O G7 (o Canadá, a França, a Alemanha, a Itália, o Japão, o Reino
Unido e os Estados Unidos da América),
o grupo das principais economias capitalistas do Mundo, reuniu, a 13 de
junho (com agenda até ao dia 15), em Borgo Egnazia, na região italiana de
Apúlia e, a par de temas como a inteligência artificial (IA) e a situação em África e na América Latina,
sobressaiu a discussão sobre a guerra na Ucrânia e no Médio Oriente.
Países
como a Índia, o Brasil e a África do Sul, que integram o grupo BRICS+, também
foram convidados a participar na cimeira, organizada pela presidência italiana.
Os
anfitriões escolheram um hotel de luxo, para acolher o encontro. O nível de segurança para o evento foi reforçado, tendo
as autoridades locais colocado em prática um vasto conjunto de meios para
evitar qualquer contratempo. A própria escolha de Borgo Egnazia, foi ditada por
razões de segurança, pois é mais fácil controlar esta zona do que Roma, uma
metrópole complexa.
As
grandes potências definiram como objetivo chegar a acordo sobre
um plano para congelar milhões de dólares de ativos russos e utilizar esse dinheiro para apoiar financeiramente a
Ucrânia.
Já a 25 de maio, os países do G7 afirmaram a intenção
de explorar formas de utilizar os ativos russos congelados para ajudar Kiev. E
os Estados Unidos da América (EUA) anunciaram a concessão de uma ajuda militar suplementar de
275 milhões de dólares (253 milhões de euros) à Ucrânia, numa altura em que
Kiev se esforça por travar a ofensiva de Moscovo no Leste do país.
O Secretário de Estado Antony Blinken
considerou que o pacote “faz parte dos nossos esforços para ajudar a Ucrânia a
repelir o ataque da Rússia perto de Kharkiv”.
“A assistência de pacotes anteriores já chegou às linhas da
frente e vamos enviar esta nova assistência o mais rapidamente possível para
que os militares ucranianos a possam utilizar para defender o seu território e
proteger o povo ucraniano”, afirmou num comunicado, acrescentando: “Os Estados
Unidos e a coligação internacional que reunimos continuarão a apoiar a Ucrânia
na defesa da sua liberdade.”
O atual pacote inclui sistemas de
foguetes de artilharia de alta mobilidade (HIMARS), munições e as tão
necessárias munições de artilharia, bem como sistemas antitanque Javelin e
AT-4, minas antitanque, veículos tácitos, armas ligeiras e munições. Washington
já forneceu quase 51 mil milhões de dólares (47 mil milhões de euros) em
assistência militar à Ucrânia desde a invasão russa, em fevereiro de 2022. Agora,
o G7 equaciona a possibilidade de utilizar os rendimentos dos ativos russos
congelados na ajuda à Ucrânia. Cerca de 300 mil milhões de dólares de ativos
russos foram congelados pelo G7, na sequência da invasão da Ucrânia por Moscovo,
em 2022.
Entretanto, o ministro dos Negócios
Estrangeiros da Polónia instou a Europa a reforçar as suas defesas. Em
declarações ao The Guardian, Radosław
Sikorski disse que um rearmamento, a longo prazo, do continente é essencial
para impedir as ambições imperiais russas. E, apelando à criação de uma brigada
de cinco mil soldados da União Europeia (UE), disse que Varsóvia poderia apoiar
um esquema a nível da UE para incentivar os Ucranianos que se esquivam ao
recrutamento a regressarem a casa para servir. Com efeito, um número
significativo de Ucranianos fugiu para a Polónia e as medidas para reforçar as
fileiras esgotadas da Ucrânia continuam a ser controversas.
Em tom mais agressivo, Sikorski disse
que a Polónia apoia os ataques ucranianos a alvos militares na Rússia, argumentando
que o Ocidente devia deixar de limitar o que diz e faz para apoiar Kiev.
Vários outros
Estados europeus são mais cautelosos, receando que os ataques ucranianos em
território russo, com armas ocidentais, possam fazer escalar as tensões e
arriscar arrastar a Europa para uma guerra mais vasta. Sikorski tem sido fundamental
para que a Polónia se realinhe com a política externa da UE, após oito anos de
governo do partido nacionalista de direita Lei e Justiça.
