sexta-feira, 12 de julho de 2024

Da Engenharia Eletrónica e de Computadores ao Episcopado

 

A Sé Catedral de Beja acolheu, a 7 de julho, pelas 17 horas, a grande multidão que se deslocou a Beja, para a celebração de ordenação e tomada de posse de D. Fernando Paiva, o seu 15.º Bispo, desde a restauração da Diocese.

Foram perto de duas centenas de padres, diáconos e bispos que se deslocaram para participar e várias centenas de leigos acorreram de dentro da Diocese, tal como os muitos que o acompanharam desde Setúbal, de cujo presbitério é proveniente.

Presidiu à ordenação o Arcebispo Metropolita de Évora, D. Francisco Senra Coelho, sendo os co-ordenantes D. João Marcos, Bispo Emérito e Administrador Apostólico de Beja e o Cardeal Américo, Bispo de Setúbal. Depois da Ordenação, o Arcebispo conduziu D. Fernando à sua cátedra, simbolizando a tomada de posse. E, a partir de então, presidiu à celebração da Eucaristia.

D. Fernando Paiva, de 61 anos, nasceu a 26 de novembro de 1962, em Oliveira, no concelho de São Pedro do Sul), Diocese de Viseu. Fez a licenciatura em Engenharia Eletrónica e de Computadores no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Mais tarde, entrou no Seminário de Almada, para frequentar o Curso de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP), que terminou em 2004. Foi ordenado presbítero, a 10 de abril de 2005.

Em 2013, fez o mestrado em Filosofia da Religião e Fenomenologia Religiosa. Além disso, ainda desempenhou muitos cargos que lhe foram sendo confiados pelos seus bispos. Entre eles: pároco de Nossa Senhora da Anunciada, membro do Colégio de Consultores, membro da Comissão Diocesana de Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis, prefeito, económico e vice-reitor do Seminário de Almada e responsável pelo acompanhamento dos novos padres e da formação permanente do clero. Em 2023, foi nomeado pelo Cardeal Américo vigário geral da Diocese.

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Na véspera, 6 de julho, pelas 18 h30, sob a presidência do Núncio Apostólico, D. Ivo Scapolo, a Sé de Beja reuniu um número significativo de fiéis, para o canto solene de Vésperas I. Na parte final, perante o Núncio Apostólico, D. Ivo Scapolo, o Administrador Apostólico, D. João Marcos, o Colégio de Consultores, alguns padres e diáconos e demais fiéis presentes, D. Fernando Paiva fez a sua Profissão de Fé, proclamando as verdades da fé contidas no Símbolo dos Apóstolos (Credo) e prestou o Juramento de Fidelidade ao Papa.

Prevendo, como realmente sucedeu, que a Sé de Beja seria insuficiente para receber, dentro de si, a 7 de Julho, os muitos fiéis que desejavam participar na ordenação e tomada de posse de D. Fernando, os organizadores do evento, desde o início providenciaram a possibilidade de a ordenação ser acompanhada no exterior (Largo do Lidador), com a colocação de um Ecrã Wall e de colunas de som, bem como a transmissão pelos meios digitais, Canal Youtube e Facebook.

Contactada a Agência Ecclesia, na pessoa do seu diretor, Paulo Rocha, prontamente obtiveram a garantia da sua prestigiada colaboração, que se encarregou da filmagem e da transmissão, fornecendo também o som e as imagens para o exterior da Catedral.

As dificuldades encontradas para a ligação temporária da Net por cabo fibra acabaram por ser ultrapassadas, tendo a Meo acedido ao insistente pedido dos organizadores. Assim, foi possível chegar longe e a mais de 27 mil pessoas com as imagens e, somente com o som, através da Radio Maria, que manifestou, desde o anúncio da data, a vontade de fazer uma emissão a partir de Beja, transmitindo em direto, pelos seus emissores, já presentes nos cinco continentes.

Monsenhor António Cartageno ensaiou e dirigiu o canto litúrgico, contando com o professor e maestro José Filipe, e com cerca de 50 elementos entre cantores, organista Alexandre Coelho e demais instrumentistas, que deram maior solenidade a toda a celebração.

Na celebração da ordenação e tomada de posse, participaram mais de 900 pessoas: bispos de Portugal, padres e diáconos de diferentes dioceses e principalmente, de Setúbal e de Beja, convidados (autoridades civis e militares), familiares de D. Fernando e público em geral. Entre as autoridades, é de salientar a presença participativa do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa que, no final, foi cumprimentado pelas demais autoridades presentes.

