sexta-feira, 18 de abril de 2025

Alguns símbolos da Páscoa e seus significados: Feliz Páscoa

 
A Páscoa é a maior solenidade cristã, pois celebra a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, entendida, no contexto da fé, como a passagem para novos tempos e para novas esperanças para a Humanidade. É claro que o mais importante é o domingo, o primeiro dia da semana, pois, foi nesse dia que o Senhor ressuscitou. Porém, não há domingo de Páscoa, sem Quinta-feira Santa, sem Sexta-Feira Santa, sem Sábado Santo.
Por conseguinte, alguns símbolos pascais reportam-se à Semana Santa, que se inicia com o Domingo de Ramos, o da entrada triunfal do Messias (Cristo) na sua Cidade. Por outro lado, a Páscoa existia em culturas antigas como festa no início da primavera e início do ano, quando a Natureza abria em verdura e em flor. Daí o nome do mês “abril” (de “mensis aprilis” ou mensis aperilis – mês da abertura consolidada do ano). Além disso, a Páscoa teve relevante sentido de memorial no Povo Hebreu. E a Páscoa dos cristãos sucede a essa e dá-lhe novo sentido.
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A Páscoa judaica, conhecida como Pessach, significa “passagem” ou “passar além de”, lembra a libertação do Povo Hebreu da escravidão no Egito, há cerca de 3500 anos, aproximadamente em 1280 a.C. É, pois, uma tradição milenar.
A Páscoa, comemorada pelos Judeus enquanto sua festa religiosa mais importante, como a dos cristãos, é celebrada de acordo com o calendário dos Judeus. O calendário judeu (ou calendário hebraico) é conhecido por ser um calendário lunissolar, isto é, que se baseia nos ciclos da Lua e do Sol. É comemorada, anualmente no dia 14 de nissan (ou nisã), pelo facto de a primeira Páscoa dos Judeus, enquanto eram escravos no Egito, ter ocorrido nos dias 14 e 15 de nissan. E como essa libertação coincidiu com o início da primavera, fundiram-se numa só festa a renovação da Natureza e o renascimento de Israel (este era o nome da etnia hebraica.
Os Hebreus, originários de Abraão, estabeleceram-se em Canaã e, depois de um tempo de seca e de falta de alimentos, mudaram-se para o Egito, onde acabaram por ser escravizados. A sua libertação foi realizada por Moisés, após a execução das dez pragas no Egito, segundo a Bíblia.
A Páscoa judaica aconteceu pouco antes da execução da décima praga, na qual o anjo do extermínio desceu ao Egito e matou todos os primogénitos daquela terra. O anjo da morte só não passou pelas casas dos que haviam seguido as ordens de Javé de realização da festa, conforme fora ordenado, e passado o sangue do cordeiro nos umbrais das suas portas. Assim, os Hebreus foram libertos da escravidão e autorizados a regressarem a Canaã.
A primeira Páscoa judaica, ainda no período do cativeiro no Egito, é descrita, na narrativa bíblica do seguinte modo: os Hebreus sacrificariam um cordeiro sadio, de um ano, no dia 14 de nissan; o animal seria assado inteiro e logo consumido (o que não fosse consumido, seria queimado); os Hebreus também consumiriam pão sem fermento, nem sal, e ervas amargas; o sangue do animal seria utilizado para marcar os umbrais das portas das residências judaicas. Assim, a comemoração da Páscoa, conforme posterior tradição judaica, estendeu-se por sete dias, nos quais o consumo de alimentos com fermento era e continua terminantemente proibido. Essa festa é conhecida como Festa de Pães Ázimos (sem fermento e sem sal). Também o vinho (não fermentado) era utilizado na celebração da Páscoa. E, nos tempos antigos, a Páscoa era utilizada pelos Hebreus para falarem de Javé, o Senhor, às crianças, e muitos iam a Jerusalém, para celebrarem a Páscoa.
