segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

O Ártico poderá ver o seu primeiro dia sem gelo antes de 2030

 

Embora a maioria das projeções sobre o gelo marinho do Ártico se tenha centrado nas condições mês a mês, recente estudo revelou possíveis previsões ao dia. Com efeito, o National Snow and Ice Data Center (NSIDC) usa dados de satélite para fornecer o registo diário da cobertura de gelo do Ártico e a sua taxa de fusão, em comparação com um período médio, nos últimos anos.

As expectativas anteriores apontavam para a perda de gelo, no Ártico, por volta de 2030, mas estes dados revelam que um dia sem gelo pode ocorrer já no final do verão de 2027. Nove outras simulações, embora menos prováveis, preveem que esse cenário possa ocorrer nos próximos três a seis anos. E, segundo um estudo publicado na revista “Nature Communications”, o primeiro dia sem gelo, no Ártico, é inevitável e irreversível, independentemente do modo como se alterem as emissões de gases com efeito de estufa.

O Ártico cobre vasta área de mais de 16 milhões de quilómetros quadrados e, durante milhares de anos, assistiu a um acontecimento sazonal natural: acumulam-se, dramaticamente, nos meses de inverno, camadas água congelada, formando espessa calota de gelo que atinge o seu pico em março, antes de derreter em setembro. Porém, nas últimas décadas, este fenómeno dramático tem sido menos frequente. O gelo marinho diminuiu mais de 12%, em cada década, desde 1978, quando as imagens de satélite – Scanning Multichannel Microwave Radiometer (SMMR) – começaram a registar o crescimento e o recuo do gelo marinho do Ártico. São 80 mil quilómetros quadrados, por ano – aproximadamente o tamanho da Áustria ou da Chéquia.

Os cientistas definem como “sem gelo” a área de degelo marinho que diminui para menos de um milhão de quilómetros quadrados, num curto espaço de tempo, o que é considerado um ponto de viragem climática. Uma equipa de investigadores, incluindo a climatologista Alexandra Jahn, da Universidade do Colorado, em Boulder, e Céline Heuzé da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, utilizou mais de 300 modelos informáticos para prever o primeiro dia sem gelo. Estes modelos revelaram uma cronologia acelerada, contra o projetado antes.

A perda rápida de gelo está associada a invernos intensos e ao aquecimento da primavera. A longo prazo, se o Ártico for regularmente declarado sem gelo, isso poderá ter um impacto significativo no frágil ecossistema do mar mais setentrional, incluindo tudo, desde o “emblemático urso polar até ao crucial zooplâncton”, revela o estudo.

O dia em que o Ártico apresentar condições de ausência de gelo tem significado simbólico. Irá realçar visualmente a forma como os seres humanos alteraram uma das caraterísticas naturais do planeta: de um oceano Ártico branco para um oceano azul. “O primeiro dia sem gelo no Ártico não vai mudar drasticamente as coisas, mas mostrará que alterámos, fundamentalmente, uma das caraterísticas que definem o ambiente natural do oceano Ártico, que é o facto de estar coberto de gelo marinho e de neve, durante todo o ano, devido às emissões de gases com efeito de estufa”, explicou Jahn, num comunicado, sustentando que o sol nunca se põe no Ártico, durante o verão, pelo que, sem o gelo refletor que reflete a luz solar no espaço, o oceano absorverá e distribuirá uma quantidade substancial de calor pela Terra.

As águas internacionais não têm ali jurisdição, pelo que as indústrias podem explorar as oportunidades encontradas nas águas mais quentes do Ártico: pescar e explorar, em profundidade, populações marinhas e minerais antes inacessíveis. E as empresas de transporte de mercadorias podem utilizar uma rota de navegação mais rápida, pela Passagem do Noroeste.

