do mesmo período de 2023.

A EDP Renováveis e a Altri mais do que duplicaram os seus lucros, enquanto a EDP e a Galp lideram como as empresas que mais lucram em Portugal. A Bolsa nacional (índice PSI20 – Portuguese Stock Index 20) acumula ganhos de 8%. Isto, segundo os dados já divulgados, apesar de haver empresas cotadas, como a Mota-Engil ou a Ibersol, que ainda não apresentaram resultados, pois só os apresentarão a 28 de agosto e a 13 de setembro, respetivamente. Por isso, os dados em referência ainda são provisórios.

No total, as empresas que já apresentaram números atingiram um resultado líquido conjunto de 3015 milhões de euros (€3015 milhões), entre janeiro e junho, o que representa uma subida de 27,5% (mais €651 milhões), face ao período homólogo. Assim, as 13 empresas cotadas na Bolsa de Lisboa lucraram quase €17 milhões, por dia, entre janeiro e junho. Oito empresas cotadas aumentaram os lucros, face ao período homólogo e, em dois casos (EDP Renováveis e Altri), o lucro mais do que duplicou. As demais viram cair o seu lucro, mas com impacto insuficiente para contrair o resultado global.  

Entre as empresas que aumentam os seus lucros, estão a Navigator, a NOS, a Semapa e a Sonae. Entre as cinco empresas com mais lucros absolutos, três delas estão concentradas na indústria energética: a EDP, a Galp (esta foi a que mais surpreendeu os analistas: os seus ficaram 35% acima do previsto) e a EDP Renováveis.

A Galp conseguiu lucrar mais 23%, estabilizar as receitas e o EBITDA (resultado antes de juros, de impostos, de depreciações e de amortizações) e diminuir a dívida em 15%. Já a Jerónimo Martins e os CTT surpreenderam pela negativa. dona do Pingo Doce, que foi a quarta empresa que mais lucrou, apesar da descida de 100 milhões de um ano para o outro (lucrou €253 milhões – reduziu 29%, face ao período homólogo), deve manter forte pressão sobre as margens de lucro. Falhou as expectativas de resultado líquido (por 12%), no segundo trimestre, devido às margens da Biedronka, a sua unidade polaca. E Os CTT apresentaram um aumento de custos que redundaram numa queda substancial de lucro (queda de 24%), para os €19,8 milhões.  

Das telecomunicações, apenas a NOS aparece na lista e foi das que mais cresceu do ano passado para este ano.

As papeleiras tiveram os números reforçados, graças à evolução do preço do papel nos mercados internacionais.  

Além da Jerónimo Martins, a REN, a Corticeira Amorim e os CTT tiveram margens mais curtas. Só a EDP e a EDP renováveis juntas lucraram €972 milhões, um terço dos lucros totais.

Apesar do valor global ser um recorde, houve cinco empresas com lucros mais baixos do que no ano passado.

Neste semestre, as empresas cotadas na Bolsa de Lisboa aumentaram as receitas para um total de 44 milhões de euros (+3,2%), destacando-se a Altri, a Navigator, a Jerónimo Martins e a Sonae.

Enfim, os lucros subiram globalmente, mas a dívida também. Todas as empresas juntas endividaram-se em mais 19% para um total de €37 mil milhões. Além disso, houve uma deterioração da alavancagem, porque o rácio que mede a relação entre a dívida líquida anual e o EBITDA subiu para 2,4 vezes, face a 1,9 vezes no final de 2023. Em 2011, este indicador subiu para cerca das quatro vezes.    

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Por seu turno, os bancos portugueses também continuam a bater recordes. Os cinco maiores bancos em Portugal – a Caixa Geral de Depósitos (CGD), o Banco Comercial Português (BCP), o Santander, o Novo Banco (NB) e o Banco Português de Investimento (BPI) – lucraram tanto, em conjunto, nos primeiros seis meses de 2024, como na totalidade do ano de 2022, apresentando um lucro global de 2,6 mil milhões de euros, 31% acima do mesmo período em 2023.

Para o aumento exponencial destes lucros, ajudou a subida dos juros protagonizada pelo Banco Central Europeu (BCE), liderado por Christine Lagarde. Os juros dos créditos já passaram o seu pico, mas ainda influenciaram as contas no arranque do corrente ano. E, apesar do abrandamento previsto para o segundo semestre, com a descida dos juros, os banqueiros não excluem a ultrapassagem das contas de 2023, no período homólogo, que somaram um lucro de 4,4 mil milhões de euros.

