A 14 de junho, o cardeal Mario Grech, secretário-geral da
Secretaria-Geral do Sínodo da Sinodalidade, cuja segunda assembleia-geral se celebrará
no próximo mês de outubro, alertou que “há o medo” de que os relatórios para o
Sínodo dos Bispos não sejam levados a sério ou que ideologias e lobbies de fiéis se aproveitem do
caminho sinodal para imporem a sua agenda.
Com
efeito, esses relatórios “contam, muitas vezes, a experiência de pessoas que
fizeram uma verdadeira conversão pessoal”. “Outros, porém, falam de pessoas que
continuam a experimentar confusão, preocupação ou ansiedade”, observou.
O
purpurado reiterou que o Sínodo da Sinodalidade “não é sobre este ou aquele
tema, mas sobre a sinodalidade, sobre como ser uma Igreja missionária em
caminho. Todas as questões teológicas e propostas pastorais de mudança têm este
objetivo”. “A assembleia será, sobretudo, um momento em que cada participante,
situando-se num caminho iniciado em 2021 e trazendo a ‘voz’ do povo de Deus de
onde provém, invocará a ajuda do Espírito Santo e a dos seus irmãos e irmãs,
para discernir a vontade de Deus para a sua Igreja, e não uma oportunidade para
impor a sua própria visão da Igreja”, explicou o cardeal.
Segundo
informações da Secretaria-Geral do Sínodo divulgadas naquele dia 14, chegou ao
fim o primeiro trabalho sobre o Instrumentum
laboris 2 ou “instrumento de trabalho” para a segunda sessão do
Sínodo da Sinodalidade por um grupo de teólogos, composto por bispos,
sacerdotes, consagrados e leigos, que se reuniu em Roma, desde 4 de junho, para
estudar os 107 relatórios das conferências episcopais e das Igrejas Orientais
Católicas para o Sínodo da Sinodalidade, assim como as mais de 175 observações,
provenientes de realidades internacionais, faculdades universitárias,
associações de fiéis ou de comunidades e indivíduos.
Segundo
o relator-geral da XVI Assembleia-Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, cardeal
Jean-Claude Hollerich, “o santo povo de Deus pôs-se em movimento pela missão
graças à experiência sinodal”, a qual conhece “respostas entusiásticas e
criativas”, bem como “resistências e preocupações”. “A maior parte dos
relatórios mostra, porém, a alegria do caminho feito, que deu nova vida a
muitas comunidades locais e provocou também mudanças significativas no seu modo
de viver e de ser Igreja”, explanou Hollerich.
Entre
os temas estudados, estão “a formação para a sinodalidade, o funcionamento dos
órgãos de participação, o papel das mulheres, os jovens, a atenção aos pobres,
a inculturação, a transparência e a cultura da responsabilidade por parte de
quem assume um ministério na Igreja”, bem como “a catequese e a iniciação
cristã, a colaboração entre Igrejas, a figura do bispo, etc.”.
O
processo de elaboração do Instrumentum
Laboris 2 continuará: primeiro, o conselho ordinário fará um primeiro
discernimento do que foi redigido pelos teólogos; depois, ocorrerão as fases de
elaboração do documento propriamente dito e um sistema de verificação extensiva,
até o conselho ordinário aprovar o documento, que será submetido ao Papa, com
vista à aprovação final.
Monsenhor
Riccardo Battocchio, secretário especial do Sínodo da Sinodalidade, observou
que o Instrumentum Laboris para
a segunda sessão “será diferente do anterior”. “Se, para a primeira sessão, era
importante evidenciar a amplitude dos temas a tratar, o documento de trabalho
para a sessão de outubro pretende, pelo contrário, evidenciar alguns nós a
desatar, para responder à pergunta Como
ser uma Igreja sinodal em missão”, explicou, para acrescentar: “Para isso,
será levado em conta o caminho percorrido até agora e serão propostos argumentos
teologicamente fundamentados, juntamente com algumas propostas concretas para
ajudar ao discernimento confiado aos membros da assembleia.”
Os
trabalhos, que decorreram na sede da Secretaria-Geral do Sínodo, foram
conduzidos pelos dois secretários especiais, Monsenhor Battocchio e padre
Giacomo Costa, e contaram com a presença dos cardeais Mario Grech e Jean-Claude
Hollerich.
***
Também a 14 de junho, a Santa Sé divulgou a lista dos teólogos encarregados
de preparar o “Instrumentum Laboris 2”, documento no qual se basearão os
trabalhos da segunda sessão do Sínodo da Sinodalidade, marcada para outubro
próximo em Roma.
