terça-feira, 30 de julho de 2024

Capelães apoiam atletas e assistentes nos Jogos Olímpicos Paris 2024

 

Há, nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, um conjunto de 120 capelães de cinco religiões, que atendem os atletas na tenda do Centro Multirreligioso, na Cidade Olímpica. O centro, que ficará aberto até ao fim das Paraolimpíadas, a 8 de setembro, tem uma área de receção e uma sala para cada uma das religiões representadas: cristianismo, judaísmo, hinduísmo, budismo e islamismo.

Os atletas podem rezar, participar em cerimónias e falar com os respetivos capelães. Segundo a Associated Press (AP), agência de notícias americana, os organizadores descobriram que os pedidos por capelães olímpicos ultrapassaram oito mil, nos jogos realizados antes da pandemia de covid-19. O padre Jason Nioka, ex-campeão de judo, que se tornou capelão-coordenador dos 40 padres, freiras e leigos católicos que participam no grupo, disse à AP que os capelães “precisam de trazer [os atletas] de volta à Terra, porque pode parecer o fim do Mundo, depois de trabalhar nessa meta durante quatro ou cinco anos”. E, em eco desse sentimento, o padre Xavier Ernst, pároco da igreja de São João Bosco, em Paris, em artigo publicado na Agência Salesiana de Informação (ANS), escreveu que o “serviço dos capelães é estarem presentes”.

“Os atletas sabem que, na Cidade Olímpica, há esse espaço, um lugar de escuta, compartilhamento e relacionamento. O nosso ambiente é decorado com ícones, com móveis simbólicos e com a Bíblia. […] Todas as manhãs, haverá um momento de lectio divina, de leitura e de partilha do Evangelho, um momento que será ecuménico, afirmou. “E, todos os dias, celebraremos a Eucaristia, não no centro multirreligioso, mas na igreja ao lado da Cidade [Olímpica]”, esclareceu.

Na vizinha catedral de Saint-Denis, celebrou-se missa de vigília, em que se fizeram orações pela bênção dos atletas e se procedeu à distribuição de medalhas milagrosas, a 25 de julho, na noite anterior à cerimónia de abertura.

A igreja de La Madeleine, dedicada a Santa Maria Madalena, no centro de Paris, oferece aos participantes e atletas um local de oração e de contemplação, durante os Jogos Olímpicos, com a capela especial dedicada a “Nossa Senhora dos Atletas”. Inaugurado em setembro de 2023, o espaço permite que os visitantes rezem, acendam velas, enviem intenções de oração e busquem apoio espiritual. E La Madeleine foi o local da missa solene de 19 de julho, para iniciar a trégua olímpica, período de paz que pede a suspensão dos conflitos entre os países do Mundo, durante os Jogos Olímpicos – celebrada pelo arcebispo de Paris, D. Laurent Ulrich, e pelo Bispo de Digne, Emmanuel Gobilliard, representante especial da Santa Sé para os Jogos Olímpicos de Paris 2024.

O arcebispo enfatizou, na homilia, que “as guerras em curso não cessam durante os jogos, mas o desejo de paz se espalha através dos encontros que elas possibilitam nesses eventos desportivos”.

Entretanto, o já referido padre francês, Jason Nioka, ordenado há um mês, tem como primeira missão passar o verão em Paris, como encarregado da delegação de capelães católicos dos Jogos Olímpicos composto por 40 padres, auxiliados por religiosos e leigos. Em entrevista a Catherine Hadro, no EWTN News in Depth, disse que é “um presente muito maravilhoso de Deus fazer parte desta aventura”. Os atletas olímpicos são convidados a reunir-se no Centro Multirreligioso, na Cidade Olímpica, numa área para atletas cristãos – católicos, ortodoxos e protestantes – onde podem ler a Bíblia juntos, participar na lectio divina e prestar culto. Também se celebra missa diária numa igreja católica próxima, em diferentes idiomas, como francês, espanhol, italiano e português. E o ex-campeão de judo, tornado padre, sente-se especialmente qualificado para a tarefa, graças à sua experiência como atleta. “Acho que, para mim, é um grande desafio, porque conheço o desporto. […] Os atletas não precisam ouvir algo especial. A primeira missão do capelão é apenas ouvir.”

“Primeiro, convidamos o Espírito Santo a estar no comando”, disse o sacerdote. “Alguns terão sucesso. Sabemos que alguns também terão alguma dificuldade, mas, se lhes dermos a palavra de esperança e de força, talvez isso os ajude a dar o melhor de si e a serem os melhores atletas durante as Olimpíadas.” E Nioka assentou em que, antes de mais, o seu trabalho “é rezar por eles e cuidar deles também”. E considera o seu papel “uma graça”.

