quinta-feira, 11 de julho de 2024

São Bento, padroeiro da Europa e patriarca dos monges do Ocidente

 
A 11 de julho, celebrou-se a festa litúrgica do abade São Bento, padroeiro da Europa e patriarca dos monges do Ocidente, cujo lema é “Ora et labora” (ora e trabalha) e que, pelo seu legado e pela sua influência, se tornou um dos santos mais venerados de toda a Cristandade.
O santo está entre os poucos que têm duas datas litúrgicas na Igreja, ao lado de são João Batista (24 de junho, nascimento; e 29 de agosto, morte) e são José (19 de março, como esposo de Maria; e 1 de maio, como operário). 
Em 21 de março é comemorado o chamado “trânsito de São Bento”, data em que o santo morreu no ano de 547 d.C. na abadia de Monte Cassino, na Itália. A data também marca o dia do ano de 1098, em que os santos Roberto, Alberico e Estevão partiram da abadia de Molesmes para o vale de Cister, para ali darem início a uma forma de vida monástica mais próxima do ideal de São Bento. Assim, foi fundada a ordem cisterciense
A festa litúrgica de 11 de julho marca a trasladação das relíquias do santo para a abadia de Saint-Benoît-sur-Loire, na França.
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São Bento nasceu em Núrsia (ou Norcia), na Itália, em 480, com a sua irmã gémea, Santa Escolástica, que deu corpo ao ramo beneditino feminino. Depois de estudar Retórica e Filosofia, em Roma, Bento retirou-se da cidade para Enfide (atualmente, Affile), para aprofundar o estudo e para se dedicar à disciplina ascética.
Aos 20 anos, foi para o Monte Subiaco e viveu numa caverna, sob a orientação de um eremita. Anos mais tarde, foi com os monges de Vicovaro, que depois o elegeram prior.
Não durou grande tempo, já que tentaram envenená-lo, devido à disciplina que exigia. Como era seu costume, Bento fez o sinal da cruz sobre o vidro que lhe tinham dado e o objeto quebrou-se em pedaços. Após fazê-los cair em si sobre o que fizeram, afastou-se daqueles monges.
Com um grupo de jovens, impressionados pelo seu exemplo de cristão, fundou mosteiros, um deles em Monte Cassino, e escreveu a sua famosa Regra, que se tornou inspiração para inúmeros regulamentos de comunidades religiosas monásticas até hoje. Do mesmo modo, iniciou centros de formação e cultura.
Bento era muito conhecido pelo seu trato amável e pelos seus sacrifícios. Levantava-se de madrugada para rezar os salmos, rezava e meditava por várias horas, jejuava diariamente e ajudava os povoados ao pregar. O santo via o trabalho como algo honroso que levava à santidade.
Da mesma forma, consolava os doentes, dava esmolas e alimento aos necessitados e conta-se que, em algumas ocasiões, “ressuscitou” os mortos, com a ajuda de Deus.
Encontrou o seu amor e força no Cristo crucificado e, como exorcista, submetia os espíritos malignos com a famosa “cruz de São Bento”. O santo previu a data da sua morte, que ocorreu a 21 de março 547, poucos dias depois que faleceu a sua irmã gémea, Santa Escolástica. Morreu de pé, na capela, com as mãos levantadas para o céu. “Deve-se ter um imenso desejo de ir para o céu”, foram as suas últimas palavras. E, no final do século VIII, em muitos lugares, começou a celebrar-se a sua festa no dia 11 de julho.
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Durante séculos, muitos cristãos têm usado a medalha do famoso exorcista São Bento, na luta espiritual contra as forças do mal. A seguir, são apresentadas algumas coisas que se devem saber sobre este objeto especial que possui muita Tradição e História.
Uma das medalhas mais difundidas entre os cristãos é a atribuída a São Bento, o santo abade e padroeiro da Europa, por causa da sua luta contra o mal e da sua devoção ao sinal da cruz.
Apesar do nome, ela não foi criada por São Bento e a sua origem parece remontar ao século XVII, quando algumas mulheres acusadas de bruxaria, na Alemanha, disseram não terem poder sobre a abadia de Metten, por estar sob a proteção da cruz.
