domingo, 14 de julho de 2024

Donald Trump foi alvo de um atentado num comício na Pensilvânia

 

O ex-presidente dos Estados Unidos da América (EUA) e candidato republicano às eleições de novembro, Donald Trump, estava a discursar no palco de um comício de campanha em Butler, na Pensilvânia, a 13 de julho, quando foram ouvidos tiros no meio da multidão. O orador levou a mão direita ao pescoço, antes de se esconder atrás do pódio.

Agentes dos serviços secretos acorreram ao palco, enquanto se ouviam gritos da multidão, e cobriram o candidato republicano, junto ao púlpito. Mais tarde, foi anunciado que o atirador tinha sido abatido. O candidato foi visto com sangue, no lado do rosto, antes de ser levado para longe pelos seguranças. Um membro do público (um bombeiro de 50 anos) foi morto e dois estão no hospital, em estado crítico. E as autoridades policiais confirmaram que o tiroteio que envolveu o antigo presidente dos EUA está a ser investigado como tentativa de assassinato.

Numa publicação, na sua conta Truth Social, Trump afirmou ter sido “atingido por uma bala que perfurou a parte superior da minha orelha direita”. “Soube imediatamente que algo estava errado, pois ouvi um zumbido, tiros e senti a bala a rasgar a pele”, escreveu o candidato republicano.

O promotor público local, Richard Goldinger, disse aos jornalistas que o presumível autor do atentado foi abatido por agentes dos Serviços Secretos.

O Federal Bureau of Investigation (FBI) diz que o suspeito do disparo foi “provisoriamente identificado”, mas ainda não estava preparado para divulgar um nome. De acordo com a CNN, o alegado autor do ataque, que foi abatido pela polícia, tinha 20 anos e era membro do Partido Republicano. E, algumas horas mais tarde, o FBI identificou o atirador: Thomas Matthew Crooks, 20 anos, de Bethel Park, Pensilvânia. Os agentes federais, que acharam explosivos no carro e em casa do atirador, disseram que a investigação continua em curso.

Duas fontes disseram à CBS que Trump já saiu do hospital, mas não se sabia para onde se dirigia. Entretanto, imagens publicadas pela assessoria de comunicação, na rede social X, mostram o candidato republicano a descer do seu avião, depois de aterrar em New Jersey.

“Forte e resistente. Ele nunca parará de lutar pela América”, escreveu Margo Martin, diretora de comunicação da candidatura de Trump.

Depois de ter falado com Trump (a Casa Branca não disse sobre o que os dois conversaram), Joe Biden, num discurso em Delaware, condenou o ataque e afirmou que “toda a gente deve condenar” a violência política. “Não há lugar na América para este tipo de violência. É doentio”, disse. Biden havia de ficar em Delaware, no fim de semana, mas regressou à Casa Branca.

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O FBI identificou Thomas Matthew Crooks, 20 anos, de Bethel Park, na Pensilvânia, como o suspeito do disparo contra o antigo presidente. A cidade do atirador fica a cerca de uma hora de carro do comício em que Trump discursava. Os agentes dos Serviços Secretos mataram Crooks a tiro, quando este se encontrava no telhado de um edifício situado no exterior do local do comício, numa feira agrícola, em Butler, na Pensilvânia. Um participante foi morto e dois espetadores ficaram gravemente feridos. Eram todos do sexo masculino. A arma do disparo é uma AR-15 semiautomática, foi comprada pelo pai de forma legal, há pelo menos, seis meses.

Os meios de comunicação social nos EUA afirmam que Crooks estava registado como republicano no condado de Allegheny, na Pensilvânia. Contudo, os registos federais de financiamento de campanhas dos EUA também mostram que Crooks doou cerca de 14 euros ao Progressive Turnout Project, um grupo liberal que incentiva os americanos a votar. E, de acordo com o jornal USA Today, Crooks não tinha registo criminal na Pensilvânia.

Um vídeo publicado nas redes sociais e geolocalizado pela AP mostra o corpo de uma pessoa vestida de camuflado cinzento, imóvel no telhado de um edifício da AGR International Inc., uma fábrica a norte do recinto da Butler Farm Show, onde decorria o comício.

