Um estudo
da Federação Europeia de Transportes e Ambiente, sobre efeitos da poluição por
partículas finas da aviação, em 33 cidades europeias mostra que é em Lisboa que
mais população terá a saúde afetada. Com efeito, quem vive num raio de cinco
quilómetros de distância do Aeroporto Humberto Delgado (AHD), isto é, quase
meio milhão de pessoas, tem maior risco de sofrer de doenças como hipertensão,
diabetes ou demência, mercê da exposição à poluição de partículas ultrafinas
emitida pelos aviões.
A queima
do combustível das aeronaves liberta minúsculas partículas, incluindo
partículas ultrafinas, com menos de 100 micrómetros, cerca de mil vezes mais
pequenas do que um fio de cabelo, com múltiplos efeitos negativos na saúde. E
mais do que a população em geral, os trabalhadores dos aeroportos, em
particular os que trabalham na pista, são quem está mais exposto aos efeitos
das partículas ultrafinas, pelo que há necessidade de criar medidas específicas
para proteger a sua saúde.
As
partículas em suspensão são constituídas pela mistura de partículas sólidas e
de gotículas. Algumas são emitidas diretamente, enquanto as demais se formam
quando os poluentes emitidos por diferentes fontes reagem na atmosfera. As
partículas têm diferentes tamanhos, e as de menos de 10 micrómetros
conseguem entrar nos nossos pulmões e causar problemas de saúde graves.
As PM10 são
partículas em suspensão com diâmetro inferior a 10 micrómetros; as PM2.5 (ou partículas
finas) são partículas em suspensão com diâmetro inferior a 2,5
micrómetros.
Tanto a
União Europeia (UE) como a Organização Mundial de Saúde (OMS) consideram a
massa total de PM10 e PM2.5 o
indicador para a definição do seu padrão.
As partículas
em suspensão vêm associadas a doenças e a mortes causadas por doenças cardíacas
ou pulmonares. A OMS recolheu provas científicas suficientes para
afirmar que a exposição mais nociva a partículas em suspensão é a exposição
prolongada a partículas finas (PM2.5).
Porém,
este tipo de poluição não está suficientemente regulado, como salienta o estudo,
que, tendo analisado a ligação entre as partículas emitidas pelos aviões e a saúde
de quem vive perto dos 33 aeroportos em causa, sugere que “milhares de casos de
hipertensão arterial, de diabetes e de demência”, estarão ligados a estas
partículas minúsculas. Porém, Lisboa é a cidade que mais concentra pessoas a
viver, a trabalhar e a estudar nas imediações do aeroporto. Em Lisboa e
arredores, estão em causa cerca de 414 mil pessoas (cerca de 4% da população
portuguesa).
Estima-se
que as partículas ultrafinas decorrentes da atividade do AHD possam estar na
origem de 15473 casos de hipertensão, 18615 casos de diabetes e 1837 casos de
demência entre a população da cidade de Lisboa e arredores. Estes números
representam até 9% da população que vive neste raio de cinco quilómetros do
aeroporto. E os dados apontam para um risco de demência de 20%, de 12%, para a
diabetes, e de 7%, para a hipertensão arterial. Esta estimativa foi feita a
partir dos dados conhecidos para o aeroporto de Schiphol, em Amesterdão, nos
Países Baixos, mas os valores de concentração de partículas ultrafinas medidas
em torno de Schiphol situam-se entre quatro mil e 30 mil partículas/cm3, valor
abaixo das 60 mil-136 mil partículas/cm3 registadas pela Zero, no verão de
2023, em zonas altamente populosas em redor do AHD.
O estudo
agora divulgado complementa o estudo da Universidade Nova de Lisboa, de 2019,
que demonstra que a concentração de partículas ultrafinas em algumas zonas de
Lisboa sobe conforme a sua exposição à influência do aeroporto e ao movimento
de aviões, diz a Zero, para quem, dada a proximidade do AHD ao centro da
cidade, os efeitos se estendem por áreas significativas.
Estas
partículas deixadas em suspensão no ar pelos aviões dispersam-se amplamente na
atmosfera e são invisíveis. E, se inaladas, passam através dos pulmões para a
corrente sanguínea e espalham-se pelo organismo, podendo originar sérios problemas
de saúde a longo prazo, incluindo respiratórios, cardiovasculares,
neurológicos, endócrinos e gestacionais. Assim, a exposição de longo prazo às
partículas com origem na aviação, segundo a Zero, resulta num número estimado
de mortes prematuras entre 14 mil e 21200, todos os anos.