Durante a investigação, foram encontradas na parede do recinto várias cruzes pintadas e rodeadas pelas letras que agora se encontram nas medalhas. Logo depois, foi encontrado um pergaminho com a imagem de São Bento e as frases completas que serviram para escrever estas abreviaturas.
Com a medalha é possível obter indulgência plenária. A medalha como se conhece agora é a do jubileu, que foi emitida, em 1880, por ocasião do 14.º centenário do nascimento do santo e lançada, exclusivamente, pelo abade superior de Monte Cassino. Com ela pode obter-se a indulgência plenária na festa de São Bento, a 11 de julho, seguindo as condições habituais que a Igreja manda (confissão sacramental, comunhão eucarística e oração segundo as intenções do Sumo Pontífice).
Quando São Bento fazia o sinal da cruz, obtinha proteção divina. Certa vez, tentaram envenenar Bento (nascido em 480 e falecido em 547). O santo, como era seu costume, fez o sinal da cruz sobre o vidro e o objeto quebrou-se em pedaços.
Noutra ocasião, um pássaro preto começou a voar ao seu redor. São Bento fez o sinal da cruz e teve uma tentação carnal na imaginação. Quando estava quase vencido, ajudado pela graça, tirou a roupa e lançou-se numa moita de espinhos e cardos, ferindo o corpo. Depois disso, nunca mais voltou a se ver perturbado daquela forma.
A medalha tem grande poder de exorcismo. A medalha de São Bento é um sacramental reconhecido pela Igreja com grande poder de exorcismo. Os sacramentais “são sinais sagrados por meio dos quais, imitando, de algum modo, os sacramentos, se significam e se obtêm, pela oração da Igreja, efeitos, principalmente, de ordem espiritual”. “Por meio deles, dispõem-se os homens para a receção do principal efeito dos sacramentos e são santificadas as várias circunstâncias da vida” (Catecismo da Igreja Católica, 1667).
A medalha tem, na frente, a imagem de São Bento, com uma cruz na mão direita e com o livro das regras dos seus religiosos na outra mão. Ao lado do santo, lê-se: “Crux Sancti Patris Benedicti” (cruz do Santo Pai Bento). Pode-se ver também um corvo e um cálice do qual sai uma serpente. De maneira circular, aparece a oração: “Eius in obitu nostro presentia muniamur” (Na hora da nossa morte sejamos protegidos pela sua presença). Na parte inferior central lê-se: “Ex. S. M. Cassino MDCCCLXXX” (Do Santo Monte Cassino 1880).
No verso, está a cruz de São Bento com várias siglas: C.S.P.B. – “Cruz do Santo Pai Bento”; C.S.S.M.L. – “A cruz sagrada seja minha luz” (na haste vertical da cruz); N.D.S.M.D. – “Não seja o dragão o meu guia” (na haste horizontal da cruz); I.V.B. - “bebe tu mesmo os teus venenos”.
A medalha deve ser abençoada por um sacerdote com uma oração especial, que se transcreve:
V/ O nosso auxílio vem do Senhor, R/ Que fez o céu e a terra.
Exorcizo-te, Medalha, por Deus Pai + omnipotente, que fez o céu e a terra, o mar e tudo o que eles contêm. Todas as forças malignas e todos os exércitos diabólicos, com todos os seus poderes e persuasões sejam afugentados e extirpados por meio da fé e do uso desta medalha, a fim de que todos os que a usam tenham saúde de corpo e de espírito: Em nome do Pai + e do Filho + e do Espírito Santo +. Amém.
 V/ Ouvi, Senhor, a minha oração. R/ E chegue a vós o meu clamor. V/ O Senhor esteja convosco.
R/ Ele está no meio de nós.
Pai Nosso…
Oremos: Deus eterno e todo-poderoso, pela intercessão do Nosso Pai São Bento, Vos suplicamos: seja esta Sacra Medalha com as suas inscrições e carateres abençoada por Vós +, a fim de que os seus portadores, movidos pela fé, possam realizar boas obras, obter a santidade de corpo e de alma, receber a graça da santificação e as indulgências concedidas, ter o vosso auxílio para afugentar o maligno com as suas fraudes e ciladas e, um dia, comparecer na vossa presença, santos e imaculados. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.
