quinta-feira, 13 de junho de 2024

Novos apoios à Ucrânia no seu esforço de guerra

 

O G7 (o Canadá, a França, a Alemanha, a Itália, o Japão, o Reino Unido e os Estados Unidos da América), o grupo das principais economias capitalistas do Mundo, reuniu, a 13 de junho (com agenda até ao dia 15), em Borgo Egnazia, na região italiana de Apúlia e, a par de temas como a inteligência artificial (IA) e a situação em África e na América Latina, sobressaiu a discussão sobre a guerra na Ucrânia e no Médio Oriente.

Países como a Índia, o Brasil e a África do Sul, que integram o grupo BRICS+, também foram convidados a participar na cimeira, organizada pela presidência italiana.

Os anfitriões escolheram um hotel de luxo, para acolher o encontro. O nível de segurança para o evento foi reforçado, tendo as autoridades locais colocado em prática um vasto conjunto de meios para evitar qualquer contratempo. A própria escolha de Borgo Egnazia, foi ditada por razões de segurança, pois é mais fácil controlar esta zona do que Roma, uma metrópole complexa.

As grandes potências definiram como objetivo chegar a acordo sobre um plano para congelar milhões de dólares de ativos russos e utilizar esse dinheiro para apoiar financeiramente a Ucrânia.

Já a 25 de maio, os países do G7 afirmaram a intenção de explorar formas de utilizar os ativos russos congelados para ajudar Kiev. E os Estados Unidos da América (EUA) anunciaram a concessão de uma ajuda militar suplementar de 275 milhões de dólares (253 milhões de euros) à Ucrânia, numa altura em que Kiev se esforça por travar a ofensiva de Moscovo no Leste do país.

O Secretário de Estado Antony Blinken considerou que o pacote “faz parte dos nossos esforços para ajudar a Ucrânia a repelir o ataque da Rússia perto de Kharkiv”.

“A assistência de pacotes anteriores já chegou às linhas da frente e vamos enviar esta nova assistência o mais rapidamente possível para que os militares ucranianos a possam utilizar para defender o seu território e proteger o povo ucraniano”, afirmou num comunicado, acrescentando: “Os Estados Unidos e a coligação internacional que reunimos continuarão a apoiar a Ucrânia na defesa da sua liberdade.”

O atual pacote inclui sistemas de foguetes de artilharia de alta mobilidade (HIMARS), munições e as tão necessárias munições de artilharia, bem como sistemas antitanque Javelin e AT-4, minas antitanque, veículos tácitos, armas ligeiras e munições. Washington já forneceu quase 51 mil milhões de dólares (47 mil milhões de euros) em assistência militar à Ucrânia desde a invasão russa, em fevereiro de 2022. Agora, o G7 equaciona a possibilidade de utilizar os rendimentos dos ativos russos congelados na ajuda à Ucrânia. Cerca de 300 mil milhões de dólares de ativos russos foram congelados pelo G7, na sequência da invasão da Ucrânia por Moscovo, em 2022.

Entretanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia instou a Europa a reforçar as suas defesas. Em declarações ao The Guardian, Radosław Sikorski disse que um rearmamento, a longo prazo, do continente é essencial para impedir as ambições imperiais russas. E, apelando à criação de uma brigada de cinco mil soldados da União Europeia (UE), disse que Varsóvia poderia apoiar um esquema a nível da UE para incentivar os Ucranianos que se esquivam ao recrutamento a regressarem a casa para servir. Com efeito, um número significativo de Ucranianos fugiu para a Polónia e as medidas para reforçar as fileiras esgotadas da Ucrânia continuam a ser controversas.

Em tom mais agressivo, Sikorski disse que a Polónia apoia os ataques ucranianos a alvos militares na Rússia, argumentando que o Ocidente devia deixar de limitar o que diz e faz para apoiar Kiev.

Vários outros Estados europeus são mais cautelosos, receando que os ataques ucranianos em território russo, com armas ocidentais, possam fazer escalar as tensões e arriscar arrastar a Europa para uma guerra mais vasta. Sikorski tem sido fundamental para que a Polónia se realinhe com a política externa da UE, após oito anos de governo do partido nacionalista de direita Lei e Justiça.

