Celebrou-se, a 12 e 13 de julho, nos Santuário de Fátima, a 3.ª Peregrinação
Internacional Aniversária das Aparições de Nossa Senhora, sob a presidência de
D. Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda, que exortou os peregrinos a seguirem
o exemplo dos Pastorinhos na “entrega incondicional” e na “oração”. Nos serviços do Santuário, fizeram-se anunciar cerca
de 53 grupos de peregrinos oriundos de Portugal, da Alemanha, dos Camarões, do Canadá,
da Coreia do Sul, da Costa do Marfim, da Eslováquia, de Espanha, dos Estados
Unidos da América (EUA), da Irlanda, da Itália, de Malta, da Polónia, do Reino
Unido e do Vietname.
***
A cada Peregrinação Aniversária, meia centena de peregrinos são
chamados a levar aos ombros o andor de Nossa Senhora, uma experiência feliz que
marca quem a assume. “Vamos nas nuvens!”
Minutos
antes do início do Terço, na Capelinha das Aparições, já os sete grupos de
peregrinos que levarão ao ombro o andor com a imagem de Nossa Senhora estão
reunidos junto à saída da Colunata do lado Norte, para receberem instruções dos
Servitas de Nossa Senhora de Fátima.
As
indicações dadas variam consoante a posição de cada grupo que assumirá no
percurso, até porque o levantamento do andor, logo no início da procissão, ou a
parte final, com a “difícil” subida da escadaria do presbitério do Recinto de
Oração e o pouso, na peanha, implicam graus de exigência diferentes, como
refere Lourenço Correia de Oliveira, o Servita que está a coordenar o grupo de
peregrinos. “As indicações que damos incidem mais sobre os grupos que fazem o
levantamento e o pouso do andor, até porque estes momentos requerem mais
destreza, para que a Imagem possa ir sempre direita. Por exemplo, na subida das
escadas, damos a indicação para que os da frente e do meio retirem o andor dos
ombros, por forma a nivelá-lo com os que vão atrás”, descreve o Servita, frisando
a calma e a coordenação como atitudes essenciais para o processo.
A troca do
andor é também um “momento sensível”, pela possibilidade de um dos lados ficar
desequilibrado, até porque esta troca é sempre feita em movimento, para que a
procissão não pare, lembra Lourenço de Oliveira, considerando que, em todo o
percurso, são os Servitas a voz de comando. Um à frente e outro atrás, são quem
dá as coordenadas que guiam quem leva o andor aos ombros, quando se sobe ou
desce, respetivamente. Meia hora antes do início da procissão, os grupos são
orientados para as respetivas posições. Seguem em fila, pelo corredor central,
posicionados na ordem inversa do sentido que a procissão vai percorrer.
“Lourenço,
alinhas os peregrinos?”, pergunta o outro Servita, à medida que cada grupo vai
assumindo a posição. “Sim”, reponde de imediato, já a dispor os elementos de
cada grupo pela altura, opção que visa colmatar o desnível do Recinto de
Oração.
No processo
de seleção, feito nas primeiras horas da manhã de cada Peregrinação
Aniversária, a altura dos ombros dos peregrinos é um dos fatores que é mais
considerado na formação dos grupos de oito elementos. Quando são escolhidos, o
receio ou o medo que possa haver em assumir tamanha responsabilidade são logo
dissipados pela alegria de poder transportar o andor com a Imagem de Nossa
Senhora de Fátima. E Abílio Pereira atesta a “felicidade e o significado
intenso de levar Nossa Senhora de Fátima aos ombros”. Natural de Arco de
Baúlhe, distrito de Braga, vem a pé nas peregrinações de maio e de outubro e de
carro, sempre que o 12 ou 13 calha em fim de semana. Já levou o andor em duas
dessas peregrinações, mas “o momento é sempre especial”.
“A primeira
vez que peguei foi uma surpresa, mas depois, quando regressei, ofereci-me logo
como voluntário”, diz, apontando para o lugar onde o grupo estava reunido, na
saída da Colunata do lado Norte, onde acontece a reunião entre os que se
voluntariam e os que são convidados. “É uma sensação única. O trajeto é pequeno
e o andor pesado, mas a emoção é grande e parece que vamos nas nuvens”,
descreve, encarando cada peregrinação a Fátima como uma ida “ao colo da Mãe”.
“Sabe bem
levar Nossa Senhora aos ombros, para o banquete da Eucaristia, em ação de
graças pelas vezes que Ela me carrega, ao longo do ano”, confidencia, sem
esconder o sorriso rasgado.
