Cristo
veio ao Mundo com vista à fraternidade. Porém, nem sempre os seus seguidores
estiveram em sintonia com este desígnio e fizeram vítimas ocasionais e em massa,
quando, sentindo-se a pisar terreno seguro, se tornaram intolerantes para quem
tinha ideias práticas diferentes.
Simultaneamente,
sofrem a perseguição por ódio à fé ou por excesso de ira, sob a capa de
atentado à cultura ou à ordem pública. Nesta quadra natalícia, também se
registam exemplos.
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De acordo com a agência Fides (agência de informação das Obras Missionárias Pontifícias), em
2024, foram assassinados 13 “missionários” católicos em todo o Mundo, sendo
oito sacerdotes e cinco leigos. África, com seis vítimas, e América, com cinco,
lideram a lista, facto que se vem repetindo ao longo dos últimos anos. Entre
2000 e 2024, o número total de missionários e agentes pastorais assassinados
ascende a 608. Em África, neste ano, foram assassinados seis homens (dois no
Burkina Faso, um nos Camarões, um na República Democrática do Congo e dois na
África do Sul); na América, cinco (um na Colômbia, um no Equador, um no México,
um nas Honduras e um no Brasil); e, na Europa dois, (um na Polónia e um em
Espanha).
Na Europa, regista-se o assassinato do espanhol
Juan Antonio Llorente, de 76 anos, frade franciscano da Imaculada Conceição, e
do padre polaco Lech Lachowicz, de 72 anos. O primeiro perdeu
a vida no mosteiro onde morava, em Gilet, na Espanha, quando um homem armado
com uma vara e com uma garrafa de vidro entrou, gritando “Eu sou Jesus Cristo”,
e começou a espancar todos os frades que encontrava. Vários franciscanos
ficaram feridos e foram levados ao hospital de Valência. Juan Antonio faleceu,
devido a graves pancadas na cabeça. O segundo, que era prior
da igreja de Santo Alberto, em Szczytno, cidade no norte da Polónia, foi
atacado por um homem de 27 anos, munido de um machado, cujo objetivo seria
roubar a igreja.
A lista da Fides
não refere apenas missionários ad gentes em
sentido estrito, mas considera que as definições de “missionário” e de “missionária”
incluem todos os católicos envolvidos em obras e em atividades pastorais. Os
missionários e agentes de pastoral que integram a lista não estavam no centro
das atenções por obras ou por compromissos de relevo, mas trabalhavam para dar
testemunho da fé na vida quotidiana das comunidades que serviam. E a causa da
sua morte violenta nem sempre pode ser atribuída, explicitamente, ao “ódio à
fé”, sendo mais frequentemente relacionada com a sua ação em prol da
comunidade.
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A violência atingiu níveis preocupantes e nunca
antes vistos, no México, que se traduzem em atos de perseguição religiosa.
Desde 1990, foram assassinados 80 padres no país, enquanto muitos outros
sofreram ameaças de morte, roubos e agressões físicas, como consta de um
relatório divulgado, a 13 de dezembro, pelo Centro Católico Multimédia (CCM),
organização que monitoriza a violência contra membros da Igreja Católica, no
México.
Foi
durante o mandato de seis anos do ex-presidente Andrés Manuel López Obrador (no
poder entre 2018 e 2024), que se atingiu o maior nível de homicídios da História
moderna do México, somando um total de 199621, um aumento da violência que
ocorreu no âmbito da controversa política governamental de “abraços, não balas”
contra o crime organizado.
Para
o padre Omar Sotelo Aguilar, diretor do CCM, o “vazio de poder e o
desmantelamento do Estado de direito” obrigou agentes pastorais e ministros de
outras igrejas a assumirem “o papel que as autoridades recusaram” por
incapacidade, ou “pior ainda, por viverem em conluio com os praticantes do mal
e do crime, num binómio destrutivo: corrupção e impunidade”.
De
acordo com o relatório do CCM, durante o mandato de seis anos de López
Obrador, houve dez padres assassinados, outros 14 padres e bispos atacados, uma
média semanal de 26 templos atacados, profanados ou agredidos e quase 900 casos
de extorsão e ameaças de morte contra membros da Igreja Católica. E a gestão da
nova presidente, Claudia Sheinbaum, não parece trazer melhorias a este nível.