Pessach é comemorada em obediência à ordem de Javé transcrita na narrativa: “Comemorai esse dia como festa religiosa para lembrar que Eu, o Senhor, fiz isso. Vós e os vossos descendentes deveis comemorar a Festa da Páscoa para sempre.”
Em determinados anos, pode coincidir com a data em que se celebra a Páscoa cristã, mas o significado das duas difere. Enquanto a comemoração judaica lembra a passagem do anjo do extermínio na décima praga que possibilitou a libertação dos Judeus da escravidão, a Páscoa cristã presentifica o sacrifício de Cristo e a sua ressurreição, isto é, sua passagem da morte para a vida.
A Páscoa judaica é inaugurada com o Sêder, isto é, o jantar (a ceia) no qual as famílias judaicas se reúnem para lembrar e para celebrar a libertação do Povo Hebreu. A ceia é realizada numa estrutura litúrgica que inclui: a leitura do Hagadá, livro que contém a saga de libertação dos Hebreus; e o consumo dos alimentos, cada qual com a sua ordem específica.
Durante a Pessach, não se come nada fermentado, e a celebração inclui uma série de alimentos que possuem, cada qual, a sua simbologia. Uma tradição comum da Páscoa judaica é conhecida como Afikoman, em que o matsá (pão ázimo) é dividido em dois, e o maior pedaço é escondido. Depois da ceia, as crianças vão em busca do pedaço de matsá, e a que o achar, ganhará um prémio.
Como referido, na Pessach, os Judeus não consomem nada que possua fermento. Durante a ceia, é consumida uma série de alimentos, cada um deles com uma simbologia distinta.
Matsá: é pão sem fermento. Na tradição hebraica, os Judeus, ao serem autorizados a sair do Egito, não puderam esperar que pão fermentasse. Por isso, ele é feito de massa bem fina.
Vinho: é vinho especial para Pessach e que não é fermentado. São servidas quatro taças de vinho durante o Sêder.
Zeroá: é pedaço de osso com carne que foi tostado e simboliza o sacrifício.
Maror: é raiz amarga que simboliza a amargura do tempo da escravidão. Também é utilizada a alface (chazeret), para o mesmo efeito.
Charósset: é uma pasta que mistura maçã, uva e nozes (ou tâmaras, canela e vinho). Simboliza a argamassa que era usada pelos Judeus para fazerem tijolos.
Água salgada: simboliza as lágrimas e o suor derramado pelos Judeus, durante a escravidão. É usada para o consumo de batatas cozidas.
Beitzá: é o ovo cozido que simboliza a esperança pela recuperação do Templo de Salomão. Simboliza também o luto pela destruição do templo.
Esses são os alimentos consumidos durante a ceia que inaugura a Páscoa judaica, mas os Judeus cozinham e consomem outros pratos, como o Guelfite fish, um bolinho de peixe com uma cenoura em cima. O Sêder é tão relevante na História judaica que a Última Ceia, momento marcante da História e da vida de Cristo, foi celebrada numa das ceias típicas da Pessach.
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Durante a Semana Santa, vários símbolos fazem parte do ritual das comemorações, entre eles:
O cordeiro da Páscoa é um dos símbolos mais antigos da Páscoa, lembrando a aliança que Deus teria feito com o Povo Judeu, no Antigo Testamento. Naquela época, a Páscoa era celebrada com o sacrifício de um cordeiro. Para os cristãos, Jesus Cristo é o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do Mundo”, cujo sangue sela a Nova Aliança. O coelho tornou-se o símbolo da fertilidade, da vida e do renascimento, devido à particularidade de se reproduzir em grandes ninhadas. Está relacionado com a Páscoa por significar a esperança de vida na Ressurreição de Cristo.
Vários povos da antiguidade já consideravam o coelho como símbolo da fertilidade, pois os eram primeiros animais a saírem das tocas – sinal do fim do inverno e da chegada da primavera. Com o passar dos tempos, os coelhinhos de chocolate entraram para os costumes das festividades da semana da Páscoa. Assim como os ovos de chocolate, os coelhinhos passaram a ser tradição de presente, no Domingo de Páscoa.
