O endividamento
da economia nacional, no atinente ao setor não financeiro – famílias, empresas
e Estado – agravou-se, no primeiro semestre deste ano, em 15,6 mil milhões de
euros, para 811,3 mil milhões de euros, de acordo com a nota estatística do
Banco de Portugal (BdP), relativa a junho e divulgada a 23 de agosto.
Porém, o endividamento
da economia recua em percentagem do produto interno bruto (PIB). Com efeito,
segundo o BdP, no primeiro semestre, apesar do aumento nominal, o endividamento
do setor não financeiro em percentagem do PIB decresceu de 299,7% para 296,1%
do PIB.
É de realçar
que o endividamento do setor não financeiro permite medir as responsabilidades
financeiras das entidades do setor não financeiro, perante todos os setores da
economia e perante o exterior, sob a forma de empréstimos, de títulos de dívida
e de créditos comerciais.
***
No final do primeiro semestre, o
endividamento do setor não financeiro aumentou 15,6 mil milhões de euros, para
811,3 mil milhões de euros. Deste total, 444,4 mil milhões de euros respeitavam
ao setor privado (empresas privadas e particulares) e 366,9 mil milhões de
euros ao setor público (administrações públicas e empresas públicas).
O endividamento do setor público subiu 13,7 mil milhões de euros. Este acréscimo verificou-se, sobretudo, junto do resto do Mundo (14,1 mil milhões de euros), sobretudo, pelo investimento do resto do Mundo em títulos de dívida emitidos pelas administrações públicas (13,5 mil milhões de euros, dos quais nove mil milhões de euros em títulos de longo prazo).
O endividamento do setor privado aumentou 1,9 mil milhões de euros. O dos particulares (famílias) cresceu 1,9 mil milhões de euros, essencialmente, junto do setor financeiro (1,4 mil milhões de euros). Porém, o das empresas privadas praticamente não se alterou, pois o aumento registado junto do setor financeiro (2,1 mil milhões de euros) foi compensado por reduções nos restantes setores, em particular, junto das empresas não financeiras.
No entanto, apesar do seu aumento
nominal, o endividamento do setor não financeiro decresceu de 299,7% para
296,1% do PIB, devido ao maior dinamismo do indicador. A descida decompôs-se na
redução do endividamento do setor privado, de 166,7% para 162,2%, parcialmente
compensada pelo aumento de 0,9 pontos percentuais do PIB no endividamento do
setor público.
No quadro das taxas de variação anual,
é de referir que, em junho, a taxa de variação anual do endividamento das
empresas se situou em 2,8%, a mesma que se registou em maio. E o endividamento
dos particulares (famílias) cresceu 1,2%, valor superior ao de maio (0,9%).
Em ambos os setores, a taxa de
variação anual do endividamento tem observado uma tendência de crescimento,
desde o final de 2023.
No primeiro
semestre, o financiamento das administrações públicas foi de seis mil milhões
de euros, valor que compara com -6,6 mil milhões de euros registados em igual
período de 2023.
O
financiamento concedido às administrações públicas pelo exterior foi de oito
mil milhões de euros, maioritariamente através de títulos de dívida. Em
contrapartida, as administrações públicas financiaram os bancos em 1,8 mil
milhões de euros, principalmente, através do aumento de depósitos. E a
análise por instrumento (títulos empréstimos) mostra que o financiamento
através de emissões líquidas de títulos correspondeu a 9,3 mil milhões de euros
e que o financiamento das administrações públicas por intermédio de empréstimos
deduzidos de depósitos foi de -3,3 mil milhões de euros.
***
No quadro da balança de pagamentos, é de relevar que, no primeiro semestre, a nossa economia apresentou
um excedente externo de 4,1 mil milhões de euros, que compara com o excedente
de 2,1 mil milhões de euros no período homólogo.
O excedente
das balanças corrente e de capital no primeiro semestre de 2024 representa 3,0%
do PIB. O saldo das balanças corrente e de capital foi de 1391 milhões de
euros, o que corresponde à diminuição de 248 milhões de euros, relativamente ao
mesmo mês de 2023.
Abalança de bens e serviços apresentou um saldo de 909 milhões de euros, valor que traduz o aumento de 246 milhões de euros, em relação ao mês homólogo, em resultado da redução, de 140 milhões de euros, do défice da balança de bens, para 1772 milhões de euros – esta evolução deveu-se ao decréscimo mais expressivo das importações de bens, de 452 milhões de euros (- 5,3%), do que das exportações de bens, de 311 milhões de euros (-4,7%) –; e do aumento do excedente da balança de serviços em 106 milhões de euros, para 2681 milhões de euros.