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Paralelamente, depois de a Hungria anunciar que não bloqueará o apoio a Kiev, os ministros de defesa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) reuniram-se, a 13 de junho, em Bruxelas, para chegarem a acordo sobre um novo plano de apoio à Ucrânia.

Esta reunião ocorreu depois de a Hungria ter prometido não bloquear a ajuda da aliança atlântica a Kiev, mas sem participar em qualquer ação da NATO. E esta é a última ronda de conversações antes da cimeira organizada pelo presidente dos EUA, que terá lugar em Washington, em julho, prevendo-se que os líderes da aliança militar anunciem o apoio financeiro à Ucrânia.

Os aliados ocidentais  estão a tentar reforçar o apoio militar, à medida que as tropas russas lançam ataques ao longo dos mais de mil quilómetros da linha da frente, tirando partido do longo atraso na ajuda militar dos EUA. Além disso, o dinheiro da UE foi bloqueado por lutas políticas internas.

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, que presidiu à reunião de 13 de junho, disse que as forças armadas ucranianas precisam de previsibilidade, a longo prazo, sobre o tipo de armas, munições e fundos que podem esperar receber. “A ideia é minimizar o risco de lacunas e atrasos, como vimos no início deste ano”, disse Stoltenberg aos jornalistas. O atraso, considerou, “é uma das razões pelas quais os russos podem agora avançar e ocupar mais território na Ucrânia”.

Desde a invasão russa, em fevereiro de 2022, os apoiantes ocidentais da Ucrânia têm reunido com frequência, no âmbito do Grupo de Contacto para a Defesa da Ucrânia, dirigido pelo Pentágono, com o objetivo de obter mais armamento para Kiev. Embora essas reuniões tenham resultado num apoio significativo no campo de batalha, têm sido de natureza imprevisível.

Stoltenberg liderou um esforço para que a NATO assumisse parte da responsabilidade, de modo que a aliança militar de 32 nações coordene a assistência à segurança e o processo de formação, em parte utilizando a estrutura de comando da NATO, e recorra a fundos do orçamento comum. E disse esperar que Joe Biden e os seus homólogos cheguem a acordo, para manterem o nível de financiamento do apoio militar que têm prestado à Ucrânia, estimando que este apoio ascenda a cerca de 40 mil milhões de euros em equipamento por ano.

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No dia 12, a Hungria anunciou não vetar o plano de ajuda à Ucrânia, desde que não seja forçada a participar. “Pedi ao secretário-geral para deixar claro que todas as ações militares fora do território da NATO só podem ser de natureza voluntária, de acordo com as regras da NATO e [com] as nossas tradições”, disse o primeiro-ministro Viktor Orbán. “A Hungria recebeu as garantias de que necessitamos”, declarou.

Orbán é tido como um dos líderes europeus mais próximos do presidente russo, Vladirmir Putin, e tem referido que os seus parceiros da UE e da NATO que ajudam a Ucrânia são “pró-guerra”.

Os outros 31 aliados veem a guerra da Rússia contra a Ucrânia como uma ameaça existencial à segurança da Europa, mas a maioria deles, incluindo Biden, tem sido extremamente cautelosa em garantir que a NATO não seja arrastada para um conflito mais vasto com a Rússia.

Enquanto organização, a aliança militar não envia armas para a Ucrânia e não tem planos para o fazer, mas muitos dos seus membros prestam ajuda numa base bilateral. Com efeito, os aliados da NATO fornecem mais de 90% do apoio militar que a Ucrânia recebe. Aliás, os EUA e a Alemanha chegaram a autorizar a utilização de armas da NATO dentro da Rússia.

No mesmo dia, o secretário-geral da NATO também anunciou que a Hungria concordou em não bloquear a assistência militar da aliança atlântica à Ucrânia, ainda que o governo de Budapeste não forneça quaisquer fundos ou recursos humanos para ajudar Kiev. “A Hungria não participará nestes esforços da NATO e eu aceito esta posição”, disse Stoltenberg em Budapeste, depois de se ter encontrado com Viktor Orbán.

Sem avançar pormenores, Stoltenberg diz ter acordado com Orbán “modalidades para a não participação da Hungria no apoio da NATO à Ucrânia”. “Nenhum pessoal húngaro participará nestas atividades e não serão utilizados fundos húngaros para as apoiar”, afirmou Stoltenberg.

“Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro garantiu-me que a Hungria não se oporá a estes esforços, permitindo que outros aliados avancem, e confirmou que a Hungria continuará a cumprir integralmente os seus compromissos no âmbito da NATO”, adiantou Stoltenberg, observando que a NATO toma todas as suas decisões por consenso, o que dá, na prática, a qualquer um dos 32 aliados o direito de veto.

Antes da visita a Budapeste, Stoltenberg, explicou, em Riga, numa conferência de imprensa da Cimeira B9 (cimeira que reúne os países da NATO do Leste europeu): “Faz parte do meu trabalho como secretário-geral visitar os líderes dos países da NATO para garantir que temos um acordo.”

“Estou ansioso por me sentar e discutir (com Orbán) a agenda da cimeira de Washington, que inclui a segurança e a dissuasão da NATO e o apoio à Ucrânia”, confessou, dizendo esperar que “todos os aliados deem o OK, para reforçar a coordenação da ajuda em Kiev e aprovem o apoio financeiro”.

Stoltenberg estava de visita a Riga – que assinalou, recentemente, um ano de uma política de recrutamento militar renovada com sucesso – para participar na Cimeira B9, organizada pelo presidente da Letónia, Edgars Rinkēvičs, e pelos seus homólogos romeno e polaco, Klaus Iohannis e Andrzej Duda.

Em conferência de imprensa conjunta na capital da Letónia, Stoltenberg elogiou aquele país báltico por “dar o exemplo”, ao atribuir 2% do produto interno bruto (PIB) à sua carteira de defesa – que deverá aumentar para 3% até 2027 – e aos seus esforços militares de apoio aos soldados ucranianos: “A Letónia fornece formação militar extensiva aos soldados ucranianos. Lidera uma coligação que trabalha com a indústria para fornecer drones. E contribuem para a iniciativa liderada pela República Checa [Chéquia] para fornecer mais projéteis de artilharia.”

O presidente romeno, Klaus Iohannis anunciou, em março, que participaria na corrida, para se tornar o próximo líder da aliança militar de 32 nações da NATO, vincando a posição estratégica do país na Europa e a proximidade com a Ucrânia. “A Rússia está a revelar-se uma ameaça séria e de longo prazo para o nosso continente, para a nossa segurança euroatlântica”, afirmou Klaus Iohannis, para acrescentar: “Nestas condições, as fronteiras da NATO tornam-se de extrema importância e o reforço do flanco oriental [...] continuará a ser uma prioridade a longo prazo.”

Stoltenberg, que ocupa o cargo desde 2014, declarou não estar a tentar um mandato sucessivo.

Klaus Iohannis disse acreditar que a NATO precisa de uma “renovação de perspetivas” e que os desafios históricos da Europa Oriental podem proporcionar isso mesmo, face à agressão russa.

Muitos dos membros mais orientais da NATO manifestaram preocupação com as tentativas da Rússia de reafirmar a sua influência na região, pois alguns ainda recordam a influência soviética.

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O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, agradeceu os 50 mil milhões de dólares (cerca de 46,3 mil milhões de euros) em que os países do G7 acordaram para ajuda à Ucrânia e, segundo o discurso publicado no site da presidência ucraniana, no encontro que manteve com os líderes do G7 e da UE, em Itália, pediu “um plano claro para a recuperação [da Ucrânia], semelhante ao Plano Marshall para a Europa, após a guerra”, acrescentando que “os detalhes podem ser acertados pelas nossas equipas”, que também gizaram as declarações de segurança.

Também o ministro da Defesa português, Nuno Melo, anunciou, em Bruxelas, que Portugal tem “disponibilidade imediata”, para iniciar a formação de militares ucranianos para missões em carros de combate Leopard.

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Enfim, a NATO diz não entrar na guerra, mas apoia-a de todas as formas, incluindo o uso de armas ocidentais, algumas bem perigosas e provocatórias. E a Rússia continua com a ameaça de retaliar por todos os meios, caso a NATO ultrapasse as marcas. Por isso, alguns países do Leste europeu sentem-se inseguros, face à vizinhança da Rússia, e em situação incerta, em relação à NATO, de que fazem parte. Nada tão mau, para a paz, como a iminência do látego da guerra!

2024.06.13 – Louro de Carvalho

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