sábado, 24 de agosto de 2024

Dívida do setor não financeiro cresceu no primeiro semestre de 2024

 

O endividamento da economia nacional, no atinente ao setor não financeiro – famílias, empresas e Estado – agravou-se, no primeiro semestre deste ano, em 15,6 mil milhões de euros, para 811,3 mil milhões de euros, de acordo com a nota estatística do Banco de Portugal (BdP), relativa a junho e divulgada a 23 de agosto.

Porém, o endividamento da economia recua em percentagem do produto interno bruto (PIB). Com efeito, segundo o BdP, no primeiro semestre, apesar do aumento nominal, o endividamento do setor não financeiro em percentagem do PIB decresceu de 299,7% para 296,1% do PIB. 

É de realçar que o endividamento do setor não financeiro permite medir as responsabilidades financeiras das entidades do setor não financeiro, perante todos os setores da economia e perante o exterior, sob a forma de empréstimos, de títulos de dívida e de créditos comerciais.

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No final do primeiro semestre, o endividamento do setor não financeiro aumentou 15,6 mil milhões de euros, para 811,3 mil milhões de euros. Deste total, 444,4 mil milhões de euros respeitavam ao setor privado (empresas privadas e particulares) e 366,9 mil milhões de euros ao setor público (administrações públicas e empresas públicas).

O endividamento do setor público subiu 13,7 mil milhões de euros. Este acréscimo verificou-se, sobretudo, junto do resto do Mundo (14,1 mil milhões de euros), sobretudo, pelo investimento do resto do Mundo em títulos de dívida emitidos pelas administrações públicas (13,5 mil milhões de euros, dos quais nove mil milhões de euros em títulos de longo prazo).

O endividamento do setor privado aumentou 1,9 mil milhões de euros. O dos particulares (famílias) cresceu 1,9 mil milhões de euros, essencialmente, junto do setor financeiro (1,4 mil milhões de euros). Porém, o das empresas privadas praticamente não se alterou, pois o aumento registado junto do setor financeiro (2,1 mil milhões de euros) foi compensado por reduções nos restantes setores, em particular, junto das empresas não financeiras.

No entanto, apesar do seu aumento nominal, o endividamento do setor não financeiro decresceu de 299,7% para 296,1% do PIB, devido ao maior dinamismo do indicador. A descida decompôs-se na redução do endividamento do setor privado, de 166,7% para 162,2%, parcialmente compensada pelo aumento de 0,9 pontos percentuais do PIB no endividamento do setor público.

No quadro das taxas de variação anual, é de referir que, em junho, a taxa de variação anual do endividamento das empresas se situou em 2,8%, a mesma que se registou em maio. E o endividamento dos particulares (famílias) cresceu 1,2%, valor superior ao de maio (0,9%).

Em ambos os setores, a taxa de variação anual do endividamento tem observado uma tendência de crescimento, desde o final de 2023.

No primeiro semestre, o financiamento das administrações públicas foi de seis mil milhões de euros, valor que compara com -6,6 mil milhões de euros registados em igual período de 2023.

O financiamento concedido às administrações públicas pelo exterior foi de oito mil milhões de euros, maioritariamente através de títulos de dívida. Em contrapartida, as administrações públicas financiaram os bancos em 1,8 mil milhões de euros, principalmente, através do aumento de depósitos. E a análise por instrumento (títulos empréstimos) mostra que o financiamento através de emissões líquidas de títulos correspondeu a 9,3 mil milhões de euros e que o financiamento das administrações públicas por intermédio de empréstimos deduzidos de depósitos foi de -3,3 mil milhões de euros.

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No quadro da balança de pagamentos, é de relevar que, no primeiro semestre, a nossa economia apresentou um excedente externo de 4,1 mil milhões de euros, que compara com o excedente de 2,1 mil milhões de euros no período homólogo.

O excedente das balanças corrente e de capital no primeiro semestre de 2024 representa 3,0% do PIB. O saldo das balanças corrente e de capital foi de 1391 milhões de euros, o que corresponde à diminuição de 248 milhões de euros, relativamente ao mesmo mês de 2023.

Abalança de bens e serviços apresentou um saldo de 909 milhões de euros, valor que traduz o aumento de 246 milhões de euros, em relação ao mês homólogo, em resultado da redução, de 140 milhões de euros, do défice da balança de bens, para 1772 milhões de euros – esta evolução deveu-se ao decréscimo mais expressivo das importações de bens, de 452 milhões de euros (- 5,3%), do que das exportações de bens, de 311 milhões de euros (-4,7%) –; e do aumento do excedente da balança de serviços em 106 milhões de euros, para 2681 milhões de euros.

