Acessório
comum no quotidiano das pessoas, o guarda-chuva (chapéu de chuva, sombrinha e
até guarda-sol) é mais antigo do que se pensa. Diferentes civilizações
desenvolveram objetos parecidos, para proteção dos raios solares, não da chuva,
a princípio.
Os mais
antigos artefactos do género que se conhecem existiam na Mesopotâmia
(região do atual Iraque), há 3400 anos, destinados a proteger a cabeça dos reis
contra o sol, não contra a chuva, uma raridade naquele lugar. Tal como os
abanos, eram feitos de folhas de palmeira de plumas ou de papiro. Mais
tarde, os Assírios, os Egípcios, os Persas e os Romanos tiveram influência na
utilização de novos materiais, para a combinação da utilidade com a
elegância.
No Egito,
os guarda-chuvas adquiriram significado religioso; e, na Grécia e em Roma, eram
artigos de adorno feminino. Só no século XVIII, a obstinação do comerciante
inglês Jonas Hanway, apaixonado por guarda-chuvas (versão inglesa
do guarda-sol tropical), os tornou dignos de cavalheiros. Embora tendo-o
ridicularizado em vida, após a morte comerciante, em 1786, os Ingleses saíam à
rua, munidos do acessório, nos frequentes dias de chuva do país.
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As primeiras evidências de um objeto com a função de proteger
do sol e da chuva, na China, datam do século V a.C., durante a Dinastia Zhou,
mas a sua existência já remonta aos séculos XII ou XI a.C., como guarda-sol. A sua invenção, como
guarda-chuva, surgiu por necessidade. Uma parte do território chinês está em
zona de clima tropical, com chuvas frequentes. Esse “protetor” surgiu, então,
como forma de evitar que as pessoas apanhassem chuva ou a incidência de sol
forte.
À época, tais objetos eram usados, principalmente, pela nobreza.
Somente no século I da era cristã, se tornaram populares entre o povo.
Não se sabe ao certo quem foi o inventor. Uma das narrativas mais
populares sobre o artefacto menciona Luban, renomado carpinteiro, engenheiro e
inventor da China antiga. De acordo com a narrativa, o guarda-chuva foi a
pedido de Yun, a sua esposa, que saía, todos os dias, para lhe levar uma
refeição quente, mas, não raro a comida ia molhada, devido a pancadas fortes de
chuva. A ideia de uma cobertura teria vindo das crianças que ele viu
usarem grandes folhas de lótus, para impedirem que a água da chuva as
molhasse.
Também um conto popular chinês
sustenta que foi Lu Mei, uma jovem que tinha apostado com o irmão mais velho
sobre quem seria capaz de construir um objeto capaz de os proteger da chuva.
Numa noite, Lu Mei criou uma espécie de bastão do qual saíam 32 varas de bambu,
com um pedaço de tecido que cobria toda a estrutura.
Segundo gravuras antigas, esses primeiros guarda-chuvas eram
feitos de cascas de amoreira ou de bambu, que são flexíveis e assim podiam ser
abertos e fechados. A estrutura era coberta de seda ou papel encerado. Os Chineses usavam uma espécie
de cera de origem vegetal, que ajudava a repelir a água e a evitar que o papel
rasgasse. Os guarda-chuvas usados pelas famílias da realeza eram, geralmente,
coloridos, vermelhos e amarelos, e decorados com pinturas ou bordados. Também havia modelos que lembram mais o guarda-sol usado, hoje, nas
praias. Eram os “San Gai” colocados em carruagens. A este respeito, é de
referir que foi desenterrada, na tumba de Qin Shi Huang, uma estatueta que
mostra uma carruagem puxada a cavalo com um San Gai.
Os guarda-chuvas antigos nas dinastias Wei, Jin e Norte-Sul, como
nas dinastias anteriores, eram usados como símbolo de identidade e de status, e apenas os nobres os podiam
usar. O antigo livro “Yu Xie” menciona que, na Dinastia Wei do Norte, o
guarda-chuva de papel oleado era usado para facilitar caminhadas e passeios a
cavalo da nobreza. E, quando o papel se popularizou, na China, o povo começou a
usar papel barato, em vez de seda cara, para fazer a cobertura de
guarda-chuvas, usando óleo de tungue para a revestir.
