Uma equipa de cientistas da
Universidade de Columbia, nos Estados Unidos da América (USA), utilizando tecnologias
inovadoras, concluiu, em janeiro deste ano, que é 100 vezes maior do que o
estimado, até agora, a quantidade de nanoplásticos presente no Meio Ambiente.
Assim, por exemplo, um litro de água engarrafada apresenta, em média, cerca
de 240 mil fragmentos de plástico, invisíveis a olho nu.
Os nanoplásticos são
partículas de plástico com tamanho entre um e mil nanómetros, menores do que os
microplásticos e também produzidas a partir da fabricação e degradação de
objetos de plástico. E os microplásticos, como o nome sugere, são pequenas partículas de
plástico. Estes tipos de material são dos principais poluentes dos oceanos. Para,
alguns pesquisadores, o tamanho máximo dos microplásticos é de um milímetro, enquanto, para outros, é de cinco
milímetros.
Uma célula de alga
pode ser até mil vezes maior do que uma partícula de nanoplástico. Assim, os nanoplásticos minúsculas partículas de plástico que se foram
degradando, a ponto de ficarem cada vez menores. São tão pequenos que
podem atravessar tecidos de diferentes órgãos e chegar à corrente
sanguínea. E, uma vez no sangue, podem ser transportados para outras partes do
corpo.
Não são claras as potenciais
consequências dos nanoplásticos na saúde. Porém, os cientistas põem-nos de
sobreaviso: “Quer os vejamos quer não, estão lá. Portanto, é melhor sabermos em
que quantidade e o que são. Mas eu própria, como cientista, gostaria de ter
mais dados em termos do estudo toxicológico, para realmente saber quão
prejudiciais são para o meu próprio corpo”, explica a investigadora Naixin
Qian, coautora do referido estudo.
Entretanto,
Zissis Samaras, diretor do
Laboratório de Termodinâmica Aplicada da Universidade Aristóteles, de Salónica,
é o coordenador da “Down To Tem” (“Baixar para 10”), um projeto de investigação
com fundos europeus, com o objetivo de desenvolver novas ferramentas de medida
das partículas expelidas pelos veículos motorizados com 10 nanómetros.
As
partículas emitidas pelos motores de combustão poluem a atmosfera com substâncias
venenosas e são uma das principais causas da má qualidade do ar que respiramos.
A cada ano, só na União Europeia (UE), estima-se que meio milhão de mortes prematuras
são provocadas por este tipo de poluição (dez vezes mais do que o número de
fatalidades em acidentes de viação”. A legislação da UE não regula as emissões
pelos motores, a gasóleo ou gasolina, de partículas 23 mil milhões de vezes
mais pequenas do que o metro (23 nanómetros), nanopartículas que representam
perigo para a saúde humana e não só. Assim, o sucesso do projeto ajudará os
fabricantes a desenvolver motores com uma considerável redução na emissão de
nanopartículas.
Samaras
reconhece que “os carros têm vindo a ser limpos” e fala de “um longo caminho,
desde o início dos anos 80, até termos agora emissões de partículas
extremamente baixas”. Em alguns casos, as emissões são em concentrações mais
baixas do que o ar atmosférico. Contudo, persistem problemas, a maioria associados
a partículas tão pequenas que não são abrangidas pelas atuais regulamentações e
que podem ser quase tão pequenas como o gás. E estas partículas podem afetar a
saúde humana, ao serem inaladas e penetrarem muito fundo no sistema, provocando
inúmeros problemas respiratórios, assim como permitindo considerável área outras
substâncias nocivas serem arrastadas e absorvidas pelos pulmões.
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Os microplásticos, espalhados de tal
modo que é difícil localizá-los, resultam da decomposição de plásticos maiores
e estão associados a ataques cardíacos, a problemas de fertilidade, a cancro e à
redução de espermatozoides. De acordo com um estudo canadiano de 2019, os seres
humanos consomem até 52 mil partículas de microplástico por ano. E, segundo a
organização ambiental alemã CleanHub, em junho deste ano, aumentou o interesse
pelos microplásticos, com as pesquisas a atingirem uma pontuação recorde de 100,
no Google Trends. Com efeito, um estudo da Universidade do Novo México
despertou o interesse global, com muitas pessoas a procurarem
informações sobre como os
microplásticos entram no corpo e as formas de os reduzir ou eliminar. Embora
omnipresentes no Meio Ambiente, há inúmeras fontes que contribuem para a sua
presença e alternativas para as evitar – a começar pela cozinha.
Seguem-se exemplos de objetos que
libertam microplásticos.
