A agência do cancro da Organização
Mundial de Saúde (OMS) classificou o talco como “provavelmente cancerígeno”,
para os seres humanos. Esta classificação é o “segundo nível mais elevado de certeza de que
uma substância pode causar cancro”. A classificação
anterior do talco era de “possível carcinogéneo”.
Efetivamente, um grupo de trabalho de
29 cientistas de 13 países reuniu-se na Agência Internacional de Investigação
do Cancro (IARC) em Lyon, França, e publicou as conclusões, a 5 de julho, num
artigo intitulado “Carcinogenicity of
talc and acrylonitrile”, na revista The Lancet Oncology,
subscrito por Leslie T. Stayner, Tania Carreón-Valencia, Paul A. Demers,
Jason M. Fritz, Malcom R. Sim, Patricia Stewart e outros.
O talco foi classificado “com base numa combinação de provas limitadas de cancro em seres
humanos (no caso do cancro do ovário), provas suficientes de cancro em animais
experimentais e fortes provas mecanicistas de que o talco apresenta
características-chave de agentes cancerígenos em células primárias humanas e em
sistemas experimentais”, afirmou, em comunicado de imprensa, o
grupo de peritos, cujas conclusões se baseiam em vários estudos que demonstram
um risco acrescido de cancro do ovário nas mulheres que utilizam pó de talco na
zona genital, mas a relação causal “não pôde ser totalmente
estabelecida”.
Entre a população em geral, o talco é
mais conhecido como um pó branco para bebés, mas o mineral é também um
componente comum na maquilhagem e nos produtos de cuidados de pele.
As pessoas também podem ser expostas
ao pó, quando este é extraído, moído ou processado, ou quando se fabricam
produtos a partir dele.
O talco e o amianto são ambos
minerais naturais que se encontram muito próximos da Terra. Esta associação
próxima, durante a formação, pode levar à contaminação, quando o talco é
extraído e processado.
O amianto é um agente cancerígeno,
quando inalado, e as preocupações com a contaminação por amianto em produtos de
talco existem desde a década de 1970, de acordo com uma nota da Food and Drug
Administration (FDA) dos Estados Unidos da América (EUA), publicada em abril. E
a empresa farmacêutica Johnson & Johnson tem enfrentado milhares de ações
judiciais, nos EUA, relacionadas com os seus produtos de pó de talco e com a
possibilidade de estarem contaminados com amianto.
A nova avaliação dos peritos
centrou-se no talco que não contém amianto, lê-se na declaração da IARC. No
entanto, “a contaminação do talco com amianto não pôde
ser excluída na maioria dos estudos.”
Kevin McConway, professor emérito de
Estatística Aplicada na Open University, no Reino Unido, afirmou, num
comunicado publicado pelo Science Media
Centre, que, quando a IARC classifica uma substância nesta série de
publicações, não diz nada especificamente sobre se a exposição à substância
aumenta o risco de cancro em humanos. “Em vez disso, o seu objetivo é
responder à questão de saber se a substância tem potencial para causar cancro,
em determinadas condições que a IARC não especifica”, afirmou,
observando: “Não existe uma prova cabal de que a
utilização de talco provoque um aumento do risco de cancro.”
Mesmo que a relação observada fosse
causal, o risco associado seria muito pequeno. “Ainda há muita incerteza”, advertiu McConway,
numa declaração.
***
O termo
“talco” provém do Latim medieval “talcum”,
que se origina do Árabe طلق (ṭalq) que, deriva do Persa تالک (tālk). Nos tempos antigos, a palavra era
usada para vários minerais relacionados, incluindo o talco, a mica e a
selenite.
O talco é um
mineral argiloso metamórfico, composto de silicato de magnésio hidratado, com a
fórmula química Mg3Si4O10(OH)2. É comum
em cinturões metamórficos que contêm rochas ultramáficas (ou ultrabásicas),
como a pedra-sabão (rocha com alto teor de talco), e dentro de terrenos
metamórficos de xisto branco ou azul. Os principais exemplos de
xistos brancos incluem o Cinturão Metamórfico Franciscano do Oeste dos EUA,
os Alpes da Europa Ocidental, especialmente da Itália, certas
áreas do Bloco Musgrave e alguns orógenos colisionais, como o Himalaia,
que se estende ao longo do Paquistão, da Índia, do Nepal e do Butão.