Logo no início de outubro, poucos dias após a sua tomada de posse, ocorreu o assassinato
do padre Marcelo Pérez, morto a tiros por dois homens, após ter celebrado
missa. O presbítero era conhecido como firme defensor do povo indígena de
Chiapas e “incansável apóstolo da paz”. O diretor do CCM teme que possa haver
mais sangue, mais situações de violência, tendo em conta que, desde que
Sheinbaum chegou ao poder, “ocorreram massacres, em vários lugares do país”,
contra civis. Além disso, existem “extorsões e ameaças de morte contra vários
sacerdotes no México”, o que mostra que a situação “está latente”.
“Não queremos isso, espero que estejamos
errados”, ressalva, mas conclui, reconhecendo que “as tendências são,
infelizmente, desfavoráveis”.
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Na Índia, a poucos dias do Natal, as famílias
cristãs do estado central de Chhattisgarh eram perseguidas por grupos de
nacionalistas hindus, que as pressionavam a deixar as suas casas e as proibiam
de celebrar o nascimento de Jesus.
Em
algumas aldeias, os órgãos do poder local aprovaram uma resolução, no final de
novembro, segundo a qual os cristãos, nessas localidades, tinham de deixar a
sua fé ou renunciar a ela e, caso não o fizessem, todos os seus campos,
pertences e propriedades seriam saqueados. Segundo o jornal “Crux”, aproximadamente
100 cristãos são afetados por esta ordem.
O assunto foi levado ao conhecimento do chefe de
uma das aldeias afetadas, que confirmou a resolução, alegando que a norma do
conselho da aldeia substitui a da Constituição indiana, cujo artigo 25.º
garante o direito à liberdade de religião ou de crença.
Nos
últimos dias, várias famílias cristãs viram as suas colheitas saqueadas, com a
polícia a recusar-se a registar as suas queixas pelo ocorrido e a oferecer
qualquer assistência.
O
padre Thomas Vadakumkara, assessor de imprensa da diocese de Jagadalpur, afirma
que situações equivalentes estão a afetar “quase todos os cristãos, em muitos
distritos”. “Os direitos humanos básicos são recorrentemente negados aos
cristãos: enterro dos fiéis, permanecer nas suas próprias terras, cultivar e
colher nos seus campos e fazendas”, diz o sacerdote, citado pelo jornal “Crux”. De
acordo com o United Christian Forum (UCF), organização da sociedade civil
sediada em Deli, a violência e a discriminação contra cristãos está a aumentar
em 23 dos 28 estados da Índia, com Uttar Pradesh e Chhattisgarhno no topo da
lista dos incidentes registados.
A UCA News
dá conta de que a polícia de Uttar Pradesh prendeu sete cristãos, incluindo
dois pastores, por supostamente violarem a lei anticonversão do estado. O grupo
é acusado de tentar atrair moradores locais com ofertas de emprego e benefícios
monetários, nas reuniões de oração.
As
leis anticonversão, que criminalizam as tentativas de conversão com penas de
prisão, foram promulgadas em onze estados indianos, na sua maioria governados
pelo Partido Bharatiya Janata (Partido do Povo Indiano, BJP), do
primeiro-ministro, Narendra Modi.
O
pastor Jiyalal (que, por receio de represálias, não revelou o seu apelido)
disse à UCA News que a oposição
à fé cristã “é uma questão de grande preocupação, pois várias pessoas foram
presas nos últimos seis meses sob a lei abrangente”. “Na maioria dos casos,
descobrimos que as alegações são falsas”, vincou. E “há ainda mais medo entre
os cristãos, à medida que o Natal se aproxima”.
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A Comunidade Internacional Bahá’í (BIC) está “consternada com a
prisão injusta e sem fundamento” de Remy Rowhani, ex-presidente da Assembleia
Nacional dos Bahá’ís do Catar, numa ação que a organização diz marcar “uma
escalada arbitrária, após décadas de discriminação contra os bahá’ís no Catar
meramente devido à sua religião”. “Remy Rowhani é um cidadão catariano altamente
respeitado que serviu o país com distinção, durante décadas, mais recentemente
como diretor do escritório regional do Médio Oriente e Norte de África da Câmara
de Comércio Internacional. […] A sua detenção é emblemática do padrão mais
amplo de discriminação enfrentado pelos membros da comunidade Bahá’í no Catar”,
escreve a BIC, em comunicado divulgado a 30 de dezembro.
