A Páscoa é a maior solenidade cristã, pois celebra a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, entendida, no contexto da fé, como a passagem para novos tempos e para novas esperanças para a Humanidade. É claro que o mais importante é o domingo, o primeiro dia da semana, pois, foi nesse dia que o Senhor ressuscitou. Porém, não há domingo de Páscoa, sem Quinta-feira Santa, sem Sexta-Feira Santa, sem Sábado Santo.
Por conseguinte, alguns símbolos pascais reportam-se à Semana Santa, que se inicia com o Domingo de Ramos, o da entrada triunfal do Messias (Cristo) na sua Cidade. Por outro lado, a Páscoa existia em culturas antigas como festa no início da primavera e início do ano, quando a Natureza abria em verdura e em flor. Daí o nome do mês “abril” (de “mensis aprilis” ou mensis aperilis – mês da abertura consolidada do ano). Além disso, a Páscoa teve relevante sentido de memorial no Povo Hebreu. E a Páscoa dos cristãos sucede a essa e dá-lhe novo sentido.
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A Páscoa judaica,
conhecida como Pessach, significa
“passagem” ou “passar além de”, lembra a libertação do Povo Hebreu da
escravidão no Egito, há cerca de 3500 anos, aproximadamente em 1280 a.C. É,
pois, uma tradição milenar.A Páscoa, comemorada pelos Judeus enquanto sua festa religiosa mais importante, como a dos cristãos, é celebrada de acordo com o calendário dos Judeus. O calendário judeu (ou calendário hebraico) é conhecido por ser um calendário lunissolar, isto é, que se baseia nos ciclos da Lua e do Sol. É comemorada, anualmente no dia 14 de nissan (ou nisã), pelo facto de a primeira Páscoa dos Judeus, enquanto eram escravos no Egito, ter ocorrido nos dias 14 e 15 de nissan. E como essa libertação coincidiu com o início da primavera, fundiram-se numa só festa a renovação da Natureza e o renascimento de Israel (este era o nome da etnia hebraica.
Os Hebreus, originários de Abraão, estabeleceram-se em Canaã e, depois de um tempo de seca e de falta de alimentos, mudaram-se para o Egito, onde acabaram por ser escravizados. A sua libertação foi realizada por Moisés, após a execução das dez pragas no Egito, segundo a Bíblia.
A Páscoa judaica aconteceu pouco antes da execução da décima praga, na qual o anjo do extermínio desceu ao Egito e matou todos os primogénitos daquela terra. O anjo da morte só não passou pelas casas dos que haviam seguido as ordens de Javé de realização da festa, conforme fora ordenado, e passado o sangue do cordeiro nos umbrais das suas portas. Assim, os Hebreus foram libertos da escravidão e autorizados a regressarem a Canaã.
A primeira Páscoa judaica, ainda no período do cativeiro no Egito, é descrita, na narrativa bíblica do seguinte modo: os Hebreus sacrificariam um cordeiro sadio, de um ano, no dia 14 de nissan; o animal seria assado inteiro e logo consumido (o que não fosse consumido, seria queimado); os Hebreus também consumiriam pão sem fermento, nem sal, e ervas amargas; o sangue do animal seria utilizado para marcar os umbrais das portas das residências judaicas. Assim, a comemoração da Páscoa, conforme posterior tradição judaica, estendeu-se por sete dias, nos quais o consumo de alimentos com fermento era e continua terminantemente proibido. Essa festa é conhecida como Festa de Pães Ázimos (sem fermento e sem sal). Também o vinho (não fermentado) era utilizado na celebração da Páscoa. E, nos tempos antigos, a Páscoa era utilizada pelos Hebreus para falarem de Javé, o Senhor, às crianças, e muitos iam a Jerusalém, para celebrarem a Páscoa.
A Pessach é comemorada em obediência à ordem de Javé transcrita na narrativa: “Comemorai esse dia como festa religiosa para lembrar que Eu, o Senhor, fiz isso. Vós e os vossos descendentes deveis comemorar a Festa da Páscoa para sempre.”
Em determinados anos, pode coincidir com a data em que se celebra a Páscoa cristã, mas o significado das duas difere. Enquanto a comemoração judaica lembra a passagem do anjo do extermínio na décima praga que possibilitou a libertação dos Judeus da escravidão, a Páscoa cristã presentifica o sacrifício de Cristo e a sua ressurreição, isto é, sua passagem da morte para a vida.
A Páscoa judaica é inaugurada com o Sêder, isto é, o jantar (a ceia) no qual as famílias judaicas se reúnem para lembrar e para celebrar a libertação do Povo Hebreu. A ceia é realizada numa estrutura litúrgica que inclui: a leitura do Hagadá, livro que contém a saga de libertação dos Hebreus; e o consumo dos alimentos, cada qual com a sua ordem específica.