A CGD liderou a arrecadação de lucros com €889 milhões, um aumento de 46,2%, face ao período homólogo, seguida do Santander (€548 milhões, mais 64%) e do BCP (€485,3 milhões, mais 14,7%). Estes três bancos apresentam valores inéditos para um primeiro semestre, somando, sozinhos, €1,9 mil milhões. Seguem-se o NB (€370 milhões, menos 1%) e o BPI (€327 milhões, mais 28%), que já atingiram resultados mais elevados em anos anteriores.

O banco público conseguiu a entrega adicional de dividendos ao acionista Estado, acrescentando €300 milhões aos €525 milhões já decididos.

A perspetiva é que a margem dos bancos comece a baixar, à medida que as taxas desçam. Paulo Macedo, CEO (presidente da Comissão Executiva) da CGD, alertou, na apresentação de contas, que, para os lucros continuarem a aumentar, é preciso não haver “atuação extraordinária”, uma alusão ao corte dos juros, o que também pensam os líderes do Santander e do BCP.

No semestre em causa, a banca, além de juros, beneficiou de menor esforço de aprovisionamento, colocando menos dinheiro de lado para futuras eventualidades.  

Os banqueiros sustentam que a rendibilidade é bom sinal, por contribuir para a liquidez de capital e por permitir a atribuição de mais crédito. Porém, a observância dos critérios conservadores na concessão impede que os créditos fiquem longe dos depósitos guardados.

Por outro lado, o aumento das taxas de juro tem sido criticado pelos partidos mais à esquerda, por dificultar o acesso à habitação e aumentar o custo de vida, dificultando a vida a quem trabalha e pondo em prática a transferência de riqueza das famílias para a banca.

É de lembrar que estes resultados foram conhecidos na semana em que o Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) admitiu que as trocas de informação, sobre spreads em créditos, entre os grandes grupos bancários, de 2002 a 2013, em Portugal, podem configurar uma infração à luz da concorrência, no sentido de cartel da banca. A sentença será conhecida a 20 de setembro, da parte do Tribunal da Concorrência. Porém, os CEO da CGD, do BCP e do BPI negam tal cartel, contrariando a decisão da Autoridade da Concorrência a condenar 14 bancos ao pagamento de €225 milhões, em 2019. E o TJUE confirmou, a 29 de julho, as multas e rejeitou os recursos.      

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A CGD, ainda este ano, pagará ao Estado €1248 milhões, entre dividendos e imposto sobre o rendimento de pessoas coletivas (IRC), em relação a 2023. Paulo Macedo referiu que, neste ano, serão distribuídos €825 milhões de dividendos, reembolsando integralmente a recapitalização pública em dinheiro, realizada em 2017. Quanto ao IRC, o CEO da CGD explicou que, “numa base de caixa”, será de €840 milhões, referindo-se aos exercícios de 2023 e de 2024, num total de €1665 milhões.

Além disso, a margem financeira do banco (diferença entre juro pago em depósitos e juro cobrado em créditos) subiu 8,4%, para €1426 milhões. E, no final de junho, a CGD contava com 6247 trabalhadores em 512 agências, mantendo o número de balcões, mas com mais quatro funcionários no fim de dezembro.

Aplaudiria a administração da CGD, se a evolução de resultados fosse proveniente, sobretudo, da recuperação dos dinheiros dispersos por grandes devedores de modo pouco rigoroso, ao invés do espartilho criado, usualmente, a pequenos e médios clientes, quando precisam da Caixa.

O CEO conta o número de balcões e de trabalhadores, mas esquece a “reestruturação” que impôs, com encerramento de balcões e com dispensa de trabalhadores (por vários processos, incluindo rescisão por mútuo acordo, reforma antecipada, etc.). Por outro lado, dificulta a movimentação de conta a clientes débeis (pobres, idosos, etc.), por exemplo, por abolição de caderneta e por incentivo à caixa direta. As populações continuam longe do multibanco e clientes de parcos recursos pagam taxas de manutenção de conta, sobretudo, se já forem incapazes de assinar alterações contratuais. Ora, o banco do Estado, que tem enorme rol quase obrigatório de clientes, devia investir no apoio às populações e conter-se nos lucros. É obsceno o lucro à custa dos pobres!

2024.08.02 – Louro de Carvalho

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