Rowhani foi detido no Aeroporto Internacional Hamad, em
Doha, a 23 de dezembro, quando se preparava para uma viagem de férias. A
detenção surge na sequência de uma incriminação de que foi alvo em abril de
2021. “Apesar de supervisionar contribuições financeiras voluntárias de bahá’ís
para a comunidade, com o conhecimento das autoridades do Catar, o senhor Rowhani
foi acusado, em 2021, de arrecadar fundos sem autorização. As suas ações não eram
ilegais sob a lei do Catar à época e nenhuma evidência foi fornecida para as
acusações”, explica a BIC. Condenado a seis meses de prisão e à multa de 27 mil
dólares (cerca de 26 mil euros), a sua sentença foi reduzida, em 2022, para um
mês de prisão e para a multa de metade do valor inicial.
“Após
receber garantias verbais de que a sentença não seria executada, no final de
2024, o senhor Rowhani descobriu que o seu caso havia sido reaberto e o seu
acesso a serviços governamentais restringido. Ele havia sido autorizado a
viajar pelas autoridades aeroportuárias, mas, em 23 de dezembro de 2024, foi
detido e forçado a cumprir a sua pena de prisão”, diz o comunicado da BIC,
acrescentando: “Uma vez que os esforços nacionais [para libertá-lo] foram
esgotados, a BIC foi obrigada a destacar a discriminação
implacável e concertada enfrentada pela comunidade.”
Reconhecendo que há “desenvolvimentos
encorajadores” em países vizinhos no sentido de promover a coexistência, a diversidade
e a coesão social”, bem como de “reconhecer e integrar minorias religiosas,
incluindo os bahá’ís”, a BIC lamenta que o mesmo não se verifique no Catar. “O
que está a acontecer com os bahá’ís no Catar contrasta fortemente com essa
tendência positiva e contradiz declarações públicas da liderança do Catar,
incluindo as de Sua Alteza o Emir [Tamim bin Hamad al-Thani], sobre a promoção
da diversidade e inclusão”, frisa a organização.
A
organização destaca as “dificuldades significativas” que os bahá’ís têm vindo a
enfrentar no país, “incluindo a rescisão metódica de autorizações de
residência, negação de certificados de boa conduta, rescisão repentina de
residência e restrições injustas à reunificação familiar”. Tais medidas –
alerta a BIC – “arriscam a eliminação total da comunidade do Catar”.
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Não obstante, os ataques à liberdade religiosa, cerceada
em vários países e subvalorizada em outros, são denunciados vigorosamente por
vozes autorizadas de liberdade.
Por exemplo, o Conselho Argentino para a
Liberdade Religiosa (Calir) publicou, a 19 de dezembro, uma vigorosa e enfática
condenação “das graves violações da liberdade religiosa ocorridas na
Nicarágua, sob o regime de Daniel Ortega e Rosario Murillo”. Entre os factos
mais alarmantes, o conselho denuncia “o arresto da Universidade Jesuíta
Centro-Americana, acusada de terrorismo, o encerramento de mais de 400
organizações religiosas e a restrição de práticas religiosas públicas, como
procissões”.
O
Calir é uma instituição não confessional, que se tornou na principal referência
em matéria de liberdade religiosa, na Argentina. Sobre a situação na Nicarágua,
o organismo denuncia, ainda, “a criminalização e detenção de líderes religiosos
e de leigos, como os 11 missionários da organização evangélica Puerta de la
Montaña, condenados com base em acusações forjadas […] e a desnacionalização e
o exílio forçado de mais de 170 líderes religiosos, incluindo freiras, padres e
leigos comprometidos com as suas comunidades”. “Estes abusos, conclui o
organismo, constituem uma afronta à dignidade humana, bem como graves violações
do direito internacional”, pelo que o governo argentino deve assumir papel ativo
na denúncia destes abusos.
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Não obstante o Menino Deus ser sinal de
contradição, o Natal é uma luz de esperança e um grito pela paz!
2024.12. 30 – Louro de
Carvalho
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