O ovo de Páscoa representa o nascimento e a vida. Presentear com ovos era costume antigo, entre os povos do Mediterrâneo. Durante as festividades, para comemorar o início da primavera e a época de plantio, os ovos eram cozidos, pintados e presenteados, para representar a fertilidade e a vida. O costume passou às festividades dos cristãos, onde eram pintados com imagens de Jesus e de Maria, representando, simbolicamente, o nascimento do Messias. Muitas culturas mantêm esse costume. E, no Mundo moderno, o ovo fabricado com chocolate – normalmente, recheado com surpresas – passou a tradição de presente no Domingo de Páscoa.
De acordo com a mitologia germânica, o coelho era um dos símbolos da deusa da fertilidade Ostara. A partir desta mesma lenda mítica, surgiu também, entre os Alemães a tradição de entregar ovos (de galinha) pintados de várias cores para as crianças.
O culto a Ostara costumava ser feito durante a primavera. E os cristãos, para evitarem as celebrações pagãs, associaram o coelho e a tradição da “coleta dos ovos” à Páscoa.
As folhas de palmeira e os ramos de oliveira. A Semana Santa começa com o Domingo de Ramos, que lembra a entrada de Jesus em Jerusalém, ocasião em que as pessoas cobriam a estrada com folhas de palmeira e com ramos de oliveira, para comemorar a sua chegada. Atualmente, as folhas de palmeiras são usadas na decoração das Igrejas durante a Semana Santa, como sinal de “boas-vindas a Cristo”.
Sinos. Os sinos são importante símbolo da Páscoa. Em todo o Domingo de Páscoa, os sinos das igrejas tocam, festivamente, para comemorar a ressurreição de Jesus Cristo. Os sinos são um anúncio da vitória de Jesus contra a morte e de esperança para todos os cristãos.
Pão e Vinho. O pão simboliza o corpo e o vinho simboliza o sangue de Cristo. Esses dois elementos aparecem na Última Ceia, momento em que Jesus e os discípulos celebram a Páscoa. A Última Ceia é lembrada na Quinta-Feira Santa, data em que se inicia o momento mais importante da Semana Santa: o Tríduo Pascal. Tomando o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: “Isto é o meu corpo entregue por vós; fazei isto em memória de mim”. Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado por vós e pela multidão. (Lc 22,19-20)
Círio Pascal. É a grande vela, decorada com as letras gregas Α (alfa) e Ω (ómega), que significam “início” e “fim”, respetivamente, e usada no Tempo Pascal (50 dias). Na Vigília Pascal, ao acendê-lo, são inseridos nele os cinco pontos das chagas de Cristo na cruz, as letras Α e Ω e os algarismos do ano em curso. A sua luz simboliza Cristo Ressuscitado. Por isso, pode ser incensado e se faz a procissão do círio
O Peixe é um símbolo derivado dos apóstolos, pescadores. É o símbolo de vida e de Cristo, usado pelos primeiros cristãos, no acróstico IXTUS – peixe, em Grego. As letras são as iniciais de “Iêsoûs Xristòs Theoû Hyiós, Sotêr”, que significa “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”. Faz parte do ritual da Semana Santa comer peixe na Sexta-feira Santa, para lembrar os 40 dias de jejum de Jesus no deserto, replicados pela abstinência e pelo jejum dos cristãos.
A Páscoa é maior festividade para os cristãos, que culmina na celebração da ressurreição de Jesus Cristo, no Domingo de Páscoa, após a Semana Santa, subsequente à Quaresma que chama os cristãos à penitência (arrependimento e mudança de vida) e à esperança do futuro, lembrando os 40 dias passados por Jesus no deserto e a dor que Ele suportou na crucificação.
A Semana Santa começa com o Domingo de Ramos, que lembra a entrada de Jesus em Jerusalém, onde a estrada era enfeitada com folhas da palmeira ou com ramos de oliveira.