As
exportações e importações de serviços aumentaram, respetivamente, 2,7% e 0,9%, em
relação a junho de 2023. O incremento das exportações reflete, sobretudo, o
contributo das viagens e do turismo (+211 milhões de euros).
O saldo
da balança de rendimento primário foi deficitário em 316 milhões de
euros, agravando 368 milhões de euros, relativamente a junho de 2023. Esta
variação é justificada, principalmente, pela evolução dos rendimentos de
investimento, registando-se o aumento de 465 milhões de euros do pagamento de
rendimentos de investimento ao exterior e o decréscimo de 88 milhões de euros
do recebimento deste tipo de rendimentos do exterior.
O saldo
da balança de rendimento secundário apresentou o excedente de 670 milhões
de euros, que compara com o excedente de 384 milhões de euros, no mês homólogo.
A variação observada de 286 milhões de euros é, em grande parte, explicada pelo
recebimento do maior prémio de sempre do Euromilhões, em Portugal, na ordem dos
200 milhões de euros.
A balança de
capital apresentou o excedente de 128 milhões de euros, o que traduz a
diminuição de 413 milhões de euros, relativamente ao período homólogo. Esta
redução é justificada pela menor atribuição aos beneficiários finais de fundos
comunitários, com vista ao investimento, e pela redução de operações de venda
de licenças de dióxido de carbono (CO2).
Assim, a
capacidade de financiamento da economia portuguesa verificada, em junho,
traduziu-se no saldo da balança financeira de
910 milhões de euros, que reflete o aumento dos ativos sobre o exterior, de
2006 milhões de euros, com destaque para o aumento de ativos das administrações
públicas, perante o exterior (1240 milhões de euros); o aumento de ativos das
sociedades não financeiras em instrumentos de capital e em empréstimos (445 e
284 milhões de euros, respetivamente), relativamente a entidades não residentes
do mesmo grupo económico; e o aumento dos passivos externos, de 1095 milhões de
euros, explicado, sobretudo, pelo aumento dos passivos do BdP, na forma de
depósitos (2662 milhões de euros). Este aumento foi parcialmente compensado,
maioritariamente, pela redução de passivos de empréstimos e títulos de dívida
das sociedades não financeiras (534 e 277 milhões de euros, respetivamente).
Até junho de
2024, o excedente das balanças corrente e de capital foi de 4113 milhões de
euros, o que compara com o excedente de 2115 mil milhões de euros, em igual
período de 2023.
Esta
evolução reflete: a diminuição do défice da balança de bens, de
800 milhões de euros, com as importações a diminuírem mais do que as
exportações (-997 milhões de euros e -197 milhões de euros, ou -2,0% e -0,5%,
respetivamente); o aumento do excedente da balança de serviços,
de 1191 milhões de euros, tendo a evolução do saldo de viagens e turismo (+1024
milhões de euros) justificado grande parte desta variação; o aumento do
excedente da balança de rendimento secundário, de 213 milhões de euros,
fruto, em grande medida, do prémio de Euromilhões; e a diminuição do excedente
da balança de capital, de 191 milhões de euros, explicado, sobretudo, pela
evolução das operações de compra e venda de ativos intangíveis com o exterior.
Em suma, a
capacidade de financiamento da economia portuguesa, no primeiro semestre de
2024, traduziu-se num saldo da balança financeira de
4110 milhões de euros, refletindo:
* o aumento
dos ativos sobre o exterior, de 20438 milhões de euros, resultante
maioritariamente do investimento de bancos e das administrações públicas em títulos
de dívida emitidos por não residentes (8020 e 3177 milhões de euros,
respetivamente), e do acréscimo dos empréstimos concedidos por sociedades não
financeiras a entidades intragrupo não residentes (2509 milhões de euros);
* o aumento
dos passivos, de 16328 milhões de euros, devido, sobretudo, ao aumento de
títulos de dívida detidos por não residentes, emitidos pelas administrações
públicas e bancos (13048 e 3606 milhões de euros, respetivamente) e aos
aumentos de capital nas sociedades não financeiras por parte de entidades não
residentes do mesmo grupo económico (3952 milhões de euros). Estes aumentos
foram parcialmente compensados pela redução dos passivos em depósitos do banco
central (5473 milhões de euros).