Durante a Pessach, não se come nada fermentado, e a celebração inclui uma série de alimentos que possuem, cada qual, a sua simbologia. Uma tradição comum da Páscoa judaica é conhecida como Afikoman, em que o matsá (pão ázimo) é dividido em dois, e o maior pedaço é escondido. Depois da ceia, as crianças vão em busca do pedaço de matsá, e a que o achar, ganhará um prémio.
Como referido, na Pessach, os Judeus não consomem nada que possua fermento. Durante a ceia, é consumida uma série de alimentos, cada um deles com uma simbologia distinta.
Matsá: é pão sem fermento. Na tradição hebraica, os Judeus, ao serem autorizados a sair do Egito, não puderam esperar que pão fermentasse. Por isso, ele é feito de massa bem fina.
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Durante a
Semana Santa, vários símbolos fazem parte do ritual das comemorações, entre
eles:O cordeiro da Páscoa é um dos símbolos mais antigos da Páscoa, lembrando a aliança que Deus teria feito com o Povo Judeu, no Antigo Testamento. Naquela época, a Páscoa era celebrada com o sacrifício de um cordeiro. Para os cristãos, Jesus Cristo é o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do Mundo”, cujo sangue sela a Nova Aliança. O coelho tornou-se o símbolo da fertilidade, da vida e do renascimento, devido à particularidade de se reproduzir em grandes ninhadas. Está relacionado com a Páscoa por significar a esperança de vida na Ressurreição de Cristo.
Vários povos da antiguidade já consideravam o coelho como símbolo da fertilidade, pois os eram primeiros animais a saírem das tocas – sinal do fim do inverno e da chegada da primavera. Com o passar dos tempos, os coelhinhos de chocolate entraram para os costumes das festividades da semana da Páscoa. Assim como os ovos de chocolate, os coelhinhos passaram a ser tradição de presente, no Domingo de Páscoa.
O ovo de Páscoa representa o nascimento e a vida. Presentear com ovos era costume antigo, entre os povos do Mediterrâneo. Durante as festividades, para comemorar o início da primavera e a época de plantio, os ovos eram cozidos, pintados e presenteados, para representar a fertilidade e a vida. O costume passou às festividades dos cristãos, onde eram pintados com imagens de Jesus e de Maria, representando, simbolicamente, o nascimento do Messias. Muitas culturas mantêm esse costume. E, no Mundo moderno, o ovo fabricado com chocolate – normalmente, recheado com surpresas – passou a tradição de presente no Domingo de Páscoa.
De acordo com a mitologia germânica, o coelho era um dos símbolos da deusa da fertilidade Ostara. A partir desta mesma lenda mítica, surgiu também, entre os Alemães a tradição de entregar ovos (de galinha) pintados de várias cores para as crianças.
O culto a Ostara costumava ser feito durante a primavera. E os cristãos, para evitarem as celebrações pagãs, associaram o coelho e a tradição da “coleta dos ovos” à Páscoa.
As folhas de palmeira e os ramos de oliveira. A Semana Santa começa com o Domingo de Ramos, que lembra a entrada de Jesus em Jerusalém, ocasião em que as pessoas cobriam a estrada com folhas de palmeira e com ramos de oliveira, para comemorar a sua chegada. Atualmente, as folhas de palmeiras são usadas na decoração das Igrejas durante a Semana Santa, como sinal de “boas-vindas a Cristo”.
Sinos. Os sinos são importante símbolo da Páscoa. Em todo o Domingo de Páscoa, os sinos das igrejas tocam, festivamente, para comemorar a ressurreição de Jesus Cristo. Os sinos são um anúncio da vitória de Jesus contra a morte e de esperança para todos os cristãos.
Pão e Vinho. O pão simboliza o corpo e o vinho simboliza o sangue de Cristo. Esses dois elementos aparecem na Última Ceia, momento em que Jesus e os discípulos celebram a Páscoa. A Última Ceia é lembrada na Quinta-Feira Santa, data em que se inicia o momento mais importante da Semana Santa: o Tríduo Pascal. Tomando o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: “Isto é o meu corpo entregue por vós; fazei isto em memória de mim”. Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado por vós e pela multidão. (Lc 22,19-20)
Círio Pascal. É a grande vela, decorada com as letras gregas Α (alfa) e Ω (ómega), que significam “início” e “fim”, respetivamente, e usada no Tempo Pascal (50 dias). Na Vigília Pascal, ao acendê-lo, são inseridos nele os cinco pontos das chagas de Cristo na cruz, as letras Α e Ω e os algarismos do ano em curso. A sua luz simboliza Cristo Ressuscitado. Por isso, pode ser incensado e se faz a procissão do círio
O Peixe é um símbolo derivado dos apóstolos, pescadores. É o símbolo de vida e de Cristo, usado pelos primeiros cristãos, no acróstico IXTUS – peixe, em Grego. As letras são as iniciais de “Iêsoûs Xristòs Theoû Hyiós, Sotêr”, que significa “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”. Faz parte do ritual da Semana Santa comer peixe na Sexta-feira Santa, para lembrar os 40 dias de jejum de Jesus no deserto, replicados pela abstinência e pelo jejum dos cristãos.