Depois, vem o Tríduo Pascal: na Quinta-Feira Santa, celebra-se a Ceia do Senhor, em que Ele instituiu a Eucaristia, o mandamento novo do amor fraterno e o sacerdócio ministerial ao serviço da Eucaristia e do mandamento novo, devendo ser este a marca dos crentes. Passa-se, logo, ao episódio da oração de Cristo no Getsémani e entrega ao tribunal judaico e ao tribunal romano.      
A Sexta-Feira Santa é o dia da celebração crucifixão e da morte de Jesus na Cruz, com a subsequente sepultura. Adora-se, com solenidade a Cruz, após a Liturgia da Palavra, com a proclamação da Paixão de Cristo segundo João, e a Oração Universal.  
O Sábado Santo é o dia alitúrgico, para reflexão pessoal. E, à noite, celebra-se a Vigília Pascal, Liturgia da Palavra longa, renovação das Promessas do Batismo e Liturgia Eucaristia da Páscoa. É a passagem para o Domingo da Ressurreição.
No domingo, é celebrada a Páscoa, a Ressurreição de Jesus e sua primeira aparição às mulheres, amuadamente, a Maria Madalena – a apóstola dos apóstolos – e aos discípulos.
Segue-se a Oitava da Páscoa, com o Domingo da Misericórdia, da Pascoela, ou Domingo in Albis (por ser o último dia em que os batizados na Vigília Pascal usavam a veste branca).
Depois, continua o Tempo Pascal, ainda com odor a festividade pascal e primaveril, em que se insere a Ascensão de Jesus aos Céus, terminando com a solenidade do Pentecostes, que celebra a descida do Espírito Santo para Maria e para os apóstolos. A partir daí, é o tempo da Igreja, o tempo de a Igreja se bater em missão pelo Mundo, unida a Cristo e orientada pelo Espírito Santo, o dom de Deus.    
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Presentear as pessoas com ovos é um costume antigo, comum entre os povos que habitavam a região do Mediterrâneo, do Leste Europeu e do Oriente. Alguns historiadores sustentam que o hábito de oferecer ovos de galinha pintados surgiu no Antigo Egito, na Pérsia e entre algumas tribos germânicas. Como ficou dito, nas festividades, realizadas com a chegada da primavera, depois do inverno, os ovos (de galinha) eram cozidos e pintados com desenhos que lembravam plantações e outras figuras relacionadas com a colheita.
Com o passar do tempo, o ovo de chocolate entrou nas tradições do período das festas da Semana Santa. A tradição do ovo de chocolate surgiu no século XVIII, por invenção de confeiteiros europeus. Ainda hoje há o costume de colorir ovos da Páscoa e oferecê-los a pessoas importantes.
Os ovos da Pascoa dos cristãos, podem exibir desenhos de Jesus e de Maria. E, em muitos países, é tradição esconder ovos de Páscoa para as crianças os procurarem.
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Já no Novo Testamento, a Páscoa é a celebração da passagem da morte para a vida, através da ressurreição de Jesus Cristo. É Páscoa de Cristo e Cristo é nossa Páscoa.
O dia da Páscoa foi estabelecido por decreto do Primeiro Concílio de Niceia (em 325 d.C.), devendo ser celebrado sempre ao domingo, após a primeira lua cheia do equinócio da primavera (no Hemisfério Norte) e outono (no Hemisfério Sul). É, pois, uma festa móvel que ocorre entre os dias 22 de março e 25 de abril. É comemorada em todo o Mundo, mas, sobretudo, nos países com fortes influências do cristianismo. Os Espanhóis chamam-lhe Pascua, os Italianos Pasqua e os Franceses Pâques. E é recheada de símbolos representativos, assim como quase todas as celebrações religiosas. Porém, a maioria destes símbolos foi sincretizada pela Igreja, a partir de costumes e de rituais pagãos ou de outras religiões.
Santa e feliz Páscoa!

2025.04.17 – Louro de Carvalho


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