A Sé Catedral
de Beja acolheu, a 7 de julho, pelas 17 horas, a grande multidão que se deslocou
a Beja, para a celebração de ordenação e tomada de posse de D. Fernando Paiva, o
seu 15.º Bispo, desde a restauração da Diocese.
Foram perto
de duas centenas de padres, diáconos e bispos que se deslocaram para participar
e várias centenas de leigos acorreram de dentro da Diocese, tal como os muitos
que o acompanharam desde Setúbal, de cujo presbitério é proveniente.
Presidiu à ordenação
o Arcebispo Metropolita de Évora, D. Francisco Senra Coelho, sendo os co-ordenantes D. João Marcos, Bispo Emérito e Administrador Apostólico de Beja e o Cardeal
Américo, Bispo de Setúbal. Depois da Ordenação, o Arcebispo conduziu D.
Fernando à sua cátedra, simbolizando a tomada de posse. E, a partir de então,
presidiu à celebração da Eucaristia.
D. Fernando
Paiva, de 61 anos, nasceu a 26 de novembro de 1962, em Oliveira, no concelho de
São Pedro do Sul), Diocese de Viseu. Fez a licenciatura em Engenharia
Eletrónica e de Computadores no Instituto Superior Técnico, em Lisboa.
Mais tarde, entrou no Seminário de Almada, para frequentar o Curso de Teologia
da Universidade Católica Portuguesa (UCP), que terminou em 2004. Foi ordenado
presbítero, a 10 de abril de 2005.
Em 2013, fez
o mestrado em Filosofia da Religião e Fenomenologia Religiosa. Além disso,
ainda desempenhou muitos cargos que lhe foram sendo confiados pelos seus
bispos. Entre eles: pároco de Nossa Senhora da Anunciada, membro do Colégio de
Consultores, membro da Comissão Diocesana de Proteção de Menores e Pessoas
Vulneráveis, prefeito, económico e vice-reitor do Seminário de Almada e responsável
pelo acompanhamento dos novos padres e da formação permanente do clero. Em
2023, foi nomeado pelo Cardeal Américo vigário geral da Diocese.
***
Na véspera, 6 de julho, pelas 18 h30,
sob a presidência do Núncio Apostólico, D. Ivo Scapolo, a Sé de Beja reuniu um número significativo de
fiéis, para o canto solene de Vésperas I. Na parte final, perante o Núncio
Apostólico, D. Ivo Scapolo, o Administrador
Apostólico, D. João Marcos, o Colégio de Consultores, alguns padres e diáconos
e demais fiéis presentes, D. Fernando Paiva fez a sua Profissão de Fé, proclamando as
verdades da fé contidas no Símbolo dos Apóstolos (Credo) e prestou o Juramento
de Fidelidade ao Papa.
Prevendo,
como realmente sucedeu, que a Sé de Beja seria insuficiente para receber, dentro
de si, a 7 de Julho, os muitos fiéis que desejavam participar na ordenação e tomada
de posse de D. Fernando, os organizadores do evento, desde o início
providenciaram a possibilidade de a ordenação ser acompanhada no exterior
(Largo do Lidador), com a colocação de um Ecrã Wall e de colunas de som, bem como a transmissão pelos meios
digitais, Canal Youtube e Facebook.
Contactada a
Agência Ecclesia, na pessoa do seu diretor,
Paulo Rocha, prontamente obtiveram a garantia da sua prestigiada colaboração,
que se encarregou da filmagem e da transmissão, fornecendo também o som e as
imagens para o exterior da Catedral.
As
dificuldades encontradas para a ligação
temporária da Net por cabo fibra
acabaram por ser ultrapassadas, tendo a Meo acedido ao insistente
pedido dos organizadores. Assim, foi possível chegar longe e a mais de 27 mil
pessoas com as imagens e, somente com o som, através da Radio
Maria, que manifestou, desde o anúncio da data, a vontade de fazer
uma emissão a partir de Beja,
transmitindo em direto, pelos seus emissores, já presentes nos cinco
continentes.
Monsenhor António Cartageno ensaiou e
dirigiu o canto litúrgico, contando com o professor e maestro José Filipe, e com cerca de 50 elementos entre
cantores, organista Alexandre Coelho e demais instrumentistas, que deram maior
solenidade a toda a celebração.
Na
celebração da ordenação e tomada de posse, participaram mais de 900 pessoas: bispos de
Portugal, padres e diáconos de diferentes dioceses e principalmente, de Setúbal
e de Beja, convidados (autoridades civis e militares), familiares de D.
Fernando e público em geral. Entre as autoridades, é de salientar a presença
participativa do Presidente da
República, Marcelo Rebelo de Sousa que, no final, foi cumprimentado
pelas demais autoridades presentes.
