sexta-feira, 12 de julho de 2024

Talco é “provavelmente cancerígeno” para os seres humanos

 

A agência do cancro da Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou o talco como “provavelmente cancerígeno”, para os seres humanos. Esta classificação é o “segundo nível mais elevado de certeza de que uma substância pode causar cancro”. A classificação anterior do talco era de “possível carcinogéneo”.

Efetivamente, um grupo de trabalho de 29 cientistas de 13 países reuniu-se na Agência Internacional de Investigação do Cancro (IARC) em Lyon, França, e publicou as conclusões, a 5 de julho, num artigo intitulado “Carcinogenicity of talc and acrylonitrile”, na revista The Lancet Oncology, subscrito por Leslie T. Stayner, Tania Carreón-Valencia, Paul A. Demers, Jason M. Fritz, Malcom R. Sim, Patricia Stewart e outros.

O talco foi classificado “com base numa combinação de provas limitadas de cancro em seres humanos (no caso do cancro do ovário), provas suficientes de cancro em animais experimentais e fortes provas mecanicistas de que o talco apresenta características-chave de agentes cancerígenos em células primárias humanas e em sistemas experimentais”, afirmou, em comunicado de imprensa, o grupo de peritos, cujas conclusões se baseiam em vários estudos que demonstram um risco acrescido de cancro do ovário nas mulheres que utilizam pó de talco na zona genital, mas a relação causal “não pôde ser totalmente estabelecida.

Entre a população em geral, o talco é mais conhecido como um pó branco para bebés, mas o mineral é também um componente comum na maquilhagem e nos produtos de cuidados de pele.

As pessoas também podem ser expostas ao pó, quando este é extraído, moído ou processado, ou quando se fabricam produtos a partir dele.

O talco e o amianto são ambos minerais naturais que se encontram muito próximos da Terra. Esta associação próxima, durante a formação, pode levar à contaminação, quando o talco é extraído e processado.

O amianto é um agente cancerígeno, quando inalado, e as preocupações com a contaminação por amianto em produtos de talco existem desde a década de 1970, de acordo com uma nota da Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos da América (EUA), publicada em abril. E a empresa farmacêutica Johnson & Johnson tem enfrentado milhares de ações judiciais, nos EUA, relacionadas com os seus produtos de pó de talco e com a possibilidade de estarem contaminados com amianto.

A nova avaliação dos peritos centrou-se no talco que não contém amianto, lê-se na declaração da IARC. No entanto, “a contaminação do talco com amianto não pôde ser excluída na maioria dos estudos.”

Kevin McConway, professor emérito de Estatística Aplicada na Open University, no Reino Unido, afirmou, num comunicado publicado pelo Science Media Centre, que, quando a IARC classifica uma substância nesta série de publicações, não diz nada especificamente sobre se a exposição à substância aumenta o risco de cancro em humanos. “Em vez disso, o seu objetivo é responder à questão de saber se a substância tem potencial para causar cancro, em determinadas condições que a IARC não especifica”, afirmou, observando: “Não existe uma prova cabal de que a utilização de talco provoque um aumento do risco de cancro.”

Mesmo que a relação observada fosse causal, o risco associado seria muito pequeno. “Ainda há muita incerteza”, advertiu McConway, numa declaração.

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O termo “talco” provém do Latim medieval “talcum”, que se origina do Árabe طلق (ṭalq) que, deriva do Persa تالک (tālk). Nos tempos antigos, a palavra era usada para vários minerais relacionados, incluindo o talco, a mica e a selenite.

O talco é um mineral argiloso metamórfico, composto de silicato de magnésio hidratado, com a fórmula química Mg3Si4O10(OH)2. É comum em cinturões metamórficos que contêm rochas ultramáficas (ou ultrabásicas), como a pedra-sabão (rocha com alto teor de talco), e dentro de terrenos metamórficos de xisto branco ou azul. Os principais exemplos de xistos brancos incluem o Cinturão Metamórfico Franciscano do Oeste dos EUA, os Alpes da Europa Ocidental, especialmente da Itália, certas áreas do Bloco Musgrave e alguns orógenos colisionais, como o Himalaia, que se estende ao longo do Paquistão, da Índia, do Nepal e do Butão.

