Empresas, bancos e companhias aéreas, em todo o Mundo,
foram afetados, a 19 de julho, por uma falha informática em larga escala. Com
efeito, as empresas que
utilizam a Microsoft enfrentaram grandes falhas informáticas, com os computadores
portáteis e os sistemas a não funcionarem.
O jornalista
Chris Stokel-Walker sugeriu que a falha se deveu a uma atualização do
verificador de ameaças informáticas Crowdstrike Falcon. No X, a Microsoft 365 reconheceu o problema que afetava os
utilizadores e disse, na manhã do dia 19: “Estamos a investigar um problema que
afeta a capacidade dos utilizadores de aceder a várias aplicações e serviços do
Microsoft 365.”
As companhias
aéreas foram algumas empresas que recorreram às redes sociais para informarem
os passageiros da interrupção dos voos, após terem surgido relatos sobre a
falha informática.
Algumas
companhias aéreas americanas, como a Delta e a American
Airlines, tiveram problemas em vários aeroportos.
O aeroporto
de Berlim-Brandemburgo informou: “Devido a uma falha técnica, haverá atrasos no
check-in.”
A Vueling
Airlines, de Barcelona, na Espanha, também atualizou os seus passageiros
através de uma publicação na plataforma de redes sociais X: “Informamos que, devido a uma falha global dos sistemas
informáticos, as nossas operações de voo poderão ser alteradas.”
O Aeroporto
Schiphol, de Amesterdão, também informou os passageiros por comunicado no site: “Neste momento, há uma falha
informática global. Esta perturbação tem também um impacto nos voos de e para
Schiphol. O impacto está agora a ser mapeado.”
A companhia
irlandesa RyanAir afirmou que estava a enfrentar dificuldades nos processos de check-in e solicitou aos passageiros que
chegassem ao aeroporto três horas antes do seu voo. Os utilizadores da
aplicação e do site da Ryanair queixaram-se
de não conseguirem fazer o check-in
na manhã do dia 19.
A KLM, uma empresa
aérea dos Países Baixos, disse que estava a ter dificuldades de serviço.
Na Índia, a
SpiceJet juntou-se às companhias aéreas mundiais, para comunicar o problema: “Estamos,
atualmente, a enfrentar desafios técnicos com o nosso fornecedor de serviços,
que afetam os serviços online,
incluindo as funcionalidades de reserva, check-in e gestão de reservas. Como
resultado, ativámos os processos manuais de check-in
e embarque em todos os aeroportos.”
Os
aeroportos de Melbourne e de Sidney, na Austrália, também alertaram os
passageiros para eventuais demoras devido aos problemas informáticos e, no
Reino Unido, houve perturbações em várias linhas ferroviárias.
Também em Portugal, os aeroportos registaram constrangimentos no check-in. A ANA, que gere os aeroportos portugueses, admitiu que a falha informática
estava a causar “constrangimentos no check-in
e embarque de alguns voos” e, segundo o jornal Público, pediu aos passageiros que se informassem sobre o estado do
seu voo, antes de se dirigirem para o aeroporto”. E a TAP alertou os
passageiros, no X, para “eventuais
consequências” da falha do serviço informático alheia à companhia aérea.
No Canadá, as linhas de contingência estiveram operacionais.
O
Downdetector indicou que as principais operadoras de telecomunicações, em
Portugal, estiveram com falhas, tendo aumentado, de forma exponencial, as
queixas dos utilizadores.
Inicialmente,
foi reportado pelo Ministério da Saúde, citado pela Lusa, que o Hospital Amadora-Sintra estava a ser afetado pela
falha informática, mas o governo explicou que a instabilidade nos serviços
hospitalares se deveu a problemas da rede interna do hospital, entretanto solucionados.
A estação de
televisão britânica Sky News ficou
fora do ar, após a interrupção do serviço, tendo dito aos telespectadores que
estava a trabalhar arduamente para restabelecer a ligação.