Em
Lisboa, é “uma situação que não encontra semelhança em mais nenhum outro
aeroporto europeu […], agravando as doenças provocados pelo excesso de ruído”,
alerta a associação.
No total
dos aeroportos considerados, a exposição às partículas ultrafinas pode estar
associada a 280 mil casos de hipertensão, a 330 mil casos de diabetes e a 18
mil casos de demência. E, até agora, não há regulamentação sobre os níveis
seguros de partículas ultrafinas no ar, apesar de a OMS ter alertado, há mais
de 15 anos, que se trata de um poluente preocupante.
É certo
que a UE aprovou, já este ano, limites para a poluição por partículas fimas.
Todavia, apesar de os limites serem agora mais estritos, são ainda mais
elevados do que os recomendados pela OMS, na
revisão das regras em 2021. Por exemplo, o limite anual da exposição a
partículas PM 2,5, que são das que maior impacto têm na saúde humana, foi revisto
de 25 para 10 microgramas por metro cúbico, na diretiva europeia. Contudo, o valor
recomendado pela OMS é metade disso, cinco microgramas por metro cúbico, por
ano.
Por isso,
para reduzir o impacto nas partículas ultrafinas na saúde, a Zero defende a não
expansão da capacidade do AHD, o seu encerramento, “para tão breve quanto possível”,
e a promoção da utilização de combustíveis sustentáveis. Com efeito, o uso de combustível
da aviação de melhor qualidade pode reduzir a emissão de partículas ultrafinas
até 70%, pois quanto menos aromáticos e enxofre tiver, menor é a poluição que
gera. Está nas mãos dos decisores exigir que as transportadoras aéreas usem
combustível mais limpo, sujeito a processo de hidrotratamento, e que tem um custo
que pode ser menor do que cinco cêntimos por litro. Porém, as normas para
produção de combustível para a aviação não o exigem.
***
Antes de se
falar de partículas finas e ultrafinas, já se falava em cinzas (por exemplo, as
vulcânicas da Islândia) ou das poeiras (por exemplo as do Norte de África), que
impunham cautelas.
O termo
“poeiras” não possui significado científico exato, mas é definível como sólido
reduzido a pó ou a partículas finas. A dimensão das partículas é tão importante
como a natureza do pó, para estabelecer se a substância é perigosa. Em geral,
os mais perigosos tipos de poeiras são os muito pequenos, invisíveis para a
olho nu (caso dos pós muito finos), suficientemente pequenos para serem inalados,
mas suficientemente grandes para permanecerem presos no tecido pulmonar e não
serem exalados. No entanto, algumas substâncias (por exemplo, o amianto)
produzem poeiras muito grosseiras com partículas grandes, que podem ser
perigosas.
As substâncias podem produzir poeiras com partículas de dimensões
distintas; e só porque apenas se veem grandes partículas de pó ou grânulos de
grandes dimensões não significa que não possam estar presentes outras de
pequenas dimensões.
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Há uma multiplicidade de tipos de poeiras, de que se apresentam alguns.
Muitos
processos modernos utilizam nanomateriais, que são particularmente perigosos,
pois podem ser absorvidos, diretamente, na corrente sanguínea, através da pele
e das membranas pulmonares, por inspiração. São perigosos para a saúde,
independentemente da matéria de que são feitos. O equipamento de proteção normal não proporciona proteção adequada e deve
contactar-se o laboratório, antes da abertura destes produtos ou da colheita de
amostras.
As poeiras tóxicas são, geralmente, produzidas, quando se trabalha com
substâncias tóxicas, por exemplo produtos químicos que contêm chumbo, mercúrio,
cromo ou substâncias orgânicas tóxicas, como fentanil e análogos. Se inaladas,
podem danificar os pulmões ou entrar na corrente sanguínea e ser distribuídas por
todo o corpo. Os fentaniles e outros opioides sintéticos podem causar depressão
respiratória e sedações muito rápidas.
As poeiras incomodativas podem ser
geradas pelo manuseamento de materiais, tais como: farinha/cereais, pez, tabaco,
açúcar, papel, cimento, géneros alimentícios secos, serradura, grãos de café ou
de chá, negro de fumo (toner para fotocopiadora/impressora). São, regra geral, apenas irritantes,
mas, em forma concentrada, podem ser perigosas para a saúde. Todavia, é
cancerígeno o pó de madeira de folhosas.