Durante o dia e até ao final da celebração, os organizadores contaram, no local, com a presença generosa e prestigiada da Polícia de Segurança Pública (PSP), que muito os ajudou a manter a serenidade e a paz necessárias neste e noutros acontecimentos similares. A par desta presença, não esquecem o empenho dos Escuteiros (CNE) e o de muitos que, antecipadamente e no dia, prepararam, ao pormenor, e trabalharam até depois do final, para que tudo decorresse bem.

No final era bem visível a alegria no rosto dos presentes, porque puderam saudar o novo Bispo e pelo modo como tudo decorreu.

Presidiu à Ordenação, como foi referido, D. Francisco Senra, Arcebispo Metropolita de Évora, tendo a seu lado, como co-ordenantesD. João Marcos, desde 21 de março e até ao momento, Administrador Apostólico da Diocese, agora Bispo Emérito, e o Cardeal D. Américo Aguiar, Bispo de Setúbal.

A Ordenação de um Bispo tem como momentos fundamentais a apresentação e promessas do eleito, a imposição das mãos, a oração consecratória de Ordenação, a unção da cabeça e a entrega dos Evangelhos e das insígnias episcopais: anel, mitra e báculo.

Após a receção destas, D. Fernando tomou, de imediato, posse da sua Diocese, assinalada com o sentar na Cadeira Episcopal, uma alargada salva de palmas, o toque festivo dos sinos da Catedral e, no final, a assinatura da ata da tomada de posse. A partir do momento em que se sentou na Cadeira Episcopal, assumiu a presidência da celebração. Depois da oração Pós-Comunhão, com a mitra e o báculo, D. Fernando percorreu a Igreja Catedral e o Largo frente à Sé, abençoando a todos. E, antes da Bênção Final, dirigiu-se aos presentes, no local da presidência e, em seguida, foi à porta da Igreja saudar todos quantos se encontravam no exterior. Por fim, realizou-se a sessão de cumprimentos.

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À homilia, D. Francisco Senra Coelho considerou que a Igreja suplica “o exercício do ministério episcopal de modo fiel e comprovado, na transmissão da palavra e no testemunho de vida cristã”, já que a pregação da Palavra, própria do Pastor, é “missão relevante do ministério, porque Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de caridade e moderação.” (2Tm 1,7).

A transmissão da Palavra revelada e confiada ao Magistério da Igreja exige dos bispos coragem, fortaleza, testemunho de vida e decisão para dar a vida, momento a momento. “Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor […], sofre comigo pelo Evangelho, confiando no poder de Deus” (2Tm 1,8).

A evangelização pede coerência comprovada e reveladora de santidade, não embasada nas virtudes e qualidades dos eleitos, mas sustentada em Cristo, fonte e manancial da graça.

Ser Pastor à maneira do Bom Pastor pressupõe a dádiva total da vida pelas ovelhas, por cada ovelha, conhecendo-as pelo nome. Os bons pastores são, assim, “trabalhadores na messe da História do Mundo, com a tarefa de purificar, abrindo as portas do Mundo ao senhorio de Deus, para que a vontade de Deus seja feita, assim na terra como no céu”, como afirmava Bento XVI.

O Divino Mestre revela um aspeto central da missão episcopal: o zelo pela unidade do seu rebanho. “Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as reunir; elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor.” Neste mundo frágil e confuso, deparamo-nos com ovelhas perdidas, afastadas. Neste sentido, a tarefa dos Pastores é serem eco da voz de Cristo, fazendo-a chegar a todas as ovelhas, às do próprio redil e às alheias a este.

Assumidos pelo Espírito Santo e ungidos pelo Senhor, os Pastores são profeticamente enviados “a anunciar a boa nova aos infelizes, a curar os corações atribulados, a proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros, a proclamar o ano da graça do Senhor […]; a consolar todos os aflitos, a levar aos aflitos de Sião uma coroa, em vez de cinza, o óleo da alegria, em vez do trajo de luto, cânticos de louvor, em vez de um espírito abatido” (Is 61,1-3a). Nas palavras do Papa Francisco, importa amar, com amor de pai e de irmão, todos os que Deus lhes confia. “Encorajai os fiéis a cooperar no compromisso apostólico e escutai-os de bom grado.