O serviço de
notícias RNS também foi afetado,
impedindo a publicação de notícias no site
da Bolsa de Londres, com “equipas técnicas a trabalhar para restabelecer o
serviço”. No entanto, outros serviços do grupo continuaram a funcionar
normalmente.
Entretanto,
no Reino Unido, a falha de energia afetou o Serviço Nacional de Saúde (NHS),
com o sistema informático médico EMIS também em baixo. O sistema permitiu aos
médicos marcar consultas, consultar as notas dos pacientes, encomendar receitas
e efetuar encaminhamentos.
A GTD
Healthcare, um dos principais prestadores de cuidados de saúde do Reino Unido,
no Noroeste de Inglaterra, que utiliza o sistema, afirmou no site: “Infelizmente, existe um problema
nacional com o EMIS Web – o sistema informático clínico utilizado nos
consultórios dos médicos de clínica geral. Isto irá afetar a nossa capacidade
de marcar consultas/consultar os pacientes, nesta manhã. Pedimos desculpa por
esta perturbação.”
Os serviços
ferroviários foram afetados por “problemas informáticos generalizados”, tendo a
Southern, a Thameslink, a Gatwick Express e a Great Northern comunicado
problemas.
Também a banca teve dificuldades nos sistemas operativos, tal como os serviços
Visa e Amazon.
***
Isto é só uma pequena amostra do que
resultou do apagão. Por isso, um especialista, analisando os efeitos da falha, avisou: “Quanto mais softwares tivermos
interligados, mais vulneráveis ficaremos, pois vamos interagir cada vez
mais com o software, e isso vai aumentar.”
Tudo aconteceu após a falha na
atualização do verificador de ameaças informáticas Crowdstrike Falcon, feita
pela empresa de cibersegurança Crowdstrike que trabalha para a Microsoft.
Axel Legay, professor de informática
na Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica, explicou o sucedido e como uma
pequena atualização deita o Mundo abaixo. “Foi simplesmente um antivírus que foi
atualizado e a nova atualização não é muito compatível com os sistemas
Microsoft”, explicitou, acrescentando: “Várias empresas viram
os seus ecrãs ficarem completamente azuis. O antivírus é complexo e o próprio
sistema da Microsoft também é complexo. Por isso, por vezes, quando tentamos
juntar duas coisas, elas tornam-se tão complexas que não sabemos realmente o
que vai acontecer.”
“O impacto desta falha foi enorme e
sentiu-se em todo o Mundo, já que muitas empresas utilizam a Microsoft, para
operarem, e dependem dela, para funcionarem. Já estão a ser feitos testes para
evitar este tipo de problemas, mas “nunca se pode garantir que funcionem”,
alertou Legay.
Axel Legay concorda que haverá
consequências na reputação da Microsoft e, economicamente, “talvez a bolsa
diminua um pouco”. Contudo, lembra que a Microsoft detém o monopólio e, por
isso, “as consequências a longo prazo serão nulas”.
Estes episódios fazem-nos pensar na
dependência do sistema e na falibilidade de todos os sistemas. “Nenhum sistema
é 100% seguro”, sustenta Legay, alertando que “a UE [União Europeia] não tem investido o
suficiente em cibersegurança nos últimos anos”.
***
Como foi
referido, uma atualização da plataforma de segurança informática CrowdStrike
está na origem do problema que teve impacto a nível global. A Microsoft garantiu
que o problema já está resolvido, mas “o impacto deve sentir-se ainda nas
próximas horas – ou dias”.
E, em
comunicado, George Kurtz, o CEO da
Crowdstricke, revelou que a empresa estava a trabalhar ativamente com os
clientes afetados por um defeito encontrado numa única atualização de conteúdos
para Windows. “Não se trata de incidente de segurança ou de ciberataque,
garantiu Kurtz, vincando: “O problema foi identificado, isolado e foi
implementada uma correção.”