Os
ultramáficos de carbonato de talco são típicos de muitas áreas
dos cratões arqueanos, sobretudo, os cinturões komatiitos do cratão Yilgarn na Austrália
Ocidental. Os ultramáficos de talco-carbonato também são conhecidos do Cinturão
Lachlan Fold, Leste da Austrália, do Brasil, do Escudo das
Guianas e dos cinturões ofiolíticos da Turquia, de Omã e do
Médio Oriente.
A China é
o principal país produtor mundial de talco e esteatite, com uma produção de
cerca de 2,2 milhões de toneladas (em 2016), o que representa 30% da produção
global total. Os outros grandes produtores são o Brasil (12%), a Índia (11%), os
EUA (9%), a França (6%), a Finlândia (4%), a Itália, a Rússia, o Canadá e a Áustria
(2%, cada).
Ocorrências
económicas notáveis de talco incluem a mina de talco Mount Seabrook,
Austrália Ocidental, formada por uma intrusão ultramáfica em camadas
polideformadas. O Grupo de Luzenac, com sede na França, é o maior fornecedor
mundial de talco extraído. A sua maior mina, em Trimouns, perto de Luzenac,
no Sul da França, produz 400 mil toneladas de talco, por ano.
Talco em pó,
muitas vezes combinado com amido de milho, é usado como talco de
bebé, como agente espessante e como lubrificante. É ingrediente em cerâmica,
em tinta e em material de cobertura. É ingrediente principal em
muitos cosméticos. Ocorre como massa foliada a fibrosa e em
forma cristalina excecionalmente rara. Tem perfeita clivagem basal
e fratura plana desigual, e é foliada com uma forma platiforme bidimensional.
A escala
de dureza mineral de Mohs, baseada na comparação da dureza do zero,
define o valor 1 como a dureza do talco, o mineral mais macio. Se raspado
em placa de traço, produz risca branca (indicador de pouca importância,
pois a maioria dos minerais de silicato produz risca branca). O talco
é translúcido a opaco, com cores que variam do cinza
esbranquiçado ao verde com brilho vítreo e perolado. Não é solúvel em água e
é ligeiramente solúvel em ácidos minerais diluídos.
Um problema particular com o uso do talco é sua localização
frequente em depósitos subterrâneos com minério de amianto. “Amianto” é termo
geral para diferentes tipos de minerais fibrosos de silicato, desejáveis na
construção pelas suas propriedades de resistência ao calor – até 1000 °C
(Celsius). Em temperaturas acima dos 1200 °C, transforma-se em olivina e
nas suas variedades.
Há seis variedades de amianto, sendo a mais comum, na
fabricação, o amianto branco, da família das serpentinas. Os
minerais serpentinos são silicatos de folha.
Embora não seja da família das serpentinas, o talco também é
silicato de folha, com duas folhas conectadas por catiões de magnésio. A
colocalização frequente de depósitos de talco com amianto pode resultar na
contaminação do talco extraído com amianto branco, que apresenta sérios riscos
à saúde, quando disperso no ar e inalado.
O controlo de qualidade, rigoroso desde 1976,
incluindo a separação de talco de grau cosmético e alimentício do talco de grau
industrial, eliminou, em parte, problema, mas continua a ser um risco potencial
que exige mitigação na mineração e no processamento de
talco. Uma pesquisa da FDA dos EUA, em 2010, não encontrou amianto numa
variedade de produtos contendo talco. Uma investigação da Reuters, em 2018, afirmou que a farmacêutica Johnson & Johnson sabia, há décadas, que havia amianto no seu
talco de bebé e, em 2020, a empresa parou de o vender nos EUA e no Canadá. Houve
pedidos para que os maiores acionistas da empresa a forçassem a encerrar as vendas
globais de talco para bebés e a contratar uma empresa independente para
realizar uma auditoria de justiça racial, pois havia sido comercializado para
mulheres afro-americanas e com excesso de peso.