Durante o
dia e até ao final da celebração, os organizadores contaram, no local, com a
presença generosa e prestigiada da Polícia de Segurança Pública (PSP), que
muito os ajudou a manter a serenidade e a paz necessárias neste e noutros
acontecimentos similares. A par desta presença, não esquecem o empenho dos
Escuteiros (CNE) e o de muitos que, antecipadamente e no dia, prepararam, ao
pormenor, e trabalharam até depois do final, para que tudo decorresse bem.
No final era
bem visível a alegria no rosto dos presentes, porque puderam saudar o novo
Bispo e pelo modo como tudo decorreu.
Presidiu à Ordenação, como foi referido, D. Francisco Senra, Arcebispo Metropolita de Évora, tendo a seu lado,
como co-ordenantes, D. João Marcos, desde 21 de março e
até ao momento, Administrador Apostólico da Diocese, agora Bispo Emérito, e
o Cardeal D. Américo Aguiar,
Bispo de Setúbal.
A Ordenação
de um Bispo tem como momentos fundamentais a apresentação e promessas do
eleito, a imposição das mãos, a oração consecratória de Ordenação, a unção da cabeça
e a entrega dos Evangelhos e das insígnias episcopais: anel, mitra e báculo.
Após a
receção destas, D. Fernando tomou, de imediato, posse da sua Diocese,
assinalada com o sentar na Cadeira Episcopal, uma alargada salva de palmas, o
toque festivo dos sinos da Catedral e, no final, a assinatura da ata da tomada de posse. A partir do
momento em que se sentou na Cadeira Episcopal, assumiu a presidência da
celebração. Depois da oração
Pós-Comunhão, com a mitra e o báculo, D. Fernando percorreu a Igreja
Catedral e o Largo frente à Sé, abençoando a todos. E, antes da Bênção Final,
dirigiu-se aos presentes, no local da presidência e, em seguida, foi à porta da
Igreja saudar todos quantos se encontravam no exterior. Por fim, realizou-se a
sessão de cumprimentos.
***
À
homilia, D. Francisco Senra Coelho considerou que a Igreja suplica “o exercício
do ministério episcopal de modo fiel e comprovado, na transmissão da palavra e
no testemunho de vida cristã”, já que a pregação da Palavra, própria do Pastor,
é “missão relevante do ministério, porque Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de caridade
e moderação.” (2Tm 1,7).
A
transmissão da Palavra revelada e confiada ao Magistério da Igreja exige dos bispos
coragem, fortaleza, testemunho de vida e decisão para dar a vida, momento a
momento. “Não te envergonhes de dar
testemunho de Nosso Senhor […], sofre comigo pelo Evangelho, confiando no poder
de Deus” (2Tm 1,8).
A
evangelização pede coerência comprovada e reveladora de santidade, não embasada
nas virtudes e qualidades dos eleitos, mas sustentada em Cristo, fonte e
manancial da graça.
Ser Pastor à
maneira do Bom Pastor pressupõe
a dádiva total da vida pelas ovelhas, por cada ovelha, conhecendo-as pelo nome.
Os bons pastores são, assim, “trabalhadores
na messe da História do Mundo, com a tarefa de purificar, abrindo as portas do
Mundo ao senhorio de Deus, para que a vontade de Deus seja feita, assim na
terra como no céu”, como afirmava Bento XVI.
O Divino
Mestre revela um aspeto central da missão episcopal: o zelo pela unidade do seu
rebanho. “Tenho ainda outras ovelhas
que não são deste redil e preciso de as reunir; elas ouvirão a minha voz e
haverá um só rebanho e um só pastor.” Neste mundo frágil e
confuso, deparamo-nos com ovelhas perdidas, afastadas. Neste sentido, a tarefa
dos Pastores é serem eco da voz de Cristo, fazendo-a chegar a todas as ovelhas,
às do próprio redil e às alheias a este.
Assumidos
pelo Espírito Santo e ungidos pelo Senhor, os Pastores são profeticamente
enviados “a anunciar a boa nova aos
infelizes, a curar os corações atribulados, a proclamar a redenção aos cativos
e a liberdade aos prisioneiros, a proclamar o ano da graça do Senhor […]; a
consolar todos os aflitos, a levar aos aflitos de Sião uma coroa, em vez de
cinza, o óleo da alegria, em vez do trajo de luto, cânticos de louvor, em vez
de um espírito abatido” (Is
61,1-3a). Nas palavras do Papa Francisco, importa amar, com amor de pai e de irmão, todos os que Deus lhes confia. “Encorajai
os fiéis a cooperar no compromisso apostólico e escutai-os de bom grado.”