Os governantes das dinastias Sui e Tang estabeleceram regulamentos
específicos sobre o uso de guarda-chuvas. À época, a família real e os
funcionários acima do terceiro escalão, geralmente, usavam guarda-chuvas roxos
e guarda-chuvas vermelhos, enquanto os letrados das classes baixa e média já
eram populares no uso de guarda-chuvas verdes. A cor indicava poder económico.
Por outro lado, as
pessoas aproveitaram, ao máximo, diversos materiais naturais fornecidos pela Natureza
para fazer guarda-chuvas, como a fibra da casca das palmeiras tecida, que deu
origem ao “Zong Yi”, roupas de palma. Na famosa pintura “Ao longo do rio,
durante o Festival Qingming”, datada da Dinastia Song do Norte, é possível ver
42 guarda-chuvas, o que revela a sua popularidade, naquela época.
De acordo com o livro “Mengliang Lu”, de Wu Zimu, havia
muitos tipos de guarda-chuvas com vários formatos e cores, e a indústria de guarda-chuvas,
em Lin’na, era bem desenvolvida e era o centro de produção de guarda-chuvas, à
época.
Durante as dinastias Ming e Qing, o estilo e o material dos
guarda-chuvas não mudaram muito, comparativamente com a geração anterior,
incluindo, principalmente, Fang San (guarda-chuvas quadrados), guarda-chuvas de
cabo reto, guarda-chuvas de manivela, Luo Xiu San (guarda-chuvas bordados) e
You Juan San (guarda-chuvas de seda oleosa).
A partir da China, o invento espalhou-se pelo Mundo. O seu uso
surgiu na Europa, em meados do século XVII, graças às navegações e à ota da
Seda. Nos séculos seguintes, os processos de fabricação foram melhorando e
tanto as sombrinhas como os guarda-chuvas já eram produzidos em massa, com
novas tecnologias e materiais usados até hoje, como estruturas de metal.
O tradicional guarda-chuva de papel ainda é fabricado, de forma
manual, em Fuzhou. É finalizado por meio de 80 processos e, tradicionalmente,
tem cinco partes independentes: nervura, cobertura, cabeça, haste e
pintura. A
cobertura é feita de papel de algodão reforçado, para ter força de tração e para
não rasgar. Em seguida, é tratada com tinta pura e, novamente, óleo de tungue
de forte pegajosidade, desenhado com flores e pássaros, figuras, paisagens e
cenários.
Os guarda-chuvas chineses artesanais são verdadeiras obras de
arte, mas com finalidade prática. A seda, fina como asa de cigarra e estampada
com paisagens, é fixada numa moldura de bambu. Além disso, os guarda-chuvas ou
sombrinhas, além dos seus usos práticos, também passaram a fazer parte dos
espetáculos de acrobacia e de algumas danças chinesas.
Presentemente,
os guarda-chuvas são uma necessidade vital. Muitos tipos de guarda-chuvas
surgiram em vários países e mercados ao redor do Mundo. Há guarda-chuvas de
todos os tamanhos e cores: transparentes, guarda-chuvas infantis, guarda-chuvas
de golfe, guarda-chuvas invertidos, guarda-chuvas dobráveis, guarda-chuvas
arco-íris, guarda-chuvas personalizados e assim por diante. Porém, os mais
vulgarizados são o manual, o automático e o dobrável. Apesar de o automático
ser mais prático, num primeiro momento, tem desvantagens, depois. Os mecanismos
que permitem que o equipamento abra e feche podem estragar facilmente,
diminuindo a vida útil do acessório. Também o dobrável não tem muita qualidade.
Apresenta problemas: é descartável; o cliente, tendo recebido o guarda-chuva
promocional com logótipo da empresa, utiliza-o poucas vezes; molha a bolsa, ao
ser guardado; é muito pequeno e não protege todo o corpo da chuva, podendo
molhar os ombros do utilizador.
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O país que mais fabrica guarda-chuvas, no Mundo, ainda é a
China. A pele clara é valorizada na cultura chinesa, pois o bronze resulta do
trabalho braçal degradante. Por isso, a proteção contra o sol era essencial
para a nobreza. Segundo Marion
Rankine, em “Brolliology: A History of the Umbrella in Life and
Literature”, na Antiguidade, o guarda-sol era tido como sagrado por alguns
povos, como os Egípcios e os Assírios. Feito de folhas de árvores, de penas ou de
couro, era usado para proteger reis e divindades. Na Grécia, feito de
tecido e decorado com ouro e marfim, era usado por mulheres e por homens da
elite, acompanhados por escravo, que carregava o utensílio.