Segundo as autoridades, membros da equipa tática-avançada dos Serviços Secretos dos EUA mataram o atirador. A equipa tática, fortemente armada, viaja para todo o lado com o presidente e com os candidatos dos principais partidos, para enfrentar quaisquer ameaças ativas, enquanto os outros agentes se concentram em salvaguardar e evacuar a pessoa que está no centro da proteção. As forças da ordem recuperaram uma espingarda do tipo AR no local do crime, segundo uma terceira pessoa familiarizada com o assunto, que falou, sob condição de anonimato, para discutir a investigação em curso.

Uma análise da AP de mais de uma dúzia de vídeos e fotografias do local do comício, bem como de imagens de satélite do local, mostram que o atirador se aproximou, surpreendentemente, do palco onde o antigo presidente discursava. O telhado onde estava deitado fica a menos de 150 metros do local onde Trump estava a discursar, distância a partir da qual um atirador profissional podia atingir mortalmente um alvo humano. Para referência, 150 metros é a distância a que os recrutas do Exército dos EUA têm de atingir uma silhueta humana à escala, para se qualificarem com a espingarda M-16. A AR-15, como a encontrada junto do atirador no comício de Trump, é a versão civil semiautomática da M-16 militar.

Questionado, na conferência de imprensa, sobre o facto de as forças da ordem não saberem que o atirador estava no telhado, até este começar a disparar, Kevin Rojek, agente especial responsável pelo gabinete local do FBI em Pittsburgh, respondeu: “Essa é a nossa avaliação neste momento.”

É surpreendente o atirador ter conseguido abrir fogo no palco antes de ser morto pelo FBI.

O ataque foi a mais grave tentativa de assassínio de presidente ou candidato presidencial, desde que Ronald Reagan foi baleado em 1981. A menos de quatro meses das eleições presidenciais, o atentado evidencia as preocupações com a violência política num país altamente polarizado.

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No dia seguinte à tentativa de assassinato (14 de julho), Trump sublinhou que nada teme e sugeriu que vai manter o discurso agendado para a Convenção Republicana, em Milwaukee, no estado do Wisconsin. “Não vamos ter medo, mas sim permanecer firmes na nossa fé e desafiantes perante a maldade”, vincou o ex-presidente norte-americano na rede social Truth Social. “Neste momento, é mais importante do que nunca que nos mantenhamos unidos e mostremos o nosso verdadeiro caráter de americanos, permanecendo fortes e determinados, e não permitindo que o mal vença […]. “Amo verdadeiramente o nosso país, amo todos vós e estou ansioso por falar à nossa grande nação esta semana a partir do Wisconsin”, assegurou.

A campanha de Trump e o Comité Nacional Republicano divulgaram um comunicado conjunto, horas depois do tiroteio, no dia 13, confirmando que a Convenção Nacional Republicana prosseguirá na próxima semana, em Milwaukee, no estado do Wisconsin. “O presidente Trump espera juntar-se a todos vós em Milwaukee, à medida que avançamos com a nossa convenção para o nomear como 47.º presidente dos Estados Unidos”, lê-se no comunicado, acrescentando: “Como candidato do nosso partido, o presidente Trump continuará a partilhar a sua visão de Tornar a América Grande de Novo.”

De acordo com um memorando obtido pelo The Washington Post, os principais conselheiros da campanha de Trump disseram aos funcionários para se manterem afastados dos escritórios da campanha, em Washington e em West Palm Beach, no dia 14, pois ambos os locais estavam a ser avaliados após o atentado do dia 13. “Estamos a reforçar a presença de segurança armada com agentes no local 24 horas por dia, 7 dias por semana. Serão efetuadas avaliações de segurança adicionais. A nossa maior prioridade é manter todos os membros desta equipa em segurança", escreveram os conselheiros Chris LaCivita e Susie Wiles, num memorando conjunto, vincando: “Também vos pedimos que reconheçais a polarização política nesta eleição acesa. Se alguma coisa parecer estranha, por favor, assinalai-a, imediatamente, à direção ou a uma equipa de segurança no local.”