As exportações e importações de serviços aumentaram, respetivamente, 2,7% e 0,9%, em relação a junho de 2023. O incremento das exportações reflete, sobretudo, o contributo das viagens e do turismo (+211 milhões de euros).

O saldo da balança de rendimento primário foi deficitário em 316 milhões de euros, agravando 368 milhões de euros, relativamente a junho de 2023. Esta variação é justificada, principalmente, pela evolução dos rendimentos de investimento, registando-se o aumento de 465 milhões de euros do pagamento de rendimentos de investimento ao exterior e o decréscimo de 88 milhões de euros do recebimento deste tipo de rendimentos do exterior.

O saldo da balança de rendimento secundário apresentou o excedente de 670 milhões de euros, que compara com o excedente de 384 milhões de euros, no mês homólogo. A variação observada de 286 milhões de euros é, em grande parte, explicada pelo recebimento do maior prémio de sempre do Euromilhões, em Portugal, na ordem dos 200 milhões de euros.

A balança de capital apresentou o excedente de 128 milhões de euros, o que traduz a diminuição de 413 milhões de euros, relativamente ao período homólogo. Esta redução é justificada pela menor atribuição aos beneficiários finais de fundos comunitários, com vista ao investimento, e pela redução de operações de venda de licenças de dióxido de carbono (CO2).

Assim, a capacidade de financiamento da economia portuguesa verificada, em junho, traduziu-se no saldo da balança financeira de 910 milhões de euros, que reflete o aumento dos ativos sobre o exterior, de 2006 milhões de euros, com destaque para o aumento de ativos das administrações públicas, perante o exterior (1240 milhões de euros); o aumento de ativos das sociedades não financeiras em instrumentos de capital e em empréstimos (445 e 284 milhões de euros, respetivamente), relativamente a entidades não residentes do mesmo grupo económico; e o aumento dos passivos externos, de 1095 milhões de euros, explicado, sobretudo, pelo aumento dos passivos do BdP, na forma de depósitos (2662 milhões de euros). Este aumento foi parcialmente compensado, maioritariamente, pela redução de passivos de empréstimos e títulos de dívida das sociedades não financeiras (534 e 277 milhões de euros, respetivamente).

Até junho de 2024, o excedente das balanças corrente e de capital foi de 4113 milhões de euros, o que compara com o excedente de 2115 mil milhões de euros, em igual período de 2023.

Esta evolução reflete: a diminuição do défice da balança de bens, de 800 milhões de euros, com as importações a diminuírem mais do que as exportações (-997 milhões de euros e -197 milhões de euros, ou -2,0% e -0,5%, respetivamente); o aumento do excedente da balança de serviços, de 1191 milhões de euros, tendo a evolução do saldo de viagens e turismo (+1024 milhões de euros) justificado grande parte desta variação; o aumento do excedente da balança de rendimento secundário, de 213 milhões de euros, fruto, em grande medida, do prémio de Euromilhões; e a diminuição do excedente da balança de capital, de 191 milhões de euros, explicado, sobretudo, pela evolução das operações de compra e venda de ativos intangíveis com o exterior.

Em suma, a capacidade de financiamento da economia portuguesa, no primeiro semestre de 2024, traduziu-se num saldo da balança financeira de 4110 milhões de euros, refletindo:

*      o aumento dos ativos sobre o exterior, de 20438 milhões de euros, resultante maioritariamente do investimento de bancos e das administrações públicas em títulos de dívida emitidos por não residentes (8020 e 3177 milhões de euros, respetivamente), e do acréscimo dos empréstimos concedidos por sociedades não financeiras a entidades intragrupo não residentes (2509 milhões de euros);

*      o aumento dos passivos, de 16328 milhões de euros, devido, sobretudo, ao aumento de títulos de dívida detidos por não residentes, emitidos pelas administrações públicas e bancos (13048 e 3606 milhões de euros, respetivamente) e aos aumentos de capital nas sociedades não financeiras por parte de entidades não residentes do mesmo grupo económico (3952 milhões de euros). Estes aumentos foram parcialmente compensados pela redução dos passivos em depósitos do banco central (5473 milhões de euros).