O teólogo italiano Dario Vitali participou da primeira assembleia de
outubro de 2023. Na ocasião, no seu discurso à Assembleia Sinodal, fez
referência à autoridade e às mudanças na Igreja institucional. Propôs “repensar
a Igreja num sentido sinodal, para que toda a Igreja e tudo na Igreja – vida,
processos, instituições – sejam reinterpretados em termos de sinodalidade”.
Em janeiro deste ano, falou sobre o diaconado feminino, numa entrevista
ao Vatican News. Segundo o
teólogo, a tradição “pensava no ministério diaconal como uma forma de serviço à
comunidade; e, na tradição, havia também a presença de mulheres realizando esse
serviço”, sendo “essa presença feminina na tradição que nos obriga a refletir
se não podemos restaurar o diaconado também para as mulheres” – reflexão que nos
deve permitir “encontrar um equilíbrio dentro da Igreja, respeitando todas as sensibilidades
existentes”.
A teóloga holandesa Myriam Wijlens, professora de Direito Canónico na
Universidade de Erfurt, na Alemanha, participa na preparação do documento e integra
a Comissão Consultiva do Sínodo.
Numa entrevista em 2023, considerou que lhe não cabe a ela, mas ao
sínodo, “discernir como responder à questão do diaconado feminino”, pedido que “não
vem apenas das mulheres, mas de toda a comunidade”.
O teólogo australiano Ormond Rush
entende que “o Concílio Vaticano II pode iluminar o debate sobre a tradição”.
No seu discurso na Sala Paulo VI, n a primeira sessão do Sínodo da
Sinodalidade, disse que a discussão sobre a Tradição que ocorreu durante o
Concílio Vaticano II é a autoridade para as reflexões do Sínodo. Para ele, “a
tradição não deve ser considerada apenas afirmativamente, mas também
criticamente”.
D. Roberto Repole, arcebispo de Turim, na Itália, que confiou a gestão das
paróquias aos leigos da diocese de Turim, é também um dos teólogos encarregados
do Instrumentum Laboris 2. Foi um dos oradores da conferência intitulada
“Igreja e Sínodo são sinónimos: estilos e formas de uma Igreja sinodal”, que
aconteceu no dia 14 de outubro de 2023, em Roma. No seu discurso, alegou que o
Concílio Vaticano II “não abraçou totalmente as realidades das Igrejas locais”.
Por isso, defendeu a sinodalidade “para infundir o Evangelho na cultura em que
operam as Igrejas locais, enfatizando a cultura democrática das Igrejas
locais”.
O teólogo venezuelano Rafael Luciani disse, várias vezes, que as estruturas
da Igreja precisam de “uma revisão sinodal”. Para Luciani, “a sinodalidade será
talvez a contribuição epocal mais importante que os cristãos podem dar ao resto
da humanidade”.
O teólogo definiu a sinodalidade como “o processo mais significativo de
conversão e reforma que a Igreja Católica empreendeu depois do Concílio
[Vaticano II] para revisar as suas relações, dinâmicas de comunicação e
estruturas”.
O teólogo argentino padre Carlos Maria Galli é um dos teólogos de referência do papa
Francisco e colaborador de documentos relevantes do seu pontificado. É também
autor de vários escritos nos quais defende a Teologia da Libertação.
Chegou a dizer que este Sumo Pontifice “superou” a conceção piramidal da
Igreja e falou “de uma pirâmide invertida, onde a base se converte no cume”: o
ministério dos bispos está ao serviço do povo de Deus. Quanto à “reforma da
Igreja”, o padre Galli disse que não se trata só de mudar a estrutura, mas que
“a reforma ou renovação da Igreja consiste numa mudança de atitudes em todos os
membros do Povo de Deus”. Por outro lado, condenou a “teologia autoritária” e
disse que o papa Francisco “acredita nos processos e quer que sejam
irreversíveis”.
A irmã Gloria Liliana Franco Echeverri, presidente da Conferência
Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas, lamentou, na sua
intervenção na primeira sessão do Sínodo da Sinodalidade em Roma, que “o
caminho das mulheres na Igreja está cheio de cicatrizes de situações que a
levaram à dor e à redenção”. Frisou que existe um “desejo e imperativo de uma
maior presença e participação das mulheres na Igreja”, mas que, ainda assim,
“não há ambição de poder ou sentimento de inferioridade ou busca egoísta de
reconhecimento”, defendendo “o direito à participação e à corresponsabilidade
igualitária no discernimento e nas decisões”.
O Papa Francisco fez referência a estas declarações numa das suas
intervenções no Sínodo da Sinodalidade de 2023: “Os ministros que se excedem em
seu serviço e maltratam o povo de Deus, desfiguram o rosto da Igreja com
atitudes machistas e ditatoriais.”
