sábado, 26 de abril de 2025

Qualidade de vida nas cidades europeias

 
Os critérios para aferir a qualidade de vida em grandes cidades são discutíveis. Não obstante, há cidades europeias que se distinguem no universo das demais. Londres, no Reino Unido, Paris, na França, Berlim, na Alemanha, Copenhaga, na Dinamarca, e Oslo, na Noruega, são as cinco cidades europeias no top 10 das cidades mais dinâmicas e habitáveis do Mundo, de acordo com o índice Cities in Motion (CIMI) do Instituto de Estudos Superiores da Empresa (IESE), ou IESE Business School, da Universidade de Navarra.
O ranking CIMI 2025 avaliou 183 cidades de 92 países com base em nove critérios principais: capital humano, coesão social, economia, governação, ambiente, mobilidade e transportes, planeamento urbano, perfil internacional e tecnologia.
Pelo terceiro ano consecutivo, Londres lidera a posição regional e global no ranking, destacando-se em áreas, como o capital humano, a governação, o planeamento urbano e o perfil internacional. E sobressai pelas universidades de renome internacional e por um vasto leque de instituições culturais, pela estabilidade institucional, pelo sistema de transportes públicos de alta qualidade e por forte empenho na mobilidade sustentável, incluindo bicicletas partilhadas e trotinetas eletrónicas. Contudo, enfrenta desafios na coesão social e no ambiente.
Edimburgo e Glasgow superam Londres, no seu empenhamento na inclusão cultural e social.
Entretanto, Paris mantém o segundo lugar, na Europa Ocidental, e o terceiro, na classificação global, obtendo os melhores resultados, em termos de influência internacional, de forte capital humano e de planeamento urbano eficaz. Porém, domínios, como a sustentabilidade ambiental e a coesão social. oferecem oportunidades de melhoria.
Berlim mantém as posições ocupadas na edição anterior: o terceiro lugar, na Europa Ocidental, e o quinto, a nível mundial. É reconhecida pela sua governação e pela sua tecnologia, mas tem uma margem significativa para melhorar o seu desempenho económico.
As grandes cidades europeias têm bom desempenho no CIMI. “Não há uma razão única para o sucesso da Europa, mas há padrões”, sustentam Pascual Berrone, diretor do departamento de gestão estratégica, e Joan Enric Ricart, professor de gestão estratégica, na IESE Business School, vincando: “Têm sistemas políticos geralmente estáveis e um planeamento urbano razoável, juntamente com opções avançadas de transportes públicos e privados.”
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Há outras vertentes para aferir o bem-estar na cidade. Entre elas, destaca-se a proximidade do aeroporto. Nada é pior do que aterrar no destino e ter de fazer um longo percurso, do aeroporto à cidade e o percurso de curta duração é uma dádiva, após longo voo. Ora, alguns aeroportos ficam muito longe das cidades que servem. É, por exemplo, o caso do aeroporto de Paris-Vatry, a cerca de 160 quilómetros (Km) da Cidade das Luzes, o de Munich West, a 120 Km de Munique, e o de Frankfurt Hahn, a 125 Km de Frankfurt e mais perto do Luxemburgo.
Ao invés, Gibraltar Bus Company recolhe os passageiros, no aeroporto de Gibraltar, e leva-os para o centro da cidade, em cinco minutos, por menos de dois euros. E, em Itália, o Aeroporto Internacionade Pisa foi construído em cima do centro da cidade. Até à estação ferroviária central, são 1,5 Km, e pouco mais de três Km, até ao centro histórico. Porém, a beleza de Pisa passa pelo serviço “people-mover”, que transporta as pessoas entre o aeroporto e a estação ferroviária central, em cinco minutos, por 6,50 euros.
Na Estónia, o aeroporto de Tallinn fica a 4 km do centro histórico da cidade, podendo o percurso ser concluído em 15 minutos por dois euros, de autocarro ou de elétrico. E, na Lituânia, o aeroporto de Vilnius situa-se 5,9 km a Sul do centro da cidade, com os autocarros diretos a passar de 10 em 10 minutos, com um custo a partir de 0,65 euros.
Como Pisa, muitas cidades europeias investiram em transportes eficientes, para levarem os seus passageiros até à cidade, o mais rápido possível. Por exemplo, o Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, fica a 10 km do centro da cidade, mas, graças à ligação direta por metro, a linha Aeroporto-Saldanha leva o passageiro ao centro histórico por alguns euros e em menos de 20 minutos. Málaga tem um aeroporto bem equipado, com estação de comboio em frente ao edifício do terminal, de modo que, embora o trajeto seja de 12 km, a linha C-1 leva o passageiro à cidade, em 12 minutos, e tem ligações a destinos populares, como Fuengirola, Benalmadena e Torremolinos. Zurique conta com um percurso de 10 minutos, utilizando as linhas de comboio S2 ou S16, para chegar à estação principal de Hauptbahnhof. E Copenhaga tem comboio direto para a Estação Central a partir do aeroporto, completando-se a viagem em 13 minutos e por menos de cinco euros.
