O ex-presidente
dos Estados Unidos da América (EUA) e candidato republicano às eleições de
novembro, Donald Trump, estava a discursar no palco de um comício de campanha
em Butler, na Pensilvânia, a 13 de julho, quando foram ouvidos tiros no meio da
multidão. O orador levou a mão direita ao pescoço, antes de se esconder atrás
do pódio.
Agentes dos
serviços secretos acorreram ao palco, enquanto se ouviam gritos da multidão, e cobriram
o candidato republicano, junto ao púlpito. Mais tarde, foi anunciado que o atirador
tinha sido abatido. O candidato foi visto com sangue, no lado do rosto, antes
de ser levado para longe pelos seguranças. Um membro
do público (um bombeiro de 50 anos) foi morto e dois estão no hospital, em
estado crítico. E as autoridades policiais confirmaram que o tiroteio que
envolveu o antigo presidente dos EUA está a ser investigado como tentativa de assassinato.
Numa
publicação, na sua conta Truth
Social, Trump afirmou ter sido “atingido por uma bala que perfurou a
parte superior da minha orelha direita”. “Soube imediatamente que algo estava
errado, pois ouvi um zumbido, tiros e senti a bala a rasgar a pele”, escreveu o
candidato republicano.
O promotor
público local, Richard Goldinger, disse aos jornalistas que o presumível autor do atentado foi abatido por
agentes dos Serviços Secretos.
O Federal Bureau
of Investigation (FBI) diz que o suspeito do disparo foi “provisoriamente
identificado”, mas ainda não estava preparado para divulgar um nome. De acordo
com a CNN, o alegado autor do ataque,
que foi abatido pela polícia, tinha 20 anos e era membro do Partido
Republicano. E, algumas horas mais tarde, o FBI
identificou o atirador: Thomas Matthew Crooks, 20 anos, de Bethel Park,
Pensilvânia. Os agentes federais, que acharam explosivos no carro e em casa do
atirador, disseram que a investigação continua em curso.
Duas fontes
disseram à CBS que Trump já saiu do
hospital, mas não se sabia para onde se dirigia. Entretanto, imagens publicadas
pela assessoria de comunicação, na rede social X, mostram o candidato republicano a descer do seu avião, depois de
aterrar em New Jersey.
“Forte e resistente.
Ele nunca parará de lutar pela América”, escreveu Margo Martin, diretora de
comunicação da candidatura de Trump.
Depois de
ter falado com Trump (a Casa Branca não disse sobre o que os dois conversaram),
Joe Biden, num discurso em Delaware, condenou o ataque e afirmou que “toda a
gente deve condenar” a violência política. “Não há lugar na América para este
tipo de violência. É doentio”, disse. Biden havia de ficar em Delaware, no fim
de semana, mas regressou à Casa Branca.
***
O FBI
identificou Thomas Matthew Crooks, 20 anos, de Bethel Park, na Pensilvânia,
como o suspeito do disparo contra o antigo presidente. A cidade do atirador
fica a cerca de uma hora de carro do comício em que Trump discursava. Os agentes
dos Serviços Secretos mataram Crooks a tiro, quando este se encontrava no
telhado de um edifício situado no exterior do local do comício, numa feira
agrícola, em Butler, na Pensilvânia. Um participante foi morto e dois
espetadores ficaram gravemente feridos. Eram todos do sexo masculino. A arma do disparo
é uma AR-15 semiautomática, foi comprada pelo pai de forma legal, há pelo menos,
seis meses.
Os meios de
comunicação social nos EUA afirmam que Crooks estava registado como republicano
no condado de Allegheny, na Pensilvânia. Contudo, os registos federais de
financiamento de campanhas dos EUA também mostram que Crooks doou cerca de 14
euros ao Progressive Turnout Project, um grupo liberal que incentiva os
americanos a votar. E, de acordo com o jornal USA Today, Crooks não tinha registo criminal na Pensilvânia.
Um vídeo
publicado nas redes sociais e geolocalizado pela AP mostra o corpo de uma pessoa vestida de camuflado cinzento,
imóvel no telhado de um edifício da AGR International Inc., uma fábrica a norte
do recinto da Butler Farm Show, onde decorria o comício.