Entre os
muitos homens que vão carregar o andor há um ombro feminino. Maria de Jesus
veio de Sevilha em peregrinação ao Santuário de Fátima, com a possibilidade de
assumir pela primeira vez esta função. “Foi o instinto. Eu e uns familiares
disponibilizámo-nos e aqui estamos todos, prontos para esta grande graça. Já me
disseram que pesa muito, mas com fé tudo se consegue”, afirma, num misto de
convicção e nervosismo, vincando: “Espero conseguir carregá-La ao ombro, porque
foi isso que também vim pedir: que Ela me ajude a suportar a cruz que carrego.
Vim para não perder a fé. Este é, sem dúvida, um momento especial para
agradecer a Nossa Senhora.”
No topo do Recinto
de Oração, já perto do Altar, aguarda o grupo fardado dos Bombeiros de
Viatodos, do concelho de Barcelos, que peregrinou à Cova da Iria, com a
intenção de poder transportar o andor. “Lá já costumamos levar o andor, nas
procissões, mas aqui é a primeira vez”, refere Lino Sampaio, que, nesta
estreia, assumia um dos percursos mais exigentes: a subida da escadaria. “É um
momento especial que ganha mais importância porque vimos como bombeiros”, diz,
com o nervoso miudinho de quem sabe que o momento é seguido por muitos olhos.
“Contamos uns com os outros para este caminho, mas, no final, a fé e Nossa
Senhora vão-nos ajudar”, remata, confiante.
O sino marca
as 10h00 do dia 13 e o primeiro grupo de peregrinos contorna a Capelinha das
Aparições com o andor ainda vazio. A imagem de Maria está a ser retirada da
redoma por dois Servitas, que a colocam no andor, para ser venerada de perto
pelos peregrinos, mas sempre com a atenção e o cuidado que exige o momento,
recorda Lourenço de Oliveira, enumerando algumas regras a considerar, para
garantir a segurança de quem transporta o andor e para salvaguardar a escultura
centenária da Virgem. “Os peregrinos nunca se devem aproximar do andor nem
tentar tocar-lhe, sob o perigo dele se desequilibrar ou de alguém tropeçar”, alerta.
Paulatinamente,
o andor, já com a Imagem, segue o percurso habitual, dando a volta pelo lado
direito do Recinto de Oração, até ao topo do Santuário e, dali, pelo corredor
central até ao Altar. Do lado de fora, há peregrinos que acompanham o ritmo da
passada dos que transportam a Imagem. Ao ombro, são oito a carregá-La, mas, no
coração, é a multidão que A sustenta.
Nesta
peregrinação, o andor que transportou Nossa Senhora foi embelezado com quase
mil pés de flores e verdura, dispostos em 36 esponjas florais, embebidas em
água – ornamentação que aumenta o peso do andor, que, no final, poderá alcançar
mais de 250 quilos. No arranjo floral foram usados: cravos, dálias de
jardim, rosas de Santa Teresinha e de outras qualidades, jarros, orquídeas e
antúrios. Como verdura, foram usados fetos e espargos.
***
“Nesta
noite, coloquemos diante de nós o exemplo de Nossa Senhora e dos Três
Pastorinhos”, pediu D. Manuel Felício, na noite de 12 de julho, no Recinto de
Oração, elegendo esta vigília, na Cova da Iria, como um tempo de
pausa que permite cada um olhar para si, no silêncio da noite.
O Bispo da Guarda, sustentando que contemplar a figura
de Maria “é olhar e ver nela Aquela que nos traz a paz”, solicitou aos
peregrinos que fixassem a atenção na “atitude interior ao receber a Palavra do
Senhor, que Lhe entrava no ouvido, baixava ao seu coração e A motivava
para as melhores decisões”. E exortou cada um a conceber um caminho “para
chegar à paz, uma paz verdadeira que Maria nos traz e aos Três Pastorinhos”,
que viviam no tempo da Primeira Guerra Mundial. Efetivamente, na Celebração da
Palavra, a liturgia referia que o caminho da paz é um caminho de “humildade e de
serviço”.
Aproveitando
o exemplo de Lúcia, Francisco e Jacinta, o prelado falou da “forte experiência
de oração e incondicional entrega, que expressa um convite a cada um de nós
hoje aqui”. E pediu orações pelo Jubileu de 2025, para cada um “viver e aprofundar
o sentimento de entrega”.
A Procissão
do Silêncio levou, novamente, a Imagem de Nossa Senhora de Fátima até à Capelinha
das Aparições, seguindo-se a vigília de oração com momentos de adoração
eucarística, veneração dos santos Francisco e Jacinta Marto e a oração da
Via-Sacra.
