terça-feira, 9 de julho de 2024

Os riscos de covid persistem e as pessoas estão desatentas

 

O número de pessoas com covid-19, em Portugal continua a aumentar. Só nos primeiros quatro dias de julho foram registadas 38 mortes e dois mil casos de infeção. Só no primeiro dia de julho, foram mais de 600 infeções. A Direção-Geral de Saúde (DGS) não equaciona mudanças no plano de vacinação, mas recomenda o uso de máscara para quem tem sintomas. O Algarve, a região de Lisboa e o Norte são as zonas mais afetadas.

Sobre o aumento da transmissão da covid-19, com 26 casos, a sete dias, por 100 mil habitantes a 30/06/2024, apresentando tendência crescente, a DGS considera que este valor superou o pico de incidência do último inverno, de 12 casos, a sete dias, por 100 mil habitantes (coincidente com o aumento da prevalência da subvariante BA.2.86, sobretudo na sublinhagem JN.1), mas inferior ao pico de incidência do último verão, de 42 casos, por 100 mil habitantes (coincidente com o aumento de prevalência da subvariante XBB.1.9., com nova descendente EG.5.1). Este aumento coincide com o da prevalência de uma descendente da JN.1, a sublinhagem KP.3 (51,3% das amostras, entre as semanas 19 e 22 de 2024), que foi classificada, recentemente, como variante, em monitorização pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC).

Observa-se, igualmente, uma tendência crescente da proporção de episódios de urgência por covid-19 em todas as regiões e em todos os grupos etários, sendo o crescimento mais evidente nos grupos etários mais velhos.

A mortalidade específica por covid-19 correspondeu a 15 óbitos, a 14 dias, por milhão de habitantes, tendo ultrapassado os valores máximos obtidos nos últimos inverno e verão, respetivamente, 10 e 13 óbitos, a 14 dias, por milhão de habitantes. Todos os valores encontram-se inferiores ao limiar do ECDC, de 20 óbitos, a 14 dias, por milhão de habitantes. Cerca de 70% dos óbitos ocorreram em pessoas com 80 e mais anos, e a região com maior taxa de mortalidade correspondeu ao Algarve, que mantém uma tendência crescente. Cerca de 44% dos óbitos não tinham registo de vacinação sazonal, na última época; e, entre os oito óbitos com menos de 60 anos, seis óbitos não tinham registo de vacinação sazonal, na última época, apesar de terem indicação para a mesma, atendendo às comorbilidades que apresentavam. 

O ECDC julga improvável que estas novas mutações estejam associadas a aumento na gravidade da infeção ou à redução na eficácia da vacina contra doença grave, em comparação com as variantes BA.2.86, anteriormente em circulação. Porém, as pessoas mais velhas, ou com doenças subjacentes, ou previamente não infetadas podem desenvolver sintomas graves, se infetadas.

Apesar de a situação epidemiológica, de momento, ter impacto limitado na procura dos serviços de saúde e na mortalidade geral, face à tendência de crescimento observada, associado a períodos de calor, nos próximos dias, é possível que se observe um período de excesso de mortalidade, pelo que se reforça a importância de adequar as medidas de proteção da doença, contribuindo para reduzir a transmissão a terceiros.

Assim, a DGS recomenda o reforço das medidas básicas de prevenção e de controlo de infeção:  

·      Em caso de sintomas de infeção respiratória – tosse, febre, dor de cabeça, dificuldade respiratória, etc. – usar máscara, manter distanciamento físico e evitar ambientes fechados ou aglomerados;

·      Adotar a etiqueta respiratória, ao tossir ou espirrar, tapando o nariz e a boca com um lenço de papel ou com o braço, deitando, posteriormente, o lenço no lixo e lavando as mãos, ou usando solução alcoólica com pelo menos 60% álcool;

·      Lavar e/ou desinfetar as mãos frequentemente;

·      Manter os espaços ventilados, preferencialmente através de ventilação natural, procedendo à abertura de portas e/ou janelas;

·      Ligar SNS 24 – 808242424, em caso de persistência dos sintomas.