LaCivita e Wiles também aconselharam os funcionários a não comentar publicamente o ataque.

Horas depois do ataque, o Comité de Supervisão da Câmara dos Representantes dos EUA, liderado pelos republicanos, convocou a diretora dos Serviços Secretos do país, Kimberly Cheatle, para depor numa audiência marcada para 22 de julho. “Os americanos exigem respostas sobre a tentativa de assassinato do presidente Trump”, afirmou o Comité, nas redes sociais.

Os apoiantes de Trump lançaram críticas à atuação dos Serviços Secretos, com o ativista conservador Jack Posobiec a perguntar, na rede social X, como um atirador com um kit completo de espingarda foi autorizado a rastejar para o telhado mais próximo de um candidato presidencial.

Ron Moose, um apoiante de Trump presente no comício, disse ter ouvido quatro tiros. “Vi a multidão a baixar-se e, depois, Trump baixou-se, também muito rapidamente”, declarou, continuando a relatar: “Depois, os Serviços Secretos saltaram todos e protegeram-no o mais depressa que puderam. Estamos a falar de um segundo depois, estavam todos a protegê-lo.”

“Reparámos que o tipo rastejava pelo telhado do edifício ao nosso lado. Estávamos ali de pé, a apontar para o tipo que estava a subir pelo telhado. Ele tinha uma espingarda. Podíamos vê-lo claramente com uma espingarda. E a polícia estava como se não soubesse o que se estava a passar”, notou Greg Smith, uma outra testemunha ocular.

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Vários líderes mundiais manifestaram preocupação com o ataque o antigo presidente dos EUA, que já regressou à Trump Tower, em Nova Iorque, onde se montou forte dispositivo de segurança.

A Presidente da Comissão Europeia escreveu, na rede social X, que está “profundamente chocada com o tiroteio que ocorreu durante o comício eleitoral do antigo presidente”, a quem deseja rápida recuperação; e, apresentando condolências à família da vítima inocente, sustenta que “a violência política não tem lugar numa democracia”.

O presidente da França, Emmanuel Macron, publicou mensagem a desejar rápida recuperação

Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, mostrou-se chocado com o sucedido e disse que “a violência política, sob qualquer forma, não tem lugar nas nossas sociedades”.

Nos Países Baixos, Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade, culpou a “retórica de ódio dos políticos de esquerda.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, descreveu o ataque como “desprezível”, desejou rápida recuperação a Trump e disse que “estes atos de violência ameaçam a democracia”.

O primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, reforçou a retórica expressa por Joe Biden e por outros líderes europeus ao sublinhar que a violência política é “intolerável”.

O presidente do governo de Espanha, Pedro Sanchez, seguiu a mesma linha dos outros líderes e condenou o ataque ao ex-presidente.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, exprimiu “solidariedade” e “votos de rápidas melhoras”, esperando que o diálogo e a responsabilidade prevaleçam.

Robert Fico, primeiro-ministro eslovaco, que sobreviveu a um atentado em maio, foi crítico ao escrever que os oponentes políticos de Trump tentam silenciá-lo “e, quando não conseguem, enfurecem o público a tal ponto que um pobre coitado pega numa arma”.

O presidente da Ucrânia afirmou que “a violência nunca deve prevalecer”. Volodymyr Zelenskyy mostrou alívio por saber que Trump está bem e deseja-lhe “rápida recuperação”.

O presidente da China expressou simpatia e solidariedade para com o antigo presidente dos EUA.

O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, condenou o ataque indesculpável aos valores democráticos partilhados pelos EUA e pela Austrália.

E o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, condenou, “de forma inequívoca”, a tentativa de assassínio contra Donald Trump. Em comunicado, o porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric, releva que Guterres “condena, de forma inequívoca, este ato de violência política” e envia a Trump “votos de rápidas melhoras”.

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Sou dos que não querem que Trump ganhe eleições, mas a violência não é recurso tolerável.

2024.07.14 – Louro de Carvalho

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