Os ultramáficos de carbonato de talco são típicos de muitas áreas dos cratões arqueanos, sobretudo, os cinturões komatiitos do cratão Yilgarn na Austrália Ocidental. Os ultramáficos de talco-carbonato também são conhecidos do Cinturão Lachlan Fold, Leste da Austrália, do Brasil, do Escudo das Guianas e dos cinturões ofiolíticos da Turquia, de Omã e do Médio Oriente.

A China é o principal país produtor mundial de talco e esteatite, com uma produção de cerca de 2,2 milhões de toneladas (em 2016), o que representa 30% da produção global total. Os outros grandes produtores são o Brasil (12%), a Índia (11%), os EUA (9%), a França (6%), a Finlândia (4%), a Itália, a Rússia, o Canadá e a Áustria (2%, cada).

Ocorrências económicas notáveis ​​de talco incluem a mina de talco Mount Seabrook, Austrália Ocidental, formada por uma intrusão ultramáfica em camadas polideformadas. O Grupo de Luzenac, com sede na França, é o maior fornecedor mundial de talco extraído. A sua maior mina, em Trimouns, perto de Luzenac, no Sul da França, produz 400 mil toneladas de talco, por ano.

Talco em pó, muitas vezes combinado com amido de milho, é usado como talco de bebé, como agente espessante e como lubrificante. É ingrediente em cerâmica, em tinta e em material de cobertura. É ingrediente principal em muitos cosméticos. Ocorre como massa foliada a fibrosa e em forma cristalina excecionalmente rara. Tem perfeita clivagem basal e fratura plana desigual, e é foliada com uma forma platiforme bidimensional.

A escala de dureza mineral de Mohs, baseada na comparação da dureza do zero, define o valor 1 como a dureza do talco, o mineral mais macio. Se raspado em placa de traço, produz risca branca (indicador de pouca importância, pois a maioria dos minerais de silicato produz risca branca). O talco é translúcido a opaco, com cores que variam do cinza esbranquiçado ao verde com brilho vítreo e perolado. Não é solúvel em água e é ligeiramente solúvel em ácidos minerais diluídos.

Um problema particular com o uso do talco é sua localização frequente em depósitos subterrâneos com minério de amianto. “Amianto” é termo geral para diferentes tipos de minerais fibrosos de silicato, desejáveis ​​na construção pelas suas propriedades de resistência ao calor – até 1000 °C (Celsius). Em temperaturas acima dos 1200 °C, transforma-se em olivina e nas suas variedades.

Há seis variedades de amianto, sendo a mais comum, na fabricação, o amianto branco, da família das serpentinas. Os minerais serpentinos são silicatos de folha.

Embora não seja da família das serpentinas, o talco também é silicato de folha, com duas folhas conectadas por catiões de magnésio. A colocalização frequente de depósitos de talco com amianto pode resultar na contaminação do talco extraído com amianto branco, que apresenta sérios riscos à saúde, quando disperso no ar e inalado.

O controlo de qualidade, rigoroso desde 1976, incluindo a separação de talco de grau cosmético e alimentício do talco de grau industrial, eliminou, em parte, problema, mas continua a ser um risco potencial que exige mitigação na mineração e no processamento de talco. Uma pesquisa da FDA dos EUA, em 2010, não encontrou amianto numa variedade de produtos contendo talco. Uma investigação da Reuters, em 2018, afirmou que a farmacêutica Johnson & Johnson sabia, há décadas, que havia amianto no seu talco de bebé e, em 2020, a empresa parou de o vender nos EUA e no Canadá. Houve pedidos para que os maiores acionistas da empresa a forçassem a encerrar as vendas globais de talco para bebés e a contratar uma empresa independente para realizar uma auditoria de justiça racial, pois havia sido comercializado para mulheres afro-americanas e com excesso de peso.