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Seguindo a tendência de junho, nos primeiros quatro dias deste mês foram registados quase 2 mil casos de covid-19, dos quais resultaram 38 mortes. A média de casos está acima do registado no inverno, mas inferior ao verão de 2023.

“Parece que foi um pico ligeiramente mais precoce – talvez umas duas ou três semanas – em relação ao ano passado. Claro que isto provoca alguns constrangimentos, mas não causa uma preocupação excessiva”, explicou, à SIC, Nuno Pereira, coordenador da Unidade de Controlo de Infeção da Unidade Local de Saúde (ULS) S. João, no Porto.

O Algarve, a região de Lisboa e a região Norte são as zonas mais afetadas. No Hospital de São João, no Porto, os internamentos de casos de covid-19 têm variado entre 20 e 30 doentes.

DGS não está a equacionar mudanças no plano de vacinação, mas recomenda o uso de máscara para quem tem sintomas.

Em Portugal, o número de casos de covid-19 tem vindo a disparar, com uma média diária de 12 óbitos e perto de 400 novos casos, o que representa “grande aumento, relativamente há um mês”, em que se registavam cerca de três mortes diárias, explicou, à agência Lusa, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes. “Neste momento, as pessoas que testam positivo para covid e estão internadas; e um pouco mais de metade tem mais de 60 anos e, cerca de 24%, mais de 80 ano”, observou, apontando que, eventualmente, é nesta faixa etária que está a ocorrer a maior parte dos óbitos, devido a terem várias doenças.

À semelhança dos Estados Unidos da América (EUA), a variante KP.3 tem aumentado a sua frequência em Portugal, estimando-se que ultrapasse já os 50% dos casos diagnosticados, de acordo com o último relatório do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA). E esta variante poderá justificar “o acentuado aumento de casos a partir de maio de 2024”, já que a subida “se verificou antes das festas populares que ocorreram no passado mês de junho”, sustenta João Paulo Gomes, o responsável do Núcleo de Genómica e Bioinformática do Departamento de Doenças Infeciosas do INSA, considerando: “A KP.3 poderá (é apenas uma hipótese) ter características que favoreçam a sua maior transmissibilidade, sendo atualmente designada pelo ECDC como uma sublinhagem sob monitorização atenta.”.

“Praticamente já não temos proteção contra estas novas linhagens do vírus”, nomeadamente a KP.1, KP.2 e KP.3, que têm “uma série de descendentes” e são dominantes, neste momento, na Europa e na América, explicou à Lusa Manuel Carmo Gomes. “Todos temos anticorpos a circular no corpo, porque já fomos vacinados e fomos infetados, etc., mas estas linhagens têm capacidade de fugir a estes anticorpos”, salientou.

Segundo o que a porta-voz do CDC, Rosa Norman, explicou ao jornal norte-americano USA Today, os infetados podem manifestar os seguintes sintomas: febre ou calafrios, tosse, dor de garganta, congestão ou nariz escorrendo, dor de cabeça, dores musculares, dificuldade em respirar, fadiga, perda do olfato e/ou paladar, sintomas gastrointestinais (diarreia e vómitos).

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Se a covid-19 já era um assunto do passado, para muitas pessoas, agora, parece que vai voltar a ser um tema mais recorrente. Junto às festividades e aos meses de calor, veio também, com maior expressividade, o vírus – um acontecimento expectável, segundo os especialistas, sobretudo por ser uma altura onde há mais convívios, como são os casos do Europeu de Futebol, dos festivais e concertos, dos arraiais populares, das praias e da viagens turísticas.

E penso que também a retirada do uso das máscaras em lugares sensíveis, como serviços prestadores saúde e lares de idosos, ou a não disponibilização efetiva de solução alcoólica nos templos, nos restaurantes e similares, nos supermercados, quiosques e tabacarias. Além sido, foi negativa a retirada dos painéis acrílicos de proteção entre funcionários e público.