Segundo as
autoridades, membros da equipa tática-avançada dos Serviços Secretos dos EUA
mataram o atirador. A equipa tática, fortemente armada, viaja para todo o lado
com o presidente e com os candidatos dos principais partidos, para enfrentar
quaisquer ameaças ativas, enquanto os outros agentes se concentram em
salvaguardar e evacuar a pessoa que está no centro da proteção. As forças da
ordem recuperaram uma espingarda do tipo AR no local do crime, segundo uma
terceira pessoa familiarizada com o assunto, que falou, sob condição de
anonimato, para discutir a investigação em curso.
Uma análise
da AP de mais de uma dúzia de vídeos e fotografias do local do comício, bem
como de imagens de satélite do local, mostram que o atirador se aproximou,
surpreendentemente, do palco onde o antigo presidente discursava. O telhado
onde estava deitado fica a menos de 150 metros do local onde Trump estava a
discursar, distância a partir da qual um atirador profissional podia atingir mortalmente
um alvo humano. Para referência, 150 metros é a distância a que os recrutas do
Exército dos EUA têm de atingir uma silhueta humana à escala, para se
qualificarem com a espingarda M-16. A AR-15, como a encontrada junto do
atirador no comício de Trump, é a versão civil semiautomática da M-16 militar.
Questionado,
na conferência de imprensa, sobre o facto de as forças da ordem não saberem que
o atirador estava no telhado, até este começar a disparar, Kevin Rojek, agente
especial responsável pelo gabinete local do FBI em Pittsburgh, respondeu: “Essa
é a nossa avaliação neste momento.”
É
surpreendente o atirador ter conseguido abrir fogo no palco antes de ser morto
pelo FBI.
O ataque foi
a mais grave tentativa de assassínio de presidente ou candidato presidencial,
desde que Ronald Reagan foi baleado em 1981. A menos de quatro meses das
eleições presidenciais, o atentado evidencia as preocupações com a violência
política num país altamente polarizado.
***
No dia seguinte à tentativa de
assassinato (14 de julho), Trump sublinhou que nada teme e sugeriu que vai
manter o discurso agendado para a Convenção Republicana, em Milwaukee, no
estado do Wisconsin. “Não vamos ter medo, mas sim permanecer firmes na nossa fé
e desafiantes perante a maldade”, vincou o ex-presidente norte-americano na
rede social Truth Social. “Neste
momento, é mais importante do que nunca que nos mantenhamos unidos e mostremos
o nosso verdadeiro caráter de americanos, permanecendo fortes e determinados, e
não permitindo que o mal vença […]. “Amo verdadeiramente o nosso país, amo
todos vós e estou ansioso por
falar à nossa grande nação esta semana a partir do Wisconsin”,
assegurou.
A campanha de Trump e o Comité
Nacional Republicano divulgaram um comunicado conjunto, horas depois do
tiroteio, no dia 13, confirmando que a Convenção Nacional Republicana
prosseguirá na próxima semana, em Milwaukee, no estado do Wisconsin. “O
presidente Trump espera juntar-se a todos vós em Milwaukee, à medida que
avançamos com a nossa convenção para o nomear como 47.º presidente dos Estados
Unidos”, lê-se no comunicado, acrescentando: “Como candidato do nosso partido,
o presidente Trump continuará a partilhar a sua visão de Tornar a América
Grande de Novo.”
De acordo com um memorando obtido
pelo The Washington Post, os
principais conselheiros da campanha de Trump disseram aos funcionários para se
manterem afastados dos escritórios da campanha, em Washington e em West Palm
Beach, no dia 14, pois ambos os locais estavam a ser avaliados após o atentado
do dia 13. “Estamos a reforçar a presença de segurança armada com agentes no
local 24 horas por dia, 7 dias por semana. Serão efetuadas avaliações de segurança
adicionais. A nossa maior prioridade é manter todos os membros desta equipa em
segurança", escreveram os conselheiros Chris LaCivita e Susie Wiles, num
memorando conjunto, vincando: “Também vos pedimos que reconheçais a polarização
política nesta eleição acesa. Se alguma coisa parecer estranha, por favor,
assinalai-a, imediatamente, à direção ou a uma equipa de segurança no local.”