A Irmã Maria Cimperman, membro das Religiosas do Sagrado Coração de Jesus e
professora de Teologia Moral, Ética Social e Vida Consagrada na União Teológica
Católica de Chicago, lida com a sustentabilidade e com a ecologia. Para esta
freira, autora do livro “Comprometendo-se com a diversidade. Interculturalidade
e vida consagrada hoje”, a justiça social e o cuidado do meio ambiente são
expressões fundamentais da fé cristã.
O padre jesuíta de Burkina Faso Padre
Paul Béré, que foi o primeiro africano a ganhar o prestigiado Prémio
Ratzinger, em 2019, mostra-se a
favor da adaptação do ensino cristão às culturas locais e sustenta que é
necessária uma “africanidade” dentro da abordagem católica para resolver
problemas regionais.
Além dos citados, pertencem a este grupo os professores de Teologia
Dogmática da Pontifícia Universidade Gregoriana Giuseppe Bonfrate e Padre
Pasquale Bua, bem como os seguintes: o arcebispo de Perth, na Austrália, D.
Timothy John Costelloe; Clarence Sandanaraj Davedassan, professor de Teologia
Moral na Academia Alfonsiana de Roma; Paolo Foglizzo, especialista do sínodo; o
bispo de Xai-Xai, em Moçambique, D. Lúcio Andrice Muandula; a Irmã Josée
Ngalula, professora de Teologia Dogmática na Universidade Católica do Congo;
Gilles Routhier, professor de Eclesiologia e de Teologia Prática na
Universidade de Laval, no Canadá; Péter Szabó, professor de Direito Canónico na
Universidade Católica de Budapeste, na Hungria; e Felix Wilfred, professor
emérito de Filosofia e Pensamento Religioso na Universidade Estadual de Madras,
na Índia.
***
A 5 de junho, noticiava-se que cerca
de 20 teólogos estavam em Roma, para dez dias de trabalho preparatório com
vista à elaboração do documento que orienta a próxima assembleia do Sínodo da
Sinodalidade. A reunião a portas fechadas de 4 a 13 de junho de especialistas
em teologia, eclesiologia e direito canónico decorreria na cúria geral dos
jesuítas, perto do Vaticano. A Secretaria do Sínodo dizia esperar divulgar um
documento sobre a reunião, no início de julho.
O texto inicial prepara o caminho
para a elaboração do documento – o “Instrumentum Laboris 2” – que vai guiar os trabalhos da
segunda sessão do Sínodo da Sinodalidade, em outubro, revelava, em comunicado à
imprensa, o padre jesuíta Giacomo Costa, secretário especial do Sínodo da Sinodalidade,
acrescentando que o grupo de teólogos se reunira para “uma primeira análise”
dos relatórios das comunidades locais e para discernir sobre as suas “questões
e reflexões teológicas”.
A assembleia sinodal de outubro
continua o sínodo plurianual da sinodalidade, que começou em outubro de 2021 e
incluiu etapas de discernimento e discussão em vários níveis da Igreja. A
primeira sessão da assembleia sobre sinodalidade no Vaticano aconteceu em
outubro de 2023.
Teólogos e outros especialistas da
Igreja estão a ler e a discutir novos relatórios das Igrejas locais,
subsequentes ao relatório de síntese de 41 páginas divulgado no final da reunião
de outubro. Os participantes também estão a considerar a questão “como ser uma
Igreja sinodal em missão”. Além disso, estão a ler e a refletir sobre o material
compartilhado por ordens religiosas femininas, faculdades universitárias,
associações religiosas e outros, bem como relatórios de uma sessão de escuta
com 300 párocos que aconteceu perto de Roma, na cidade de Sacrobano, de 28 de
abril a 2 de maio deste ano. “O material recebido, muitas vezes, acrescenta
testemunhos reais sobre como as Igrejas particulares, não apenas entendem a
sinodalidade, mas também como já estão a colocar esse estilo em prática”, disse
o secretário-geral do sínodo, cardeal Mario Grech, em comunicado à imprensa,
acrescentando: “Não estamos a deixar nada ao acaso. Cada documento deve ser
lido com atenção com o objetivo de que, ao final deste encontro, o grupo
apresente um texto que reflita o trabalho, as perguntas e os insights recebidos das bases.”
Segundo a Secretaria-Geral do Sínodo,
o encontro de teólogos começou com um retiro espiritual, que durou a metade de
um dia, e inclui missa diária e tempo para oração pessoal.
***
Eis um exemplo de uma Igreja que ora,
reflete e estuda o legado do seu fundador e guia permanente, ancorada no senso
do santo Povo de Deus.
2024.06.19 – Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário