domingo, 22 de dezembro de 2024

Grave atropelamento no mercado de Natal de Magdeburgo, na Alemanha

 

De acordo com a agência noticiosa alemã DPA, na noite de 20 de dezembro, um carro atropelou, deliberadamente, um grupo de pessoas num mercado de Natal ao ar livre, cheio de visitantes, em Magdeburgo, cidade do Leste da Alemanha, estando o caso a ser tratado de terrorismo pelas autoridades, que detiveram o condutor. As primeiras informações davam conta de que havia, pelo menos, um morto, assim como um número indeterminado de feridos.

O ataque aconteceu um dia após o 8.º aniversário do ataque no mercado de Natal de Berlim, quando um extremista islâmico atropelou um grupo, fazendo 13 mortos e muitos feridos.

Magdeburgo, cidade a Oeste de Berlim, capital deste estado, tem cerca de 240 mil habitantes.

Testemunhas declararam que o carro acelerou em direção à multidão que estava no mercado de Natal e atropelou, deliberadamente, um grupo significativo de pessoas. E, segundo o jornal alemão BILD, o condutor, que foi detido, é um homem de 50 anos, originário da Arábia Saudita.

O mercado foi encerrado pela polícia e os frequentadores aconselhados a deixar o centro da cidade. “O que aconteceu é uma tragédia a poucos dias do Natal”, disse o ministro-presidente da Saxónia-Anhalt, Reiner Haseloff, citado pelo jornal The Guardian.

A ministra do Interior, Nancy Faeser, tinha dito não haver indicações de possíveis ataques nos mercados de Natal este ano, mas que é melhor manter alguma vigilância.

O Chanceler Olaf Scholz publicou no X: “Os meus pensamentos estão com as vítimas e os seus familiares. Estamos ao seu lado e ao lado do povo de Magdeburgo.”

A presidente da Comissão Europeia e o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) também expressaram as suas condolências no X.

“Os meus pensamentos estão hoje com as vítimas do ataque brutal e cobarde em Magdeburgo. Este ato de violência deve ser investigado e severamente punido”, escreveu a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

“Cenas horríveis de um mercado de Natal em Magdeburgo”, escreveu o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, garantindo: “A NATO está ao lado da Alemanha.”

A presidente da Câmara de Magdeburgo, Simone Borris, disse que as autoridades planearam organizar um memorial na catedral da cidade, no dia 21.

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Entretanto, a 21 de dezembro, as autoridades governamentais, que já tinham alertado para a possibilidade de mais mortes, confirmaram o número de cinco mortos (as duas primeiras mortes confirmadas eram um adulto e uma criança). E a agência de notícias DPA avançava que o número de feridos graves subiu para 41, contabilizando-se um total de 200 feridos.

O condutor foi detido no local, pouco depois de o carro ter entrado de rompante no mercado, por volta das 19h00 locais (18 horas em Lisboa). Imagens verificadas de transeuntes, publicadas pela agência noticiosa alemã DPA, mostram a detenção do suspeito num passadiço no meio da estrada. O polícia que se encontrava nas proximidades, apontando uma pistola ao homem, gritou-lhe, enquanto este estava deitado de bruços. Rapidamente chegaram outros agentes para o deter.

Numa conferência de imprensa, Tamara Zieschang, ministra do Interior do Estado da Saxónia-Anhalt, revelou que o suspeito é um médico saudita de 50 anos que se mudou para a Alemanha em 2006. Tem exercido medicina em Bernburg, cerca de 40 quilómetros a Sul de Magdeburgo.

“Até ao momento, trata-se de um criminoso solitário, pelo que, tanto quanto sabemos, não há mais perigo para a cidade”, disse aos jornalistas o governador da Saxónia-Anhalt, Reiner Haseloff, vincando: “Cada vida humana que foi vítima deste ataque é uma tragédia terrível e uma vida humana a mais.”