LaCivita e Wiles também aconselharam
os funcionários a não comentar publicamente o ataque.
Horas depois do ataque, o Comité de
Supervisão da Câmara dos Representantes dos EUA, liderado pelos republicanos,
convocou a diretora dos Serviços Secretos do país, Kimberly Cheatle, para depor
numa audiência marcada para 22 de julho. “Os americanos exigem respostas sobre
a tentativa de assassinato do presidente Trump”, afirmou o Comité, nas redes
sociais.
Os apoiantes de Trump lançaram
críticas à atuação dos Serviços Secretos, com o ativista conservador Jack
Posobiec a perguntar, na rede social X,
como um atirador com um kit completo
de espingarda foi autorizado a rastejar para o telhado mais próximo de um candidato
presidencial.
Ron Moose, um apoiante de Trump
presente no comício, disse ter ouvido quatro tiros. “Vi a multidão a baixar-se
e, depois, Trump baixou-se, também muito rapidamente”, declarou, continuando a
relatar: “Depois, os Serviços Secretos saltaram todos e protegeram-no o mais
depressa que puderam. Estamos a falar de um segundo depois, estavam todos a
protegê-lo.”
“Reparámos que o tipo rastejava pelo telhado do edifício ao
nosso lado. Estávamos ali de pé, a apontar para o tipo que estava a subir pelo
telhado. Ele tinha uma espingarda. Podíamos vê-lo claramente com uma
espingarda. E a polícia estava como se não soubesse o que se estava a passar”,
notou Greg Smith, uma outra testemunha ocular.
***
Vários
líderes mundiais manifestaram preocupação com o ataque o antigo presidente dos
EUA, que já regressou à Trump Tower, em Nova Iorque, onde se montou forte
dispositivo de segurança.
A Presidente
da Comissão Europeia escreveu, na rede social X, que está “profundamente
chocada com o tiroteio que ocorreu durante o comício eleitoral do antigo
presidente”, a quem deseja rápida recuperação; e, apresentando condolências à
família da vítima inocente, sustenta que “a violência política não tem lugar
numa democracia”.
O presidente
da França, Emmanuel Macron, publicou mensagem a desejar rápida recuperação
Keir
Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, mostrou-se chocado com o sucedido e
disse que “a violência política, sob qualquer forma, não tem lugar nas nossas sociedades”.
Nos Países
Baixos, Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade, culpou a “retórica de
ódio dos políticos de esquerda.
O chanceler
alemão, Olaf Scholz, descreveu o ataque como “desprezível”, desejou rápida
recuperação a Trump e disse que “estes atos de violência ameaçam a democracia”.
O
primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, reforçou a retórica expressa
por Joe Biden e por outros líderes europeus ao sublinhar que a violência
política é “intolerável”.
O presidente
do governo de Espanha, Pedro Sanchez, seguiu a mesma linha dos outros
líderes e condenou o ataque ao ex-presidente.
A primeira-ministra
italiana, Giorgia Meloni, exprimiu “solidariedade” e “votos de rápidas melhoras”,
esperando que o diálogo e a responsabilidade prevaleçam.
Robert Fico,
primeiro-ministro eslovaco, que sobreviveu a um atentado em maio, foi
crítico ao escrever que os oponentes políticos de Trump tentam silenciá-lo “e,
quando não conseguem, enfurecem o público a tal ponto que um pobre coitado pega
numa arma”.
O presidente
da Ucrânia afirmou que “a violência nunca deve prevalecer”. Volodymyr Zelenskyy
mostrou alívio por saber que Trump está bem e deseja-lhe “rápida recuperação”.
O presidente
da China expressou simpatia e solidariedade para com o antigo presidente dos
EUA.
O
primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, condenou o ataque
indesculpável aos valores democráticos partilhados pelos EUA e pela Austrália.
E o
secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres,
condenou, “de forma inequívoca”, a tentativa de assassínio contra Donald Trump.
Em comunicado, o porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric,
releva que Guterres “condena, de forma inequívoca, este ato de violência
política” e envia a Trump “votos de rápidas melhoras”.
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Sou dos que
não querem que Trump ganhe eleições, mas a violência não é recurso tolerável.
2024.07.14 – Louro de Carvalho
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