***
O 13 de julho
começou com a recitação do Rosário, às 9h00, na Capelinha das Aparições, após o
que a Imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima seguiu em procissão até ao
Altar do Recinto de Oração, onde o Bispo da Guarda presidiu à Missa
internacional pelas 10h00. A celebração incluiu o momento de Bênção aos Doentes
e terminou com a Procissão do Adeus.
À homilia,
o prelado egitaniense lembrou o drama
da guerra “em partes do Mundo menos noticiadas”, mas onde sofrem populações
inteiras, e evocou as “recomendações tão preciosas” que Nossa Senhora
deixou na Cova da Iria, convidando os peregrinos a “fazer
memória da experiência feliz dos Três Pastorinhos”.
Na Cova da
Iria, Nossa Senhora “fez um convite à oração e penitência [e] veio dizer ao Mundo o
que é preciso fazer, para vencer as crises e a grande crise que, naquele
momento, se vivia e fazia sofrer as pessoas, as famílias e as nações era a
crise imposta pela Primeira Guerra Mundial”.
O prelado lembrou
que as crises “não terminaram e, em particular, os dramas da guerra estão a
pedir soluções que tragam, de novo, à vida das pessoas e dos povos a
tranquilidade e a paz”.
Na terceira
aparição de Nossa Senhora aos Três Pastorinhos já havia notícias sobre as
aparições anteriores. Por isso, a 13 de julho de 1917, uma multidão compareceu
na Cova da Iria. Nesta aparição, a Senhora pediu especial oração pelos
pecadores e foi neste dia que Lúcia, Jacinta e Francisco tiveram a visão do
inferno. A Virgem anunciou que a guerra iria acabar, mas que começaria novo
conflito, ainda pior, no pontificado de Pio XI, se a Humanidade não
deixasse de ofender a Deus. E Nossa Senhora revelou o Segredo de Fátima,
dividido em três partes. O primeiro quadro compõe-se da visão do inferno; o
segundo apresenta a devoção ao Imaculado Coração de Maria; e o terceiro
refere-se à Igreja peregrina e mártir.
O presidente
da Peregrinação falou desta aparição em particular, para referir as
“recomendações tão preciosas que Nossa Senhora aqui deixou”. “Nós hoje, neste
seu Santuário, queremos sentir, de novo, como Ela é nosso modelo e nossa Mãe,
sempre atenta aos pedidos que Lhe fazemos, mas sobretudo atenta às necessidades
do Mundo inteiro, hoje a braços com problemas novos, dos quais as guerras são a
expressão mais visível e sentida pelas populações”, alertou o prelado.
O prelado considera
que a maior urgência do Mundo atual é a paz, “e estamos a lembrar-nos da
Ucrânia e da Palestina, mas também de outras partes do Mundo menos noticiadas,
mas onde o drama da guerra está instalado e faz sofrer populações inteiras”.
Referiu-se, em concreto, à situação vivida no Sudão, em Mianmar, no Líbano
ou na Etiópia. Estes lugares “ocupam menos espaço nas notícias, talvez por
serem considerados menos importantes para os interesses dos países ricos, mas
vivem ali pessoas que sofrem os horrores da guerra e a morrer”. E, citou o
Santo Padre, para referir que a guerra é sempre “um fracasso para todas as
partes envolvidas e, particularmente hoje, não se podem esperar vencedores”.
Assim, o
único caminho é “fazer a paz, esse bem sem o qual a vida é um tormento”.
“Está na via do diálogo conseguir entendimentos entre pessoas, países,
raças, religiões e culturas”, observou.
Numa saudação
final, D. José Ornelas, bispo da Diocese de Leiria-Fátima, enalteceu a
“mensagem de paz”, ao longo destes dois dias, e considera que a Humanidade “tem
sede de paz”. “Somos peregrinos da esperança para o ano jubilar de 2025 que se
aproxima, [importando], por isso, que levemos a toda a parte esta mensagem que
aqui recebemos”, à semelhança do que aconteceu com os discípulos relativamente
às palavras de Jesus. E o prelado do Lis desafiou as crianças presentes em
Fátima, em tempo de férias, a largar os computadores e os telemóveis, e a
“levar o dom da alegria”, experimentando outras atividades em família.
No final, a Procissão
do Adeus levou Nossa Senhora de volta à Capelinha das Aparições.
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É Fátima no
seu papel de acolhimento e de promoção do ser e da missão da Igreja!
2024.07.13 – Louro de Carvalho
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