Até então,
ninguém havia pensado em o usar para não se molhar. Talvez porque alguns desses
povos viviam em locais quentes e secos, onde a chuva não era problema
frequente. Além disso, várias culturas viam a chuva como dádiva dos Céus,
símbolo de abundância e de fertilidade. Por isso, o mais provável é que as
pessoas andassem à chuva, sem se importarem com isso, e se protegessem debaixo
de árvores, de construções e de cabanas, quando a tempestade chegava. Foi assim
que, durante muitos anos, a Humanidade lidou com a chuva.
Não se sabe
ao certo quando a sombrinha virou a guarda-chuva, mas acredita-se que tenha
ocorrido no fim do século XVI, quando passou a existir no Ocidente. No clima
frio e chuvoso do Norte da Europa, o acessório foi adaptado à realidade da população
local. No século XVII, o guarda-chuva já era popular na França e na Inglaterra,
feito de seda, impermeabilizado com uma camada de cera e usado, principalmente,
por mulheres da classe alta. Ter guarda-chuva era caro e símbolo de status. Porém, a maioria das pessoas,
principalmente, os homens, não adotou a ideia. Sair todos os dias de casa com
guarda-chuva e levá-lo a todos os lugares, sem se saber se iria ser usado,
soava a ridículo. Se alguém andasse na rua e começasse a chover de repente, era
só usar papéis ou pastas para cobrir a cabeça ou abrigar-se em algum lugar. A
situação era mais simples, se já estivesse a chover, antes de sair de casa:
gorros, chapéus e casacos grossos com capuzes serviam. Além disso, era de evitar sair durante as chuvas. E, apesar de o
guarda-chuva ser utilizado por alguns membros da classe alta, outros achavam
que rebaixava a classe. Em “Traces of Vermeer”, Jane Jelley conta
que, em 1768, uma revista parisiense publicou: “Os que não querem ser
confundidos com pessoas vulgares preferem correr o risco de ficar ensopados a
serem considerados alguém que anda a pé. Um guarda-chuva é um sinal claro de
alguém que não possui uma carruagem.”
Por volta de
1750, Jonas Hanway comprou um guarda-chuva e tornou-o seu
fiel companheiro. Aos poucos, os outros perceberam que o guarda-chuva era
acessório útil e digno de um gentleman.
Em 1830, foi aberta a primeira loja de guarda-chuvas, James Smith & Sons,
que continua a funcionar no mesmo endereço, em Londres. Depois disso,
segundo Rankine, “objetos de luxo que eram reservados aos
ricos foram democratizados com a produção de versões mais baratas e de alta
qualidade”. A classe média passou a usar guarda-chuvas, para se diferenciar da
trabalhadora, popularizando o objeto. Inovações como o guarda-chuva de aço,
criado em 1852, e o compacto, em 1928, tornaram-no um acessório comum e
indispensável.
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Os
guarda-chuvas foram, originalmente, feitos de folhas de palmeira, de papiro e de
penas de pavão e eram usados, exclusivamente, pelas classes altas, no antigo
Egito e na Mesopotâmia, embora exigissem, devido ao peso, que as pessoas os
carregassem. E os guarda-sóis da China medieval eram feitos de varas de bambu e
cobertos com folhas e com penas.
No século IV
a.C., a Roma antiga, a Grécia, o Egito, o Médio Oriente e a Índia tinham toldos
portáteis concebidos para proporcionarem sombra, parecidos com os guarda-chuvas
modernos, mas feitos de materiais, como couro, folhas e até penas. No entanto,
estes guarda-sóis criativos não eram para todos. Em alguns casos, o rei ditava
quem podia ou não proteger-se do sol. Os súbditos mais favorecidos eram,
obviamente, a família real, o clero e outros nobres.
Na China,
no século XI a.C.,
os que podiam pagar esse luxo usavam as primeiras formas de guarda-chuvas.
Devido às rotas comerciais internacionais limitadas, o primeiro lote de
guarda-chuvas ou guarda-chuvas impermeáveis, desde então, não conseguiu
chegar à Europa.
Os Franceses
foram os primeiros europeus a perceber que vale a pena evitar molhar-se.
No início do século XVIII, o empresário parisiense Jean Marius inventou um
guarda-sol leve e impermeável. Em 1712, a princesa francesa Palatine, comprando
um, desencadeou a mania nas mulheres de todo o país. Logo, o Francês também se
escondeu sob o guarda-chuva. E, em 1928, Hans Haupt inventou o guarda-sol de
bolso. Em Viena, estudava escultura quando desenvolveu um protótipo para um
guarda-chuva dobrável compacto aprimorado, para o qual recebeu uma patente em
setembro de 1929.
Durante muito tempo o guarda-chuva foi visto como objeto de
significado sagrado, a ponto de ser utilizado só para cobrir as divindades e a
realeza em procissões e em eventos de grande significado espiritual. Ainda hoje,
para cobrir o Santíssimo Sacramento, em trajetos curtos, se usa a umbella (termo
latino para “sombrinha), bem como o pálio processional, em trajetos longos.
Uma das principais diferenças entre o uso das sombrinhas no
Egito e na China é que qualquer chinês poderia usá-las, sem restrição de
classe. As restrições brotavam do campo dos materiais. Só membros da nobreza
usavam sombrinhas amarelas, cobertas de seda e adornadas com franjas, bordadas
a ouro e pedras preciosas. Além disso, pessoas de alto status social
não carregavam as próprias sombrinhas, sendo acompanhadas de criados que lhes
faziam o trabalho. O resto da população usava sombrinhas azuis ou vermelhas,
pouco decoradas, feitas de papel e bambu.
Apesar da evidência, a palavra é
composta de dois vocábulos, a refletir a proteção contra a água. Porém, é
vincar que se inspira no termo francês “parapluie”, a marcar a distinção,
relativamente ao termo e à funcionalidade do guarda-sol.
O guarda-chuva expandiu-se da China a
outras partes do Mundo, graças à Rota da Seda. Primeiro, foi exportado para o
Japão, para a Coreia e para a Pérsia, para chegar, depois, ao Egito, à Antiga
Grécia, ao Império Assírio e ao Império Romano, onde foi utilizado como guarda-sol,
sendo criados, em cada região, certos costumes em torno do seu uso. Os Egípcios,
por exemplo, usavam-no como objeto de ritual cortesão e sinal de alto status e de influência, podendo ser
utilizado ante o faraó. Na Grécia só podia ser utilizado pelas mulheres. Já no
Império Romano o seu uso era escasso. E quando o uso desapareceu, no resto da
Europa, praticamente deixou de ter presença.
No final do século XV, voltou a aparecer
e, novamente, como símbolo de prestígio, dado que este acessório era feito com
materiais de luxo. Em 1710, em França, foi introduzido um modelo mais leve e
dobrável, para que as mulheres o utilizassem. E foi a princesa Palatina quem,
depois de adquirir um exemplar, o popularizou, sendo imitada pelo resto da
aristocracia.
Mas foi a Inglaterra quem o adotou
para o seu uso original, um processo que resultaria difícil, pois carregar um
guarda-chuva numa das mãos indicava status
vulgar (o complemento indicava que a pessoa andava a pé, exposta às condições
do clima, e que não tinha carruagem para se deslocar). Seria já no século XVIII
que voltaria a ser usado noutros países.
É de salientar que foi na época vitoriana
que este produto começou a ser vendido nas lojas, graças à invenção do
guarda-chuva de aço, com hastes de metal, e do guarda-chuva dobrável.
Por fim, algumas curiosidades. A
Natureza oferece-nos a planta aquática chamada Cyperus alternifolius, conhecida como guarda-chuva, uma
planta ornamental cuja forma recorda a deste acessório. O nylon e o poliéster são invenções recentes, como tecido para este
artefacto. (Antes, usava-se a seda, o algodão e o couro. A evolução nos
materiais releva para o uso do artefacto como binde publicitário). O budismo
indiano tem oito símbolos de sorte e de fortuna, associados a Buda, sendo o guarda-chuva
é um deles, já que pode representar um templo como um todo e o cabo unido ao
guarda-chuva lembra o eixo central que sustém o Mundo. E há um museu dedicado
ao tema – o Museo dell’Ombrello e del Parasole perto do Lago Maggiore, na
Itália.
2024.12.14 – Louro de Carvalho
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