A Páscoa é maior festividade para os cristãos, que culmina na celebração da ressurreição de Jesus Cristo, no Domingo de Páscoa, após a Semana Santa, subsequente à Quaresma que chama os cristãos à penitência (arrependimento e mudança de vida) e à esperança do futuro, lembrando os 40 dias passados por Jesus no deserto e a dor que Ele suportou na crucificação.
A Semana Santa começa com o Domingo de Ramos, que lembra a entrada de Jesus em Jerusalém, onde a estrada era enfeitada com folhas da palmeira ou com ramos de oliveira.
Depois, vem o Tríduo Pascal: na Quinta-Feira Santa, celebra-se a Ceia do Senhor, em que Ele instituiu a Eucaristia, o mandamento novo do amor fraterno e o sacerdócio ministerial ao serviço da Eucaristia e do mandamento novo, devendo ser este a marca dos crentes. Passa-se, logo, ao episódio da oração de Cristo no Getsémani e entrega ao tribunal judaico e ao tribunal romano.
A Sexta-Feira Santa é o dia da celebração crucifixão e da morte de Jesus na Cruz, com a subsequente sepultura. Adora-se, com solenidade a Cruz, após a Liturgia da Palavra, com a proclamação da Paixão de Cristo segundo João, e a Oração Universal.
O Sábado Santo é o dia alitúrgico, para reflexão pessoal. E, à noite, celebra-se a Vigília Pascal, Liturgia da Palavra longa, renovação das Promessas do Batismo e Liturgia Eucaristia da Páscoa. É a passagem para o Domingo da Ressurreição.
No domingo, é celebrada a Páscoa, a Ressurreição de Jesus e sua primeira aparição às mulheres, amuadamente, a Maria Madalena – a apóstola dos apóstolos – e aos discípulos.
Segue-se a Oitava da Páscoa, com o Domingo da Misericórdia, da Pascoela, ou Domingo in Albis (por ser o último dia em que os batizados na Vigília Pascal usavam a veste branca).
Depois, continua o Tempo Pascal, ainda com odor a festividade pascal e primaveril, em que se insere a Ascensão de Jesus aos Céus, terminando com a solenidade do Pentecostes, que celebra a descida do Espírito Santo para Maria e para os apóstolos. A partir daí, é o tempo da Igreja, o tempo de a Igreja se bater em missão pelo Mundo, unida a Cristo e orientada pelo Espírito Santo, o dom de Deus.
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Presentear as
pessoas com ovos é um costume antigo, comum entre os povos que habitavam a
região do Mediterrâneo, do Leste Europeu e do Oriente. Alguns historiadores
sustentam que o hábito de oferecer ovos de galinha pintados surgiu no Antigo
Egito, na Pérsia e entre algumas tribos germânicas. Como ficou dito, nas
festividades, realizadas com a chegada da primavera, depois do inverno, os ovos
(de galinha) eram cozidos e pintados com desenhos que lembravam plantações e
outras figuras relacionadas com a colheita.Com o passar do tempo, o ovo de chocolate entrou nas tradições do período das festas da Semana Santa. A tradição do ovo de chocolate surgiu no século XVIII, por invenção de confeiteiros europeus. Ainda hoje há o costume de colorir ovos da Páscoa e oferecê-los a pessoas importantes.
Os ovos da Pascoa dos cristãos, podem exibir desenhos de Jesus e de Maria. E, em muitos países, é tradição esconder ovos de Páscoa para as crianças os procurarem.
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Já no Novo
Testamento, a Páscoa é a celebração da
passagem da morte para a vida, através da ressurreição de Jesus
Cristo. É Páscoa de Cristo e Cristo é nossa Páscoa.O dia da Páscoa foi estabelecido por decreto do Primeiro Concílio de Niceia (em 325 d.C.), devendo ser celebrado sempre ao domingo, após a primeira lua cheia do equinócio da primavera (no Hemisfério Norte) e outono (no Hemisfério Sul). É, pois, uma festa móvel que ocorre entre os dias 22 de março e 25 de abril. É comemorada em todo o Mundo, mas, sobretudo, nos países com fortes influências do cristianismo. Os Espanhóis chamam-lhe Pascua, os Italianos Pasqua e os Franceses Pâques. E é recheada de símbolos representativos, assim como quase todas as celebrações religiosas. Porém, a maioria destes símbolos foi sincretizada pela Igreja, a partir de costumes e de rituais pagãos ou de outras religiões.
Santa e feliz Páscoa!
2025.04.17 – Louro de Carvalho
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