Há áreas em
que podem surgir poeiras de cannabis durante o trabalho (por exemplo, num
entreposto oficial). Este tipo de poeiras não é considerado particularmente
perigoso, pois não é facilmente absorvido pelo organismo e encontra-se, de um
modo geral, numa concentração baixa.
Podem
encontrar-se poeiras incomodativas em qualquer sítio. As mais comuns são: as
poeiras de papel, em escritórios de triagem de correio e em papelarias; o pó de
cimento, nos estaleiros de construção; poeiras várias, em portos, em depósitos
aduaneiros, em vias de navegação interiores e em instalações de comerciantes; e
toner, em salas de fotocopiadoras/impressoras.
Pode haver
poeiras tóxicas ou inflamáveis em concentrações perigosas em locais de carga,
descarga ou movimentação de carga a granel, (cereais, minérios metálicos,
carvão, etc.).
As poeiras
inflamáveis deslocam-se pelo ar em nuvens e podem ser facilmente inflamadas,
desencadeando chama súbita ou explosão. Podem ser incendiadas por faísca ou por
chama viva, ou, ainda, por terem pousado sobre uma superfície quente. Quando as
poeiras inflamáveis pousam e inflamam, podem apresentar chamas ou simplesmente
arder em combustão lenta, muito depois de a fonte de ignição ter sido
suprimida. Na sequência de uma explosão, as poeiras inflamáveis podem
dispersar-se por uma área importante, agravando o risco de incêndios graves. É
pouco provável que, no decurso do trabalho, se venha a deparar com poeiras
inflamáveis.
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As poeiras
podem causar danos nos pulmões e nas vias respiratórias, mas alguns tipos
específicos podem causar cancro. As doenças mais importantes associadas à
inalação de poeiras são:
- A pneumoconiose
benigna. É provocada quando poeiras aparentemente inofensivas são inaladas e
depositadas nos pulmões de tal forma que passam a ser visíveis através de raios
X. Não causam danos no tecido pulmonar e, por conseguinte, a doença não é
incapacitante. É uma perturbação mais frequentemente associada a poeiras de metais,
como o ferro e o estanho.
- A pneumoconiose.
É a denominação comum a um grupo de doenças pulmonares crónicas provocadas pela
inalação de poeiras que contêm minerais específicos. Inclui uma série de
doenças cujo nome advém das poeiras que as causaram. As mais conhecidas são a asbestose
(de poeiras de amianto); a silicose (de poeiras de sílica); e a talcose (de
poeiras de talco).
- A
pneumonite. É a inflamação dos tecidos pulmonares ou dos bronquíolos causada
pela inalação de poeiras contendo metais. Os sintomas são semelhantes à pneumonia,
mas o nível de gravidade varia, consoante o metal inalado. As causas mais
comuns são as poeiras de cádmio e de berílio.
- O
mesotelioma da pleura. É o tumor dos pulmões, causado principalmente pela
exposição ao amianto.
- O cancro
do pulmão. Também pode seguir-se a qualquer exposição ao amianto.
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Para a
maioria dos tipos de poeiras, incluindo as incomodativas, foram fixados limites
de exposição em normas de saúde e de segurança. Porém, como é provável haver
pouco controlo em relação à fonte das poeiras, são de tomar todas as precauções
necessárias para reduzir os riscos: utilizar aparelho de proteção respiratória
ou máscara facial; certificar-se, se possível, de que o espaço de trabalho está
bem ventilado; se houver equipamento de extração de poeira, certificar-se de
que está a ser utilizado; guardar limites à exposição às poeiras; fazer regulares
controlos médicos; sair da área contaminada, logo que sinta quaisquer sintomas.
Enfim, só se deve permanecer numa atmosfera com
poeiras durante o mínimo absoluto do tempo necessário para efetuar o trabalho,
mesmo com proteção respiratória.
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As poeiras perseguem-nos em cada passo, pelo que exigem cautelas, mas o recente
estudo da Federação
Europeia de Transportes e Ambiente sinaliza que as poeiras finas e ultrafinas
afetam gravemente a população que vive e trabalha em alargada área aeroportuária.
Respeito pelas normas e vigilância médica impõem-se.
2024.06.25
– Louro de carvalho
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