sábado, 14 de dezembro de 2024

A viagem do guarda-chuva / guarda-sol pela História

 

Acessório comum no quotidiano das pessoas, o guarda-chuva (chapéu de chuva, sombrinha e até guarda-sol) é mais antigo do que se pensa. Diferentes civilizações desenvolveram objetos parecidos, para proteção dos raios solares, não da chuva, a princípio.

Os mais antigos artefactos do género que se conhecem existiam na Mesopotâmia (região do atual Iraque), há 3400 anos, destinados a proteger a cabeça dos reis contra o sol, não contra a chuva, uma raridade naquele lugar. Tal como os abanos, eram feitos de folhas de palmeira de plumas ou de papiro. Mais tarde, os Assírios, os Egípcios, os Persas e os Romanos tiveram influência na utilização de novos materiais, para a combinação da utilidade com a elegância.

No Egito, os guarda-chuvas adquiriram significado religioso; e, na Grécia e em Roma, eram artigos de adorno feminino. Só no século XVIII, a obstinação do comerciante inglês Jonas Hanway, apaixonado por guarda-chuvas (versão inglesa do guarda-sol tropical), os tornou dignos de cavalheiros. Embora tendo-o ridicularizado em vida, após a morte comerciante, em 1786, os Ingleses saíam à rua, munidos do acessório, nos frequentes dias de chuva do país.

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As primeiras evidências de um objeto com a função de proteger do sol e da chuva, na China, datam do século V a.C., durante a Dinastia Zhou, mas a sua existência já remonta aos séculos XII ou XI a.C., como guarda-sol. A sua invenção, como guarda-chuva, surgiu por necessidade. Uma parte do território chinês está em zona de clima tropical, com chuvas frequentes. Esse “protetor” surgiu, então, como forma de evitar que as pessoas apanhassem chuva ou a incidência de sol forte.

À época, tais objetos eram usados, principalmente, pela nobreza. Somente no século I da era cristã, se tornaram populares entre o povo.

Não se sabe ao certo quem foi o inventor. Uma das narrativas mais populares sobre o artefacto menciona Luban, renomado carpinteiro, engenheiro e inventor da China antiga. De acordo com a narrativa, o guarda-chuva foi a pedido de Yun, a sua esposa, que saía, todos os dias, para lhe levar uma refeição quente, mas, não raro a comida ia molhada, devido a pancadas fortes de chuva. A ideia de uma cobertura teria vindo das crianças que ele viu usarem grandes folhas de lótus, para impedirem que a água da chuva as molhasse. 

Também um conto popular chinês sustenta que foi Lu Mei, uma jovem que tinha apostado com o irmão mais velho sobre quem seria capaz de construir um objeto capaz de os proteger da chuva. Numa noite, Lu Mei criou uma espécie de bastão do qual saíam 32 varas de bambu, com um pedaço de tecido que cobria toda a estrutura.

Segundo gravuras antigas, esses primeiros guarda-chuvas eram feitos de cascas de amoreira ou de bambu, que são flexíveis e assim podiam ser abertos e fechados. A estrutura era coberta de seda ou papel encerado. Os Chineses usavam uma espécie de cera de origem vegetal, que ajudava a repelir a água e a evitar que o papel rasgasse. Os guarda-chuvas usados pelas famílias da realeza eram, geralmente, coloridos, vermelhos e amarelos, e decorados com pinturas ou bordados. Também havia modelos que lembram mais o guarda-sol usado, hoje, nas praias. Eram os “San Gai” colocados em carruagens. A este respeito, é de referir que foi desenterrada, na tumba de Qin Shi Huang, uma estatueta que mostra uma carruagem puxada a cavalo com um San Gai. 

Os guarda-chuvas antigos nas dinastias Wei, Jin e Norte-Sul, como nas dinastias anteriores, eram usados como símbolo de identidade e de status, e apenas os nobres os podiam usar. O antigo livro “Yu Xie” menciona que, na Dinastia Wei do Norte, o guarda-chuva de papel oleado era usado para facilitar caminhadas e passeios a cavalo da nobreza. E, quando o papel se popularizou, na China, o povo começou a usar papel barato, em vez de seda cara, para fazer a cobertura de guarda-chuvas, usando óleo de tungue para a revestir.

Os governantes das dinastias Sui e Tang estabeleceram regulamentos específicos sobre o uso de guarda-chuvas. À época, a família real e os funcionários acima do terceiro escalão, geralmente, usavam guarda-chuvas roxos e guarda-chuvas vermelhos, enquanto os letrados das classes baixa e média já eram populares no uso de guarda-chuvas verdes. A cor indicava poder económico. Por outro lado, as pessoas aproveitaram, ao máximo, diversos materiais naturais fornecidos pela Natureza para fazer guarda-chuvas, como a fibra da casca das palmeiras tecida, que deu origem ao “Zong Yi”, roupas de palma. Na famosa pintura “Ao longo do rio, durante o Festival Qingming”, datada da Dinastia Song do Norte, é possível ver 42 guarda-chuvas, o que revela a sua popularidade, naquela época.

De acordo com o livro  “Mengliang Lu”, de Wu Zimu, havia muitos tipos de guarda-chuvas com vários formatos e cores, e a indústria de guarda-chuvas, em Lin’na, era bem desenvolvida e era o centro de produção de guarda-chuvas, à época.

Durante as dinastias Ming e Qing, o estilo e o material dos guarda-chuvas não mudaram muito, comparativamente com a geração anterior, incluindo, principalmente, Fang San (guarda-chuvas quadrados), guarda-chuvas de cabo reto, guarda-chuvas de manivela, Luo Xiu San (guarda-chuvas bordados) e You Juan San (guarda-chuvas de seda oleosa).

A partir da China, o invento espalhou-se pelo Mundo. O seu uso surgiu na Europa, em meados do século XVII, graças às navegações e à ota da Seda. Nos séculos seguintes, os processos de fabricação foram melhorando e tanto as sombrinhas como os guarda-chuvas já eram produzidos em massa, com novas tecnologias e materiais usados até hoje, como estruturas de metal.

O tradicional guarda-chuva de papel ainda é fabricado, de forma manual, em Fuzhou. É finalizado por meio de 80 processos e, tradicionalmente, tem cinco partes independentes: nervura, cobertura, cabeça, haste e pintura. A cobertura é feita de papel de algodão reforçado, para ter força de tração e para não rasgar. Em seguida, é tratada com tinta pura e, novamente, óleo de tungue de forte pegajosidade, desenhado com flores e pássaros, figuras, paisagens e cenários.

Os guarda-chuvas chineses artesanais são verdadeiras obras de arte, mas com finalidade prática. A seda, fina como asa de cigarra e estampada com paisagens, é fixada numa moldura de bambu. Além disso, os guarda-chuvas ou sombrinhas, além dos seus usos práticos, também passaram a fazer parte dos espetáculos de acrobacia e de algumas danças chinesas.

Presentemente, os guarda-chuvas são uma necessidade vital. Muitos tipos de guarda-chuvas surgiram em vários países e mercados ao redor do Mundo. Há guarda-chuvas de todos os tamanhos e cores: transparentes, guarda-chuvas infantis, guarda-chuvas de golfe, guarda-chuvas invertidos, guarda-chuvas dobráveis, guarda-chuvas arco-íris, guarda-chuvas personalizados e assim por diante. Porém, os mais vulgarizados são o manual, o automático e o dobrável. Apesar de o automático ser mais prático, num primeiro momento, tem desvantagens, depois. Os mecanismos que permitem que o equipamento abra e feche podem estragar facilmente, diminuindo a vida útil do acessório. Também o dobrável não tem muita qualidade. Apresenta problemas: é descartável; o cliente, tendo recebido o guarda-chuva promocional com logótipo da empresa, utiliza-o poucas vezes; molha a bolsa, ao ser guardado; é muito pequeno e não protege todo o corpo da chuva, podendo molhar os ombros do utilizador.

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O país que mais fabrica guarda-chuvas, no Mundo, ainda é a China. A pele clara é valorizada na cultura chinesa, pois o bronze resulta do trabalho braçal degradante. Por isso, a proteção contra o sol era essencial para a nobreza. Segundo Marion Rankine, em “Brolliology: A History of the Umbrella in Life and Literature”, na Antiguidade, o guarda-sol era tido como sagrado por alguns povos, como os Egípcios e os Assírios. Feito de folhas de árvores, de penas ou de couro, era usado para proteger reis e divindades. Na Grécia, feito de tecido e decorado com ouro e marfim, era usado por mulheres e por homens da elite, acompanhados por escravo, que carregava o utensílio.

Até então, ninguém havia pensado em o usar para não se molhar. Talvez porque alguns desses povos viviam em locais quentes e secos, onde a chuva não era problema frequente. Além disso, várias culturas viam a chuva como dádiva dos Céus, símbolo de abundância e de fertilidade. Por isso, o mais provável é que as pessoas andassem à chuva, sem se importarem com isso, e se protegessem debaixo de árvores, de construções e de cabanas, quando a tempestade chegava. Foi assim que, durante muitos anos, a Humanidade lidou com a chuva.

Não se sabe ao certo quando a sombrinha virou a guarda-chuva, mas acredita-se que tenha ocorrido no fim do século XVI, quando passou a existir no Ocidente. No clima frio e chuvoso do Norte da Europa, o acessório foi adaptado à realidade da população local. No século XVII, o guarda-chuva já era popular na França e na Inglaterra, feito de seda, impermeabilizado com uma camada de cera e usado, principalmente, por mulheres da classe alta. Ter guarda-chuva era caro e símbolo de status. Porém, a maioria das pessoas, principalmente, os homens, não adotou a ideia. Sair todos os dias de casa com guarda-chuva e levá-lo a todos os lugares, sem se saber se iria ser usado, soava a ridículo. Se alguém andasse na rua e começasse a chover de repente, era só usar papéis ou pastas para cobrir a cabeça ou abrigar-se em algum lugar. A situação era mais simples, se já estivesse a chover, antes de sair de casa: gorros, chapéus e casacos grossos com capuzes serviam. Além disso, era de evitar sair durante as chuvas. E, apesar de o guarda-chuva ser utilizado por alguns membros da classe alta, outros achavam que rebaixava a classe. Em “Traces of Vermeer”, Jane Jelley conta que, em 1768, uma revista parisiense publicou: “Os que não querem ser confundidos com pessoas vulgares preferem correr o risco de ficar ensopados a serem considerados alguém que anda a pé. Um guarda-chuva é um sinal claro de alguém que não possui uma carruagem.”

Por volta de 1750, Jonas Hanway comprou um guarda-chuva e tornou-o seu fiel companheiro. Aos poucos, os outros perceberam que o guarda-chuva era acessório útil e digno de um gentleman. Em 1830, foi aberta a primeira loja de guarda-chuvas, James Smith & Sons, que continua a funcionar no mesmo endereço, em Londres. Depois disso, segundo Rankine, “objetos de luxo que eram reservados aos ricos foram democratizados com a produção de versões mais baratas e de alta qualidade”. A classe média passou a usar guarda-chuvas, para se diferenciar da trabalhadora, popularizando o objeto. Inovações como o guarda-chuva de aço, criado em 1852, e o compacto, em 1928, tornaram-no um acessório comum e indispensável.

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Os guarda-chuvas foram, originalmente, feitos de folhas de palmeira, de papiro e de penas de pavão e eram usados, ​​exclusivamente, pelas classes altas, no antigo Egito e na Mesopotâmia, embora exigissem, devido ao peso, que as pessoas os carregassem. E os guarda-sóis da China medieval eram feitos de varas de bambu e cobertos com folhas e com penas.

No século IV a.C., a Roma antiga, a Grécia, o Egito, o Médio Oriente e a Índia tinham toldos portáteis concebidos para proporcionarem sombra, parecidos com os guarda-chuvas modernos, mas feitos de materiais, como couro, folhas e até penas. No entanto, estes guarda-sóis criativos não eram para todos. Em alguns casos, o rei ditava quem podia ou não proteger-se do sol. Os súbditos mais favorecidos eram, obviamente, a família real, o clero e outros nobres.

Na China, no século XI a.C., os que podiam pagar esse luxo usavam as primeiras formas de guarda-chuvas. Devido às rotas comerciais internacionais limitadas, o primeiro lote de guarda-chuvas ou guarda-chuvas impermeáveis, ​​desde então, não conseguiu chegar à Europa.

Os Franceses foram os primeiros europeus a perceber que vale a pena evitar molhar-se.
No início do século XVIII, o empresário parisiense Jean Marius inventou um guarda-sol leve e impermeável. Em 1712, a princesa francesa Palatine, comprando um, desencadeou a mania nas mulheres de todo o país. Logo, o Francês também se escondeu sob o guarda-chuva. E, em 1928, Hans Haupt inventou o guarda-sol de bolso. Em Viena, estudava escultura quando desenvolveu um protótipo para um guarda-chuva dobrável compacto aprimorado, para o qual recebeu uma patente em setembro de 1929.

Durante muito tempo o guarda-chuva foi visto como objeto de significado sagrado, a ponto de ser utilizado só para cobrir as divindades e a realeza em procissões e em eventos de grande significado espiritual. Ainda hoje, para cobrir o Santíssimo Sacramento, em trajetos curtos, se usa a umbella (termo latino para “sombrinha), bem como o pálio processional, em trajetos longos.  

Uma das principais diferenças entre o uso das sombrinhas no Egito e na China é que qualquer chinês poderia usá-las, sem restrição de classe. As restrições brotavam do campo dos materiais. Só membros da nobreza usavam sombrinhas amarelas, cobertas de seda e adornadas com franjas, bordadas a ouro e pedras preciosas. Além disso, pessoas de alto status social não carregavam as próprias sombrinhas, sendo acompanhadas de criados que lhes faziam o trabalho. O resto da população usava sombrinhas azuis ou vermelhas, pouco decoradas, feitas de papel e bambu.

Apesar da evidência, a palavra é composta de dois vocábulos, a refletir a proteção contra a água. Porém, é vincar que se inspira no termo francês “parapluie”, a marcar a distinção, relativamente ao termo e à funcionalidade do guarda-sol.

O guarda-chuva expandiu-se da China a outras partes do Mundo, graças à Rota da Seda. Primeiro, foi exportado para o Japão, para a Coreia e para a Pérsia, para chegar, depois, ao Egito, à Antiga Grécia, ao Império Assírio e ao Império Romano, onde foi utilizado como guarda-sol, sendo criados, em cada região, certos costumes em torno do seu uso. Os Egípcios, por exemplo, usavam-no como objeto de ritual cortesão e sinal de alto status e de influência, podendo ser utilizado ante o faraó. Na Grécia só podia ser utilizado pelas mulheres. Já no Império Romano o seu uso era escasso. E quando o uso desapareceu, no resto da Europa, praticamente deixou de ter presença.

No final do século XV, voltou a aparecer e, novamente, como símbolo de prestígio, dado que este acessório era feito com materiais de luxo. Em 1710, em França, foi introduzido um modelo mais leve e dobrável, para que as mulheres o utilizassem. E foi a princesa Palatina quem, depois de adquirir um exemplar, o popularizou, sendo imitada pelo resto da aristocracia.

Mas foi a Inglaterra quem o adotou para o seu uso original, um processo que resultaria difícil, pois carregar um guarda-chuva numa das mãos indicava status vulgar (o complemento indicava que a pessoa andava a pé, exposta às condições do clima, e que não tinha carruagem para se deslocar). Seria já no século XVIII que voltaria a ser usado noutros países.

É de salientar que foi na época vitoriana que este produto começou a ser vendido nas lojas, graças à invenção do guarda-chuva de aço, com hastes de metal, e do guarda-chuva dobrável.

Por fim, algumas curiosidades. A Natureza oferece-nos a planta aquática chamada Cyperus alternifolius, conhecida como guarda-chuva, uma planta ornamental cuja forma recorda a deste acessório. O nylon e o poliéster são invenções recentes, como tecido para este artefacto. (Antes, usava-se a seda, o algodão e o couro. A evolução nos materiais releva para o uso do artefacto como binde publicitário). O budismo indiano tem oito símbolos de sorte e de fortuna, associados a Buda, sendo o guarda-chuva é um deles, já que pode representar um templo como um todo e o cabo unido ao guarda-chuva lembra o eixo central que sustém o Mundo. E há um museu dedicado ao tema – o Museo dell’Ombrello e del Parasole perto do Lago Maggiore, na Itália.

2024.12.14 – Louro de Carvalho

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