O incidente violento, que podia ter sido evitado, segundo alguns, chocou a cidade, levando o presidente da Câmara à beira das lágrimas, pois estragou um evento festivo que faz parte de uma tradição alemã secular, e levou várias outras cidades alemãs a cancelar os seus mercados de Natal do fim de semana, por precaução e em solidariedade com a perda de Magdeburgo.

Os mercados de Natal são parte importante da cultura alemã, sendo tradição festiva anual acarinhada desde a Idade Média e exportada, com sucesso, para grande parte do Mundo ocidental.

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As autoridades detiveram o condutor no local do acidente e levaram-no sob custódia para interrogatório e confirmaram que se trata de um cidadão saudita que vive na Alemanha há quase 20 anos e trabalha como médico. Vários meios de comunicação social alemães identificaram o suspeito como Taleb A., ocultando o seu nome completo, devido a normas de proteção da vida privada. Os relatórios indicam ainda que é um especialista em Psiquiatria e em Psicoterapia.

Ainda não foi apurado o motivo que levou o suspeito a dirigir um automóvel contra a multidão num mercado de Natal. Entretanto, o alegado autor do crime tem vindo a partilhar opiniões islamofóbicas na Internet, há vários anos.:01

Numa entrevista ao FAZ, em 2019, Taleb Abdulmohsen descreveu-se a si próprio como “o crítico mais agressivo do Islão na História”.

Fundou uma plataforma na Internet para ajudar cidadãos da Arábia Saudita a pedir asilo na Alemanha, alegando que o Estado estava a dar asilo a “jihadistas sírios”. E acusou as autoridades alemãs de não estarem a tratar adequadamente aquilo a que chamou o “islamismo da Europa”. Foi também descrito como um ativista que ajudou mulheres sauditas a fugir do seu país.

Taleb A. manifestou, publicamente, o seu apoio ao partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e, recentemente, pareceu concentrar-se na teoria segundo a qual as autoridades alemãs estariam a visar os requerentes de asilo sauditas.

Peter Neumann, especialista alemão em terrorismo, comentou o perfil invulgar do suspeito. “Depois de 25 anos neste ‘negócio, pensa-se que já nada nos pode surpreender. Mas um saudita ex-muçulmano de 50 anos que vive na Alemanha de Leste, adora o AfD e quer castigar a Alemanha pela sua tolerância para com os islamitas – isso não estava no meu radar”, disse Neumann, diretor do Centro Internacional para o Estudo da Radicalização e da Violência Política do King's College, em Londres.

Taleb A. vive na Alemanha, desde 2006, e reside na Saxónia-Anhalt, o estado federado onde se situa Magdeburgo, confirmou o governador do estado, Reiner Haseloff.

Nascido na cidade saudita de Hofuf em 1974, Taleb terá saído da Arábia Saudita para escapar às restrições impostas pelo país, por considerar impossível exprimir abertamente as opiniões ateias numa nação onde o Islão é a única religião legalmente reconhecida, segundo a BBC.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Arábia Saudita condenou, na rede X, o ataque, mas ainda não mencionou as ligações do suspeito ao reino.

A Arábia Saudita terá acusado Taleb A. de alegado terrorismo e de facilitar o contrabando de mulheres dos países do Golfo para a Europa. Apesar destas alegações, a Alemanha concedeu-lhe asilo, em 2016, e recusou-se a extraditá-lo para a Arábia Saudita.

No entanto, apesar das manifestas simpatias do suspeito pelo AfD, o partido convocou uma grande manifestação na sequência do ataque a um mercado de Natal em Magdeburgo, que deu azo à morte de várias pessoas e a centenas de feridos.

Num memorial às vítimas, o colíder da AfD, Tino Chrupalla, apelou à ministra do Interior, Nancy Faeser, para que tomasse medidas mais firmes para garantir a segurança dos cidadãos alemães.

“Estou a exigir respostas à ministra do Interior: O que é que se passa realmente neste país? O que está realmente a acontecer neste país? Aguentamos isto, semana após semana, aguentamos os ataques, aguentamos os assassínios do nosso próprio povo? Isto tem de ser esclarecido agora, e estas frases dos políticos de que as coisas não podem continuar assim, que voltei a ouvir hoje, são de facto perturbadoras”, disse Chrupalla à imprensa no local.