O aquecimento poderá gerar fenómenos meteorológicos erráticos e extremos, devido à alteração dos padrões dos ventos e das correntes. Já se registaram anos mais quentes: em março de 2022, parte do Ártico estava a 50ºF (graus Fahrenheit) /10ºC (graus Celsius), mais quente do que a média, o que fez com que áreas à volta do Polo Norte quase derretessem. Os cientistas ainda creem na hipótese de atrasar o prazo para a fusão do gelo marinho num futuro próximo. “Qualquer redução das emissões ajudaria a preservar o gelo marinho”, acrescentou Jahn.

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“Ártico” vem do termo grego “árktós”, que significa “urso” ou “ursa”, e é atribuído a este oceano, em razão da Ursa Maior, constelação situada no Hemisfério Norte.

O Ártico, cujo símbolo é o urso-polar, localizado no Hemisfério Norte e, na sua maioria, na Região Polar Ártica, é a menor e mais rasa das cinco grandes divisões oceânicas. A Organização Hidrográfica Internacional (OHI) reconhece-o como oceano glacial, embora alguns oceanógrafos o chamem de mar Ártico Mediterrâneo ou mar Ártico, classificando-o como um dos mares mediterrâneos do oceano Atlântico. Por outro lado, o Ártico pode ser visto como o lobo norte do oceano Mundial. Quase todo envolvido pela Eurásia e pela América do Norte, é parcialmente coberto por gelo, durante o ano (e quase completamente, no inverno).

A sua temperatura e a salinidade variam sazonalmente, quando a cobertura de gelo derrete e congela; a média de salinidade é a mais baixa, em comparação com os cinco oceanos, devido à baixa evaporação, ao fluxo pesado de água doce de rios e de córregos, à conexão limitada com águas oceânicas de salinidade mais elevada. No verão, o nível do gelo diminui 50%. 

A geografia do Ártico é de solidão, com numerosos icebergs, que são água congelada à deriva, não sendo como na Antártida ou na Gronelândia (onde são gelo de terra firme). Tal como na Antártida, a noite é escura e fria, chegando aos -75 °C, e corre o fenómeno de aurora polar (aurora boreal, no Norte, e aurora austral, no Sul). Cheio de gelo e de neve, permite sobreviverem apenas algumas algas, líquenes, briófitas e fungos. Entre os animais encontram-se ursos-polares, focas, leões-marinhos, raposas-do-ártico, lebre-ártica, Krill, baleias e peixes.

O Ártico, com a profundidade média de cerca de mil metros, ocupa uma bacia aproximadamente circular, com a área de mais de 16 milhões de quilómetros quadrados (Km2), quase do tamanho da Rússia. O litoral, com 45390 quilómetros (Km) de comprimento, é cercado pelas massas terrestres da Eurásia, da América do Norte, da Gronelândia (território da Dinamarca), e por várias ilhas, como a Islândia. Iinclui a baía de Baffin, o mar Barents, o mar de Beaufort, o mar de Chukchi, o mar Siberiano Oriental, o mar da Gronelândia, a baía de Hudson, o estreito de Hudson, o mar de Kara, o mar de Laptev, o mar Branco e outros corpos de água. Liga-se ao  Pacífico pelo estreito de Bering e ao Atlântico pelo mar da Gronelândia e pelo mar do Labrador.

A borda do Ártico está repartida por diversos mares secundários, separados por arquipélagos costeiros. Da Escandinávia à Rússia e à América do Norte sucedem-se os mares de Barents, de Kara, de Laptev, da Sibéria Oriental, de Chukchi, de Beaufort e de Lincoln. Limitado por soleira de pequena profundidade, o Ártico faz pouquíssimas trocas com as águas dos outros oceanos. Sob a banquisa, a massa de água fria (0º C °) é pouco salgada.

A banquisa (banco de gelo), cuja superfície calótica se deve aos movimentos que a animam, tem a espessura de dois a quatro metros e é afetada por um abatimento, da ilha de Wrangel até ao Polo Norte e ao arquipélago de Svalbard. Os limites da banquisa, variáveis conforme as estações, permitem, no verão, certa circulação marítima do mar de Barents ao cabo Tchekiuskin e a outras costas que cercadas de perto pelos gelos.