Nós estamos cada vez mais sujeitos às viroses, a ponto de o ex-primeiro-ministro, António Costa, haver premonitoriamente afirmado que “o vírus não hiberna no verão”.   

Não quisemos fazer, com a covid, a aprendizagem que fizeram, com a pneumónica de 1918, os que foram testemunhas e quase vítimas dessa pandemia. Quem não se lembra dos guichés e dos painéis de vidro que separavam o funcionário do público em bancos, nos CTT, nas bilheteiras, nas secretarias e nos escritórios ou dos crivos nos confessionários, rodas e parlatórios, até que surgiram os paladinos do atendimento personalizado, para esbater a burocracia, que, em vez de diminuir, aumentou ou ganhou novas formas?

No dia 14 de junho, Portugal teve o pior dia do ano em termos de novos casos de covid-19, com mais de 600 novas infeções, em apenas 24 horas. São números que não se registavam desde agosto de 2023. As autoridades de saúde estão atentas, mas, para já, segundos os especialistas, não há motivo para alarme. E a diretora-geral da Saúde, Rita Sá Machado, lembrou, recentemente, a importância de os cidadãos manterem as “boas práticas”, para se evitar o contágio, em particular o uso de máscara, em caso de sintomas, apelando, a que, nestes casos, se mantenha o distanciamento físico.

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Foram descobertas ligações surpreendentes entre genes dos Neandertais e o maior risco de desenvolvimento de um quadro clínico grave provocado pela covid.

Efetivamente, um estudo – feito na cidade italiana de Bergamo (muito afetada pela covid, no início de 2021), com o objetivo de perceber o motivo pelo qual aquela região em específico teve uma taxa de mortalidade tão elevada, devido à infeção – encontrou uma ligação genética direta entre a herança Neandertal e sintomas graves da covid. Assim, investigadores do Instituto Mario Negri para a Investigação Farmacológica, em Milão, descobriram que os genes herdados dos Neandertais aumentam, significativamente, o risco de desfechos graves, como, por exemplo, a necessidade de internamento em unidades de cuidados intensivos (UCI).

Foram analisados cerca de 10 mil indivíduos daquela cidade do Norte de Itália, perto de Milão. E os resultados revelaram que pessoas com o material genético Neandertal têm o dobro da probabilidade de desenvolverem pneumonia grave e três vezes mais probabilidade de ficar internadas em UCI do que aqueles que não tenham genes dos Neandertais.

Curiosamente, a maioria das pessoas que sofreu de doença respiratória grave tinha, na sua herança genética, três genes dos Neandertais. Com efeito, apesar da extinção desse grupo humano, pela violência ou pelo cruzamento sexual com o Homo Sapiens (dividem-se os especialistas), tendo sobrevivido estes, por serem mais fortes, os genes dos Neandertais persistem nalguns grupos.   

Giuseppe Remuzzi, o diretor do Instituto Mario Negri, afirmou que “o estudo mostra que há uma secção particular do genoma humano que está significativamente associada ao risco de contrair covid e de desenvolver uma forma grave da doença”. E verificou que 33% dos pacientes que tiveram complicações mais sérias tinham os genes dos Neandertais, coisa que não se verificou nos que desenvolveram sintomas leves (ou nenhum sintoma) de uma infeção por covid.

Apesar de o estudo não ter explicado inteiramente o motivo pelo qual a taxa de mortalidade em Bergamo foi mais alta do que em outras áreas de Itália ou da Europa, corroborou a vulnerabilidade dos Neandertais, quando expostos a novas doenças.

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Ora, como de homem para homem não vai força de boi, é bom que nos acautelemos. Os vírus não têm dificuldade em se aproximarem de nós e de nos darem cabo da vida. São tantos e de tantas estirpes e com tantas mutações, que nem nos damos conta, se não estivermos atentos aos sintomas, que são, quase sempre, os mesmos para tudo. Importa que a ciência evolua, se credibilize e se afirme, longe de interesses particulares, mas em prol das pessoas.

2024.07.09 – Louro de Carvalho

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