De acordo com um estudo da American
Chemical Society (ACS), as tábuas de cortar podem expor os seres humanos a até
79,4 milhões de microplásticos de polipropileno (um tipo de polímero plástico)
por ano. Quer dizer que a tábua de cortar de plástico pode aumentar a
transferência de microplásticos para os alimentos. Mas há alternativa
económica: a tábua de cortar de vidro temperado, fácil de limpar e, normalmente,
isenta de microplásticos. E algumas marcas oferecem tábuas de cortar sem
plástico, feitas de fibras de papel duráveis.
Os produtos de plástico, rotulados
como “seguros para micro-ondas” libertam significativas quantidades de
microplásticos nos alimentos, quando aquecidos. Um estudo de investigadores da
Universidade de Nebraska-Lincoln, em 2023, encontrou até quatro milhões de
microplásticos por centímetro quadrado, em certos alimentos para bebés
embalados em plástico “seguros para micro-ondas”. Ao microscópio, verificou-se
que tais partículas matavam até 75% das células renais em cultura, o que
suscita preocupações, quanto ao impacto na saúde humana.
Assim, são de evitar produtos
embalados com ftalatos, estireno e bisfenóis – químicos associados a vários
plásticos, sugere um documento da Academia Americana de Pediatria.
Tal como os microplásticos se
encontram na água engarrafada, os tabuleiros de plástico para cubos de gelo
podem causar contaminação. Embora haja menos estudos sobre o assunto, o
congelamento do plástico pode causar a libertação de microplásticos para a
água, semelhante aos plásticos aquecidos, de acordo com um especialista
entrevistado pela HealthCentral.
Nos últimos anos, tornaram-se populares
opções mais sustentáveis e saudáveis: os tabuleiros para cubos de gelo em aço
inoxidável ou em silicone, que melhoram a estética das bebidas e arrefecem mais
depressa, o que significa que congelam mais rapidamente.
Embora os copos de papel sejam mais
amigos do ambiente, contribuem para a poluição por plásticos, pois requerem uma
camada de vedante composta por até 10% de polietileno de alta densidade (HDPE),
para evitar fugas de líquidos. A sua reciclagem é problemática, devido à
necessidade de separar a camada de PEAD do papel. E o uso de copos de papel
para bebidas quentes liberta produtos químicos, incluindo flúor, cloreto,
sulfato e nitrato, como salientado por um estudo de 2021 publicado no Journal of Hazardous Materials. Assim, a
escolha de um frasco reutilizável de aço inoxidável beneficia o ambiente e
reduz a exposição a microplásticos.
Também muitas saquetas de chá são
feitas com plástico de polipropileno não sustentável e as saquetas de chá de
papel podem conter vestígios de plástico no vedante. Isto significa que, muitas
vezes, não são biodegradáveis e contribuem para a contaminação por
microplásticos.
Em 2023,
uma investigação publicada pela Dow
University oh Health Sciences levantou preocupações sobre a forma como
a água quente, para preparar chá, pode libertar milhões de microplásticos
destes sacos, revelando que uma chávena de chá pode conter até 3,1 mil milhões
de nanoplásticos. As saquetas de chá podem conter outras substâncias nocivas,
incluindo compostos de flúor, arsénico, sais de rádio, alumínio, cobre, chumbo,
mercúrio, cádmio, bário e nitratos. Porém, as folhas de chá soltas ganham
popularidade e há alternativas sustentáveis para preparar chá, como o uso de
bule de ferro fundido ou o coador de metal. E a Plastic Pollution Coalition
recomenda saquetas de chá de algodão ou a passagem do chá por linho orgânico.
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Objetos tão úteis, como lentes de contacto,
podem ser nocivos. Num estudo publicado pela American Chemical Society, investigadores estimam que as lentes,
usadas durante 10 horas por dia, podem libertar mais de 90 mil partículas de microplásticos por
ano, derramando-as para os olhos. Ora, em todo o Mundo, até 140 milhões de
pessoas usam lentes de contacto, o aliado visual que pode ser fonte de poluição plástica.
Estas partículas permanecem no sangue humano, alojam-se nos
órgãos e poluem os fetos. Pesquisas recentes sugerem que podem induzir o
processo que desencadeia mutações cancerígenas.
Só no Reino Unido, por ano, mais de
750 milhões de lentes de contacto são atiradas para os ralos dos lavatórios ou
aterros. Uma vez nos aterros, podem levar até 500 anos para se decompor,
libertando, potencialmente, poluentes para o solo e para a água. Dos 10 mil
milhões de toneladas de plástico criados, uns seis mil milhões
encontram-se em aterros sanitários ou poluem o Meio Ambiente. Isso
tem impacto devastador na vida selvagem – mais de 90% das aves marinhas do
Mundo têm plástico nas entranhas.