Na Igreja
Primitiva, o livro dos Atos dos Apóstolos
exprime a beleza e a harmonia icónica do rebanho em torno do Pastor: “Eram
assíduos no ensino dos Apóstolos e na comunhão, na fração do pão e nas orações”
(At 2,42). Estão contidos, aqui, os quatro
pilares fundamentais do ser da Igreja e do serviço episcopal.
Primeiro pilar: “Eram assíduos no ensino dos Apóstolos”. O anúncio querigmático apostólico
resume-se na Regula Fidei que, “em síntese, é idêntica às Profissões de Fé. Eis o fundamento confiável,
sobre o qual também nós cristãos nos fundamentamos, hoje.” O Bispo é ministro
da Palavra iluminadora do hoje, pela fecundidade que nos vem da Fé dos
Apóstolos.
Segundo pilar: “na comunhão”. Esta comunhão realiza-se com a partilha do “visto e ouvido”,
tocado e palpado pelos Apóstolos no convívio com Jesus, o Filho de Deus feito
homem. Pela pregação ancorada na Tradição Apostólica, o ministério dos Bispos
garante “que esta corrente da comunhão
não se interrompa. Esta é a essência da Sucessão apostólica: conservar a
comunhão com os que encontraram o Senhor, de forma visível e tangível, e, assim,
manter aberto o Céu, a presença de Deus no meio de nós”. Os sucessores
dos Apóstolos devem, amorosamente, declarar às ovelhas do rebanho: “Senti no
fundo de vós mesmas, a certeza do amor por nós vivido e que nos transformou.
Senti e experienciai o amor radical e radicalizante daquele que santificou os
nossos antecessores e nos santifica a nós”. Ser Bispo é, sempre e sem
desistência, ser construtor de comunhão, de reconciliação e de cura.
Terceiro pilar: “na fração do pão”. O partir do pão, isto é, a celebração da Eucaristia “constitui o fulcro da Igreja e deve ser o
centro do nosso ser cristãos e da nossa vida sacerdotal”. Formamos, no
Banquete Sagrado, um só corpo, um só pão. Viver intensamente e com piedade a
Celebração Eucarística é dar testemunho de fé que nos reúne no mesmo Senhor e
Pastor. Partilhar o pão sagrado, significa, em sentido horizontal, “a partilha, a transmissão do nosso amor pelo
próximo”. A dimensão social e a partilha não constituem um suplemento
moral a acrescentar à Eucaristia, mas fazem parte dela.
Quarto pilar: “nas orações”. O uso do plural é importante. A oração deve ser muito pessoal, unindo-nos a Deus no mais profundo, mas
“nunca é, exclusivamente, algo particular do ‘eu’ individual. Reza-se no ‘nós’
dos filhos de Deus. Só neste ‘nós’ somos filhos do Pai-Nosso, que o Senhor nos
ensinou a recitar”. A oração aproxima-nos de Deus que é o “Senhor das
proximidades”. O Bispo é reflexo do Bom Pastor e ama as ovelhas com o Amor com
que é Amado por Cristo.
Numa
referência ao neoprelado de Beja, lembrou o feliz dia do seu nascimento, 26 de
novembro, designado como Dia Mundial da Oliveira, coincidente com o nome da sua
terra natal: Oliveira. E deixou-lhe o recado: “Como fruto aprimorado da
oliveira, alicerçado na Palavra de Cristo – Alfa e Ómega – serás unção de paz e
conforto para todo o Santo Povo de Deus que com os seus pastores, bispo,
presbíteros e diáconos, e também com os seus consagrados e consagradas e
esperançosos seminaristas.” Pediu-lhe que peregrine pelo Baixo Alentejo, percorrido
pelos Santos Apríngio e Sezinando, para que, por intercessão do Coração
Imaculado de Maria e de S. José, Padroeiro desta Igreja Particular, na
toponímia romana, dita Diocese Pacense, saboreemos o encanto do Salmista: “Oh,
como é bom e agradável viverem os irmãos em união!” (Sl 133,1). Concretizar-se-á, assim, o apelo que se exprime nas Armas
de Fé do novo prelado: “Pertencemos ao Senhor”. Ancorados nesta certeza e na
coragem missionária das figuras que fraternalmente o antecederam, nomeadamente,
D. João Marcos, o orador sagrado pediu a Deus coragem e confiança para D.
Fernando e para todas as suas comunidades.
***
Conhecendo o
ser e a missão dos Pastores, teremos que os ajudar a concretizá-la e devemos
fazer a nossa parte, neste ser e missão da Igreja.
2024.07.12 – Louro de Carvalho
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