***
Por sua vez, o amianto (do termo grego αμίαντος,
puro, sem sujidade, sem mácula) ou asbesto (do termo
grego ἀσβεστος, indestrutível, imortal, inextinguível) é a
designação comercial genérica para a variedade fibrosa de sais minerais
metamórficos de ocorrência natural e usados em vários produtos comerciais.
É um material com grande flexibilidade e resistências química, térmica, elétrica
e à tração muito elevadas e que, além disso, pode ser tecido.
É
constituído por feixes de fibras, que, por seu lado, são constituídos por
fibras extremamente finas e longas, facilmente separáveis umas das outras, com
tendência a produzir pó de partículas muito pequenas que flutuam no ar e aderem
às roupas. Tais partículas podem ser facilmente inaladas ou engolidas, podendo
causar graves problemas de saúde.
A inalação
prolongada de fibras de amianto pode provocar doenças graves, como o cancro do
pulmão, o mesotelioma (cancro do
revestimento mesotelial – pleura – do pulmão), a asbestose (lesões no pulmão – um tipo de pneumoconiose), verrugas
de amianto (produzidas
quando fibras agudas se alojam na pele, sendo recobertas por esta e causando
crescimentos benignos semelhantes a calos), placas pleurais (espessamento de parte da pleura visível por
meio de radiografias em indivíduos expostos ao amianto) e espessamento pleural difuso
(geralmente assintomático, podendo causar perda de capacidade respiratória, se
a extensão for grande).
Amplamente
utilizado no fabrico de materiais para a construção civil, ao longo de décadas,
o amianto foi incluído no grupo principal de substâncias cancerígenas
pela OMS, segundo a qual 125 milhões de pessoas estão expostas à
substância em todo o Mundo e, pelo menos, 107 mil morrem, anualmente. de
doenças associadas a ela. Por isso, já foi banida em mais de 60 países.
Até à
proibição do uso de amianto no país, em 2017, o Brasil era o terceiro
maior produtor e o segundo maior exportador mundial de amianto, nomeadamente,
da variedade crisotila. A maioria da produção brasileira era
comercializada internamente e destinava-se, principalmente, à fabricação de
telhas onduladas, de chapas de revestimento, de tubos e de caixas de água.
Na indústria automobilística, o amianto é usado em produtos de fricção (travões
e embraiagens). Em menor quantidade, é possível encontrar amianto em produtos
têxteis, em filtros, em papel, em papelão e em isolantes térmicos.
Em 12 de
julho de 2018, um júri do estado americano do Missouri ordenou que a Johnson &
Johnson pagasse o valor recorde de
4,69 bilhões de dólares a 22 mulheres que alegavam que os produtos à base de
talco da empresa, incluindo o pó de bebé, continham amianto e causavam cancro
do ovário.
Os problemas
com o amianto surgem quando as fibras se dispersam no ar e são inaladas. Devido
ao seu tamanho, os pulmões não conseguem expeli-las. Quase todas as
pessoas são expostas ao amianto em algum momento da vida. Porém, a maioria não
adoece em consequência dessa exposição. As que adoecem, devido à exposição ao
amianto são, geralmente, as expostas de forma regular, a maior parte das vezes
no posto de trabalho em que contactam diretamente com o material ou por contacto
ambiental substancial.
Vários
estudos sugerem que os efeitos nocivos do amianto são maiores no grupo das
Anfíbolas (inossilicatos hidratados constituídos
por cadeias duplas de tetraedros de sílica). Experiências com
ratos provocaram a indução do processo cancerígeno causado por amianto
crisotila, mas em doses muito altas que não são encontradas fora do ambiente de
laboratório. O uso do amianto anfibólio é proibido em todo o Mundo. E o crisotila
é proibido em algumas regiões do planeta, mas é amplamente comercializado em
vários países, apesar de muitos defenderem a sua proibição.
***
Poeiras,
nanopartículas, vírus, bactérias resistentes, etc. tantos fatores que nos
obrigam a sucumbir ou a sobreviver. É preciso que todos sobrevivamos. Para
tanto, cautela e solidariedade!
2024.07.12 – Louro de Carvalho
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