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A poluição por microplásticos é problema
que requer muita atenção. Os objetos do quotidiano – desde as roupas até aos
carros – estão a libertar pequenos fragmentos de plástico.
Segundo um relatório de 2020, do Pew Charitable Trust, 78% dos microplásticos presentes
nos oceanos provêm de pneus, fabricados com cerca de 24% de borracha sintética –
variante do plástico fabricada com subprodutos do petróleo – que se decompõe, à
medida que os veículos se deslocam. E estes anéis de borracha não são
apenas microplásticos em movimento. Uma investigação da Yale Environment 360
mostra que há preocupação científica crescente com “o cocktail químico” que os
compõe e que inclui metais pesados como o cobre, o chumbo e o zinco.
A morte em massa de salmões nos
cursos de água da costa Oeste dos EUA, há duas décadas, foi um dos primeiros sinais
dos perigos ambientais dos pneus. Em 2020, os investigadores atribuíram as
mortes ao produto químico chamado 6PPD, que é adicionado aos pneus, para evitar
que rachem. Quando exposto ao ozono troposférico, o 6PPD transforma-se em outros
químicos – incluindo um composto que se descobriu ser tóxico para várias
espécies de peixes.
No total, a borracha dos pneus contém
mais de 400 químicos e compostos, muitos deles cancerígenos. A investigação apenas
começa a mostrar a amplitude dos riscos associados ao pó dos pneus, como refere
o Yale Environment 360. Porém, as estatísticas
chocam. Todos os anos, são fabricados cerca de dois mil milhões de pneus no Mundo
– o suficiente para chegar à Lua, se fossem empilhados, de acordo com a empresa
britânica Emissions Analytics, segundo a qual os quatro pneus do automóvel
emitem um trilião de partículas ultrafinas por quilómetro. São partículas tão
pequenas que podem passar através do tecido pulmonar para a corrente sanguínea
e atravessar a barreira hemato-encefálica, com implicações preocupantes para a
saúde.
A poluição causada pelo pó dos pneus rivaliza
com as emissões dos tubos de escape em alguns casos. Um estudo mostra que as
emissões de PM 2,5 e PM 10 provenientes dos pneus e dos travões excedem, em
muito, a massa das emissões provenientes dos tubos de escape na Califórnia, por
exemplo. E um estudo recente do Imperial College de Londres afirma que a
redução das partículas de desgaste dos pneus (TWP) é tão importante como a
redução das emissões de escape.
A solução do problema requer a
combinação da investigação e da vontade de regulamentar. Do lado da ecoinovação,
os investigadores experimentaram os dentes-de-leão – que produzem uma forma de
borracha – e óleo de soja, para aumentar a componente de borracha natural dos
pneus.
A empresa alemã Continental Tire
Company está a avançar com esta solução: fabricar pneus de bicicleta, a partir
de raízes de dente-de-leão. Emitem menos 25% de compostos cancerígenos, mas,
segundo testes efetuados pela Emissions Analytics, necessitam de aditivos
problemáticos. E, no Reino Unido, a The Tyre Collective foi pioneira na criação
de um dispositivo que é fixado em cada pneu. Utiliza a eletrostática
e o fluxo de ar de uma roda giratória, para recolher o pó dos pneus, à medida
que é produzido. Recolhidas, as partículas podem ser transformadas num tipo
diferente de borracha com uma variedade de aplicações, incluindo pneus novos.
Na UE, regras “Euro 7”, a partir de
2025, serão as primeiras normas de emissões do Mundo a pôr limites às emissões
de partículas dos travões e às emissões de microplásticos dos pneus. Estas
normas aplicar-se-ão aos carros elétricos, que produzem mais emissões dos
pneus, devido ao seu maior peso. Porém, a indústria está a tomar nota desta
medida. O Projeto da Indústria de Pneus é composto por 10 dos principais
fabricantes, cujo objetivo é “desenvolver uma abordagem holística, para compreender
e promover ações de atenuação” da poluição dos pneus.
***
O
progresso, o desleixo e o comodismo estão a multiplicar os mais diversificados instrumentos
de poluição, os quais, escondidos na pequenez do seu tamanho, causam,
discretamente, inúmeros e enormes danos à saúde humana e ao Meio Ambiente. Têm
de estar atentos os cientistas, os decisores e, obviamente, todos os cidadãos.
A saúde é o bem e o problema de todos!
2024.07.04 –
Louro de Carvalho
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