Segundo vários observadores, o ataque foi objeto de alguns pré-avisos.

No X, o próprio suspeito declarou que “o projeto secreto e criminoso de Merkel é islamizar a Europa”. Lamentou que a pena de morte já não exista. E escreveu, ainda, em Inglês: “Mas se a pena de morte for reintroduzida, merece ser morta. Também é um sinal de radicalização.”

De acordo com as agências noticiosas alemãs, houve também vários avisos às autoridades alemãs. A revista Spiegel refere um total de três avisos enviados à Alemanha, a partir de Riade, a capital da Arábia Saudita. O conteúdo exato destes avisos ainda não é conhecido, apenas se sabe que se referiam às opiniões extremistas do homem. E, no dia D, um editor do Die Welt partilhou um e-mail em que uma mulher da Arábia Saudita queria avisar as autoridades alemãs. No entanto, o e-mail não foi enviado para a polícia de Berlim, mas para uma esquadra da comunidade de 7500 habitantes de Berlim, em Nova Jersey, nos EUA. Há também relatos, no X, de que a mulher terá tentado, em vão, contactar o Gabinete Federal para a Migração e os Refugiados (BAMF).

Taleb A. era conhecido das autoridades alemãs. Em 4 de setembro de 2013, o tribunal distrital de Rostock condenou-o a 90 dias de prisão, alegando que perturbara “a paz pública, através da ameaça de infrações penais”. “Foi feita uma tentativa, há um ano, de realizar um endereço de perigo”, disse Tom-Oliver Langhans, diretor da Polícia de Magdeburgo, em conferência de imprensa no dia 20. Na altura, a polícia não quis fornecer quaisquer pormenores sobre a razão para tal – ou porque é que o discurso acabou por não se realizar.

Um “Gefährderansprache” é um aviso verbal dado pela polícia a alguém que pode representar um perigo para os outros. O objetivo é transmitir que a pessoa está sob observação especial e que, por isso, deve contar com um risco acrescido de ser detetada, quando comete delitos.

Em 13 de agosto deste ano, o suspeito publicou, em Árabe, no seu perfil do X: “Garanto-vos: Se a Alemanha quiser guerra, tê-la-emos. Se a Alemanha nos quiser matar, nós massacramo-los, morremos ou vamos para a prisão com orgulho.”

Se as fantasias violentas deste homem tivessem sido levadas a sério, que medidas poderiam ter sido tomadas para evitar o crime? De acordo com o direito penal alemão, o legislador não reconhece a ameaça de violência como infração penal autónoma, mas ela é punível como coação com uma multa ou, em alternativa, com uma pena de prisão máxima de três anos.

Devido ao aumento do risco de ataques nos últimos anos, os locais públicos nas cidades alemãs foram protegidos com pilaretes e com barreiras. Porém, há corredores de salvamento, e foram esses caminhos que Taleb A. utilizou. As entradas dos corredores de fuga e de salvamento são, normalmente, vigiadas por veículos da polícia. Segundo a polícia, o autor do crime não foi mandado parar, porque se comportou de forma discreta e conduziu dentro do limite de velocidade normal da zona 30. Nenhum dos polícias presentes esperava que ele acelerasse de repente e fosse contra a multidão. E, de acordo com o diretor da polícia de Magdeburgo, Tom-Oliver Langhans, o tumulto começou às 19h02. Às 19h05, o homem foi mandado parar pela polícia e detido. Três minutos em que percorreu 400 metros, matando cinco pessoas e ferindo 200, algumas (41) delas com gravidade.

Entretanto, o chanceler alemão, em visita ao local, apelou à união de todos.

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Não há segurança absoluta. Os atacantes sabem simular. E os governos, parecendo não conhecer a realidade dos seus territórios, não têm detentores dos cargos à altura das responsabilidades. Será esta a União Europeia (UE) que desejamos, em vez da livre, segura e democrática?

2024.12.21 – Louro de Carvalho

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