O Paralelo 85 N é um paralelo no grau 85.º a Norte do equador terrestre e marca o centro do Ártico. Segundo o sistema geodésico WGS 84, no nível de latitude 85.º N, um grau de longitude equivale a 9,74 km. É, pois, de 3505 km a extensão total do paralelo 85°, cerca de 8,5% da extensão do Equador, de que o paralelo dista 9444 km, distando 558 km do Polo Norte.

Como todos os paralelos ao norte da latitude 83°40' N que passam por Kaffeklubben (extremo norte da Gronelândia), o Paralelo 85º N passa todo sobre o Ártico e sobre as suas plataformas de gelo, sem cruzar terra firme. Não quereria lá passar o Natal!

O oceano situa-se na zona de clima polar, em que as temperaturas mínimas descem abaixo de -50º C a -60 °C, com frio permanente e com pouca variabilidade sazonal. O inverno carateriza-se por escuridão contínua e por condições estáveis com céu limpo; o verão, pelo Sol da meia-noite, por céu nublado e por ciclones, com neve ou chuva, embora de fraca intensidade.

A temperatura da superfície do Ártico é praticamente constante, próxima do ponto de congelação da água do mar, pouco superior a 0º C. No inverno, o mar exerce influência moderadora, mesmo que coberto de gelo (na forma de banquisa), pelo que nunca, no Ártico, se verificam os extremos de temperatura que ocorrem na Antártida.

O degelo do Ártico é, principalmente, causado pelo efeito de estufa e pelo aquecimento global, que, juntos, provocam o preocupante descongelamento rápido de vastas reservas de água doce. Em setembro de 2007, o satélite ENVISAT registou o maior degelo do Ártico, abrindo à navegação a passagem do Noroeste e a passagem do Nordeste, que ligam o Atlântico ao Pacífico, através do Ártico. E, em 2012, cientistas do Laboratório de Pesquisa e Engenharia de Regiões Frias (CRREL) publicaram resultados que descrevem a descoberta da maior eflorescência algal de fitoplâncton conhecida.

Os resultados foram inesperados, já que, até então, se pensava que o plâncton crescia, apenas após o derretimento sazonal do gelo. Porém, foram descobertas algas sob vários metros de gelo marinho intacto. Embora o impacto ecológico da proliferação do fitoplâncton sob o gelo marinho na fixação de carbono, no Ártico, seja potencialmente acentuado, era desconhecida a prevalência destes acontecimentos no Ártico moderno e no passado recente. Os investigadores calculavam que a causa para o gelo marinho do Ártico se tornar progressivamente mais verde se relacionava com as plantas marinhas microscópicas, o fitoplâncton, que cresciam sob o gelo, o que não fazia sentido, pois o fitoplâncton requer luz para a fotossíntese e o Ártico é demasiado escuro para que este sobreviva.  

Entretanto uma equipa de investigadores solucionou o enigma. O tom esverdeado tem a ver com o recorde de baixos níveis de gelo marinho na região. A fina camada que agora existe já não barra a luz solar e esta já não é refletida, mas é absorvida pelos lagos de gelo derretido. Os resultados do modelo determinado pela investigação levada a cabo no mar de Chulkchi indicam que o recente desbaste do gelo marinho do Ártico é a principal causa do acentuado aumento da prevalência de condições de luz propícias à floração de algas sob o gelo. Há cerca de 20 anos, era incomum a existência das condições necessárias para o florescimento algal sob o gelo, mas, atualmente, os índices de prevalência aumentaram a um nível tal que, em quase 30% do Ártico coberto de gelo, no mês de julho, há florescimento algal sob o gelo. Assim, as mais recentes alterações climáticas podem ter alterado significativamente a ecologia da Região Ártica.

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Em suma, o oceano glacial Ártico está localizado no Hemisfério Norte do planeta, ou seja, no extremo norte, banhando a porção setentrional da Europa, da Ásia e da América, em zona de clima polar, marcado pelas baixas temperaturas, onde se situam diversas ilhas e arquipélagos, com destaque para a Gronelândia e para a Islândia.