Que a vossa bênção, Deus Pai omnipotente +, Filho e Espírito Santo, desça sobre esta medalha e sobre quem a utiliza, e permaneça para sempre.
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Da Regra de São Bento, abade
(Prologus, 4-22;cap.72,1-12:CSEL75,2-5.162-163) (Séc.VI)
Nada absolutamente prefiram a Cristo
“Antes de tudo, quando quiseres realizar algo de bom, pede a Deus com oração muito insistente que seja plenamente realizado por Ele, pois tendo-se já dignado contar-nos entre o número dos seus filhos, que Ele nunca venha a entristecer-se, por causa das nossas más ações. Assim, devemos, em todo tempo, colocar ao seu serviço os bens que nos concedeu, para não acontecer que, como pai irado, venha a deserdar os filhos, ou também, qual Senhor temível, irritado com os nossos pecados, nos entregue ao castigo eterno, como péssimos servos que O não quiseram seguir para a glória.
“Levantemo-nos, enfim, pois a Escritura nos desperta, dizendo: ‘Já é hora de levantarmos do sono (cf. Rm 13,11). Com os olhos abertos para a luz deífica e os ouvidos atentos, ouçamos a exortação que a voz divina nos dirige, todos os dias: ‘Oxalá, ouvísseis hoje a sua voz: não fecheis os corações (Sl 94,8); e ainda: ‘Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas(Ap 2,7).
“E o que diz Ele? ‘Meus filhos, vinde agora e escutai-me: vou ensinar-vos o temor do Senhor (Sl 33,12). Correi, enquanto tendes a luz da vida, para que as trevas não vos alcancem (cf. Jo 12,35).
“Procurando o Senhor o seu operário na multidão do povo ao qual dirige estas palavras, diz ainda: ‘Qual o homem que não ama sua vida, procurando ser feliz todos os dias? (Sl 33,13). E se tu, ao ouvires este convite, responderes: ‘Eu’, dir-te-á Deus: ‘Se queres possuir a verdadeira e perpétua vida, afasta a tua língua da maldade, e os teus lábios, de palavras mentirosas. Evita o mal e faze o bem, procura a paz e vai com ela em seu caminho(Sl 33,14-15). E, quando fizeres isto, então os meus olhos estarão sobre ti e os meus ouvidos atentos às tuas preces; e, antes mesmo que me invoques, eu te direi: ‘Eis-me aqui(Is 58,9.
“Que há de mais doce para nós, caríssimos irmãos, do que esta voz do Senhor que nos convida? Vede como o Senhor, na sua bondade, nos mostra o caminho da vida!
“Cingidos, pois, os nossos rins com a fé e com a prática das boas ações, guiados pelo evangelho, trilhemos os seus caminhos, a fim de merecermos ver Aquele ‘que nos chama ao seu reino(cf. 1Ts 2,12). Se queremos habitar na tenda real do acampamento desse reino, é preciso correr pelo caminho das boas ações; de outra forma, nunca chegaremos lá.
“Assim como há um zelo mau de amargura, que afasta de Deus e conduz ao inferno, assim também há um zelo bom, que separa dos vícios e conduz a Deus. É este zelo que os monges devem pôr em prática com amor ferventíssimo, isto é, ‘antecipem-se uns aos outros em atenções recíprocas(cf. Rm 12,10). Tolerem pacientissimamente as suas fraquezas, físicas ou morais; rivalizem em prestar mútua obediência; ninguém procure o que julga útil para si, mas sobretudo o que o é para o outro; ponham em ação castamente a caridade fraterna; temam a Deus com amor; amem o seu abade com sincera e humilde caridade; nada absolutamente prefiram a Cristo; e que Ele nos conduza, todos juntos, para a vida eterna.”
(2.ª leitura do Ofício de Leituras da festa).
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É o que todos devemos fazer, obviamente com adaptação à condição de vida de cada um, de cada família, de cada grupo, de cada comunidade, no quadro do “Ora et labora”, sem sair do Mundo, mas sem pactuar com a sua perversidade, antes fazendo dele um espaço de justiça e de bem-estar.

2024.07.11 – Louro de Carvalho

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