Todos os
setores, exceto as administrações públicas, contribuíram para a variação
positiva dos ativos líquidos de Portugal perante o resto do Mundo. O BdP (6121
milhões de euros) foi o que apresentou o maior valor, seguido das outras
instituições financeiras monetárias (1943 milhões de euros), das sociedades de
seguros e fundos de pensões (729 milhões de euros), dos particulares (643
milhões de euros), das sociedades não financeiras (601 milhões de euros) e das
instituições financeiras não monetárias, exceto sociedades de seguros e fundos
de pensões (406 milhões de euros). Em sentido contrário, as administrações
públicas apresentaram variações negativas dos seus ativos líquidos, de 6334
milhões de euros.
A posição de
investimento internacional (PII) de Portugal passou de -72,5% do PIB (-192,5
mil milhões de euros), no final de 2023, para -66,0% do PIB (-180,9 mil milhões
de euros), no final de junho de 2024. Este é o rácio menos negativo, desde o
final do primeiro semestre de 2005.
Para esta
variação da PII de Portugal contribuíram, principalmente: a variação positiva dos ativos
líquidos sobre o exterior, de 4,1 mil milhões de euros, refletida no saldo da
balança financeira do primeiro semestre de 2024; as variações de preço, positivas, de 7,5 mil milhões
de euros, que refletem a valorização dos ativos financeiros (4,7 mil milhões de
euros), nomeadamente do ouro monetário (3,8 mil milhões de euros), e a
desvalorização dos passivos (2,8 mil milhões de euros), maioritariamente em
instrumentos de capital (1,7 mil milhões de euros); e as variações cambiais, positivas, de
0,8 mil milhões de euros, que resultam, essencialmente, da apreciação dos
ativos líquidos externos denominados em dólares americanos (0,9 mil milhões de
euros).
Da redução
de 6,5 pontos percentuais (pp) no rácio negativo da PII no PIB, 4,3 pp resultaram
da variação nominal da PII, e 2,2 pp do crescimento do PIB.
A dívida
externa líquida de Portugal de Portugal reduziu-se de 53,8% do PIB (142,7
mil milhões de euros), no final de 2023, para 50,0% do PIB (136,9 mil milhões
de euros), no primeiro semestre de 2024. Trata-se do rácio mais baixo, desde o
final de 2005.
***
Em síntese, comparativamente
com o primeiro semestre de 2023, o endividamento do setor não financeiro subiu.
Dos 811,3 mil milhões de euros de dívida, 444,4 mil milhões são responsabilidade
das empresas e das famílias, enquanto 366,9 mil milhões de euros correspondem a
dívidas das administrações públicas e empresas do Estado.
No primeiro
semestre de 2023, o endividamento do setor não financeiro situava-se próximo
dos 318,4% do PIB, ao passo que, no mesmo período deste ano, estava em 296,1%
do PIB.
O setor
público foi o principal motor de crescimento do endividamento, já que a dívida
das administrações públicas e das empresas do Estado cresceu 13,7 mil milhões
de euros.
Em junho de
2024, a taxa de variação anual do endividamento das empresas situou-se em 2,8%,
igual à de maio, enquanto o endividamento das famílias cresceu 1,2%, valor
superior ao verificado em maio (0,9%). Em ambos os setores, “a taxa de variação
anual do endividamento tem observado uma tendência de crescimento desde o final
de 2023.”
O
endividamento do setor privado aumentou 1,9 mil milhões de euros, pelo lado das
famílias, essencialmente, junto do setor financeiro (1,4 mil milhões de euros),
pois o endividamento das empresas privadas não se alterou, já que o aumento
registado junto do setor financeiro (2,1 mil milhões de euros) foi compensado
por reduções nos restantes setores, em particular, junto das empresas não
financeiras. E o BdP sublinhou que tal se deveu ao maior dinamismo do
indicador, sustentando que a descida se decompôs na redução do endividamento do
setor privado, de 166,7% para 162,2%, parcialmente compensada pelo aumento de
0,9 pp do PIB no endividamento do setor público. Assim, observa-se, desde o
final de 2023, uma tendência de crescimento do endividamento das famílias. Por
isso, importa evitar o sobre-endividamento e as práticas irresponsáveis de
concessão de crédito aos consumidores.
***
Parece que o
país está melhor e as famílias com mais dificuldades; ou que o Orçamento do Estado,
que era tão mau, dá para tudo (sem retificativo), mas não resolve os problemas
dos cidadãos.
2024.08.24 – Louro de Carvalho
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