Todos os setores, exceto as administrações públicas, contribuíram para a variação positiva dos ativos líquidos de Portugal perante o resto do Mundo. O BdP (6121 milhões de euros) foi o que apresentou o maior valor, seguido das outras instituições financeiras monetárias (1943 milhões de euros), das sociedades de seguros e fundos de pensões (729 milhões de euros), dos particulares (643 milhões de euros), das sociedades não financeiras (601 milhões de euros) e das instituições financeiras não monetárias, exceto sociedades de seguros e fundos de pensões (406 milhões de euros). Em sentido contrário, as administrações públicas apresentaram variações negativas dos seus ativos líquidos, de 6334 milhões de euros.

A posição de investimento internacional (PII) de Portugal passou de -72,5% do PIB (-192,5 mil milhões de euros), no final de 2023, para -66,0% do PIB (-180,9 mil milhões de euros), no final de junho de 2024. Este é o rácio menos negativo, desde o final do primeiro semestre de 2005.

Para esta variação da PII de Portugal contribuíram, principalmente: a variação positiva dos ativos líquidos sobre o exterior, de 4,1 mil milhões de euros, refletida no saldo da balança financeira do primeiro semestre de 2024; as variações de preço, positivas, de 7,5 mil milhões de euros, que refletem a valorização dos ativos financeiros (4,7 mil milhões de euros), nomeadamente do ouro monetário (3,8 mil milhões de euros), e a desvalorização dos passivos (2,8 mil milhões de euros), maioritariamente em instrumentos de capital (1,7 mil milhões de euros); e as variações cambiais, positivas, de 0,8 mil milhões de euros, que resultam, essencialmente, da apreciação dos ativos líquidos externos denominados em dólares americanos (0,9 mil milhões de euros).

Da redução de 6,5 pontos percentuais (pp) no rácio negativo da PII no PIB, 4,3 pp resultaram da variação nominal da PII, e 2,2 pp do crescimento do PIB.

dívida externa líquida de Portugal de Portugal reduziu-se de 53,8% do PIB (142,7 mil milhões de euros), no final de 2023, para 50,0% do PIB (136,9 mil milhões de euros), no primeiro semestre de 2024. Trata-se do rácio mais baixo, desde o final de 2005.

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Em síntese, comparativamente com o primeiro semestre de 2023, o endividamento do setor não financeiro subiu. Dos 811,3 mil milhões de euros de dívida, 444,4 mil milhões são responsabilidade das empresas e das famílias, enquanto 366,9 mil milhões de euros correspondem a dívidas das administrações públicas e empresas do Estado.

No primeiro semestre de 2023, o endividamento do setor não financeiro situava-se próximo dos 318,4% do PIB, ao passo que, no mesmo período deste ano, estava em 296,1% do PIB.

O setor público foi o principal motor de crescimento do endividamento, já que a dívida das administrações públicas e das empresas do Estado cresceu 13,7 mil milhões de euros.

Em junho de 2024, a taxa de variação anual do endividamento das empresas situou-se em 2,8%, igual à de maio, enquanto o endividamento das famílias cresceu 1,2%, valor superior ao verificado em maio (0,9%). Em ambos os setores, “a taxa de variação anual do endividamento tem observado uma tendência de crescimento desde o final de 2023.”

O endividamento do setor privado aumentou 1,9 mil milhões de euros, pelo lado das famílias, essencialmente, junto do setor financeiro (1,4 mil milhões de euros), pois o endividamento das empresas privadas não se alterou, já que o aumento registado junto do setor financeiro (2,1 mil milhões de euros) foi compensado por reduções nos restantes setores, em particular, junto das empresas não financeiras. E o BdP sublinhou que tal se deveu ao maior dinamismo do indicador, sustentando que a descida se decompôs na redução do endividamento do setor privado, de 166,7% para 162,2%, parcialmente compensada pelo aumento de 0,9 pp do PIB no endividamento do setor público. Assim, observa-se, desde o final de 2023, uma tendência de crescimento do endividamento das famílias. Por isso, importa evitar o sobre-endividamento e as práticas irresponsáveis de concessão de crédito aos consumidores.

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Parece que o país está melhor e as famílias com mais dificuldades; ou que o Orçamento do Estado, que era tão mau, dá para tudo (sem retificativo), mas não resolve os problemas dos cidadãos.  

2024.08.24 – Louro de Carvalho

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