Embora seja tentador pedir um Uber, à chegada, os aeroportos europeus pretendem tornar opção barata e acessível o transporte público. Os benefícios para o ambiente o postulam. Assim, em vez de o passageiro ir, logo, para o táxi ou para o serviço de transporte partilhado, importa que veja as alternativas e escolha a opção mais ecológica e menos stressante.
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Outra vertente de bem-estar é a ação termal, face ao aumento das temperaturas, às inundações e à seca, que ameaçam as nascentes naturais, em torno das quais se ergueram as famosas cidades termais do continente e se catalisou o fenómeno das termas europeias, nos séculos XVIII e XIX, como explica Naomi O’Toole, coordenadora de comunicação das Grandes Termas da Europa. E as cidades termais históricas da Europa vêm atraindo visitantes em busca de bem-estar, durante séculos, desde a elite romana, que se reunia para relaxar, até à sociedade vitoriana de Inglaterra, que procurava curas de saúde. Onze destes centros salubres estão inscritos na lista do Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), incluindo Bath, no Reino Unido, Baden Baden, na Alemanha, e Vichy, em França.
Todavia, as referidas ameaças podem, a prazo, inviabilizar estes destinos de excelência. Por isso, as grandes cidades termais da Europa estão a aderir ao programa Preserving Legacies, da National Geographic Society, para protegerem o seu património dos riscos conexos do clima. Acederão a novas ferramentas, a formação técnica e a uma rede de parceiros, para se tornarem resistentes às alterações climáticas e para alargarem estas estratégias a toda a Europa.
O aumento das temperaturas, as inundações e a seca podem afetar os pontos de emergência da primavera e as taxas de fluxo de água. Embora, não haja dados suficientes para compreender como, o impacto já se sente, pois as cidades termais são cada vez mais afetadas pelas inundações, incluindo Baden bei Wien, na Áustria, em 2024, e Spa, na Bélgica, em 2021.
A cidade de Bath, no Reino Unido, encerrou, temporariamente, as suas Cleveland Pools, devido aos danos causados pelas repetidas inundações. Estas piscinas foram construídas para resistir a uma inundação prevista, uma vez, em cada 100 anos, mas têm sido inundadas, todos os anos, nos últimos três. O resultado é a perda potencial de valioso património e de atrações turísticas economicamente lucrativas. “Os sítios do património fazem mais do que inspirar-nos com a sua beleza”, frisa a diretora executiva da Preserving Legacies e exploradora da National Geographic, Victoria Herrmann, acrescentando: “Para as comunidades de todo o Mundo, o património é o alicerce das economias locais, através do turismo cultural, do artesanato e dos sistemas agrícolas patrimoniais.”
As viagens culturais representam 40% do turismo global e contribuíram com 9,1% para o produto interno bruto (PIB) global, em 2023, tornando a cultura um pilar da identidade e fonte crítica de sustento económico. “Apesar da clara importância do património cultural para a resiliência das comunidades e para a saúde económica, falta o investimento e a inclusão do património nos esforços de resiliência”, aponta Victoria Herrmann, frisando que “esta deficiência da cultura, na ação climática, é errada e perigosa”.
As 11 grandes cidades termais da Europa estão a aderir a um programa que reforça a ação contra o impacto climático nos sítios patrimoniais. Liderado por Victoria Herrmann, o projeto Preserving Legacies visa “visualizar como as alterações climáticas podem afetar os sítios do património natural e cultural em todo o Mundo” e centra-se na capacitação das comunidades locais de desenvolverem competências, ferramentas e soluções de ação climática, para protegerem os sítios. Começa por formar os líderes locais sobre os valores do património, da ciência e da modelização do clima, da avaliação dos riscos e das estratégias de adaptação. Depois, munidos destes conhecimentos, os líderes orientam as suas comunidades através da avaliação dos riscos climáticos, identificando desafios e oportunidades locais únicos.
Os guardiões de quatro destas 11 cidades representam o coletivo e partilham os conhecimentos adquiridos com os homólogos de toda a Europa. “Preservar os legados permitir-nos-á integrar a resiliência climática, diretamente, no nosso Plano de Gestão de Propriedades para 2027, garantindo que as nossas extraordinárias paisagens culturais e fontes de água termal sejam protegidas para as gerações futuras”, afirma Chiara Ronchini, secretária-geral das Grandes Termas da Europa, vincando que o objetivo, a longo prazo, é criar um modelo para outros destinos na Europa que sofram similares consequências das alterações climáticas.
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Por fim, é de tentar saber onde os investidores experientes devem agir, em 2025, para combinarem charme e rendimentos. E a resposta é quase unívoca: os investidores experientes procuram cidades onde o charme de um postal perfeito se congraça com a fria e dura rentabilidade, com o rendimento das rendas a liderar o processo.
O benefício do arrendamento é o rendimento anual das rendas em percentagem do preço de compra do imóvel. Num mercado em que são importantes todas as casas decimais, as cidades europeias com rendimentos elevados ganham protagonismo e provam que a beleza e os lucros podem andar de mãos dadas. Assim, os dados do Global Property Guide destacam algumas cidades europeias para investimento imobiliário, em 2025.