A causa dos
problemas e a escala exata ainda estão por apurar, avança a Associated Press (AP).
A
Crowdstrike está a enfrentar um intenso escrutínio, depois de admitir que uma
atualização de software defeituosa
causou o caos global.
No que, para
alguns, pode parecer o enredo do filme de 2023 “Deixar o Mundo para trás” a
tornar-se realidade, a maior parte do planeta acordou, a 19 de julho, com a
notícia do colapso informático global. Milhares de voos foram interrompidos, aeroportos
estiveram desorganizados, clientes não conseguiam aceder aos seus serviços
bancários ou pagar as suas compras com cartões, os doentes não conseguiam
consultar os médicos ou fazer cirurgias, e muito mais.
A empresa de
cibersegurança Crowdstrike admitiu que a causa da interrupção foi um “defeito”
numa atualização de software do
Windows, tendo o CEO, George Kurtz informado que os engenheiros da empresa
estavam a trabalhar para resolver o problema e encontraram uma solução.
Lançada, em
2012, a empresa de cibersegurança afirma oferecer aos clientes “a plataforma nativa
da nuvem mais avançada do Mundo”, para detetar e bloquear ameaças de hacking.
De acordo
com o seu website, a empresa presta
serviços a 298 empresas da lista Fortune 500, bem como a empresas tecnológicas
e automóveis de topo e a prestadores de cuidados de saúde.
Estas
empresas englobam muitas das empresas afetadas pela falha de energia do dia 19,
incluindo a Microsoft, companhias aéreas como a United e a American Airlines,
nos Estados Unidos a América (EUA), a KLM, a Turkish Airlines, a Ryanair, entre
outras.
“Os hosts
Mac e Linux não foram afetados. Não se trata de incidente de segurança ou de ciberataque.
O problema foi identificado, isolado e foi implementada a correção”, diz a
empresa.
O problema
parece estar relacionado com uma atualização do Windows do seu software Falcon
Sensor, que está a causar ecrãs azuis da morte (BSOD), uma mensagem de erro que
aparece nos sistemas Windows, quando a atividade do computador é interrompida e
reverte para um ecrã azul.
Outras
máquinas, como computadores Mac e Linux, não são afetadas, segundo a
Crowdstrike.
No X, George Kurtz foi criticado por não
ter pedido desculpa, em nome da empresa, pelo caos que a interrupção causou,
bem como por ter questionado o facto de a correção não ter sido testada, antes
de ser lançada em todo o Mundo.
A empresa
está a enfrentar um grande golpe no preço das suas ações e na receita, com
as negociações iniciais no dia 19, a eliminar até 20% – estimado em cerca de 16
mil milhões de dólares (US $ 16 mil milhões ou € 14,7 mil milhões) – da sua
avaliação.
Os
engenheiros da empresa afirmaram que existe, agora, uma solução, mas os
especialistas acreditam que poderemos enfrentar uma perturbação prolongada, uma
vez que os milhares de clientes da empresa terão de trabalhar no restauro de
todos os seus sistemas e máquinas.
***
Somos hábeis
em montar estratégias, em aproveitar as potencialidades do progresso e em confiar
nas novas tecnologias da informação e da comunicação; informatizamos e
digitalizamos tudo; e a informática e a eletrónica estão em toda a atividade
humana e em todas as ferramentas que a possibilitam ou facilitam. Porém, não
sabemos construir ou manter ferramentas analógicas para minimizar as eventuais falhas
informáticas. Não há planos de contingência (Planos B ou C), confiamos, em absoluto,
nas tecnologias, mesmo prejudicando as pessoas. E, pior do que tudo, não
sabemos reconhecer os erros e pedir desculpas a quem prejudicámos. Isto sucede
com pessoas, com empresas e com instituições. A humildade é uma virtude eminentemente
humana!
2024.07.19 – Louro de Carvalho
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