O degelo do Ártico é preocupação mundial. Nos últimos anos, os estudos comprovaram o aumento das suas temperaturas. As condições geográficas são marcadas por baixas temperaturas e pela presença constante de neve, típicas do clima polar, predominante em toda a Região Ártica. As temperaturas locais podem chegar até -60º C.

Este oceano, pela sua localização no extremo norte planetário, tem um inverno com dias de escuridão contínua e um verão com dias são claros e há registos de vários eventos atmosféricos. Ademais, é recorrente a presença de icebergs (grandes blocos de gelo). Um processo caraterístico do oceano Glacial Ártico é a capacidade de congelamento de partes oceânicas, permanecendo congelada, no inverno, grande parte das águas marinhas árticas; já no verão, devido ao aumento das temperaturas, ocorre o descongelamento dessas águas. Essa dinâmica de mudança de estado da água interfere na temperatura e na salinidade do oceano em questão.

O Ártico tem grande importante ambiental, económica e estratégica. Possui grande influência nas dinâmicas climáticas do planeta, sendo um dos principais pontos de degelo na superfície terrestre – processo de descongelamento das geleiras, mercê do aumento da temperatura da Terra. Assim, é uma região importante para a realização de pesquisas científicas ambientais, assim como para monitorização das dinâmicas climáticas globais. E é uma zona marítima com grandes depósitos de recursos minerais, como petróleo e gás natural, cenário que resulta no interesse económico pela exploração do seu fundo oceânico. Ademais, a pesca é importante para vários países que ali possuem territórios. Por fim, o Ártico é uma região estratégica em termos geopolíticos e militares, já que banha o litoral de potências mundiais, como os EUA e Rússia, que passaram, com o degelo crescente, a disputar o domínio do oceano, pelas travessias e pelas pesquisas.

O degelo do oceano Glacial Ártico é um processo de origem antrópica  marcado pelo aumento da temperatura terrestre. O aquecimento global, desencadeado pela emissão de poluentes na atmosfera, redunda no aumento das temperaturas da Terra. Desse modo, ocorre o degelo das regiões árticas, que não suportam a elevação da temperatura planetária. Ademais, quando ocorre o derretimento do gelo, as águas oceânicas absorvem os raios solares, aumentando a temperatura local. Esse cenário seria diferente, se o gelo permanecesse preservado, já que, pelo seu albedo, reflete os raios solares, não contribuindo para a absorção do calor gerado pela radiação solar. Por sua vez, a interferência antrópica num ecossistema tão frágil gera grande desequilíbrio ambiental. Um exemplo desse cenário é a perda do habitat de animais, como os ursos-polares, pois, com o degelo, têm dificuldade em obter alimentação e abrigo. Tal cenário é agravado pela pesca predatória, que também contribui para a diminuição do volume de alimento disponível, assim como impacta nas populações de peixes de água salgada. No mais, o transporte marítimo, muito comum na região, provoca a quebra de grandes blocos de gelo, facilitando o seu descongelamento, além de contribuir para a poluição das águas oceânicas.

O oceano Glacial Ártico é uma região de intensos fluxos de transporte marítimo, que contribui para o aumento do impacto ambiental na região, o que é motivo de preocupação mundial, já que o derretimento das calotas polares presentes no Ártico resulta no aumento do nível dos oceanos, o que impacta diretamente em diversas cidades costeiras do globo. Há, inclusive, países insulares que buscam soluções, como a compra de terras noutras regiões, a fim de transferir a população local para terrenos mais altos, o que sucede também nos países banhados por este oceano: o Canadá, os EUA, a Rússia, a Noruega, a Islândia e a Gronelândia (território da Dinamarca).

O Ártico, comparado com os demais oceanos, tem salinidade baixa, já que a taxa de evaporação da sua água marítima é baixíssima. Estudos recentes revelam que a temperatura, na região, aumentou mais do dobro, em relação ao aumento da temperatura global do planeta.

2024.12.30 – Louro de Carvalho

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