Riga, capital da Letónia e Património Mundial da UNESCO, lidera as tabelas com o rendimento médio de arrendamento de 8,47%. Conhecida pela deslumbrante arquitetura Art Nouveau e pela encantadora Cidade Velha, combina acessibilidade e elevada qualidade de vida, a beber bálsamo preto (licor de ervas tradicional), ou a passear pelo Mercado Central. Um apartamento de dois quartos, no bairro de Agenskalns, dá o rendimento de 11,68%. Pelo preço de 174700 euros e com renda mensal de 1700 euros, é o sonho do investidor. Conhecido pelos espaços verdes e pela arquitetura histórica em madeira, está em ascensão.
Dublin, na Irlanda, além da Guinness e dos pubs animados, é um centro tecnológico e sede de multinacionais. Tem, pois, forte procura de habitação. As ruas calcetadas, o legado literário e a cena artística atraem profissionais e expatriados. Um apartamento de dois quartos, com o rendimento de 7,94%, é a melhor opção. Por 375 mil euros e com rendas mensais de 2482 euros, é o tipo de propriedade muito procurado, numa cidade que não perde o seu brilho.
Podgorica, capital do Montenegro, não será o primeiro nome na lista do viajante, mas está a tornar-se, discretamente, uma joia do setor imobiliário. Situada perto das deslumbrantes praias do Adriático e das estâncias de esqui, oferece preços acessíveis e encanto: a culinária dos Balcãs, as ruínas antigas e as avenidas repletas de cafés. Representa a oportunidade perfeita para quem procura investimento de baixo custo e de alto retorno. Os apartamentos-estúdio brilham com um rendimento notável de 7,62%. Pelo preço de 52 mil euros e com a renda mensal de 330 euros, constituem uma das oportunidades mais económicas da Europa.
Sendo o coração económico da Polónia, Varsóvia é uma cidade que prospera na inovação e na cultura. A sua linha do horizonte mistura arranha-céus modernos e marcos históricos, incluindo a reconstruída Cidade Velha. A vibrante vida noturna da cidade e o custo de vida acessível tornam-na popular entre os jovens profissionais. O rendimento do arrendamento é de 6,49%. Os apartamentos com três quartos têm o rendimento mais elevado, com o valor de 8%. Pelo preço de 350631 euros e com a renda mensal de 2338 euros, é opção atrativa para famílias e para grupos que procuram um alojamento espaçoso nesta cidade.
Bucareste, a movimentada capital da Roménia, com o rendimento do arrendamento de 6,23%, está pronta para um boom imobiliário, especialmente, com a sua entrada no espaço Schengen, a 1 de janeiro de 2025. Mistura História e modernidade, com grandes avenidas, com a arquitetura da era comunista e com uma vida noturna vibrante. E, à medida que o turismo cresce, aumenta a procura de rendas de curta duração. No bairro de Drumul Taberei, os apartamentos-estúdio lideram com o rendimento de 8,24%. Com o preço de 51 mil euros e com a renda mensal de 350 euros, são opção de baixo custo e elevada rentabilidade.
Bruxelas, capital da Bélgica e coração da União Europeia (UE), com o rendimento do arrendamento de 5,54%, oferece aos investidores a combinação de prestígio político e de procura de arrendamento. O estilo cosmopolita, as praças históricas e a cultura de chocolate imbatível fazem dela destino desejável para profissionais e para turistas. Um apartamento com três quartos oferece um rendimento sólido de 5,67%, com um preço de compra de 550 mil euros e com a renda mensal de 2600 euros, é opção de investimento fiável que combina uma vida espaçosa com rendimentos estáveis.
A capital de Espanha, Madrid, com o rendimento do arrendamento de 5,49%, é a cidade junta o encanto do Velho Mundo com a vibração moderna. Desde a agitada vida noturna, em Malasaña, até ao icónico Museu do Prado, Madrid oferece um estilo de vida difícil de bater. No entanto, a subida dos preços dos imóveis reduziu, ligeiramente, os rendimentos. Um apartamento-estúdio no centro, no coração histórico, oferece o rendimento mais elevado, 6,50%. Com o preço de 240 mil euros e com a renda mensal de 1300 euros, é opção que combina fortes rendimentos com uma privilegiada localização.
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Por tudo isto, as empresas começaram a trabalhar com os operadores turísticos, para atraírem os viajantes interessados no turismo baseado no cinema e nas séries de televisão. Assim, por exemplo, em Espanha, não parou de crescer, nos últimos anos, a lista das grandes produções internacionais rodadas, total ou parcialmente, como Game of Thrones, La Casa de Papel, Elite, Black Mirror e os filmes de Almodóvar, o que gerou o incremento do turismo cinematográfico e televisivo, no país, com apoio o governo, já que as pessoas viajam, para verem os locais onde foram filmadas as séries e os filmes preferidos. Porém, desde 2024, estão em curso, em Espanha, protestos contra o turismo de massas, pelo impacto negativo na vida dos residentes locais, como a falta de habitação, acentuada pelas rendas de curta duração.
Nada é perfeito, nem todas as opções são consensuais. Ninguém quer, nem pode ficar para trás.

2025.04.25 – Louro de Carvalho


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