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Enquanto Paris estava na fase de partida para os Jogos Olímpicos de 2024, que se iniciaram a 26 de julho, foi lançada a trégua olímpica na icónica igreja La Madeleine, no coração da capital francesa, a 19 de julho. O arcebispo de Paris e o Bispo de Digne, representante especial da Santa Sé para os Jogos Olímpicos de Paris 2024, celebraram uma missa solene na presença de mais de uma centena de delegações diplomáticas. “Bem-aventurada a sabedoria que também preside ao espírito olímpico e habita em nossos corações, quando nos voltamos para o Senhor para dar graças e para Lhe implorar em nome do nosso Mundo”, disse o arcebispo Ulrich, na homilia.

O Papa considerou, a 21 de julho, durante a oração do Angelus, que o desporto “tem grande poder social e pode unir, pacificamente, pessoas de diferentes culturas”, disse esperar que os atletas “possam ser mensageiros de paz e modelos autênticos para os jovens” e, em particular, desejou que os “Jogos Olímpicos sejam uma ocasião para pedir o cessar-fogo nas guerras, demonstrando um desejo sincero de paz”.

Segundo o Comité Olímpico Internacional (COI), a tradição da trégua olímpica, ou Ekehheiría, em Grego, foi estabelecida na Grécia antiga, no século IX a.C., por assinatura de tratado entre três reis – Íphitos de Elis, Cleóstenes de Pisa e Licurgo de Esparta – para permitir a participação segura nos Jogos Olímpicos a todos os atletas e espectadores destas cidades-estado gregas, que eram, de outra forma, quase constantemente envolvidos em conflitos entre si.

Foram o francês Pierre de Coubertin, pai dos Jogos Olímpicos modernos, e o seu amigo, o padre dominicano Henri Martin Didon, que reiniciaram a ideia, nos tempos modernos, em 1896. E, na década de 1990, o conceito foi revivido, “para aproveitar o poder do desporto para promover a paz, o diálogo e a reconciliação de forma mais ampla”, segundo o COI. E, desde então, é apoiado pelas Nações Unidas.

Em Paris, a trégua olímpica de 2024 foi, oficialmente, lançada na igreja La Madeleine, com 700 pessoas presentes – entre elas Thomas Bach, presidente do COI, e Anne Hidalgo, prefeita de Paris.

O arcebispo vincou, na homilia, que “as guerras em curso não cessam durante os Jogos, mas o desejo de paz se espalha através dos encontros que tornam possíveis nestes eventos desportivos”.

Isabelle Boüan desenhou e produziu as casulas para os celebrantes da missa de 19 de julho e das missas celebradas durante os Jogos Olímpicos, criando um logótipo de casula especial. Mostra um círculo com cinco pombas nas cores dos anéis olímpicos, voltadas para fora, cada uma a carregar um ramo de oliveira no bico, como se partisse para o levar para longe, em sinal de paz. “Foi, realmente, a paz que esteve no centro da oração, nesta missa”, explicou Boüan ao OSV News (agência de notícias nacional e internacional que informa sobre questões católicas e ou que afetam os católicos). “Então pensei que as pombas eram o motivo perfeito para essas casulas. Evocam a paz de uma forma clara para todos, crentes e não crentes.”

“Mas este círculo de pombas está bordado numa faixa de cruzes douradas”, acrescentou Boüan.

“Para nós, cristãos, a fonte da paz é Cristo, que morreu na cruz e ressuscitou. É dele que pode vir a paz que tentamos transmitir”. “Este espírito, que vem do alto, orienta as nossas ações nestes dias que estamos prestes a viver, e rezamos para que inspire tantas pessoas que assistirão a estes Jogos, sejam organizadores, competidores ou espectadores”, preconizou o arcebispo Laurent Ulrich.

No final da missa, após a execução do hino olímpico nos órgãos históricos, os celebrantes dirigiram-se ao pátio onde o arcebispo de Paris, o prefeito da cidade e o presidente do COI soltaram cinco pombas sob aplausos.

A igreja de Santa Maria Madalena, cuja festa se celebra a 22 de julho, é conhecida mundialmente como La Madeleine e é um dos principais clássicos dos roteiros espirituais e turísticos da capital francesa, reconhecida pelo seu estilo neoclássico, que lembra a antiguidade grega e romana. Para os Jogos Olímpicos, tornou-se sede do projeto Jogos Santos, lançado pela Igreja Católica. Uma das capelas da igreja foi dedicada aos atletas como centro espiritual dos Jogos.

Os Jogos Santos responderam a um pedido do COI para uma capelania na Cidade Olímpica, que recebe mais de 10 mil atletas, de 26 de julho a agosto. Foi projetada, ao Norte de Paris, uma vasta estrutura de 4300 pés quadrados, para acomodar os representantes das religiões cristã, judaica, muçulmana, hindu e budista. Cerca de 40 capelães católicos especialmente treinados, que amam o desporto, revezar-se-ão no serviço, durante os Jogos Olímpicos.

Os Jogos serão movimentados, para D. Gobilliard, que é o representante do Vaticano para as Olimpíadas de Paris 2024. Vindo da Diocese de Digne, no Sul da França, não longe da fronteira italiana, é um fã de desportos e grande esportista. “Acho que a ideia de me nomear para as Olimpíadas remonta a outubro de 2018, quando participei no Sínodo para a Juventude em Roma”, disse ao OSV News, referindo-se ao Sínodo sobre os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional.

“Eu organizei um torneio de futebol entre jovens e bispos. Certamente entenderam, no Vaticano, que eu amava o desporto”, apontou, para vincar, a seguir, que o desporto é a sua paixão, uma fonte de equilíbrio pessoal e uma oportunidade de conhecer pessoas, inclusive as que estão distantes da Igreja. “Quase todo a gente está interessada em desporto. É uma ótima maneira de alcançar as pessoas”, justificou.

Desde criança joga futebol, ténis e rúgbi, esquia e pratica caraté, judo e paraquedismo. É membro do Variétés Club de France, clube de futebol de ex-jogadores famosos e personalidades dos media. Neste verão, residirá na Cidade Olímpica de Saint-Denis.

“O coração da minha missão estará no centro multiconfessional da Cidade Olímpica”, disse D. Gobilliard ao OSV News. “Há sempre uma capelania entre as instalações oficiais durante os Jogos. É uma oportunidade maravilhosa para receber atletas e sua equipa e ajudá-los a encontrar Cristo.”

Além da Cidade Olímpica, várias paróquias de Paris receberão visitantes como parte do projeto Jogos Santos, lançado pela arquidiocese de Paris. “A atenção aos pobres andará de mãos dadas com a atenção aos atletas”, explicou D. Gobilliard. “As paróquias de Paris estarão abertas à visita e, especialmente, ao acolhimento dos pobres e dos sem-abrigo, graças à ajuda dos patrocinadores que se mobilizaram para a ocasião. Os salões paroquiais serão disponibilizados às pessoas que vivem nas ruas, para que possam assistir aos jogos numa atmosfera calorosa.”

Foi instalado na cripta da igreja de La Madeleine um “restaurante solidário”, que “vai receber pessoas de todas as classes sociais”. “Estão envolvidos chefs de alto nível e a comida é muito boa. Durante os Jogos, os atletas serão convidados especialmente para uma visita, e as pessoas que moram na rua poderão vê-los perto”, disse D. Gobilliard ao OSV News.

Os Jogos Paraolímpicos, marcados para 28 de agosto a setembro, seguir-se-ão os Jogos Olímpicos. Para D. Gobilliard, os atletas paralímpicos estão no seu coração, pois, em 2018, passou meses no hospital após um acidente de moto, ameaçado de amputação de uma perna, o que acabou por não acontecer. Para ele, os Jogos de Paris são “uma oportunidade para relembrar a estreita ligação entre o dominicano francês (pai) Henri Didon e os Jogos Olímpicos”.

É ao padre Didon que se atribui o estabelecimento do lema olímpico moderno em Latim – citius, altius, fortius (mais rápido, mais alto, mais forte) –, que promoveu, primeiro, entre os alunos da escola católica que dirigia. Para o Padre Didon, “mais alto” era o convite para elevarem a alma a Deus, frisou D. Gobilliard. “Da minha parte, estarei ocupado, neste verão, a estender a mão aos que amam o desporto, para lhes proclamar Cristo”, disse o bispo. “Essa será a minha missão!”

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Sob a bandeira olímpica alçada num estádio perto da Tour Eiffel e com o fulgor da chama olímpica e o calor da pira, é possível fazerem-se tantas coisas boas pelas pessoas, pela religião, pela cultura, pelo desporto e pela paz, em vez de se insistir no amuo por causa de um episódio antirreligioso, ainda que lamentável. O Mundo precisa de mais e de melhor!   

2024.07.30 – Louro de Carvalho

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