***
Paralelamente,
depois de a Hungria anunciar que não bloqueará
o apoio a Kiev, os ministros de defesa da Organização do Tratado do Atlântico
Norte (NATO) reuniram-se, a 13 de junho, em Bruxelas, para chegarem a acordo
sobre um novo plano de apoio à Ucrânia.
Esta reunião ocorreu depois de a Hungria ter
prometido não bloquear a ajuda
da aliança atlântica a Kiev, mas sem participar em
qualquer ação da NATO. E esta é a última ronda de conversações antes da cimeira
organizada pelo presidente dos EUA, que terá lugar em Washington, em julho,
prevendo-se que os líderes da aliança militar anunciem o apoio financeiro à
Ucrânia.
Os aliados
ocidentais estão a tentar reforçar o apoio militar, à medida que as tropas russas lançam
ataques ao longo dos mais de mil quilómetros da linha da frente, tirando
partido do longo atraso na ajuda militar dos EUA. Além disso, o dinheiro da UE
foi bloqueado por lutas políticas
internas.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, que presidiu à reunião de 13 de junho, disse
que as forças armadas ucranianas precisam de previsibilidade, a longo prazo,
sobre o tipo de armas, munições e fundos que podem esperar receber. “A ideia é
minimizar o risco de lacunas e atrasos, como vimos no início deste ano”, disse
Stoltenberg aos jornalistas. O atraso, considerou, “é uma das razões pelas
quais os russos podem agora avançar e ocupar mais território na Ucrânia”.
Desde
a invasão russa, em fevereiro de 2022,
os apoiantes ocidentais da Ucrânia têm reunido com frequência, no âmbito do
Grupo de Contacto para a Defesa da Ucrânia, dirigido pelo Pentágono, com o
objetivo de obter mais armamento para Kiev. Embora essas reuniões tenham
resultado num apoio significativo no campo de batalha, têm sido de natureza
imprevisível.
Stoltenberg
liderou um esforço para que a NATO assumisse parte da responsabilidade, de modo
que a aliança militar de 32 nações coordene a assistência à segurança e o
processo de formação, em parte utilizando a estrutura de comando da NATO, e
recorra a fundos do orçamento comum. E disse esperar que Joe Biden e os seus
homólogos cheguem a acordo, para manterem o nível de financiamento do apoio
militar que têm prestado à Ucrânia, estimando que este apoio ascenda a cerca
de 40 mil milhões de euros em
equipamento por ano.
***
No dia 12, a
Hungria anunciou não vetar o plano de ajuda à Ucrânia, desde que não seja
forçada a participar. “Pedi ao secretário-geral para deixar claro que todas as
ações militares fora do território da NATO só podem ser de natureza voluntária,
de acordo com as regras da NATO e [com] as nossas tradições”, disse o
primeiro-ministro Viktor Orbán. “A
Hungria recebeu as garantias de que necessitamos”, declarou.
Orbán é tido
como um dos líderes europeus mais próximos do presidente russo, Vladirmir
Putin, e tem referido que os seus parceiros da UE e da NATO que ajudam a
Ucrânia são “pró-guerra”.
Os outros 31
aliados veem a guerra da Rússia contra a Ucrânia como uma ameaça existencial à
segurança da Europa, mas a maioria deles, incluindo Biden, tem sido
extremamente cautelosa em garantir que a NATO não seja arrastada para um
conflito mais vasto com a Rússia.
Enquanto
organização, a aliança militar não envia armas para a Ucrânia e não tem planos
para o fazer, mas muitos dos seus membros prestam ajuda numa base bilateral.
Com efeito, os aliados da NATO fornecem mais de 90% do apoio militar que a
Ucrânia recebe. Aliás, os EUA e a Alemanha chegaram a autorizar a utilização de
armas da NATO dentro da Rússia.
No mesmo
dia, o secretário-geral da NATO também anunciou que a Hungria concordou em não bloquear
a assistência militar da aliança atlântica à Ucrânia, ainda que o governo de
Budapeste não forneça quaisquer fundos ou recursos humanos para ajudar Kiev. “A
Hungria não participará nestes esforços da NATO e eu aceito esta posição”,
disse Stoltenberg em Budapeste, depois de se ter encontrado com Viktor Orbán.
Sem avançar pormenores, Stoltenberg
diz ter acordado com Orbán “modalidades para a não participação da Hungria no
apoio da NATO à Ucrânia”. “Nenhum pessoal húngaro participará nestas atividades
e não serão utilizados fundos húngaros para as apoiar”, afirmou Stoltenberg.
“Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro
garantiu-me que a Hungria não se oporá a estes esforços, permitindo que outros
aliados avancem, e confirmou que a Hungria continuará a cumprir integralmente
os seus compromissos no âmbito da NATO”, adiantou Stoltenberg, observando que a
NATO toma todas as suas decisões por consenso, o que dá, na prática, a qualquer
um dos 32 aliados o direito de veto.
Antes da visita a Budapeste, Stoltenberg, explicou, em Riga, numa
conferência de imprensa da Cimeira B9 (cimeira que reúne os países da NATO do Leste
europeu): “Faz parte do meu trabalho como secretário-geral visitar os líderes
dos países da NATO para garantir que temos um acordo.”
“Estou ansioso por me sentar e
discutir (com Orbán) a agenda da cimeira de Washington, que inclui a segurança
e a dissuasão da NATO e o apoio à Ucrânia”, confessou, dizendo esperar que “todos
os aliados deem o OK, para reforçar a
coordenação da ajuda em Kiev e aprovem o apoio financeiro”.
Stoltenberg estava de visita a Riga –
que assinalou, recentemente, um ano de uma política de recrutamento militar
renovada com sucesso – para participar na Cimeira B9, organizada pelo presidente
da Letónia, Edgars Rinkēvičs, e pelos seus homólogos romeno e polaco, Klaus
Iohannis e Andrzej Duda.
Em conferência
de imprensa conjunta na capital da Letónia, Stoltenberg elogiou aquele país
báltico por “dar o exemplo”, ao atribuir 2% do produto interno bruto (PIB) à
sua carteira de defesa – que deverá aumentar para 3% até 2027 – e aos seus
esforços militares de apoio aos soldados ucranianos: “A Letónia fornece
formação militar extensiva aos soldados ucranianos. Lidera uma coligação que
trabalha com a indústria para fornecer drones. E contribuem para a iniciativa
liderada pela República Checa [Chéquia] para fornecer mais projéteis de
artilharia.”
O presidente romeno, Klaus Iohannis
anunciou, em março, que participaria na corrida, para se tornar o próximo líder
da aliança militar de 32 nações da NATO, vincando a posição estratégica do país
na Europa e a proximidade com a Ucrânia. “A Rússia está a revelar-se uma ameaça
séria e de longo prazo para o nosso continente, para a nossa segurança euroatlântica”,
afirmou Klaus Iohannis, para acrescentar: “Nestas condições, as fronteiras da
NATO tornam-se de extrema importância e o reforço do flanco oriental [...]
continuará a ser uma prioridade a longo prazo.”
Stoltenberg, que ocupa o cargo desde
2014, declarou não estar a tentar um mandato sucessivo.
Klaus Iohannis disse acreditar que a
NATO precisa de uma “renovação de perspetivas” e que os desafios históricos da
Europa Oriental podem proporcionar isso mesmo, face à agressão russa.
Muitos dos
membros mais orientais da NATO manifestaram preocupação com as tentativas da Rússia
de reafirmar a sua influência na região, pois alguns ainda recordam a
influência soviética.
***
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, agradeceu os 50 mil milhões
de dólares (cerca de 46,3 mil milhões de euros) em que os países do G7 acordaram
para ajuda à Ucrânia e, segundo o discurso publicado no site da presidência ucraniana, no encontro que manteve com
os líderes do G7 e da UE, em Itália, pediu “um plano claro para a recuperação
[da Ucrânia], semelhante ao Plano Marshall para a Europa, após a guerra”,
acrescentando que “os detalhes podem ser acertados pelas nossas equipas”, que
também gizaram as declarações de segurança.
Também o ministro da
Defesa português, Nuno Melo, anunciou, em Bruxelas, que Portugal tem
“disponibilidade imediata”, para iniciar a formação de militares ucranianos
para missões em carros de combate Leopard.
***
Enfim, a NATO diz
não entrar na guerra, mas apoia-a de todas as formas, incluindo o uso de armas
ocidentais, algumas bem perigosas e provocatórias. E a Rússia continua com a
ameaça de retaliar por todos os meios, caso a NATO ultrapasse as marcas. Por
isso, alguns países do Leste europeu sentem-se inseguros, face à vizinhança da
Rússia, e em situação incerta, em relação à NATO, de que fazem parte. Nada tão
mau, para a paz, como a iminência do látego da guerra!
2024.06.13 – Louro de Carvalho
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