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Por sua vez, o amianto (do termo grego αμίαντος, puro, sem sujidade, sem mácula) ou asbesto (do termo grego ἀσβεστος, indestrutível, imortal, inextinguível) é a designação comercial genérica para a variedade fibrosa de sais minerais metamórficos de ocorrência natural e usados em vários produtos comerciais. É um material com grande flexibilidade e resistências química, térmica, elétrica e à tração muito elevadas e que, além disso, pode ser tecido.

É constituído por feixes de fibras, que, por seu lado, são constituídos por fibras extremamente finas e longas, facilmente separáveis umas das outras, com tendência a produzir pó de partículas muito pequenas que flutuam no ar e aderem às roupas. Tais partículas podem ser facilmente inaladas ou engolidas, podendo causar graves problemas de saúde.

A inalação prolongada de fibras de amianto pode provocar doenças graves, como o cancro do pulmão, o mesotelioma (cancro do revestimento mesotelial – pleura – do pulmão), a asbestose (lesões no pulmão – um tipo de pneumoconiose), verrugas de amianto (produzidas quando fibras agudas se alojam na pele, sendo recobertas por esta e causando crescimentos benignos semelhantes a calos), placas pleurais (espessamento de parte da pleura visível por meio de radiografias em indivíduos expostos ao amianto) e espessamento pleural difuso (geralmente assintomático, podendo causar perda de capacidade respiratória, se a extensão for grande).

Amplamente utilizado no fabrico de materiais para a construção civil, ao longo de décadas, o amianto foi incluído no grupo principal de substâncias cancerígenas pela OMS, segundo a qual 125 milhões de pessoas estão expostas à substância em todo o Mundo e, pelo menos, 107 mil morrem, anualmente. de doenças associadas a ela. Por isso, já foi banida em mais de 60 países.

Até à proibição do uso de amianto no país, em 2017, o Brasil era o terceiro maior produtor e o segundo maior exportador mundial de amianto, nomeadamente, da variedade crisotila. A maioria da produção brasileira era comercializada internamente e destinava-se, principalmente, à fabricação de telhas onduladas, de chapas de revestimento, de tubos e de caixas de água. Na indústria automobilística, o amianto é usado em produtos de fricção (travões e embraiagens). Em menor quantidade, é possível encontrar amianto em produtos têxteis, em filtros, em papel, em papelão e em isolantes térmicos.

Em 12 de julho de 2018, um júri do estado americano do Missouri ordenou que a Johnson & Johnson pagasse o valor recorde de 4,69 bilhões de dólares a 22 mulheres que alegavam que os produtos à base de talco da empresa, incluindo o pó de bebé, continham amianto e causavam cancro do ovário.

Os problemas com o amianto surgem quando as fibras se dispersam no ar e são inaladas. Devido ao seu tamanho, os pulmões não conseguem expeli-las. Quase todas as pessoas são expostas ao amianto em algum momento da vida. Porém, a maioria não adoece em consequência dessa exposição. As que adoecem, devido à exposição ao amianto são, geralmente, as expostas de forma regular, a maior parte das vezes no posto de trabalho em que contactam diretamente com o material ou por contacto ambiental substancial.

Vários estudos sugerem que os efeitos nocivos do amianto são maiores no grupo das Anfíbolas (inossilicatos hidratados constituídos por cadeias duplas de tetraedros de sílica). Experiências com ratos provocaram a indução do processo cancerígeno causado por amianto crisotila, mas em doses muito altas que não são encontradas fora do ambiente de laboratório. O uso do amianto anfibólio é proibido em todo o Mundo. E o crisotila é proibido em algumas regiões do planeta, mas é amplamente comercializado em vários países, apesar de muitos defenderem a sua proibição.

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Poeiras, nanopartículas, vírus, bactérias resistentes, etc. tantos fatores que nos obrigam a sucumbir ou a sobreviver. É preciso que todos sobrevivamos. Para tanto, cautela e solidariedade!   

2024.07.12 – Louro de Carvalho

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