Na Igreja Primitiva, o livro dos Atos dos Apóstolos exprime a beleza e a harmonia icónica do rebanho em torno do Pastor: “Eram assíduos no ensino dos Apóstolos e na comunhão, na fração do pão e nas orações” (At 2,42). Estão contidos, aqui, os quatro pilares fundamentais do ser da Igreja e do serviço episcopal.

Primeiro pilar: “Eram assíduos no ensino dos Apóstolos”. O anúncio querigmático apostólico resume-se na Regula Fidei que, “em síntese, é idêntica às Profissões de Fé. Eis o fundamento confiável, sobre o qual também nós cristãos nos fundamentamos, hoje.” O Bispo é ministro da Palavra iluminadora do hoje, pela fecundidade que nos vem da Fé dos Apóstolos.

Segundo pilar: “na comunhão”. Esta comunhão realiza-se com a partilha do “visto e ouvido”, tocado e palpado pelos Apóstolos no convívio com Jesus, o Filho de Deus feito homem. Pela pregação ancorada na Tradição Apostólica, o ministério dos Bispos garante “que esta corrente da comunhão não se interrompa. Esta é a essência da Sucessão apostólica: conservar a comunhão com os que encontraram o Senhor, de forma visível e tangível, e, assim, manter aberto o Céu, a presença de Deus no meio de nós”. Os sucessores dos Apóstolos devem, amorosamente, declarar às ovelhas do rebanho: “Senti no fundo de vós mesmas, a certeza do amor por nós vivido e que nos transformou. Senti e experienciai o amor radical e radicalizante daquele que santificou os nossos antecessores e nos santifica a nós”. Ser Bispo é, sempre e sem desistência, ser construtor de comunhão, de reconciliação e de cura.

Terceiro pilar: “na fração do pão”. O partir do pão, isto é, a celebração da Eucaristia “constitui o fulcro da Igreja e deve ser o centro do nosso ser cristãos e da nossa vida sacerdotal”. Formamos, no Banquete Sagrado, um só corpo, um só pão. Viver intensamente e com piedade a Celebração Eucarística é dar testemunho de fé que nos reúne no mesmo Senhor e Pastor. Partilhar o pão sagrado, significa, em sentido horizontal, “a partilha, a transmissão do nosso amor pelo próximo”. A dimensão social e a partilha não constituem um suplemento moral a acrescentar à Eucaristia, mas fazem parte dela.

Quarto pilar: “nas orações”. O uso do plural é importante. A oração deve ser muito pessoal, unindo-nos a Deus no mais profundo, mas “nunca é, exclusivamente, algo particular do ‘eu’ individual. Reza-se no ‘nós’ dos filhos de Deus. Só neste ‘nós’ somos filhos do Pai-Nosso, que o Senhor nos ensinou a recitar”. A oração aproxima-nos de Deus que é o “Senhor das proximidades”. O Bispo é reflexo do Bom Pastor e ama as ovelhas com o Amor com que é Amado por Cristo.

Numa referência ao neoprelado de Beja, lembrou o feliz dia do seu nascimento, 26 de novembro, designado como Dia Mundial da Oliveira, coincidente com o nome da sua terra natal: Oliveira. E deixou-lhe o recado: “Como fruto aprimorado da oliveira, alicerçado na Palavra de Cristo – Alfa e Ómega – serás unção de paz e conforto para todo o Santo Povo de Deus que com os seus pastores, bispo, presbíteros e diáconos, e também com os seus consagrados e consagradas e esperançosos seminaristas.” Pediu-lhe que peregrine pelo Baixo Alentejo, percorrido pelos Santos Apríngio e Sezinando, para que, por intercessão do Coração Imaculado de Maria e de S. José, Padroeiro desta Igreja Particular, na toponímia romana, dita Diocese Pacense, saboreemos o encanto do Salmista: “Oh, como é bom e agradável viverem os irmãos em união!” (Sl 133,1). Concretizar-se-á, assim, o apelo que se exprime nas Armas de Fé do novo prelado: “Pertencemos ao Senhor”. Ancorados nesta certeza e na coragem missionária das figuras que fraternalmente o antecederam, nomeadamente, D. João Marcos, o orador sagrado pediu a Deus coragem e confiança para D. Fernando e para todas as suas comunidades.

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Conhecendo o ser e a missão dos Pastores, teremos que os ajudar a concretizá-la e devemos fazer a nossa parte, neste ser e missão da Igreja.

2024.07.12 – Louro de Carvalho

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